Literacia mediática: Práticas e competências de adultos em formação na Grande
Lisboa
Introdução
A avaliação dos níveis de literacia mediática dos cidadãos - entendida
como a "capacidade de aceder aos media, de compreender e de avaliar de
modo crítico os diferentes aspetos dos media e dos seus conteúdos, e de criar
comunicações em diversos contextos" (União Europeia, 2007) -
desenvolve-se numa espécie de binómio: de um lado, a inquirição de práticas; do
outro, a medição ou avaliação de competências.
O inquérito por questionário é, seguramente, o mais adequado (e o mais comum)
instrumento metodológico para a avaliação de práticas, mas revela-se um
instrumento frágil e desadequado na medição de competências. Neste particular,
revela-se muito mais útil e robusto o modelo usado nos grandes estudos
internacionais de literacia, como o IALS, o ALL ou o PIAAC: a prova de
avaliação de competências.
Tendo em conta este enquadramento, no âmbito do projeto "Literacia
mediática e cidadania. Práticas e competências de adultos em formação na Grande
Lisboa" foram concebidos dois instrumentos de recolha de informação (um
questionário e uma prova de literacia mediática) e aplicados num segmento
social particularmente estratégico, porque potencialmente decisivo e influente
nas próximas décadas: adultos em formação.
A pesquisa foi operacionalizada com base numa estratégia metodológica de
caratér quantitativo-extensivo e envolveu cerca de 500 adultos a frequentar
diferentes contextos de ensino (ações de Educação e Formação de Adultos -
EFA e cursos de licenciatura, mestrado e mestrado integrado), em escolas e
universidades públicas na área geográfica da Grande Lisboa, no ano letivo 2011-
2012.
As práticas mediáticas foram operacionalizadas pela conjugação de um conjunto
de indicadores que forneceu informação acerca da exposição aos meios de
comunicação social - media tradicionais e novos media - e muito em
particular da exposição quotidiana na vertente da informação (noticiosa, de
atualidade). A análise de dados foi, na maior parte dos casos e sempre que se
justificou, dadas as características da amostra, segmentada segundo o nível de
escolaridade a frequentar: EFA - ensino básico, EFA - ensino
secundário e ensino superior.
A prova de literacia mediática, constituída por 20 tarefas ou exercícios,
resultou de uma criteriosa construção conceptual. O seu framework traduz
empiricamente um esforço teórico reflexivo: parte de três domínios operacionais
de processamento da informação (conhecer e compreender, avaliar criticamente,
criar para comunicar) e três dimensões de análise (técnica, crítica, criativa)
para as operações de processamento, a escolha dos suportes (classificados
segundo o formato, o meio de origem e o tipo de informação) e das tarefas
(localizar e identificar, integrar e interpretar, avaliar e refletir, gerar).
Refira-se que os itens da prova foram submetidos a análise, em termos de
discriminação e de dificuldade, segundo a Teoria Clássica dos Testes e a Teoria
da Resposta ao Item. A quase totalidade dos itens revelou-se discriminativa e
passível de enquadramento num "banco de itens" para avaliação de
competências de literacia mediática.
Revelem-se, então, alguns resultados desta investigação, no que a práticas
mediáticas e a competências de literacia mediática diz respeito.
1. Práticas mediáticas
Uma primeira série de indicadores (Quadro_1.1) revela uma clara homogenia
quanto a níveis de exposição: independentemente do nível de escolaridade, a
maioria dos inquiridos lê jornais, ouve rádio, vê televisão e navega na
internet diariamente, um resultado que se afasta das distribuições nacionais
conhecidas [cf., por exemplo, a caracterização de Portugal como um país de
consumos informativos tipicamente baixos, de Hallin e Mancini (2004)].
Na verdade, apenas o indicador referente à leitura de livros (em papel ou
online) apresenta alguma variação: no EFA básico, 54,5% dos inquiridos nunca ou
raramente lê livros; já no EFA secundário, a leitura de livros é prática
quotidiana de 38% dos inquiridos e, para aqueles que se encontram a frequentar
o ensino superior, 43,4% declaram essa prática.
O jornal (em papel ou online) é o suporte mais lido pelos inquiridos:
diariamente ou pelo menos uma vez por semana, declaram ler jornais 77,8% dos
indivíduos a frequentarem o EFA básico, 79,8% dos que frequentam o EFA
secundário e 76,3% dos adultos a frequentar o ensino superior.
Os resultados mostram uma clara polarização: diariamente, a maioria dos
inquiridos vê televisão (EFA básico: 85,1%; EFA secundário: 78,8%; ensino
superior: 65,7%) e navega na internet (EFA básico: 74,5%; EFA secundário:
83,5%; ensino superior: 97,2%). Atente-se à relação com o nível de
escolaridade: por um lado, o visionamento diário de televisão cresce à medida
que a escolaridade diminui; por outro, a utilização diária de internet cresce à
medida que a escolaridade aumenta. Ainda quanto à utilização diária de
internet, e tendo em conta a idade dos inquiridos, diga-se que tendencialmente
a navegação aumenta à medida que a idade diminui [o valor mínimo regista-se no
escalão igual ou superior a 52 anos (68,4%) e o valor máximo regista-se no
escalão 22-31 anos, com uma taxa de utilização de internet de 96,8%].
Uma análise mais fina, focada no indicador "tempo", revela que o
consumo diário de informação1 - valor que resulta da soma de quatro
indicadores (leitura de informação, audição de informação, visionamento de
informação e consumo de web-informação) - de um aluno do EFA básico é, em
média, de 3 horas e 54 minutos; um aluno do EFA secundário consome, em média, 4
horas e 15 minutos de informação/dia; e um aluno do ensino superior, em média,
2 horas e 50 minutos de informação/dia. O facto de o valor mais baixo se
registar no ensino superior pode ser explicado, no caso da nossa amostra
(recorde-se, uma amostra constituída por adultos em formação), a partir da
idade dos inquiridos (Figura_1.1): tendencialmente, os mais jovens consomem
menos informação do que os mais velhos [por exemplo, os casos mais
contrastantes verificam-se no indicador "leitura de informação" (um
valor médio de 85 minutos para indivíduos com idade igual ou superior a 52 anos
cai para um valor médio de 42 minutos para indivíduos com idade igual ou
inferior a 21 anos), no indicador "audição de informação" (um valor
médio de 63 minutos para indivíduos com idade igual ou superior a 52 anos cai
para um valor médio de 17 minutos para indivíduos com idade igual ou inferior a
21 anos) e no indicador "visionamento de informação" (um valor
médio de 87 minutos para indivíduos com idade igual ou superior a 52 anos cai
para um valor médio de 46 minutos para indivíduos com idade igual ou inferior a
21 anos)].
Na verdade, já Rebelo e o seu grupo de investigadores, em Os Públicos dos Meios
de Comunicação Social Portugueses(2008), haviam revelado que os portugueses
mais jovens apresentam níveis particularmente baixos de interesse pelas
notícias nos vários meios, tradicionais (imprensa, rádio e televisão) ou novos
media (internet).
Desagregando o tempo por medium (Quadro_1.2), e sem surpresa, nota-se o
predomínio da televisão como principal meio de informação quotidiano dos
inquiridos a frequentarem os EFA básico (72 minutos/dia) e secundário (78
minutos/dia). Estes dados corroboram resultados de investigações que revelam
ser a televisão o meio de informação mais importante em Portugal (Rebelo et
al., 2008) e ser Portugal um país que vive em overdose televisiva (Benavente,
Mendes e Schmidt, 1997).
A internet surge como principal medium a que recorrem diariamente os inquiridos
do ensino superior (55 minutos/dia) para se informarem. O efeito
(canibalizante2) da internet nas práticas de informação dos indivíduos -
como já provado em diversos estudos nacionais (nomeadamente, do português
Observatório da Comunicação) e internacionais (nomeadamente, do britânico
Offcom) - parece ser mais notório no ensino superior, tomando por
comparação os valores respeitantes ao consumo de informação via media
tradicionais (imprensa, rádio e televisão) dos mesmos indivíduos.
Embora este valor seja o mais baixo dos três níveis de ensino, facto que, mais
uma vez, pode estar relacionado com a idade dos inquiridos (os mais jovens
consomem menos informação do que os mais velhos), julgamos ser já muito
expressivo o tempo que os inquiridos dos EFA básico e secundário afirmam usar
no consumo de web-informação: 68 e 58 minutos/dia, respetivamente.
Desagregando o ensino superior em cinco áreas científicas (Quadro_1.3) -
Arquitetura e Design; Ciências da Natureza, Matemática e Sáude; Ciências
Sociais; Humanidades: Engenharias - conclui-se serem os alunos de
Arquitetura e Design os inquiridos que mais consomem informação de atualidade
(3 horas e 23 minutos/dia, em média) e os alunos inquiridos a frequentar cursos
nas áreas científicas das Ciências da Natureza, Matemática e Saúde os que menos
consomem informação de atualidade (2 horas e 15 minutos/dia, em média).
Livros (impressos)
Os dados referentes à leitura de livros (impressos) por ano, e tomando por base
a tipologia de Hábitos de Leitura em Portugal: Inquérito à População Portuguesa
(Freitas, Casanova e Alves, 1997) e A Leitura em Portugal(Santos, 2007),
revelam o predomínio dos pequenos leitores (1 a 5 livros / ano),
independentemente do nível de escolaridade em análise (Quadro_1.4).
Na verdade, os pequenos leitores3 predominam na nossa amostra também
independentemente do sexo (masculino: 55,5%; feminino: 64,7%) e da idade (em
todos os escalões etários). É um facto: em Portugal pouco se lê, evidência que
tem sido empiricamente demonstrada desde os anos 90 do século XX4.
Como se esperaria, a percentagem de não leitores decresce muito
significativamente à medida que a escolaridade aumenta. Mas há outro dado que
nos parece significativo: o número surpreendente (pela negativa) de grandes
leitores, ou seja, de indivíduos que afirmam ler mais de 20 livros por ano
(apenas 4,3% no EFA básico, 2,5% no EFA secundário e 6,9% no superior).
A existência de apenas 6,9% de grandes leitores no ensino superior pode estar
relacionado com a migração da leitura para outros suportes, para plataformas
digitais como computadores, tablets ou ereaders5. Em rigor, e seguindo Reig
Hernández e Vílchez (2013), os padrões de leitura parecem estar a mudar: do
impresso para o digital (ainda que lentamente), de uma leitura mais exaustiva
para uma leitura mais exploratória e mais rápida, detetando elementos de
importância6.
Tendo por referência a distribuição dos inquiridos por áreas científicas de
ensino superior, refira-se que os pequenos leitores predominam em todas as
áreas científicas, exceto nas Humanidades: neste grupo, há 50% de médios
leitores. Os grupos com maior peso de não leitores são as Ciências da Natureza,
Matemática e Saúde (4,9% de não leitores) e as Engenharias (4,5% de não
leitores). A área científica com mais inquiridos que se declararam grandes
leitores é a das Humanidades (22,9%). Esta é também a única área científica com
total ausência de não leitores (0%).
Em detalhe, também nos parece relevante o número de inquiridos que afirmam não
ler nenhum livro por ano (27,7% no ensino básico, 12,3% no secundário e 2,9% no
superior), mesmo estando a frequentar algum nível de ensino numa escola básica/
secundária ou numa universidade (Quadro_1.5). Estes dados parecem indiciar ter
existido um entendimento restrito da leitura enquanto "leitura
lazer".
Jornais e revistas (impressos)
A maioria dos inquiridos declara ler algum tipo de jornais impressos, pelo
menos uma vez por semana (Quadro_1.6). Os tipos de jornais impressos lidos,
pelo menos uma vez por semana, com mais regularidade pelos inquiridos são os
diários (55,2% da amostra) e os gratuitos (65,4% da amostra). No EFA básico
leem-se mais jornais diários (64,7%); no EFA secundário e superior, mais
jornais gratuitos (70,4% e 64,7%, respetivamente). No EFA básico, a leitura de
jornais económicos (3,9%) e de jornais regionais (7,8%) é pouco relevante.
A nível de género, a diferença mais acentuada foi encontrada na leitura de
jornais desportivos: dos inquiridos que declararam ler jornais desportivos em
papel, 84% são homens.
A percentagem de não leitores de jornais (em papel) no ensino superior (11,6%)
parece-nos relevante. No entanto, refira-se que José Rebelo e a sua equipa
revelaram uma percentagem ainda mais elevada: 20% dos inquiridos com formação
superior declaravam, em 2008, nunca lerem um jornal (Rebelo et al., 2008: 104,
289).
Observamos, portanto, que os não leitores de jornais impressos aumentam à
medida que a escolaridade aumenta, o que pensamos estar relacionado com a
migração para outro tipo de suportes, concretamente online. Este dado corrobora
resultados de estudos nacionais e internacionais, como A Imprensa na Sociedade
em Rede, do Observatório da Comunicação (Obercom, 2010d), que afirma um
crescimento em Portugal do número de leitores de jornais online e sugere que
são os indivíduos mais escolarizados aqueles que mais leem jornais no suporte
online, ou Individuals Using the Internet for Reading Online Newspapers/
Magazines, do Eurostat (2012), que revela que a utilização da internet para ler
jornais e revistas tem sido, em Portugal, crescente e constante ao longo dos
anos analisados (anualmente entre 2003-2012), fixando-se em 40 a percentagem de
inquiridos portugueses entre os 16 e os 74 anos que declararam tal prática.
Sem pretensões comparativas, afirme-se que o dado mais contrastante com os
resultados de A Leitura em Portugal é o que diz respeito aos gratuitos, à época
"uma realidade bastante recente no País" (Santos, 2007).
Os alunos a frequentar o ensino superior que mais leem jornais diários e
semanários estudam Humanidades ou Ciências Sociais. Dos alunos do ensino
superior que declararam não ler jornais, a maioria frequenta cursos nas áreas
científicas da Arquitetura e Design (19%) e das Ciências da Natureza,
Matemática e Saúde (14,7%).
No estudo Os Públicos dos Meios de Comunicação Social Portugueses revelam-se
outros dados que consideramos muito interessantes: Mais de 20% dos inquiridos
com escolaridade superior que declaram ler frequentemente jornais diários
assumem ficar pela primeira-página ou apenas passar os olhos pelos títulos,
mais de 30% dos indivíduos com menos de 30 anos não passam da primeira-página e
mais de 44% dos indivíduos com menos de 30 anos contentam-se somente com os
títulos (Rebelo et al., 2008: 107).
Refira-se que, ainda assim, existe uma percentagem muito considerável de
leitores cumulativos de jornais nesta amostra (inquiridos que leem mais do que
um tipo de jornal pelo menos uma vez por semana): os indivíduos que leem dois
ou três tipos de jornais pelo menos uma vez por semana representam 52,7% da
amostra (Quadro_1.7).
Quanto ao suporte revista, e tomando a amostra como um todo, os dados mostram
que a leitura regular (pelo menos uma vez por semana) de revistas é uma prática
essencialmente feminina: as mulheres estão em maioria em quase todos os
indicadores disponíveis para este tipo de publicações (de atualidade,
científicas, culturais, femininas, incluídas em jornais, sociais e de viagens),
exceto no que se refere a revistas masculinas. Trata-se de um resultado
equivalente ao encontrado por Rebelo e a sua equipa: a procura de revistas é
essencialmente feminina (Rebelo et al., 2008: 69, 114).
Ainda tomando a amostra como um todo, a leitura regular de revistas de
atualidade é de 49,2%, a leitura regular de revistas incluídas em jornais de
22,8% e de revistas sociais de 22,2%. Os não leitores de revistas representam
19,7% da amostra (Quadro_1.8).
Numa análise mais fina, os resultados revelam que as revistas mais lidas pelos
alunos do EFA básico são as sociais (33,3%) e as mais lidas pelos estudantes a
frequentarem o EFA secundário e o ensino superior são as revistas de atualidade
(48,1% e 50,5%, respetivamente). É de destacar, no entanto, o peso muito
considerável da leitura de revistas sociais nas práticas de leitura de imprensa
dos inquiridos do EFA secundário (42%). Refira-se que os não leitores de
revistas aumentam à medida que a escolaridade diminiu.
No ensino superior, a maioria dos leitores de revistas de atualidade,
culturais, femininas, incluídas em jornais e revistas sociais estuda
Humanidades ou Ciências Sociais. As publicações científicas/técnicas são lidas
sobretudo por estudantes de Engenharias (34,8%) e de Ciências da Natureza,
Matemática e Saúde (33,9%). Dos alunos que declararam não ler revistas, 26,6%
frequentavam um curso na área científica da Arquitetura e Design.
A leitura cumulativa de revistas (leitura de mais do que uma publicação), pelo
menos uma vez por semana, independentemente do tipo, é prática de 50,2% da
amostra (leitores cumulativos de revistas). No entanto, refira-se que a maior
percentagem isolada se regista na leitura de uma única revista, pelo menos uma
vez por semana: 42,3% (Quadro_1.9).Encontraram-se correlações significativas
entre a leitura de livros, jornais e revistas. A correlação mais evidente
regista-se entre os leitores de jornais e de revistas (Quadro_1.10).
Cruzando os valores que resultam da leitura de jornais e da leitura de revistas
(Quadro_1.11), verifica-se que quem nunca ou raramente lê jornais, nunca ou
raramente lê revistas (72.6%) e que quem lê jornais pelo menos uma vez por
semana, também lê revistas com a mesma periodicidade (62,6%).
Rádio
Música (66,5%) e informação (42,3%) lideram diariamente as preferências dos
ouvintes de rádio inquiridos neste estudo (Quadro_1.12). Os investigadores
responsáveis pelo projeto Os Públicos dos Meios de Comunicação Social
Portugueses chegam a resultados semelhantes quanto ao tipo de programas mais
ouvidos: à frente está a música, depois a informação (Rebelo et al., 2008: 101,
103).
No polo oposto, o fórum, o programa desportivo, a reportagem e a entrevista/
debate reúnem menor consenso: são tipos de programas radiofónicos nunca ou
raramente ouvidos pela maioria dos indivíduos inquiridos neste estudo (por 84%,
73%, 72,8% e 72,1% da amostra, respetivamente).
Tendo em conta a idade dos alunos inquiridos, e por referência unicamente a
informação numa base diária, nota-se uma clara tendência: a audição de
informação radiofónica aumenta de forma muito consolidada com a idade (nos
extremos, 83,3% dos inquiridos com idade igual ou superior a 52 anos ouvem
informação na rádio, percentagem que cai para os 25,4% nos inquiridos com idade
igual ou inferior a 21 anos).
A análise da amostra particionada por nível de escolaridade mostra, sem
surpresa, o mesmo padrão na relação entre a frequência de audição e o tipo de
programa radiofónico: independentemente do nível de ensino, os inquiridos
- que ouvem rádio (41,9% da amostra) - ouvem diariamente música e
informação.
A maioria dos alunos a frequentar o ensino superior, independentemente da área
científica, ouve diariamente música na rádio. A informação radiofónica é mais
ouvida, diariamente, pelos alunos de Humanidades e menos pelos estudantes de
Engenharias. Os alunos de Arquitetura e Design e os seus colegas de Humanidades
são os alunos do superior que mais ouvem programas de entretenimento e
programas culturais.
O número de ouvintes de rádio que declara ouvir, numa base diária, mais do que
um tipo de programa de rádio (ouvintes cumulativos), independentemente do
género, totaliza 49,8% (Quadro_1.13). A maior parte dos inquiridos que ouvem
rádio declaram ouvir diariamente dois tipos de programas de rádio (22,1%).
Colocando o foco exclusivamente na vertente informativa (Quadro_1.14), o número
de ouvintes cumulativos de informação (resultado da soma de quatro indicadores:
informação, entrevista e debate, forum e reportagem) totaliza 11%.
Televisão
A grande maioria dos telespectadores que integram a amostra ocupa diariamente o
seu tempo em frente ao pequeno ecrã a ver informação/telejornais (Quadro_1.15).
A uma conclusão semelhante chegou José Rebelo, em 2008: a informação televisiva
era vista frequentemente por 89,4% dos inquiridos em Os Públicos dos Meios de
Comunicação Social Portugueses (Rebelo et al., 2008: 103).
Do total de inquiridos que responderam a este conjunto de indicadores, a
maioria nunca ou raramente vê talkshows (73,6%), telenovelas (71,1%), programas
de desporto (68,3%), concursos (61,8%), entrevistas e debates (56,4%) e/ou
música (52,4%). Veem diariamente mais informação televisiva os inquiridos mais
velhos (o valor máximo, 94,4%, diz respeito a adultos com idade igual ou
superior a 54 anos).
Uma análise detalhada por nível de escolaridade mostra, de facto, o predomínio
da televisão enquanto medium informativo no quotidiano dos alunos do ensino
básico, secundário e superior que afirmam ver televisão (79,6%, 78,2% e 67,8%,
respetivamente). Destaque também para a grande reportagem: este género
televisivo é visto pela maioria dos telespectadores de qualquer nível de ensino
pelo menos uma vez por semana.
A partir das respostas dadas pelos inquiridos quanto à frequência com que
visionam vários géneros televisivos foi realizada uma análise de componentes
principais (Quadro_1.16). Os resultados mostram que os programas visionados
podem ser organizados em quatro componentes: programas culturais, programas de
entretenimento, programas de informação e programas de desporto/cinema.
Foram construídos quatro índices, cada um deles integrando as variáveis com
maior peso (loading) em cada uma das componentes principais (assinalados a
negrito no Quadro_1.17), os quais traduzem a frequência, em termos médios, de
visionamento de cada um dos tipos de programas7.
Os resultados revelam que, em média, os quatro tipos de programas são
visionados com uma frequência relativamente equivalente e que os inquiridos
tendem a fazê-lo com alguma frequência, ainda que pouco elevada (os valores
globais médios obtidos situam-se todos acima de 2 e abaixo de 3). Mesmo assim,
é importante destacar que os programas de informação são os que apresentam
frequências médias de visionamento mais elevadas, enquanto os de entretenimento
apresentam os valores mais baixos (2,90 vs 2,42).
Analisando os resultados obtidos segundo o grau de ensino a frequentar,
observa-se que os estudantes que se encontram a frequentar o ensino superior
revelam práticas de visionamento de televisão mais baixas em todos os géneros
televisivos.
Se for tida em conta a idade constata-se que há também diferenças evidentes,
sobretudo quanto ao visionamento de programas de informação: à medida que a
idade aumenta tende a aumentar também, em média, a frequência com que são
visionados estes programas (Figura_1.2)
Redes sociais
O total de inquiridos que afirma ter perfil numa rede social é bem
representativo do esprit du temps (88,6%). Em rigor, a grande maioria dos
inquiridos tem perfil numa rede social, independentemente do nível de
escolaridade, do sexo e da idade (Quadro_1.18).
A análise por nível de ensino demonstra homogenia nos resultados, embora seja
bem nítida a tendência de crescimento à medida que aumenta a escolaridade. Dos
alunos do ensino superior que declararam não ter perfil numa rede social
(9,3%), 30,6% frequentam um curso na área científica das Ciências Sociais.
Estes dados vão ao encontro dos últimos resultados de A Internet em Portugal
2012, do Obercom: segundo o relatório, 73,4% dos internautas portugueses usam
as redes sociais (e, adiante-se, 93,7% dos que utilizam redes sociais estão no
Facebook). O estudo Os Portugueses e as Redes Sociais 2012, da Marktest, vai um
pouco mais longe ao concluir, por exemplo, que os inquiridos - todos
utilizadores de redes sociais - passam, em média, 88 minutos por dia nos
social media, quase metade (46,2%) consulta as redes sociais várias vezes por
dia e 95% dos utilizadores tem conta no Facebook.
Utilização de internet
A internet é, à partida, pela conjugação de meios, formatos e linguagens
disponibilizados num único suporte, a tecnologia que requer a mobilização de
mais práticas e mais e melhores competências em todos os domínios de literacia
mediática: aceder, compreender, avaliar, criar. É também o suporte que
solicita/mobiliza, em simultâneo, mais tipos de capital (seguindo Bourdieu,
1986): capital económico (que possibilita a posse de equipamentos) e de capital
cultural e social (traduzido em capacidades e competências, na sua mobilização
em contexto, no âmbito de relações sociais específicas).
A análise de componentes principais foi realizada a partir das respostas dos
alunos em relação à frequência de utilização de internet.
Os resultados apontam para a organização em cinco componentes: informação e
pesquisa, comunicação, entretenimento, serviços e participação pública (Quadro
1.19).
Foram construídos cinco índices, integrando as variáveis com maior peso em cada
uma das componentes principais e traduzindo a frequência, em termos médios, de
atividades realizadas através da internet8 (Quadro_1.20).
Os resultados mostram que, em média, as atividades de informação e pesquisa
online são as que apresentam frequências médias mais elevadas e as atividades
de participação pública online as que apresentam frequências mais baixas (4,08
vs 1,93). As atividades de informação e pesquisa online são as mais praticadas
pelos inquiridos, independentemente do nível de escolaridade que frequentam. A
frequência com que os alunos realizam tais atividades aumenta à medida que
aumenta a sua escolaridade (o valor médio obtido no superior é de 4,13). Também
a frequência de realização online de atividades de comunicação revela uma
tendência semelhante: a frequência de práticas é mais intensa quanto mais
elevada é o nível de escolaridade que o inquirido frequenta.
Analisando os resultados por área científica de ensino superior, observa-se que
os inquiridos realizam atividades através da internet com uma frequência
relativamente equivalente, não se verificando variância que revele diferenças
significativas.
Quanto à idade, pode afirmar-se que, tendencialmente, a frequência de
realização de atividades online apresenta diferenças significativas: à medida
que a idade aumenta, tende a diminuir, em média, a prática de quase todos os
tipos de atividades online, exceto na componente Serviços. Em rigor,
tendencialmente, a prática de atividades online na área dos serviços (consultar
movimentos de contas bancárias e fazer compras online) tende a aumentar, em
média, à medida que aumenta a idade dos inquiridos (Figura_1.3).
Também a gestão de conteúdos online foi objeto de uma análise de componentes
principais, a partir das respostas dos alunos em relação à frequência com que
gerem conteúdos online. Os resultados apontam para a organização em três
componentes: edição, downloads e uploads (Quadro_1.21).
De seguida, foram construídos os três índices (variáveis com maior peso em cada
uma das componentes principais e frequência, em termos médios, de atividades de
gestão de conteúdos através da internet)9 (Quadro_1.22).
A realização de downloads é a atividade de gestão de conteúdos que apresenta
uma frequência média mais elevada (2,84). Em sentido contrário, a edição de
conteúdos é a atividade que apresenta os valores médios mais baixos (1,85). Os
resultados mostram que, em média, a frequência de gestão de conteúdos a nível
das componentes Edição e Uploads decresce à medida que aumenta a escolaridade
(ainda que se revele pouco elevada, em qualquer um dos casos, com valores
globais médios a situarem-se abaixo de 3).
Estes resultados poderão ser reflexo da aposta em conteúdos relacionados com as
Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) nos programas de Educação e
Formação de Adultos (EFA)10.
Observando os resultados no ensino superior, conclui-se que a frequência média
de edição de conteúdos é, de facto, muito baixa, independentemente da área
científica em causa (nunca acima de 2).
A prática de downloads é a atividade de gestão de conteúdos com frequência mais
elevada no ensino superior (o valor mais alto regista-se nas Engenharias e é de
3,25).
Tendo em conta a idade, refira-se a existência de diferenças significativas,
particularmente na prática de downloads: à medida que a idade aumenta tende a
diminuir a frequência com que os inquiridos fazem downloads (Figura_1.4)
Tomando por base a tipologia usada pelo Observatório da Comunicação para a
avaliação/medição da frequência de utilização de internet (os indicadores
disponíveis referem-se a práticas de comunicação, informação, entretenimento,
procura de bens e consulta de serviços, educação e conteúdos gerados pelo
utilizador), os resultados mostram que (Quadro_1.23):
1. No grupo de indicadores que fornece informação acerca das práticas de
comunicação distingue-se claramente um padrão: independentemente do nível
de escolaridade, a maioria dos internautas inquiridos envia/recebe emails
(73,7%) e acede a redes sociais (62,1%) várias vezes por dia/diariamente.
A atividade de comunicação mais realizada diariamente, independentemente
do nível de ensino, é enviar/receber emails (EFA básico: 45,5%, EFA
secundário: 62,8%; ensino superior: 79,1%). O resultado é equivalente ao
revelado no estudo do Observatório da Comunicação (Obercom), A Internet em
Portugal 2012: a atividade de comunicação mais disseminada entre os
internautas portugueses é enviar/receber emails. A percentagem de mulheres
que declaram enviar/receber emails várias vezes por dia/diariamente é de
80,8% (homens: 64,5%) A percentagem de mulheres que dizem aceder/
participar em redes sociais várias vezes por dia/diariamente situa-se nos
65,2% (homens: 58,9%). Os mais novos acedem/participam mais em redes
sociais do que os mais velhos. Os alunos de Ciências Sociais são os
inquiridos do ensino superior que mais acedem e participam em redes
sociais: 78,1% declaram fazê-lo várias vezes por dia/diariamente.
2. Quanto a informação, a maioria dos inquiridos, independentemente do nível
de ensino, procura notícias na internet várias vezes por dia/diariamente
(50,9%). A percentagem de homens que procuram notícias na internet várias
vezes por dia/diariamente é de 56,4% (mulheres: 47,4%). Os mais velhos
procuram diariamente mais notícias na internet do que os mais novos. Os
alunos de Humanidades são os inquiridos do ensino superior que diariamente
mais procuram notícias (68,8%). A utilização de enciclopédias online, como
a Wikipédia, é uma prática regular dos alunos do EFA secundário: 41,9%
destes inquiridos afirmam consultar este tipo de publicação digital várias
vezes por dia/diariamente e 32,4% fazem-no semanalmente.
3. Dos indicadores que avaliam/medem a frequência com que os inquiridos usam
a internet na vertente entretenimento, a atividade mais consensual parece
ser ouvir música online: 50% dos alunos do EFA básico, 44,6% dos alunos a
frequentarem o EFA secundário e 51,6% dos alunos no ensino superior dizem
fazê-lo várias vezes por dia/diariamente. A percentagem de homens que
declaram ouvir música online várias vezes por dia/diariamente é de 53,8%
(mulheres: 48,1%). Os mais jovens ouvem diariamente mais música online do
que os mais velhos. No ensino superior, os alunos de Arquitetura e Design
são os inquiridos a frequentar este nível de ensino que diariamente mais
ouvem música online (62%).
4. Na categoria bens e serviços, a prática mais comum, numa base diária ou
semanal, é a procura de informações sobre produtos (EFA básico: 66,7%; EFA
secundário: 74%; ensino superior: 70,3%). Dos inquiridos, 48% nunca
consulta/movimenta contas bancárias na internet (EFA básico: 66,7%; EFA
secundário: 51,4%; ensino superior: 45,6%) e 56,7% nunca faz compras
online (EFA básico: 71,4%; EFA secundário: 66,2%; ensino superior: 53,6%).
Fazer compras online é, de facto, a atividade menos frequente destes
indivíduos nesta categoria11. A percentagem de mulheres que declararam
nunca fazer compras online é de 62,8% (homens: 48,3%). A maior parte dos
alunos que estudam Humanidades (55,1%) declararam fazer compras online.
5. A internet é usada pela maioria dos inquiridos (88% da amostra),
independentemente do seu nível de ensino, para procurar informações para
trabalhos escolares várias vezes por dia/diariamente ou semanalmente (EFA
básico: 68,9%; EFA secundário: 80,7%; ensino superior: 91,7%). Um facto
previsível, dado o contexto: adultos em formação em estabelecimentos de
ensino na Grande Lisboa. A procura e verificação de factos é uma atividade
diária ou semanal de 76,9% dos inquiridos do ensino superior, de 58,6% dos
alunos do EFA secundário e de 56,7% dos do EFA básico.
6. A tão proclamada (e retórica) proactividade dos utilizadores de internet,
subjacente ao paradigma digital, tem vindo a ser questionada pela
comunidade científica internacional. A ideia de "fratura
digital" (ou desigualdade digital), aliada à distinção entre o
acesso à tecnologia e o uso eficaz e consciente das ferramentas
tecnológicas, tem procurado evidência empírica relevante. Os estudos têm
sido efetuados maioritariamente junto de jovens, os chamados
"nativos digitais" (Prensky, 2001), e têm mostrado que apenas
uma minoria gera e gere os seus próprios conteúdos digitais (Kvavik,
Caruso e Morgan, 2004; Kennedy, Krause, Judd, Churchward e Gray, 2006;
Olivier e Goerke, 2007; Bennett e Maton, 2011). A nossa investigação não
constitui exceção. De facto, a informação mais relevante refere-se ao que
os inquiridos afirmam nunca fazer: em rigor, a maioria dos alunos (dos EFA
básico, EFA secundário e superior) declara nunca fazerupload de ficheiros
de música (64,2%), nunca fazerupload de ficheiros de vídeo (66%), nunca
construir ou manter um blogue (75,1%), nunca construir ou manter uma
páginaweb (80,4%), nunca editar som (70,7%) e nunca editar vídeo (70,3%).
Há mais homens do que mulheres a declarar construir e manter um blogue e
construir e manter uma página web. Os inquiridos entre os 32 e os 41 anos
são os que mais declaram manter um blogue ou manter uma página web.
7. A nível de participação pública online, a maioria declara nunca contribuir
para um fórumonline (55,6 dos quais do EFA básico: 60%; do EFA
secundário: 67,1%; e do ensino superior: 53%) ou participar em
votaçõesonline (50,3% % dos quais do EFA básico: 73,5%; do EFA secundário:
64,9%; e do ensino superior: 45,4%). São mais os homens do que as mulheres
que dizem contribuir para um forúm online e participar em votações online:
a percentagem de homens que declaram contribuir para um fórum online
diariamente/várias vezes por dia é de 8,9% (mulheres: 3,2%); a percentagem
de homens que dizem participar em votações online diariamente/várias vezes
por dia situa-se nos 6,8% (mulheres: 3,3%). Os inquiridos entre os 22 e os
31 anos são os que mais contribuem para um fórum online; os inquiridos
entre os 18 e os 21 anos são os que mais participam em votações online.
2. Competências de literacia mediática e práticas mediáticas
Competências de literacia mediática e dados sociográficos
Uma análise dos resultados, a partir de uma escala de 0 - 100 pontos,
permite-nos concluir que a escolaridade e a idade são as mais importantes
dimensões sociográficas explicativas das competências de literacia mediática
destes indivíduos12: em média, à medida que o nível de ensino frequentado
aumenta, aumentam as pontuações médias do desempenho dos alunos na prova de
literacia mediática.
Quanto à idade, a análise permite constatar que, em média, os alunos mais novos
apresentam melhores classificações na prova. Quando ao género, verifica-se que,
em média, não existem diferenças relevantes entre as classificações dos alunos
e das alunas que responderam à prova.
Uma última nota para o ensino superior. Como seria de esperar, dada a homogenia
quanto ao nível de escolaridade e à idade, não se registam diferenças
relevantes entre áreas científicas de ensino superior Os scores variam entre um
máximo de 62,6 (Engenharias) e um mínimo de 56,2 (Humanidades) pontos, pelo que
a variação (6,4) não nos parece determinante.
Uma análise mais fina por curso a frequentar no ensino superior mostra que, em
geral, os alunos dos cursos com médias de acesso ao ensino superior mais altas
(como Medicina, Ciências da Comunicação, Design ou Engenharia de Materiais)
obtêm, em média, scores mais altos; os alunos dos cursos com médias de acesso
mais baixas (como Matemática, Ciências da Linguagem ou Química Tecnológica)
obtêm, em média, pontuações mais baixas (Quadro_2.2).
Os cursos de Ciência Política, Design de Produto e Engenharia de Materiais
lideram a tabela. No extremo oposto estão os cursos de Matemática Aplicada e
Química Tecnológica. A diferença entre pontuações atinge os 22,8 pontos
(Ciência Política vs. Matemática Aplicada).
Competências de literacia mediática e práticas mediáticas
Ao contrário do sugerido na literatura, os efeitos da exposição aos media
tradicionais (jornais, revistas, rádio e televisão) não são expressivos em
questões de competências de literacia mediática (Quadro_2.3). O mesmo não
acontece em relação aos efeitos da exposição aos novos media: nesta amostra,
uma navegação na internet mais intensa condiciona fortemente as competências de
literacia mediática. Quem nunca ou raramente navega na internet obtém, em
média, uma classificação de 20 pontos; quem diariamente assume tal prática
regista, em média, uma pontuação de 56 pontos. Este impacto regista, assim,
quase o triplo dos pontos.
Nesta amostra, quem declara nunca ou raramente ler jornais, nunca ou raramente
ler revistas, nunca ou raramente ouvir rádio e nunca ou raramente ver televisão
obtém, em média, scores muito semelhantes aos dos alunos que declaram a
realização diária de tais práticas mediáticas. Assim, concluimos que não existe
uma correspondência evidente entre exposição aos media tradicionais e
competências de literacia mediática.
Parece existir uma correspondência mais ou menos evidente entre a leitura de
livros (impressos) e as competências de literacia mediática: em média, a
leitura de mais livros por ano contribui para reforçar essas competências
(Quadro_2.4).
Estes resultados reforçam a importância determinante da leitura na literacia
dos indivíduos. Essa importância tem vindo a ser realçada na investigação
sociológica sobre literacia: a leitura de livros surge como um indicador
importante e estatisticamente significativo, especialmente por referência à
literacia em prosa (Ávila, 2008: 228-230).
Observem-se, com mais detalhe, alguns indicadores de práticas de utilização de
internet, práticas que, como vimos, condicionam fortemente as competências de
literacia mediática dos inquiridos neste estudo (Quadro_2.5).
As diferenças mais evidentes dizem respeito aos indicadores de informação e
pesquisa online: em média, nesta amostra, quem declara nunca procurar notícias,
nunca procurar informação para trabalhos escolares, e nunca procurar e
verificar factos obtém scores mais baixos do que quem declara fazê-lo
diariamente. Os efeitos de tais atividades são bastante expressivos neste grupo
de indicadores (por exemplo, no indicador "procurar informação para
trabalhos escolares", a variação é de 22,7 pontos; e no indicador
"procurar e verificar factos", a variação atinge os 25,4 pontos).
Uma última nota para as redes sociais: em média, os alunos que declaram ter
perfil em alguma rede social online (média: 56,4) detêm mais competências de
literacia mediática do que os seus colegas que declaram não o ter (média:
46,4).
Análise de regressão múltipla: Competências de literacia mediática
De que modo é que as dimensões/fatores até aqui exploradas/os contribuem,
quando tomados em conjunto, para explicar as competências de literacia
mediática nesta amostra?
Procurando uma hierarquização do peso relativo de um conjunto de fatores e da
sua correlação com as competências de literacia mediática dos inquiridos
procedeu-se a uma análise de regressão linear múltipla.
As variáveis independentes analisadas dizem respeito à caracterização
sociográfica do inquirido (escolaridade, sexo, idade) e do seu núcleo familiar
(escolaridade do pai e da mãe) e à caracterização de práticas mediáticas
(práticas de leitura de livros e de jornais, de audição de rádio, de
visionamento de TV, nomeadamente nas vertentes informação, entretenimento e
cultura, e de navegação e utilização de internet, nomeadamente na vertentes
informação e pesquisa, e edição de conteúdos).
Os resultados realçados no Quadro_2.6 indicam as variáveis que se revelaram
estatisticamente significativas. A percentagem de variação das competências de
literacia mediática explicada pelo modelo é de 36%.
Os resultados mostram claramente a forma como as competências de literacia
mediática se encontram associadas à escolaridade e à idade.
A escolaridade é, na nossa amostra, o fator mais determinante em questões de
competências de literacia. Tal facto não é surpreendente: vários autores têm
afirmado o mesmo, como Patrícia Ávila (2008), em relação à literacia
"tradicional", ou Helen Helsper (2013), em relação à literacia
mediática. Como sabemos, Helsper e Eynon afirmam também a idade e o género como
recursos inclusivos de literacia mediática (Helsper e Eynon, 2013).
Na nossa análise, a escolaridade não anula a importância da idade. As
competências de literacia mediáticas são, nesta amostra, particularmente
condicionadas pela idade, mas numa correlação negativa: as competências tendem
a ser mais elevadas entre os mais novos, o que pode estar relacionado com
"a dificuldade que uma parte significativa dos mais velhos poderão ter em
manter atualizadas as suas competências" (Ávila, 2008: 231). Neste
sentido, não esqueçamos - como alerta Patrícia Ávila - que as
competências de literacia podem desenvolver-se ou regredir ao longo da vida
(Ávila, 2008: 229).
A correlação entre género e competências de literacia mediática não é
estatisticamente significativa neste estudo. O mesmo acontece em relação ao
capital escolar do núcleo familiar de origem: a escolaridade do pai e da mãe do
inquirido não constituem fatores significativos nesta análise, conclusão que se
afasta dos resultados dos principais estudos nacionais e internacionais de
literacia (cf. Ávila, 2008).
Quanto às práticas mediáticas, os resultados realçam uma correlação positiva
entre competências de literacia mediática e o visionamento de programas
culturais na televisão (como programas científicos, documentários ou programas
culturais), e entre competências de literacia mediática e o número de livros
(impressos) lidos por ano. Assim, os números tornam explícito que as
competências de literacia mediática tendem a ser, neste estudo, mais elevadas
entre os inquiridos que mais livros leem por ano e que a mais programas
culturais assistem na TV. Estas são, na verdade, duas das práticas que mais
esforço e empenho exigem a nível de atenção e de competências críticas.
Os resultados mostram também a existência de uma correlação negativa (mas
estatisticamente significativa) entre competências de literacia mediática e o
visionamento televisivo de programas de entretenimento (como concursos,
telenovelas ou talkshows): as competências de literacia mediática tendem a ser
menos elevadas entre os inquiridos que mais assistem a este tipo de programas.
Variáveis relativas a práticas mediáticas como a frequência de leitura de
jornais, a frequência de audição de rádio, a frequência de visionamento de
televisão ou a frequência de navegação na internet, entre outras, veem o seu
efeito ser muito atenuado quando, no modelo, estão variáveis como a idade e a
escolaridade, por exemplo.
Notas finais
Os resultados de "Literacia mediática e cidadania. Práticas e
competências de adultos em formação na Grande Lisboa" obrigam a
questionar a ideia preconcebida de que, na contemporaneidade, os indivíduos
- sobretudo os "nativos digitais" - são uma espécie de
"dependentes de informação" que, de forma competente e continuada,
criam/produzem conteúdos originais e os distribuem em rede.
Os dados revelam que os mais novos e os que frequentam níveis de ensino mais
elevados passam significativamente menos tempo a obter/receber/processar
informação de atualidade do que os mais velhos e menos escolarizados. Os
resultados mostram também que são os mais novos e os que frequentam níveis de
ensino mais elevados os que menos jornais impressos leem e menos televisão
veem. Em contrapartida, são os que mais usam a internet para informação e
pesquisa (as atividades online com frequências médias mais elevadas), e para
comunicação.
A participação pública online é, entre os vários tipos de atividade online
analisadas junto dos alunos a frequentar o ensino superior, a que apresenta
frequências médias mais baixas. As atividades online de gestão de conteúdos
apresentam valores médios muito baixos, particularmente a "edição de
conteúdos".
Os efeitos da exposição aos old media não se revelaram particularmente
expressivos neste particular, mas os efeitos da exposição aos new media parecem
condicionar fortemente as competências de literacia mediática destes
indivíduos.
Uma análise de regressão linear múltipla mostrou que a leitura de livros
impressos e o visionamento de géneros culturais na televisão, por um lado
(media tradicionais), e as atividades de informação e de pesquisa online, por
outro (novos media), se revelaram, nesta amostra, variáveis estatisticamente
significativas.