Ansiedade e coping em crianças e adolescentes: Diferenças relacionadas com a
idade e género
O final da infância e a adolescência são períodos caracterizados por mudanças
físicas, nas capacidades cognitivas e no ajustamento emocional e social, em que
as crianças e os adolescentes experimentam diferentes níveis de stresse face às
mudanças e desafios característicos destes períodos (Hussong & Chassin,
2004). Wilson, Pritchard, e Revalee (2005) referem que algumas crianças e
adolescentes não conseguem atingir um ajustamento psicossocial saudável,
podendo apresentar diferentes perturbações ou sintomatologias, como as ansiosas
e as depressivas, que podem influenciar o seu desenvolvimento e funcionamento a
nível individual, familiar, escolar e social.
Durante a infância e a adolescência a ansiedade surge como uma característica
normal, permitindo às crianças e aos adolescentes adaptarem-se a situações
novas, inesperadas ou perigosas (Rosen & Schulkin, 1998). Para a maioria
das crianças e dos adolescentes a ansiedade é uma experiência comum, funcional
e transitória, cuja natureza e intensidade variam, em grande parte, de acordo
com o estádio de desenvolvimento (Barrett, 1998). No entanto, a ansiedade pode
aumentar de intensidade e tornar-se, muitas vezes, crónica e disfuncional do
ponto de vista do desenvolvimento sócioemocional (Fonseca, 1998).
Em geral, as crianças e os adolescentes ansiosos apresentam um medo exagerado
de insucesso, uma sensibilidade exagerada aos sinais de perigo, náuseas,
palidez, tremores e várias queixas somáticas. São ainda evidentes sintomas como
o aumento do ritmo cardíaco, da transpiração ou da condutância da pele,
enquanto que a nível motor distinguem-se pela irrequietude e pelos frequentes
pedidos de ajuda e/ou comportamentos de evitamento (Bernstein & Borchardt,
1991; Fonseca, 1998). Contudo, na infância e na adolescência a única categoria
específica de ansiedade nestes períodos é a perturbação de ansiedade de
separação, em que os critérios de diagnóstico das perturbações de ansiedade nos
adultos podem ser aplicados nestas etapas da vida (American Psychiatric
Association - APA, 2002). Por outro lado, as perturbações de ansiedade na
infância e adolescência não se caracterizam por um padrão homogéneo e
consistente de sintomas, podendo diferir na frequência dos sintomas, na
gravidade, no desenvolvimento, na evolução e nas reacções ao tratamento
(Fonseca, 1998).
Essau, Conradt, e Petermann (2000) ao analisarem diversos estudos referiram que
a prevalência das perturbações de ansiedade, embora com variações devido a
factores culturais, variam entre os 3 e os 13%. O estudo de Essau e
colaboradores (2000) com adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os
17 anos demonstrou que as raparigas apresentavam mais sintomas ansiosos que os
rapazes e que a sintomatologia tende a aumentar com a idade, normalmente entre
os 12 e os 15 anos de idade.
Matos, Barrett, Dadds, e Short (2003) realizaram um estudo transversal em
crianças e adolescentes portugueses, entre os 10 e os 17 anos, do 6º, 8º e 10º
ano de escolaridade de escolas públicas, onde verificaram que as raparigas
apresentaram mais sintomas de ansiedade e/ou depressão do que os rapazes. Estas
diferenças de género nas perturbações de ansiedade são explicadas por duas
correntes, em que uma assume que as diferenças são determinadas genética ou
biologicamente, ao contrário da segunda corrente, que refere que as diferenças
estão relacionadas com as experiências e papéis sociais dos homens e das
mulheres na sociedade (Allen, Gotlib, Lewinsohn, Lewinsohn, & Seeley,
1998).
Numa fase como a infância e a adolescência é necessário ter em consideração as
estratégias para lidar com problemas ou acontecimentos stressantes inerentes a
estas etapas da vida. Neste sentido, o processo de copingtorna-se
particularmente importante, na medida em que é a chave para entender o modo
como as crianças e os adolescentes respondem ou lidam com os problemas ou com
as transições a que estão sujeitos, que, por sua vez, têm impacto no seu
ajustamento psicossocial (Hussong & Chassin, 2004).
Segundo Lazarus e Folkman (1984) o copingpode ser definido como um conjunto de
esforços, cognitivos e comportamentais, utilizado pelos adolescentes para
lidarem com exigências específicas, externas ou internas, ou o conflito entre
ambas, que são avaliadas como excedentes dos recursos pessoais.
Apesar da diversidade nesta área, todas as abordagens enfatizam uma distinção
básica entre duas categorias de estratégias de coping: as estratégias de
copingfocadas na emoção e as estratégias de copingfocadas no problema (Rijavec
& Brdar, 2002). As estratégias de coping focadas no problema reflectem
esforços cognitivos e comportamentais com o intuito de lidar e resolver uma
situação geradora de stresse, enquanto que as estratégias de copingfocadas na
emoção incluem esforços cognitivos e comportamentais para evitar pensar sobre a
situação stressante ou com o objectivo de lidar com o desconforto emocional
causado pelo stresse (Moos, 1993). Para Seiffge-Krense (2000) algumas
estratégias de copingpodem desempenhar funções protectoras ao regular emoções
negativas ligadas ao stress, gerando soluções alternativas e reduzindo as
consequências negativas dos agentes stressores, enquanto que outras podem
exacerbar os efeitos do stress e elas próprias se tornam factores de risco.
As crianças e adolescentes utilizam uma grande diversidade de respostas de
coping em diferentes domínios, como o escolar, o familiar e o social, da mesma
forma que diferem na avaliação das situações stressoras (Boekaerts, 1996). De
acordo com Skinner e Wellborn (1997) o tipo de avaliação que as crianças e
adolescentes fazem das situações geradores de stressestá relacionado com o
facto de considerarem a situação como uma ameaça ou somente com uma
interferência nas suas necessidades básicas. Os acontecimentos stressantes são
referenciados pelas crianças como estando relacionados com a escola, a família
ou o grupo de pares, enquanto que para os adolescentes os stressores associam-
se aos resultados dos testes, a pressões académicas, a problemas com o ambiente
na sala de aula, com a autoridade ou com a relação com os pares (Rijavec &
Brdar, 2002; Skinner & Wellborn, 1997).
Diversos autores referem a existência de diferenças de género na utilização das
estratégias de coping, em que as raparigas têm tendência para usar estratégias
passivas centradas na emoção, como a expressão de emoções e a procura de apoio
social, enquanto que os rapazes usam mais estratégias focadas no problema,
estando menos propensos para aceitar e esperar passivamente (Heckhausen &
Schulz, 1995; Rijavec & Brdar, 1997). Para Myers e Thompson (2000), face a
um grande número de aconteci-mentos stressantes, as raparigas tendem a utilizar
mais estratégias de copingdireccionadas com a estabilidade emocional, como
relaxar e investir em relacionamentos mais próximos, ao invés de agir de forma
activa sobre o stressor, como os rapazes.
Wenger, Sharrer, e Wynd (2000) referem que as crianças e os adolescentes,
muitas vezes, ao serem confrontadas com diferentes tipos de stressores, podem
ainda não ter adquirido uma variedade de estratégias que lhes permitam lidar
eficazmente com os problemas ou acontecimentos stressantes. Segundo Heckhausen
e Schulz (1995) o coping focalizado no problema ou focalizado na emoção emerge
em diferentes pontos do desenvolvimento, em que o copingfocalizado no problema
parece ser adquirido nos anos pré-escolares, desenvolvendo-se até aos oito ou
10 anos de idade, enquanto o copingfocalizado na emoção tende a aparecer mais
tarde na infância e a desenvolver-se durante a adolescência. Os adolescentes
utilizam mais frequentemente o copingfocalizado na emoção do que as crianças,
embora não difiram de jovens adultos, o que sugere que as mudanças no
desenvolvimento das estratégias de copingocorram até ao final da adolescência
(Compas, Banez, Malcarne, & Worsham, 1991).
Por outro lado, diversos estudos têm verificado a existência de uma relação
positiva entre o uso de estratégias de copinginadequadas e a manifestação de
diferentes psicopatologias, como as ansiosas ou as depressivas (Holahan, Moos,
& Schaefer, 1996). Entende-se por estratégias de copingdesadaptadas as
estratégias que não conseguem solucionar ou resolver o problema e aumentam a
ansiedade e angústia do indivíduo perante a situação de stress (Moos, 1993).
Selffge-Krenke (2000) refere que as crianças e os adolescentes com perturbações
psicológicas usam estratégias de copingdesadaptadas, estratégias que no futuro
podem levar ao aumento dessas perturbações, criando-se, assim, um ciclo
vicioso.
Em 2004, Leandro realizou um estudo com 285 adolescentes com o objectivo de
verificar se os adolescentes com níveis de ansiedade elevados utilizavam
estratégias de coping diferenciadas do que os com níveis mais baixos, onde
verificou que os adolescentes mais ansiosos utilizavam estratégias de
copingcentradas na emoção, como o evitamento e a reavaliação positiva e que os
menos ansiosos utilizavam estratégias mais centradas no problema, como a
planificação, a confrontação e o distanciamento.
Por seu lado, Byrne (2000) ao analisar as relações entre a ansiedade, o medo, a
auto-estima e as estratégias de copingnuma amostra de 224 adolescentes do 7º,
9º e 12º ano de escolaridade, verificou que os rapazes apre-sentam um
decréscimo significativo da ansiedade e do medo no 12º ano de escolaridade e
que os rapazes e as raparigas usam diferentes estratégias de copingnesse mesmo
ano de escolaridade para lidar com o seu medo e ansiedade.
De acordo com Cleto e Costa (2000) a maior parte das estratégias de
copingutilizadas por adolescentes são estratégias de aproximação,
essencialmente quando pensam que controlam as causas dos acontecimentos, quando
são confrontados com situações relacionadas com a escola ou quando a situação
causa baixa ou média ansiedade, enquanto que os adolescentes que enfrentam
situações geradoras de grande ansiedade ou pensam ter sido a causa do stress,
as estratégias que mais utilizam são as de evitamento.
De acordo com a literatura atrás exposta, podemos inferir que a complexidade
inerente à ansiedade e relação deste problema emocional com a utilização de
estratégias de copingacentua a necessidade de existência de estudos com
crianças e adolescentes que analisem a relação entre a sintomatologia ansiosa e
o coping, de modo a aumentar o conhecimento empírico destas problemáticas e,
consequentemente ajudar na elaboração de estratégias preventivas em função da
idade e do género. Deste modo, a presente investigação teve como objectivo
analisar a relação entre a ansiedade e as estratégias de coping, bem como
estudar as diferenças de género e idade em relação à ansiedade e ao coping. Por
último, procurou propor modelos explicativos da ansiedade e do coping.
MÉTODO
Participantes
No presente estudo participaram 916 estudantes com idades compreendidas entre
os 10 e os 22 anos, sendo 45,7% do género masculino e 54,3% do género feminino,
com uma média de idades de 14,44 anos (DP=2,62). Os participantes foram
recrutados aleatoriamente de escolas públicas de diferentes localidades do país
(Vila Real, Bragança, Leiria, Coimbra, Castelo Branco, Odivelas e Lisboa), onde
foram sorteadas duas turmas referendes a cada ano leccionado nas diferentes
escolas, do 5º ao 12º ano. Dos alunos que participaram, 14,6% frequentavam o 5º
ano, 11,8% o 6º ano, 8,7% o 7º ano, 14,6% o 8º ano, 12,7% o 9º ano, 15,9% o 10º
ano, 12,3% o 11ª ano e 9,3% o 12º ano de escolaridade, enquanto que 37,2% dos
alunos afirmaram já terem ficado retidos ao longo do seu percurso escolar.
Instrumentos
Questionário demográfico
O questionário demográfico foi constituído por várias questões que permitiram a
recolha de informação relativa aos adolescentes, tais como idade, género, ano
de escolaridade, entre outros dados.
Multidimensional Anxiety Scale for Children - MASC (March, 1997)
A ansiedade foi avaliada pela MASC, uma medida de auto-avaliação para medir
diferentes dimensões da ansiedade em crianças e adolescentes, dos oito aos 19
anos de idade. É constituída por 39 itens, com formato de resposta tipo
Likertde quatro pontos (do Nunca ou quase nunca é verdade ao Frequentemente é
verdade), distribuídos por quatro factores que avaliam os sintomas físicos, o
evitamento prejudicial, a ansiedade social e a ansiedade de separação e de
pânico. Os três primeiros factores são compostos por subescalas, em que a
primeira avalia os sintomas somáticos e os sintomas de tensão, a segunda avalia
o perfeccionismo e o copingansioso, enquanto que a terceira avalia os medos de
desempenho e os medos de humilhação. Nesta medida os itens são igualmente
distribuídos por dois índices, um de perturbação total de ansiedade e um índice
de inconsistência, embora este último não tenha sido utilizado no presente
estudo (March, 1997). No estudo das propriedades psicométricas, foram
encontrados coeficientes de consistência interna, alphade Cronbach,adequados,
cujos valores foram de .89 para o total da escala, e variaram entre .62
(ansiedade/pânico) e .87 (sintomas físicos) para as diferentes dimensões da
medida (March, 1997). No presente estudo, os valores de consistência interna,
alphade Cronbach, variaram entre o .86, para o total da escala e .51 a .77 para
as oito subscalas.
TABELA 1
Análise da consistência interna das dimensões MASC
________________________________________________________________________
| _______________________|______α_de_Cronbach_____|__Número_de_itens__|
|Total____________________|__________0,86___________|_________39_________|
|Sintomas_físicos_-_tens?__________0,66___________|_________6__________|
|Sintomas físicos - | 0,58 | 6 |
|somáticos_______________|_________________________|____________________|
|Perfeccionismo___________|__________0,51___________|_________4__________|
|Coping_ansioso___________|__________0,54___________|_________4__________|
|Medo_humilhação________|__________0,77___________|_________5__________|
|Medo_desempenho__________|__________0,57___________|_________4__________|
|Ansiedade separação/ | 0,57 | 9 |
|pânico__________________|_________________________|____________________|
|Índice perturbação | 0,59 | 10 |
|ansiedade________________|_________________________|____________________|
Coping Responses Inventory - Youth Form - CRI-Y (Moos, 1993)
As estratégias de copingforam avaliadas através do CRI-Y, um inventário de
auto-avaliação dirigido a crianças e adolescentes entre os 12 e os 18 anos,
constituído por duas partes, em que na primeira parte os participantes
descrevem um problema ou situação geradora de stress, agrupados em diferentes
categorias (saúde física, família, casa/dinheiro, progenitores, família
alargada, irmãos, escola, amigos e namorado/a), e respondem a 10 questões
relativas a esse problema, avaliadas numa escala tipo Likertde quatro pontos
(do Definitivamente Não ao Definitivamente Sim) (Moos, 1993). Na presente
investigação os problemas foram agrupados em quatro categorias: saúde física,
família, escola e amigos, no entanto esta parte da medida foi retirada dos
procedimentos estatísticos devido à pouca informação disponível sobre a mesma.
A segunda parte do CRI-Y é constituída por 48 itens, que se encontram agrupados
em oito factores, cada um constituído por seis itens, correspondentes a oito
diferentes tipos de respostas de coping: análise lógica, reavaliação positiva,
procura de apoio e orientação, resolução de problemas, evitamento cognitivo,
aceitação ou resignação, recompensas alternativas e descarga emocional. As
quatro primeiras estratégias correspondem ao copingde aproximação, enquanto que
as restantes quatro correspondem ao copingde evitamento. Nesta parte da medida,
as crianças e os adolescentes seleccionam a frequência do modo como lidaram com
a situação que descreveram na primeira parte, numa escala tipo Likertde cinco
pontos (do Não, nunca ao Não aplicável). As qualidades psicométricas do CRI-
Y revelaram coeficientes de consistência interna, alpha de Cronbach, que
variaram entre .55 a .79 para os oito factores (Moos, 1993).
Procedimento
A investigação teve por base um estudo comparativo e correlacional de carácter
transversal, onde foi administrado um protocolo de investigação a estudantes do
5º ao 12º ano de escolaridade, constituído por um questionário demográfico e
por duas medidas de avaliação (MASC e CRI-Y). O pedido de consentimento
informado foi efectuado por escrito às escolas seleccionadas aleatoriamente,
aos encarregados de educação e aos alunos. A aplicação do protocolo foi
realizada colectivamente durante as horas de aula e na presença dos professores
das disciplinas, onde foram garantidos o anonimato e confidencialidade das
respostas.
RESULTADOS
Os dados foram introduzidos e sujeitos a procedimentos estatísticos calculados
através do Statistical Package for Social Sciences(SPSS) 14.0 para o Windows.
Através da análise dos coeficientes de fidelidade, verificou-se que os 39 itens
que constituem a escala de ansiedade - MASC, indicaram boa consistência
interna, com valor do coeficiente alphade Cronbach de .86 e os valores
encontrados para as oito subescalas (sintomas físicos - tensão, sintomas
físicos - somáticos, evitamento prejudicial - perfeccionismo,
evitamento prejudicial - copingansioso, ansiedade social - medos de
humilhação, ansiedade social - medos de desempenho, ansiedade separação/
pânico e índice de perturbação de ansiedade), variam de .51 a .77.
O teste de análise de variância ANOVA foi utilizado para comparar variáveis
consideradas potenciais moderadoras: a idade, o género, as retenções, o grau
dos sintomas ansiosos e o agregado familiar em relação à ansiedade e às
estratégias de coping.
Idade
A variável idade foi dividida em três grupos, o grupo dos adolescentes mais
novos, que chamámos pré-adolescentes (entre os 10 e os 13 anos), o grupo dos
adolescentes (14-17 anos) e o grupo dos adolescentes mais velhos, que chamámos
pós-adolescentes (18-22 anos). Também optámos por dividir o resultado total do
MASC, através dos percentis, em três grupos aos quais chamámos grupo com menos
sintomas (grupo com níveis de ansiedade menos elevados), grupo com sintomas
medianos (grupo com níveis de ansiedade médio) e grupo com sintomas m ais
elevados (grupo com níveis de ansiedade mais elevados).
Para as diferenças entre os grupos das idades para a ansiedade (MASC-total) e
as suas 8 subescalas e para o coping(total) e as suas oito subescalas, os
resultados revelaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos
das idades para a subescala sintomas de tensão, perfeccionismo, ansiedade
separação/pânico e para o índice de perturbação de ansiedade, em que o grupo
dos pré-adolescentes apresentaram maior nível de ansiedade de separação/pânico,
quando comparado com os restantes grupos e o grupo dos jovens adultos
apresentaram maior nível de sintomas de tensão e índice de perturbação de
ansiedade, quando comparado aos restantes grupos (ver Tabela_2). No que se
refere às diferenças entre os grupos das idades, o total do CRI-Y parte 2 e as
suas oito subescalas, as diferenças não foram significativas somente para a
subescala recompensas alternativas (ver Tabela_3).
TABELA_2
Diferenças entre os grupos de idades para a ansiedade
_____________________________________________________________________________
| | Pré- |Adolescentes | Pós- | | |
|_____________________|adolescentes|_____________|adolescentes|_______|_______|
| ___________________|(10-13_anos)|(14-17_anos)_|(18-22_anos)| _____| _____|
| ___________________|__M___|_DP__|__M___|__DP__|__M___|_DP__|___F___|___p___|
|Total________________|80,84_|14,96|80,93_|14,65_|83,53_|14,91|_1,542_|_.215__|
|Sintomas físicos - |10,52 |3,21 |11,58 | 3,17 |11,88 |3,40 | 8,898 |.000***|
|tensão______________|______|_____|______|______|______|_____|_______|_______|
|Sintomas físicos - |11,13 |2,97 |11,48 | 3,11 |11,75 |3,25 | 2,118 | .121 |
|somáticos___________|______|_____|______|______|______|_____|_______|_______|
|Perfeccionismo_______|11,66_|2,53_|11,16_|_2,47_|11,28_|2,19_|_3,828_|_.022*_|
|Coping_ansioso_______|10,31_|2,88_|_9,88_|_2,42_|10,05_|2,05_|_2,679_|_.069__|
|Medo_humilhação____|11,38_|3,95_|11,34_|_3,67_|12,07_|4,10_|_1,668_|_.189__|
|Medo_desempenho______|_8,68_|2,82_|_9,11_|_2,54_|_9,19_|2,65_|_2,924_|_.054__|
|Ansiedade separação|16,31 |4,12 |15,60 | 3,71 |15,89 |3,70 | 3,040 | .048* |
|pânico______________|______|_____|______|______|______|_____|_______|_______|
|Índice perturbação|19,98 |4,46 |20,41 | 4,45 |21,22 |4,75 | 3,038 | .048* |
|ansiedade____________|______|_____|______|______|______|_____|_______|_______|
Nota:*p<.05, **p<.01, ***p<.001.
TABELA_3
Diferenças entre os grupos de idades para ocoping
___________________________________________________________________________
| | Pré- |Adolescentes| Pós- | | |
|______________|adolescentes_|____________|_adolescentes__|________|________|
| ____________|(10-13_anos)_|(14-17_anos)|_(18-22_anos)__| ______| ______|
| ____________|__M__|__DP___|__M___|_DP__|__M___|___DP___|___F____|___p____|
|Total_________|98,08|22,23__|106,96|24,81|107,69|18,19___|16,119__|.000***_|
|Análise_lógi|13,90|3,77___|15,39_|4,05_|16,13_|3,24____|16,141__|.000***_|
|Reavaliação |14,05|3,74 |14,78 |4,18 |13,78 |3,35 |3,358 |.035* |
|positiva______|_____|_______|______|_____|______|________|________|________|
|Procura de | | | | | | | | |
|apoio e |11,57|3,98 |13,52 |4,26 |13,05 |3,68 |17,356 |.000*** |
|orientação__|_____|_______|______|_____|______|________|________|________|
|Resolução de|13,10|3,99 |15,04 |4,39 |14,68 |3,65 |15,381 |.000*** |
|problemas_____|_____|_______|______|_____|______|________|________|________|
|Evitamento |13,80|3,56 |14,83 |3,60 |15,03 |3,48 |6,996 |.001*** |
|cognitivo_____|_____|_______|______|_____|______|________|________|________|
|Aceitação ou|13,15|3,43 |14,63 |3,93 |14,44 |3,82 |11,193 |.000*** |
|resignação__|_____|_______|______|_____|______|________|________|________|
|Recompensas |13,90|4,24 |13,85 |4,43 |13,03 |4,36 |1,374 |.254 |
|alternativas__|_____|_______|______|_____|______|________|________|________|
|Descarga |11,58|3,55 |13,78 |3,68 |13,64 |3,21 |27,281 |.000*** |
|emocional_____|_____|_______|______|_____|______|________|________|________|
Nota:*p<.05, ***p<.001.
Género
Investigou-se também as diferenças entre os géneros para a ansiedade (total) e
as oito subescalas, e o coping(total CRI-Y parte 2) e as subescalas do CRI-Y,
onde se observou que entre a ansiedade e os géneros os resultados revelaram-se
todos estatisticamente significativos, onde o género feminino revelou maior
índice de sintomas de tensão [F(1;872)=22,356; p=.000], de sintomas somáticos
[F(1;884)=25,862); p=.000], de perfec-cionismo [F(1;882)=11,145; p=.001], de
copingansioso [F(1;895)=8,543; p=.004], de medo de humilhação [F(1;885)=35,387;
p=.000], de medo de desempenho [F(1;892)=22,769; p=.000], de ansiedade
separação/pânico [F(1;845)=33,090; p=.000], de índice de perturbação de
ansiedade [F(1;850)=36,092; p=.000] e de ansiedade total [F(1;913)=54,721;
p=.000].
Já para o CRI-Y parte 2 (total) e as subescalas foram apenas encontrados
resultados estatisticamente significativos para as subescalas análise lógica [F
(1;704)=11,978; p=.001], resolução de problemas [F (1;641)=6,111; p=.014],
descarga emocional [F(1;617)=12,077; p=.001], em que foi o género feminino que
revelou resultados médios superiores comparativamente com o género masculino.
Retenções
De seguida procedeu-se à análise das diferenças entre a ansiedade (total e
subescalas) e o coping(total e subescalas) para o grupo das retenções e
observou-se que as diferenças demonstraram ser estatisticamente significativas
somente para a subescala sintomas de tensão (MSAC) [F(1;68)=6,427; p=.011] onde
o grupo que já sofreu retenções foi o que demonstrou maior nível de sintomas de
tensão. Relativa-mente ao coping, os resultados estatisticamente significativos
foram encontrados para o grupo das retenções e a subescala descarga emocional
[F(1;613)=.4,299; p=.039]. Onde o grupo que já sofreu retenções revelou maior
nível de descarga emocional, ou seja, o grupo que já sofreu retenções revela
utilizar mais frequentemente a descarga emocional, como estratégia de
copingeleita, e para o total da escala CRI-Y parte 2 [F(1;903)=.5,948; p=.015],
em que o grupo que já sofreu retenções revelou uma média superior, indicando
que o grupo que já sofreu retenções procura utilizar mais estratégias de
copinggerais.
Ansiedade e coping
Ao analisar-se as diferenças entre os três grupos de ansiedade (grupo com menos
sintomas, grupo com sintomas medianos e grupo com sintomas mais elevados) para
as estratégias de coping, foi possível verificar diferenças significativas para
os grupos da ansiedade para o total do CRI-Y parte 2, para a subescala descarga
emocional, aceitação ou resignação, resolução de problemas, reavaliação
positiva, procura de apoio e orientação, análise lógica e evitamento cognitivo
(inserir Tabela_4), apontando para que quanto mais ansiosos, mais os
adolescentes recorrem a estratégias de coping.
TABELA_4
Diferenças entre os grupos de ansiedade para ocoping
____________________________________________________________________________
| |Menos sintomas|Sintomas |Sintomas | | |
|______________|______________|medianos_____|elevados_______|________|_______|
| ____________|__M___|__DP___|__M___|__DP__|__M___|___DP___|___F____|___p___|
|Total_________|98,15_|_26,66_|104,46|22,08_|108,00|_21,93__|_10,876_|.000***|
|Análise_lógi|14,01_|_4,50__|15,01_|_3,70_|15,65_|__3,58__|_8,235__|.000***|
|Reavaliação |13,70 | 4,05 |14,63 | 3,91 |14,55 | 3,83 | 3,185 | .042* |
|positiva______|______|_______|______|______|______|________|________|_______|
|Procura de | | | | | | | | |
|apoio e |11,79 | 4,17 |12,92 | 4,15 |13,25 | 4,14 | 6,321 |.002** |
|orientação__|______|_______|______|______|______|________|________|_______|
|Resolução de|13,42 | 4,31 |14,48 | 4,27 |14,69 | 4,03 | 4,565 | .011* |
|problemas_____|______|_______|______|______|______|________|________|_______|
|Evitamento |13,94 | 4,23 |14,37 | 3,39 |15,15 | 3,20 | 4,936 |.007** |
|cognitivo_____|______|_______|______|______|______|________|________|_______|
|Aceitação ou|13,78 | 4,22 |13,82 | 3,55 |14,74 | 3,71 | 3,805 | .023* |
|resignação__|______|_______|______|______|______|________|________|_______|
|Recompensas |13,44 | 4,35 |13,96 | 4,40 |13,70 | 4,26 | ,756 | .470 |
|alternativas__|______|_______|______|______|______|________|________|_______|
|Descarga |12,25 | 3,99 |12,57 | 3,54 |14,10 | 3,53 | 12,447 |.000***|
|emocional_____|______|_______|______|______|______|________|________|_______|
Nota:*p<.05, **p<.01, ***p<.001.
Agregado Familiar
Examinou-se ainda a existência de diferenças entre a variável agregado familiar
(grupo dos que vivem com ambos progenitores, grupo que vive somente com a mãe,
grupo que vive somente com o pai e grupo que vive com outras pessoas) para a
ansiedade e as suas subescalas, onde se observou que os resultados são
estatisticamente significativos para as subescalas perfeccionismo [F
(3;879)=2,655; p=.047], onde o grupo que vive com ambos progenitores demonstrou
maiores níveis de perfeccionismo; sintomas somáticos [F(3;891)=3,240; p=.022],
onde o grupo que vive com outros foi o que demonstrou maiores índices de
sintomas somáticos (MASC).
Correlações
Com o intuito de verificar as associações entre a ansiedade e as estratégias de
coping, recorreu-se à análise de correlações b ivariadas entre o total da MASC
e o total do CRI-Y. Os resultados demonstraram que a correlação entre o total
de ambas as escalas é uma correlação positiva fraca, mas estatisticamente
significativa (r=.157; p=.000).
Regressões
Finalmente, foi efectuada uma análise de regressão múltipla pelo método enter,
com o objectivo de avaliar os factores preditores da ansiedade e do coping. Os
resultados obtidos para a ansiedade revelaram a existência de duas variáveis
preditoras, o género (β=.22; p=.000) e o total do CRI-Y parte 2 (β=.12;
p=.001), que explicaram cerca de 7,5% da variância (ver Tabela_5). P ara o CRI-
Y, foi obtida somente uma variável preditora, o total da MASC (β=.16; p=.000),
que explica 4,3% da variância (ver Tabela_6).
TABELA_5
Regressão - Variáveis preditoras da ansiedade
___________________________________________________________________________
| ____________|__________Β_________|__________________SE__________________|
|Género_______|_______.22***________|_________________.94__________________|
|Reprovações_|_________.00_________|_________________1.04_________________|
|Coping_(CRY-I)|_______.15***________|_________________.02__________________|
Nota:***p≤.001.
TABELA_6
Regressão - Variáveis preditoras docoping
_____________________________________________________________________________
| ______________|__________Β_________|__________________SE__________________|
|Género_________|_________.03_________|_________________1.61_________________|
|Reprovações___|________-.05_________|_________________1.74_________________|
|Ansiedade_(MASC)|_______.16***________|_________________.05__________________|
Nota:***p≤.001.
DISCUSSÃO
Esta investigação procurou analisar as diferenças e as relações existentes
entre a ansiedade e o coping, de acordo com o género, as retenções sofridas ao
longo do percurso escolar e o tipo de agregado familiar.
No estudo das diferenças entre a idade, foram os jovens adultos que revelaram
mais sintomas de ansiedade, nomeadamente sintomas de tensão e ansiosos, o que
vai ao encontro dos resultados relatados por Matos e Equipa (2000, 2003, 2004).
Por outro lado, tal como foi relatado por March (1997), foram os pré-
adolescentes que relataram mais sintomas de ansiedade de separação/pânico, o
que poderá traduzir o maior medo que estes participantes têm de estar sozinhos
ou perante situações que não lhes são familiares. Em relação às estratégias de
coping, os resultados vão no mesmo sentido, uma vez que os adolescentes mais
velhos demonstraram uma maior utilização de estratégias de coping, o que poderá
estar directamente relacionado com o facto de que em diferentes fases do
desenvolvimento os adolescentes começarem a ampliar o uso das estratégias para
lidar com o stress (Hussong & Chassin, 2004), comparativamente com as
estratégias utilizadas pelos mais novos. Losoya, Eisenberg, e Fabes (1998)
verificaram que, com a idade, as crianças passam a usar mais frequentemente
estratégias que requerem um processo cognitivo mais sofisticado e se tornam
mais independentes, procurando menos o apoio de outras pessoas para lidar com
as situações.
No que diz respeito às diferenças de géneros, as raparigas diferenciaram-se dos
rapazes relativamente à ansiedade relatando níveis gerais mais elevados
comparativamente com os rapazes, o que é consistente com vários estudos
realizados acerca das diferenças de género na saúde mental, nomeadamente na
ansiedade (Matos et al., 2003). Estas diferenças do género parecem emergir no
início da adolescência e mantém-se ao longo da vida adulta. No entanto, é
importante referir que as síndromes durante a adolescência podem assumir um
comportamento heterogéneo, dependendo do seu estágio de desenvolvimento, da
altura em que surgiram bem como da comorbidade existente (Harrington, Rutter,
& Fombonne, 1996). Em relação às estratégias de copingparece ter ficado
demonstrado que as raparigas utilizam mais estratégias de copingdo que os
rapazes, nomeadamente estratégias focadas na emoção, como a descarga emocional.
As crianças e adolescentes que já haviam sofrido retenções ao longo do seu
percurso escolar apresentaram mais sintomas de tensão e ansiedade do que
aqueles que nunca tinham sofrido retenções. Fonseca (1998), numa revisão da
literatura, referiu que a ansiedade varia de indivíduo e pode manifestar-se com
graus diferentes, e que os adolescentes ansiosos a nível cognitivo experienciam
problemas de concentração e podem apresentar distorções cognitivas, como medo
exagerado de insucesso. Segundo Rijavec e Brdar (2002), são os estudantes que
recorrem a essencialmente a estratégias orien-tadas para o problema que
apresentam um melhor desempenho escolar, do que os que utilizavam estratégias
orientadas para a emoção. Também no nosso estudo, foram os estudantes com
retenções que mais frequentemente utilizaram a estratégia de copingdenominada
descarga emocional.
O grau de sintomas ansiosos parece afectar o número de estratégias de coping
utilizadas pelos participantes, o que vai de encontro aos estudos elaborados
por Wilson e colaboradores (2005). Ainda neste sentido, a ansiedade revelou
estar associada com o coping, ou seja, quanto mais sintomas de ansiedade maior
é a utilização de estratégias de coping.
De acordo com o que é descrito na literatura, isto é, que seriam os
adolescentes que viviam com outras pessoas sem serem os progenitores que
apresentariam maiores índices de ansiedade (Hammen, Henry, & Daley, 2000),
estes estudantes apresentaram mais sintomas de ansiedade. Por outro lado, foram
os adolescentes que viviam com ambos os progenitores que revelaram ser mais
perfeccionistas.
De referir ainda, que os resultados deverão ter em consideração que grande
parte das subescalas do CRY-I, apresentaram valores de alpha de Cronback,baixos
impossibilitando interpretar de forma precisa os resultados, que não devem ser
generalizados para outros estudos.
Os factores preditores encontrados para a ansiedade foram o género e o coping.
Segundo Avison e Mcalpine (1992) ser do género femi-nino implica ter
vulnerabilidade genética para ter uma perturbação psiquiátrica, assim como a
utilização de estratégias de copingmenos eficazes e adaptativas (Moos, 1993)
podem aumentar os níveis de ansiedade.
Apenas a ansiedade parece predizer as estratégias de copingutilizadas pelas
crianças e pelos adolescentes. Segundo Moos (1993) o estado de ansiedade do
indivíduo pode predizer o tipo de estratégias utilizadas perante determinada
situação.
Programas universais de prevenção primária para adolescentes que foquem um
único problema de saúde, ou uma simples característica do comportamento, têm
poucas probabilidades de ter sucesso porque nos adolescentes estes problemas
aparecem agrupados e ligados a um sindroma geral de mal-estar pessoal e social.
A identificação precoce e o tratamento de problemas múltiplos em adolescentes é
pois proposta, com vista a minorar ou mesmo eliminar problemas entre os
adolescentes que têm um risco elevado para perturbações a longo prazo, com
repercussões a nível do bem-estar e saúde positiva dos alunos e repercussões
prováveis ao nível do sucesso escolar.
Um maior número de sintomas ansiosos poderão estar associados a um maior número
de estratégias de coping, no sentido em que a ansiedade aumenta perante uma
situação de stress, levando à adopção de estratégias de copingdesadaptadas e
vice-versa. A avaliação dos sintomas ansiosos e das estratégias de copingdeve
ter em consideração a co-ocorrência destes problemas, que, muitas vezes atingem
níveis clínicos, de modo a maximizar e efectivar os programas de intervenção.
Estes programas devem focar a diminuição e o controlo de sintomas ansiosos, de
modo a aumentar o desenvolvimento saudável e modificar os padrões de
estratégias de coping utilizados pelos adolescentes, para que estes utilizem
estratégias eficazes e adaptadas a cada situação e, consequentemente
controlarem e adaptarem os sintomas ansiosos adjacentes ou subjacentes a uma
situação geradora de stress.