Editorial
Editorial
Sociologia, Problemas e Práticas dobra em 2010 mais uma página do seu percurso
editorial. A partir deste número 62 passa a ser publicada através da Mundos
Sociais, a editora recentemente criada pelo Centro de Investigação e Estudos de
Sociologia. Este, por sua vez, assume agora um novo figurino institucional como
CIES-IUL, unidade orgânica de investigação do ISCTE— Instituto Universitário de
Lisboa. À Celta Editora, com que a revista teve uma excelente colaboração de
longa data, deixa-se aqui um público reconhecimento pelo contributo dado a este
projecto, no decurso dos mais de doze anos de trabalho conjunto e empenhado.
Este volume abre com um artigo de Augusto Santos Silva e Helena Santos, no qual
é feita uma análise da espacialidade urbana, no âmbito das cidades de média
dimensão. Os autores discutem a sua relação com as dinâmicas da globalização e
da localização e, a partir dos testemunhos de protagonistas da "cena
cultural urbana", reflectem sobre as lógicas de redesenvolvimento das
cidades e o modo como recursos e actividades interferem na configuração do
espaço público, do tecido sócio-económico e das identidades. João Teixeira
Lopes, Pedro dos Santos Bóia, Lígia Ferro e Paula Guerra transportam-nos ao
mundo das (sub)culturas juvenis de participantes em festas de música
electrónica, num artigo que se centra no estudo da construção identitária de
género destas categorias sociais. Através da mobilização do método etnográfico
e de técnicas de observação directa e de entrevista, os autores mobilizam um
conjunto de dimensões analíticas para a construção de retratos sociológicos de
mulheresclubbers.
Maria Engrácia Leandro, Ana Sofia da Silva Leandro e Virgínia Barroso Henriques
exploram analiticamente a família enquanto protagonista dos cuidados de saúde,
especificamente a nível das práticas alimentares, e discutem a cultura dos
gostos e olfactos a elas inerentes, e as suas especificidades nos distintos
meios sociais. As autoras convocam a desigualdade de condições económicas e
culturais das famílias para compreender os efeitos diversos dos programas de
reeducação alimentar. Susana Silva e Helena Machado examinam os critérios
inerentes ao recurso a tecnologias de procriação medicamente assistida e as
desigualdades por eles geradas no âmbito das políticas nacionais reguladoras
destes processos. Na sua perspectiva, os fundamentos que restringem o acesso a
tais processos assentam em referenciais ideológicos que impõem uma matriz
heterossexual e um determinado perfil social e genético.
Tom R. Burns e Nora Machado partem de uma análise do risco enquanto elemento
discursivo da sociedade contemporânea para discutirem a necessidade de
formulações teóricas e de novos mecanismos de regulação que contemplem práticas
e sistemas de risco específicos da modernidade. Os autores questionam a
excessiva abrangência do conceito de sociedade de risco, de Ulrich Beck, o
qual, em seu entender, negligencia a complexidade da sociedade moderna.
Neste volume os leitores encontram também a recensão feita por João Freire ao
livro de Susana Durão, Patrulha e Proximidade. Uma Etnografia da Polícia em
Lisboa.
Maria das Dores Guerreiro