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EuPTHUHu0874-55602011000100016

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variedadeEu
ano2011
fonteScielo

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Linguagem. Gênero. Sexualidade.: Clássicos traduzidos Ostermann, Ana Cristina; Fontana, Beatriz (Orgs.) (2010), Linguagem. Gênero.

Sexualidade. Clássicos traduzidos, São Paulo, Parábola.

Tatiane Rosa Carvalho Universidade do Vale do Rio dos Sinos ' UNISINOS tatianecarv@gmail.com

Linguagem. Gênero. Sexualidade. Clássicos Traduzidos foi lançado na segunda edição do Congresso Internacional Linguagem e Interação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em junho de 2010. A publicação foi organizada pelas pesquisadoras Ana Cristina Ostermann e Beatriz Fontana, e representa um importante avanço para os estudos acerca de gênero e interação social no Brasil. Graças à iniciativa das autoras, as leitoras e leitores brasileiros têm finalmente à sua disposição a tradução de estudos clássicos, fundamentais para que se possa compreender melhor as discussões acerca das relações entre linguagem, gênero e sexualidade. O objetivo da obra é tornar acessível a diversidade de perspectivas historicamente desenvolvidas, a fim de demonstrar a compreensão de como mulheres e homens interagem. Linguagem. Gênero.

Sexualidade. Clássicos Traduzidos promove um panorama dos estudos mais representativos da área de gênero e interação social.

A obra está organizada em artigos de pesquisadoras e pesquisadores consagrados, representando a evolução desde os estudos que apontavam para a dicotomia clássica de estilos de fala de mulheres e homens, passando pelas noções de déficit, dominância e diferença, até os desdobramentos mais recentes, que buscam problematizar as noções essencialistas de «feminino» e «masculino» no uso da linguagem.

O trabalho de Robin Lakoff (1975), Linguagem e lugar da mulher, do qual um extrato encontra-se traduzido na obra de Ostermann e Fontana, inaugura os estudos acerca de linguagem e gênero social. Esse artigo representa a perspectiva de déficit sobre linguagem e gênero na presente coletânea. Lakoff (1975) apresenta as diferenças existentes entre os estilos de fala de mulheres e homens que, de acordo com ela, representam a discrepância existente na posição social desigual ocupada por pelos sexos na sociedade estadunidense.

A perspectiva de dominância está representada nas obras de Fishman (1983) e de Candance West e Don Zimmerman (1987). No artigo denominado O trabalho que as mulheres realizam nas interações, Fishman (1983) examina a relação hierárquica entre homens e mulheres, através do modo como essas relações de poder se manifestam na conversa. A autora analisou a fala de três casais em suas residências, a fim de observar as possíveis relações de poder existentes entre homens e mulheres. A partir da análise do trabalho interacional realizado pelas mulheres nessas conversas e pelo exercício de poder exercido pelos homens ao se recusarem a ser o que ela chama de «um parceiro completo» (p. 44), Fishman (1983) demonstra que a atividade conversacional desses casais na esfera privada é representativa das relações hierárquicas socialmente estruturadas existentes entre homens e mulheres.

West e Zimmerman (1987), no artigo denominado Pequenos insultos: estudo sobre interrupções em conversas entre pessoas desconhecidas e de diferentes sexos, analisam a ocorrência de interrupções como uma reflexão acerca de fatores de gerenciamento da alocação dos turnos de fala, entre eles o sexo dos/as falantes. A pesquisa é baseada em interações entre estudantes universitários de diferentes sexos e os resultados demonstraram que os homens iniciaram um número de interrupções três vezes maior do que aquelas iniciadas pelas mulheres. A autora e o autor argumentam que a assimetria na iniciação das interrupções constitui um diferencial de poder, bem como um meio de «fazer» poder e gênero em interações face a face.

A abordagem da diferença, por sua vez, defende que as formas diferenciadas de falar são resultado do fato de que homens e mulheres são socializados de maneiras diferentes desde sua primeira infância. O trabalho de Deborah Tannen (1990) representa essa perspectiva, através do artigo intitulado Quem está interrompendo? Questões de dominação e controle, que corresponde ao quinto capítulo de Linguagem. Gênero. Sexualidade. Clássicos Traduzidos. Tannen (1990) problematiza as interpretações de estudos anteriores acerca de interrupções, discutindo a necessidade de uma análise meticulosa do que constitui a interrupção nas conversas estudadas. A autora argumenta que para determinar se algum direito de fala está sendo violado, faz-se necessário conhecer bem os/as falantes envolvidos/as na conversa, bem como a situação, a fim de que se possa reconhecer o que o/a falante que interrompe está tentando fazer.

Estudos posteriores a 1990 passam a contestar o essencialismo até então atribuído às relações entre linguagem e gênero social. A partir de então surge um maior interesse em investigar as complexidades envolvidas em fazer gênero por meio da linguagem. O estudo de Penelope Eckert e Sally McConnell-Ginet (1992), traduzido no capítulo seis da coletânea de Ostermann e Fontana é um exemplo dessa nova abordagem. No artigo denominado Comunidades de práticas: lugar onde co-habitam linguagem, gênero e poder, as autoras sustentam que gênero também pode ser negociado e aprendido dentro de comunidades de prática.

O capítulo sete, denominado «É uma menina!»: a volta da performatividade à linguística, de Anna Livia e Kira Hall (1997), explora as relações entre linguagem e gênero a partir da teoria dos atos de fala (Austin, 1962; Searle, 1969). De acordo com as autoras, através da teoria de performatividade de gênero, «afastamo-nos da construção social da sexualidade para nos direcionarmos à construção discursiva de gênero» (p. 121, grifo meu).

Ainda dentro dos estudos que abordam a diversidade, o texto de Deborah Cameron (1998), Desempenhando identidade de gênero: conversa entre rapazes e construção da masculinidade heterossexual, que corresponde ao capítulo final da obra de Ostermann e Fontana, vem ao encontro do conceito de performatividade de gênero.

A autora analisou conversas informais entre cinco homens e demonstrou que o uso de oposições convencionais relativas aos estilos masculino e feminino de fala é problemático. Cameron (1998) defende que «é inútil continuarmos a usar modelos de fala generificada que considere implicitamente a masculinidade e a feminilidade como construtos monolíticos» (p. 147).

Os artigos que compõem o livro são de extrema relevância tanto para estudantes e profissionais iniciantes no assunto quanto para profissionais e estudantes com larga experiência de pesquisa. Os textos selecionados por Ostermann e Fontana em Linguagem. Gênero. Sexualidade. Clássicos Traduzidos são os mais representativos dos desdobramentos das pesquisas focalizadas nas relações entre interação social, gênero e sexualidade no mundo. Dado o caráter interdisciplinar do tema, o livro não se destina apenas à interlocução com o público acadêmico de Linguística e Letras, como também de outras áreas do conhecimento que se afiliam a questões de linguagem, gênero e sexualidade.

Afinal, como bem observa Marcos Marcionilo (2010), «em matéria de linguagem, gênero e sexualidade, esta-mos todos implicados e refletir sobre esses temas é certamente produzir maior igualdade sem deixar de valorizar as diferenças» (p.

7).


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