O efeito do desemprego no stress e coping dos professores do 2º ciclo
The effect of unemployment on the stress levels of the secondary school
teachers and strategies for coping with it
ABSTRACT:Unemployment is one of the scourges of modern society and teachers are
among the professional categories most affected by it. This situation gives
rise to social and psychological consequences with repercussions on an
individual's health. The objective of this study is to understand the nature of
the stress and how teachers cope with it. The sample consisted of 100 secondary
school teachers in Northern Portugal, 50 of whom were unemployed and 50 who
were actively teaching, each group being equally divided in gender (25 men and
25 women). The teachers in the first group had either been made unemployed or
were still waiting to enter the profession. The instruments used for the
purposes of evaluation were the Toulouse Stress Scale (TSS) to measure the
level of stress and the Toulouse Coping Scale (TCS) to determine the strategies
used to deal with it. The results showed that teachers who are unemployed or
whose entry into the profession has been delayed, suffer increased stress in
comparison with teachers practising their profession. The nature of the stress
can be summarised as: socio-emotional tension, physical tension and depression,
physical perturbations and agitation. Both groups demonstrated increased stress
with regard to the future, tiredness and temporary anguish. There were no
differences between men and women, though the youngest individuals demonstrated
significantly higher levels of stress than the older teachers. The strategy of
coping most employed by unemployed teachers is withdrawing from society to
reduce stress.
Keywords: Coping,Unemployment, Stress.
No quotidiano somos frequentemente confrontados com dificuldades majores
resultando de situações (familiar ou profissional...) desestabilizantes e
stressantes. O desemprego ou seja, a cessação de actividade ou o retardamento
na entrada do exercício da profissão assume-se como um período de transição que
o indivíduo deve gerir. A dificuldade em atingir os objectivos programados pode
desencadear clivagens internas, desequilíbrios nas suas condutas ou pelo
contrário representar um desafio para novos projectos profissionais. Quando um
indivíduo é submetido a pressões excessivas que não correspondem às suas
capacidades actuais, às suas necessidades, recursos e aspirações, deve gerir
múltiplas dissonâncias cognitivas, afectivas e relacionais. Se a pessoa não
consegue adaptar-se às novas circunstâncias e se o stressse torna um elemento
crónico na sua vida quotidiana, a saúde física e mental pode ser gravemente
perturbada.
Na sociedade beneficiamos de uma identidade que depende da profissão exercida;
ora, em situação de desempregado, o indivíduo sente-se inútil, incapaz,
repercutindo-se esta situação numa baixa de auto-estima. A não inserção na
actividade profissional dos recém-licenciados que não têm direito ao subsídio
de desemprego implica uma total dependência de outrem para sobreviver. A falta
de remuneração conduz socialmente à marginalização em termos de consumo tanto
em bens básicos, como culturais ou de lazer. O professor desempregado é, assim,
impedido de participar activamente nesse consumo, implicando um distanciamento
com a cultura e os elementos que a constituem e que faziam parte da sua
formação, encontrando-se social e culturalmente isolado. A situação de
desemprego e as dependências económico-sociais inerentes repercutem-se numa
elevada vulnerabilidade do professor ao stressnas suas diferentes dimensões
físicas, emocionais e comportamentais.
O stressnos professores tem suscitado inúmeros trabalhos de investigação,
Kyriacou e Sutcliffe (1979) estudaram uma amostra de professores ingleses;
Travers e Cooper (1996) estudaram o stressdos professores em diferentes países;
Pithers e Soden, (1998) nos países anglo-saxónicos; Lima (1999), estudou os
professores portugueses da Grande Lisboa; Jesus Abreu, Esteve, e Len (1996) os
factores de malestar na profissão docente e o IPSSO realizou um estudo sobre o
stress, representativo, dos professores portugueses (Cardoso et al., 2002). A
Organização Internacional do Trabalho -OIT(1981) designou a profissão docente
como uma profissão de risco físico e mental. Neste estudo admitimos que se a
actividade docente é indutora de stress,onível de stressserá muito mais elevado
nos professores que não exercem as suas actividades docentes. O interesse pelo
stress profissional dos docentes tem ocultado o trabalho sobre os docentes
inactivos, que por certo, entram na classe geral dos desempregados.
Vaz-Serra (2002) utiliza o termo stresscomo sendo uma resposta não específica
do organismo a qualquer alteração do seu equilíbrio. Referimo-nos neste estudo
ao modelo transaccional de stressdesenvolvido por Lazarus e Folkman (1984).
Segundo estes autores o stress resulta de uma interacção desajustada, real ou
percebida, entre as exigências da situação, os recursos e as capacidades de
resposta do indivíduo. No entanto, este desequilíbrio pode ocorrer porque
objectivamente as exigências da situação excedem os recursos da pessoa, ou
porque esta as percepciona com tal. O stresssurge neste modelo intimamente
ligado ao coping, isto é, a pessoa que sofre de stressnão é passiva, reage de
forma negativa ou positiva conforme a sua análise da situação, os seus estilos
de vida, o facto de constituir uma situação constrangedora ou ao contrário
constituir um desafio.
O termo coping(do verbo inglês to cope = lidar com) designa os esforços
adaptativos dos indivíduos, ou seja, as estratégias para lidar com factores
indutores de stressou stressores. Essa análise depende do sentido que o sujeito
dá à situação em que se encontra, a reacção ao stress vai depender
essencialmente das vivências do sujeito, do contexto e particularmente da
percepção da situação.
Neste estudo pensamos que a situação de desemprego provoca, no professor, uma
vulnerabilidade elevada ao stresslevando-o a adoptar estratégias de
copingnegativas como o Retraimento(social ou emocional) e a Recusacomo forma de
gerir as emoções negativas que a situação provoca. O indivíduo pode utilizar
uma estratégia de retraimento comportamental afastando-se dos outros, tentando
esquecer e não pensar no problema ou então ingerir medicamentos, alimentos,
etc. Retraindo-se socialmente, isolando-se, o indivíduo procura não mostrar a
sua vulnerabilidade ao stress, a sua depressão (Tap & Vasconcelos, 2004).
Através da estratégia de Recusa, o indivíduo age como se o problema não
existisse, desenvolve actividades para se distrair (distracção), esquece o
problema ou ainda é incapaz de exprimir as suas emoções (alexitimia).
Recusando, isto é, não admitindo pessoal e socialmente que está em estado de
stress, será uma forma de iludir os outros e ele próprio sobre a situação
vivida.
As estratégias de copingque acabamos de descrever são ditas negativas porque
não resolvem o problema de stress; contudo, podem de certa forma considerar-se
positivas, pois, a curto prazo permitem reduzir o stress, gerem as emoções do
sujeito, mas constituem uma fuga perante a realidade (Alves & Tap, 2004).
Todavia, existem estratégias de coping(Controlo e Suporte social)que o sujeito
utiliza para lidar com o stress de forma positiva. Na estratégia de Controlo, o
indivíduo pode desejar controlar a situação, procurar ter tempo para reflectir
sobre ela e agir depois (regulação das actividades), ou elaborar cognitivamente
a situação tentando inventar um plano (controlo cognitivo e planificação), ou
ainda controlando as suas emoções (controlo emocional). O Controloé socialmente
valorizado, pois voltado para a acção, enfrento o problema, penso nas
estratégias para melhor resolver o problema,etc., vai de encontro à
desejabilidadesocial, sendo geralmente um factor com uma grande variância
total. Pensamos que esta estratégia poderá ser mais utilizada pelos professores
empregados, pois costuma funcionar na ausência de stress, ou junto dos
indivíduos para quem uma situação indutora de stress constitui um desafio. Os
professores tentam, neste caso, controlar a situação de forma activa, agindo,
afirmando-se, controlando as suas emoções.
O Suporte socialimplica um pedido de ajuda em termos cognitivos (conselhos,
informações) ou afectivos (necessidade de escuta e de reconhecimento) junto de
familiares ou amigos, colegas, etc. Esse apoio é significativamente melhor em
termos qualitativos (Stroebe & Stroebe, 1999) que quantitativos, ou seja, é
preferível beneficiar do apoio de um amigo em quem se tem total confiança, do
que o apoio de várias pessoas, que podem acentuar um pouco mais a ineficácia
real ou percebida da pessoa.
Quando o indivíduo procura resolver a situação através de um trabalho de
cooperação com outras pessoas, ele utiliza uma estratégia de Suporte
socialactiva, pedindo conselhos (suporte social informativo) ou do ponto de
vista afectivo ser ouvido e reconfortado (suporte social emocional).
Pensamos que os professores desempregados podem recorrer à estratégia de
Suporte socialou não, conforme a interpretação que fazem da situação.
Consideramos que recorrer ao Suporte socialé de certa forma mostrar alguma
fraqueza, solicitar ajuda é confessar a sua fragilidade emocional e social.
MÉTODO
Participantes
A amostra é constituída por 100 professores do 2º Ciclo do Ensino Básico dos
concelhos de Vila Real e Bragança, dos quais 50 são professores desempregados/
recém-licenciados e 50 professores empregados. Cada grupo compreende 25 homens
e 25 mulheres. As idades estão compreendidas entre os 22 e os 52 anos, (M= 29,1
anos e DP= 6,1) classificadas em dois grupos: 22-26 anos (sem experiência ou
com pouca experiência profissional) e 27-52 anos (com alguma ou muita
experiência profissional).
A amostra é de conveniência para os professores em actividade e para os
professores desempregados foi seleccionada uma amostra através da técnica Bola
de neve(Bernard, 1996), as pessoas inquiridas apresentavam-nos outras pessoas
até a amostra ter atingido a dimensão desejada. Esta técnica mais utilizada na
investigação qualitativa permitiu-nos neste estudo contactar com os professores
desempregados. Certamente que a técnica poderia aprioriconter algum
enviesamento, pois as relações não se tecem por acaso, contudo, a pessoa A que
conhece a pessoa B pode não conhecer a pessoa C.
Material
Os instrumentos de pesquisa utilizados foram constituídos por um breve
questionário de dados sócio-demográficos (sexo, idade, concelho) e duas escalas
de atitudes: a Escala Toulousiana de Stress(ETS) e a Escala Toulousiana de
Coping(ETC). Ambas as escalas foram construídas numa investigação colectiva, no
laboratório Personnalisation et Changements Sociaux, Universidade de Toulouse
pelos autores Esparbès, Sordes-Ader & Tap (1994). Constituem questionários
de auto-resposta, a resposta a cada item é dada numa escala ordinal tipo (tipo
Likert) de cinco posições. A Escala Toulousiana de Stressfoi validada em 2184
pessoas, obtiveram-se 4 factores numa ACP. A coerência global da escala (alpha
de Cronbach = .92). A alpha de Cronbach permite-nos verificar a consistência
interna da escala. A Escala Toulousiana de Copingfoi adaptada e validada em
Portugal (Tap, Costa, & Alves, 2005) a sua consistência interna (Alpha de
Cronbach = .78).
A medida do stress: Escala Toulousiana de Stress (ETS).Esta Escala é composta
por 30 itens em que os sujeitos devem responder (numa escala tipo Likert) de 1
(Nunca) a 5 (Sempre). Segundo os seus autores é dividida em 4 factores ou
dimensões conjugando aspectos físicos e emocionais. A Escala Toulousiana de
Stress(ETS), inicialmente em língua francesa, foi traduzida para a língua
portuguesa e dadas instruções de preenchimento. Aos professores desempregados
foi imposta a situação de desemprego como situação stressante; aos
professores empregados solicitávamos que escolhessem uma situação que na sua
profissão era causadora de stress e face a essa situação respondessem às 30
afirmações da escala.
A análise de consistência interna (alpha de Cronbach) revelou um resultado de
.96, podemos, assim, concluir que a coerência da escala é excelente. Os dados
empíricos foram submetidos a uma Análise Factorial em Componentes Principais
(AFCP), seguidos de rotação varimax. O resultado desta análise permitiu-nos
encontrar quatro factores ligados ao stress(ver Quadro 1).
Quadro 1
Factores obtidos na Escala Toulousiana de Stress (α= .96)
Nos quatro factores ligados ao stress, podemos verificar:
As pessoas sentem-se incompreendidas, sós, isoladas, incapazes de enfrentar
situações difíceis, pressionadas pelo tempo, esquecem facilmente o que devem
fazer e têm dificuldades em adormecer.
Os sujeitos sentem, também, uma tensão física como por exemplo: os maxilares
contraídos, um aperto no estômago, a boca seca, sentem-se deprimidos,
preocupados, remoendo sempre as mesmas ideias.
Para além das tensões físicas sentem perturbações físicas como baforadas de
calor, dificuldades em respirar, o coração a bater rapidamente, perturbações
intestinais e tremuras.
Finalmente, podem sentir-se cansados, fatigados, vazios, sem energia, inquietos
ao antever o futuro e preocupados com a insegurança relativamente ao futuro.
A medida de coping: Escala Toulousiana de Coping (ETC). A Escala Toulousiana de
Copingpermitiu-nos analisar como os professores desempregados enfrentam as
situações difíceis com as quais se confrontam. A escala é composta por 54
itens, aos quais cada indivíduo responde, tendo por base uma escala de tipo
Likert de 1 (nunca) a 5 (sempre). Esta escala articula os aspectos ligados à
Acção (comportamental), à Informação (cognitivo), e aos aspectos
Afectivos (emotivo). Na validação citada, a articulação destes três campos,
conduz a quatro estratégias diferentes, designadamente: Retraimento, Suporte
social, Controlo e Recusa.Para testarmos a sua validade, a escala foi submetida
à análise de coerência interna (alpha de Cronbach), cujo resultado foi: a =
.82. Uma Análise Factorial em Componentes Principais (AFCP) seguida de rotação
varimax, permitiu encontrar quatro factores ou estratégias também presentes na
validação na população portuguesa (Tap & Vasconcelos, 2005). Apresentamos
os factores obtidos (ver Quadro 2) e a respectiva consistência interna.
Quadro 2
Factores obtidos na Escala Toulousiana de Coping
Realizada a Análise Factorial,a Escala ficou com 53 itens. Foi retirado o item
8 Aceito o problema se é inevitávelporque na AFCPatingiu um valor muito
reduzido (0,049); os quatro factores explicam 61,18% da variância.
Dos quatro factores ligados ao copingpodemos verificar que, no primeiro '
Retraimento -os sujeitos retraem-se, evitam confrontar-se com outras pessoas,
refugiam-se no imaginário, pedem a Deus para os ajudar e comem para se sentirem
melhor.
No segundo factor ' Suporte Social' procuram ajuda dos amigos, a simpatia e o
encorajamento dos outros, discutem o problema coma família e com os amigos,
pedem conselhos a profissionais e ajuda a pessoas que tiveram uma experiência
parecida com a sua.
No terceiro factor ' Controlo' os sujeitos enfrentam a situação, atacam o
problema de frente, tentam não entrar em pânico, analisam a situação para a
compreenderem melhor, modificam as acções e o comportamento em função do
problema.
Utilizando a estratégia de Recusa -quarto factor -os indivíduos actuam como se
o problema não existisse, tentam não pensar no problema, dizem para eles
próprios que esse problema não tem qualquer importância, brincando até com a
situação em que se encontram.
RESULTADOS
Os efeitos psicológicos do desemprego no stress global dos professores
Verificámos através da ANOVA univariada que os professores desempregados
possuem um nível de stressglobal significativamente mais elevado que os
professores em actividade.
Quadro 3
Resultados do stress global e suas dimensões entre professores desempregados e
professores a exercer a profissão
Verificámos resultados estatisticamente muito significativos em termos de
stressglobal (valores da escala completa) e em três das quatro dimensões. Não
existem diferenças entre homens e mulheres, o que significa que vivem a
situação da mesma forma. Contudo, os jovens (22-26 anos) manifestam
significativamente mais stress do que o grupo dos mais velhos (27-52 anos). A
não integração no mercado de trabalho ou a pouca experiência pode justificar
este resultado.
Quanto à natureza do stresspercebido, os resultados mostram diferenças
significativas em três das quatro dimensões de stressentre professores
desempregados e professores em actividade. Os professores desempregados obtêm
médias mais elevadas do que os professores empregados, com um grau de
significância elevado sobretudo em duas dimensões: Tensão sócio-emocional e
Tensão física e depressiva. Os professores sentem-se sós, incompreendidos,
isolados, incapazes de enfrentar situações difíceis, esquecem facilmente as
tarefas e têm dificuldades em adormecer. A Tensãofísica e depressivamanifesta-
se através de sensações como: maxilares contraídos, um aperto no estômago, a
boca seca, sentem-se também deprimidos, preocupados, remoendo sempre as mesmas
ideias.
Manifestam também Perturbações físicas e agitação(p<.01), tais como baforadas
de calor, dificuldades em respirar, o coração a bater rapidamente, perturbações
intestinais e tremores.
Na dimensão Lassidão e angústia temporalnão existem diferenças significativas
(p<.23), o resultado confirma que os professores desempregados e professores
empregados partilham o mesmo cansaço e incerteza relativamente ao presente e ao
futuro. O estatuto da carreira do professor que constantemente deve deslocar-se
de escola em escola -o toque de caixa (Cardoso etal., 2002) cria no indivíduo
uma certa angústia, o que pode explicar este resultado.
No que concerne a variável sexo, verificámos que como no stressglobal, as
dimensões do stressnão são significativas, isto é, não diferenciam os homens e
as mulheres. Apenas se verifica uma tendência (p<.08) na dimensão Tensão sócio-
emocional.As mulheres apresentam uma média superior à dos homens, (26.10 contra
23.72), o que significa que as mulheres têm tendência a sofrer uma Tensão
sócio-emocionalmais elevada.
A idade parece influenciar o nível de stress, o grupo de 22-26 anos apresenta
uma Tensão sócio-emocional(p<.002) e tendência a ter uma Tensão física e
depressiva(p<.007) significativamente mais elevada do que o grupo de 27-52
anos; problemas de integração social e profissional poderão explicar o nível de
stress percebido.
Quanto ao stressdos professores em actividade, a indisciplina dos alunos
constitui o primeiro factor de stress, a conciliação da profissão com a vida
pessoal e a incerteza relativamente às colocações futuras em segundo, o mau
relacionamento com os pais dos alunos vem em terceiro lugar e o descrédito da
profissão (estatuto) e o insucesso aparecem em quarto lugar, turmas com muitos
alunos aparece classificado em último lugar.
As estratégias de coping nos professores desempregados
Os dois grupos (desempregados/empregados) reagem de forma diferente face ao
stress percebido (ver Quadro 4). O copingé um processo multidimensional que
per-mite enfrentar uma situação ameaçadora para o bem-estar psicológico do
indivíduo. Tem como função permitir uma adaptação durante um período indutor de
dificuldade e de stress.
Quadro 4
Estratégias de Coping: diferenças entre professores desempregados/empregados
Verificámos que os professores desempregados utilizam essencialmente a
Retraimentocomo resposta ao stresspercebido, retraem-se social e afectivamente,
mas não recusam ou negam a existência de dificuldades e de stress; são bastante
realistas, pois que, na estratégia de copingmenos positiva, a Recusa, não há
diferenças significativas.
Os professores empregados utilizam mais a estratégia de Controlo, (p<.0001)
controlam-se e controlam melhor a situação do que os professores desempregados,
a sua situação permite-lhes enfrentar melhor o stressquotidiano. Não foram
encontradas diferenças no que concerne o género, mas os professores mais jovens
utilizam sobretudo o Retraimento(p<.001) como forma de enfrentar o stress,
retraem-se socialmente, evitando o contacto com as pessoas e, não solicitam o
Suporte socialque poderia ajudá-los no combate ao stress.
As pessoas com mais idade utilizam o Controlo(p<.005), enfrentam a situação,
controlam as sus emoções. Esta estratégia é socialmente valorizada e tende a
funcionar na ausência de stressou na ilusão da sua ausência. É provável que os
factores de desejabilidadesocial possam explicar este resultado.
DISCUSSÃO
Os resultados desta investigação mostram, tal como se esperava, que os
professores manifestam um stresselevado. O stressé significativamente mais
elevado nos professores desempregados e manifesta-se essencialmente através de
uma Tensão sócio-emocionalcom os familiares e a sociedade; de uma Tensão física
de depressivae ainda Perturbações físicas e agitação, poderíamos dizer que os
professores desempregados somatizam o stress. Mas partilham com os professores
a exercer a actividade a insegurança e incerteza relativamente ao futuro,
resultado que é confirmado por outros estudos (Jesus et al., 1996).
Para enfrentar a situação de stress, real ou percebido, os professores
desempregados não utilizam as estratégias mais positivas para a redução do
stress. São os professores em actividade, os que mais utilizam estratégia de
Controlo, ou seja controlam mais as suas emoções, agem e procuram mais
informação. Provavelmente estará implícito no resultado alguma desejabilidade
social como foi mostrado noutros estudos (Sordes-Ader, Fsian, Esparbés, &
Tap, 1996). Contudo, esta seria uma estratégia muito positiva na diminuição do
stressdos professores desempregados.
A estratégia que diferencia significativamente os professores desempregados dos
empregados é o Retraimento, estratégia assumidamente negativa que está patente
numa retracção comportamental, afectiva e cognitiva. Os professores
desempregados retraem-se, evitam confrontar-se com outras pessoas, refugiam-se
no imaginário, e na religião pedem ajuda a Deus e gerem as suas emoções comendo
para se sentirem melhor. Os comportamentos manifestados conduzem a termo à
depressão.
O Suporte socialque veríamos como uma estratégia positiva para enfrentar o
stress não é significativamente mais utilizada pelos professores desempregados
em comparação com os que exercem actividades docentes.
A Recusa estratégia também negativa, (manifestada através da negação da
situação, brincando ou fazendo humor com a situação) não diferencia os dois
grupos de professores. Esta estratégia de grande importância em outros estudos
(Alves, 2003) que evidencia o humor como forma de ultrapassar situações
difíceis de transição, agindo como se o problema não existisse, mostra neste
estudo que é mais utilizada pelos professores a exercer a profissão, não sendo
o resultado significativo, obtêm uma média mais elevada.
Podemos afirmar que o stressé um factor que deverá ser considerado nos
professores desempregados. O projecto profissional encontra-se bloqueado,
aumentando o stressde homens e mulheres que esperam da sociedade a oportunidade
de se tornarem agentes activos. O stress é manifestado através sobretudo de
tensões sócio-emocionais, físicas acompanhado de tendências depressivas e de
perturbações físicas. A reacção ao stressnão é amais positiva porque os
professores desempregados se isolam socialmente, o que revela uma
vulnerabilidade psicossocial elevada e sérios riscos para a saúde se soluções
não forem rapidamente postas em prática. Existem medidas e soluções apontadas
para minimizar o problema, como a luta contra o insucesso e o abandono
escolares assim como o incentivo a um aumento demográfico.
Quanto aos professores em actividade (do nordeste interior) constatámos como
noutros estudo internacionais (Travers & Cooper, 1996; Manthei &
Glimore, 1996) que o primeiro factor de stress é a indisciplina, também Lima
(1999) nos estudos portugueses encontrou como fonte de stressem primeiro lugar
a Interacção docente/discente, enquanto o estudo português (Cardoso et al.,
2002) a primeira fonte de stress é o estatuto profissional e a indisciplina em
sexto lugar no total de nove identificados.
As conclusões deste estudo sugerem que os professores desempregados são um
grupo de risco em termos de saúde mental, pela desilusão de uma formação longa
e dispendiosa não compensada pelas expectativas então presentes, o que requer
medidas político-sociais que contribuam para o seu bem-estar biopsicossocial.
O estudo apresentado comporta alguns limites nomeadamente o facto de a amostra
ser reduzida, comprometendo a sua representatividade, outros estudos seriam
necessários para confirmar os resultados aqui apresentados.