Editorial
Editorial
Bárbara Figueiredo
Os autores deste número temático da Psicologia, Saúde & Doenças que agora
apresentamos, a quem vivamente agradecemos a valiosa contribuição,
perspectivaram Gravidez e Parentalidade a partir de diferentes quadrantes da
Psicologia da Saúde.
A compreensão dos efeitos da doença no bem-estar e experiência psicológica foi
perspectivada. Bem-estar e experiência psicológica em situações de adversidade
física ' em que patologias físicas emergem, dificultam ou impedem a gravidez e
parentalidade' foram abordados.
Marco Pereira e Cristina Canavarro (pp. 179195) mostraram que as grávidas
infectadas pelo VIH reportavam mais stress, sintomatologia psicopatológica e
reactividade emocional, e menor qualidade de vida do que grávidas sem risco
médico associado. A presença de emoções de valência oposta caracterizou a
vivência psicológica das grávidas infectadas pelo VIH, pautada pela
ambivalência emocional relacionada com a problemática vida vs morte que a
gravidez e doença respectivamente implicam. Bem-estar e experiência
psicológica em outras situações de adversidade física relacionada com a
gravidez e parentalidade foram igualmente estudados. Ana Carolina Dias Vila,
Luc Vandenberghe, e Nusa de Almeida Silveira (pp. 219226) observaram
sentimentos negativos de insegurança e ansiedade na vivência do diagnóstico de
infertilidade e endometriose. A vivência do tratamento, por sua vez, foi
pautada por sentimentos negativos, mas também positivos, como bem-estar. Para
uma vivência mais adaptada o apoio do parceiro mostrou ser importante. Mariana
Moura-Ramos, Sofia Gameiro, Isabel Soares, Teresa Almeida Santos e Maria
Cristina Canavarro (pp. 297317), verificaram que casais, e principalmente
mulheres, em tratamento de reprodução medicamente assistida, apresentavam mais
dificuldades de ajustamento emocional, nomeadamente mais sintomas de ansiedade
e depressão e menor qualidade de vida, quando comparados com casais
presumivelmente férteis. No entanto, os casais em tratamento providenciaram uma
percepção mais favorável do seu ajustamento matrimonial.
O bem-estar e experiência psicológica foram ainda explorados a quando da
interrupção de gravidez. A recordação de experiências de rejeição e sobre
protecção por parte da mãe durante a infância, a vulnerabilidade ao stress, e o
recurso a estratégias de coping religioso, ventilação emocional e negação,
mostraram-se associados com mais dificuldades na mulher, quer durante o
período de decisão quer após a interrupção da gravidez no estudo de Maryse
Guedes, Sofia Gameiro, e Maria Cristina Canavarro (pp. 199215). Também
Lucília Sousa e Graça Pereira (pp. 229240) observaram consequências emocionais
intensas, choque e surpresa, seguidas de tristeza, assim como incerteza e
ansiedade perante a possibilidade de erro diagnóstico ou decisão precipitada,
características da experiência psicológica da mulher, mas agora a quando da
interrupção terapêutica por mal formação congénita. Mais uma vez, o apoio
social eficaz mostrou-se importante para o bem-estar e experiência
psicológica menos adversa.
Mas também a adversidade psicológica particularmente problemas conjugais,
implica dificuldades na vivência da gravidez e parentalidade. Bárbara
Figueiredo, Tiffany Field, Miguel Diego, Maria Hernandez-Reif, Osvelia Deeds,
e Angela Ascencio (pp. 243247) mostraram que a qualidade do relacionamento e a
presença de ansiedade e depressão se determinam mutuamente em ambos os membros
do casal. Tal como no estudo anterior, Liliana Sousa Ferreira, Isabel Leal, e
João Maroco (pp. 249267) testemunharam o crescente interesse pela experiência
psicológica do pai. Sintomas físicos e psicológicos em pais-expectantes,
embora não relacionados com o envolvimento parental, como dor de cabeça,
nervosismo, dores musculares, irritabilidade, aumentaram de forma crescente ao
longo da gravidez. Este estudo alerta para a presença de sintomas físicos e
afectivos nos pais. Rita Simões, Isabel Leal e João Maroco (339354) notaram
ainda que embora menos do que as mães, os pais estavam envolvidos nos cuidados
à criança com entre 5 e 9 anos de idade. Os pais estavam tanto mais envolvidos
e disponíveis para os cuidados à criança quanto menor o stress parental e maior
o ajustamento matrimonial.
Por último as formas melhorar a saúde e bem-estar psicológico dos pais foi um
outro quadrante perspectivado pelos autores deste número temático. Três dos
artigos seguiram esta orientação e colocaram questões da prática em Psicologia
da Saúde ou em contextos de saúde. Ir ao encontro das necessidades psicológicas
das populações é talvez o ponto de encontro entre os autores dos estudos. Sónia
Bárcia e Manuela Veríssimo (pp. 271279) mostraram que as mães que
participaram em sessões de massagem para bebés apresentavam atitudes mais
positivas face à maternidade, tais como, maiores níveis de confiança para
desempenhar o seu papel enquanto mãe, e envolviam mais os pais nos cuidados ao
bebé. A partilha de experiências decorrente de as sessões operarem em grupo e a
melhoria da interacção mãe-bebé facilitada pela prática da massagem, são
alguns dos processos que podem ajudar a explicar tais resultados favoráveis.
Evidenciando os benefícios da intervenção preventiva na área da gravidez e
parentalidade. Ana Fonseca, e Maria Cristina Canavarro (pp. 283295), baseadas
numa extensa revisão da literatura a respeito das reacções parentais ao
diagnóstico de malformação congénita do bebé, delineavam implicações para a
intervenção em Psicologia da Saúde. A coordenada prestação de cuidados entre os
diferentes profissionais de saúde, o reconhecimento de que, independentemente
do momento em que o diagnóstico ocorre, as reacções iniciais são de choque e
emocionalidade negativa, o que torna difícil o processamento da informação
relativa ao diagnóstico, e a compreensão que as dinâmicas envolvidas implicam a
perda do bebé saudável, mas também a perda do papel parental obrigam a cuidados
especiais por parte dos técnicos. Ana Rita Goes, Maria Cortes, e Luísa Barros
(pp. 329336) debruçam-se sobre a prestação de serviços no contexto da
vigilância da saúde infantil. Serviços orientados para a responder aos
problemas de desenvolvimento e comportamento das crianças, promover o bem-
estar das crianças e famílias e reduzir o impacto negativo das perturbações do
desenvolvimento e comportamento, devem ter em conta as necessidades dos pais.
Neste contexto, foram analisadas as inquietações dos pais, os quais
expressaram preocupações sobre o comportamento da criança, particularmente
sobre disciplina.
Áreas de interesse actuais e promissoras em Psicologia da Saúde, no que se
refere à sua dimensão quer empírica quer prática, reflexo do crescente
interesse pela Gravidez e Parentalidade, constituem as contribuições deste
número temático.
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