Recrutar. Produzir. Abastecer: repensar a produção e o comércio agrícolas em
tempo de guerras (1369-1400)
Introdução
O trabalho de A. H. de Oliveira Marques no âmbito da história económica
portuguesa ainda merece ser louvado. No estado atual da investigação algumas
das suas asserções sobre a produção agrícola não foram verdadeiramente testadas
e possuem algum do seu vigor1. Segundo aquele autor, para se poder pensar em
história da produção é necessário considerar um conjunto de fatores: clima,
solo, mão-de-obra, produtos, tecnologia, propriedade, administração, produção
animal, pesca, mineração, mesteres e sua organização, bem como a sua
interligação com a circulação e distribuição (redes viárias terrestres e
marítimas, pesos e medidas, mercados, comércio externo, consumo e níveis de
vida)2. Para além disso, para este autor o papel das estruturas era tão
importante que alguns dos aspetos da produção agrícola medieval pertencem3
«mais à geografia humana do que à história económica»4. Sobre a investigação na
área da distribuição medieval, Oliveira Marques esboçou uma proposta contendo
quatro pontos fundamentais: transporte e comunicações; comércio interno e
externo; moeda e preços, pesos e medidas, e, finalmente, consumo5. No entanto,
investigar separadamente a produção e a distribuição agrícolas pode levar a que
se ignore as relações criadas entre ambas. De facto, se nos focarmos na
inelasticidade dos recursos naturais, ao mesmo tempo que relegamos os mercados
para um papel secundário, arriscamos a que este programa de investigação
contenha um modelo Malthusiano implícito6. Será, portanto, pertinente estudar a
produção agrícola medieval tendo como horizonte presente os dados registados
sobre o comércio agrícola, quer em arquivos nacionais, quer em arquivos
estrangeiros7.
Mas é nas mais recentes teorias que têm surgido na bibliografia estrangeira que
devemos aportar a nossa análise, tentando renovar os questionários com que
partimos para as fontes documentais portuguesas. Num artigo de reflexão, Luís
Miguel Duarte indica que historiadores anglo-saxónicos avançaram com a tese de
“comercialização”, com objetivo de contrariar a ideia enraizada na
historiografia europeia sobre um campo estagnado, fechado sobre si mesmo e
produzindo essencialmente para a sua autossubsistência. Esta teoria demonstra
que o comércio «irrigou profundamente a sociedade e a vida rural: nenhum
camponês, nas ilhas britânicas, estava a mais de 7 km de um mercado semanal,
diz um deles; as feiras multiplicaram-se, estando ainda por averiguar, caso a
caso, até que ponto elas faziam a ligação a tráfegos regionais ou mesmo
internacionais». Esta visão releva o papel que alguns camponeses ricos podem
ter desempenhado na economia rural desses séculos. Para além disso, enfatiza a
necessidade de se rever «toda a vida e o trabalho no campo pensando que os
camponeses de vários estratos e condições podiam revender, nos mercados ou nas
feiras, os seus excedentes – logo podiam produzir para os mercados, que os
senhores podiam aí comercializar tudo aquilo que recebessem de foros e rendas
que fosse para além do que consumiam, e podiam também escolher culturas mais
lucrativas. A circulação do dinheiro e do crédito nos campos reveste-se por
isso de características muito complexas»8.
No caso de Espanha, particularmente interessante para a historiografia
portuguesa, novas conceções historiográficas já vêm sido experimentadas nos
últimos anos, com as investigações pioneiras de Julio Valdeón, cujo trabalho
atestou a existência de quadros regionais não coincidentes com a visão
tradicional da crise9. Nesta linha situa-se, também, o trabalho de Ermelindo
Portela, sobre o bispado de Tui10. Mais recentemente, os trabalhos de Paulino
Iradiel Murugarren11, Mercedes Borrero Fernández12, Hipólito Rafael Oliva
Herrer13, David Igual Luis14 e de Hilario Casado Alonso abrem um conjunto de
perspetivas inovadoras no campo da economia medieval ibérica, as quais devem
ser testadas, caso a caso, na historiografia portuguesa. Este último autor,
Hilario Casado Alonso, num trabalho sobre a catedral de Burgos, constatou mesmo
que no século XIV os cónegos deste cabido não sentiram a crise evidenciada pela
historiografia europeia15.
Em jeito de síntese, Luís Miguel Duarte nota que, com base na produção
historiográfica estrangeira, «interessaria elaborar questionários novos e
exaustivos: sobre a população, os seus números, a evolução, a distribuição, as
tendências; sobre as lógicas de povoamento; sobre a organização produtiva dos
campos, os sistemas de propriedade e de exploração, os tipos de cultivo, a
penetração e o funcionamento do crédito e da moeda, a comercialização nos meios
rurais (…)16; sobre a influência do reforço do aparelho de estado, da
construção de um sistema fiscal central, da multiplicação de instâncias
governativas, administrativas, judiciais, de instituições de regulação, no
ordenamento e controle de relações económicas, sociais, financeiras; sobre os
problemas do cereal, definindo claramente o que são crises agrárias, o que são
carestias, o que são dificuldades de abastecimento, o que são fomes»17.
Esta pequena introdução indica de forma clara os objetivos deste artigo.
Partindo de um contexto de guerra, entre 1369 e 1400, procuro lançar pistas e
introduzir algumas questões sobre a produção e o comércio agrícolas, enquanto
intento articular estes dois temas com algumas das perspetivas que observámos
ao longo desta contextualização historiográfica. Note-se, no entanto, que a
análise empreendida neste trabalho focar-se-á numa perspetiva global e não
regional: procuro perceber a forma como a guerra influenciou a produção e o
comércio agrícolas, ao mesmo tempo que analiso algumas das respostas dadas pela
Coroa para corrigir estas dificuldades. Em suma, este texto representa uma
porta aberta para futuras investigações.
1. As marcas da guerra entre 1369-1400
Recrutar, produzir, abastecer: são três palavras-chave que moldam a narrativa
deste texto. Embora se tenha cumprido apenas cerca de 30 anos entre 1369 e
1400, poder-se-á imaginar as dificuldades e desassossegos vividos pelas gentes
do reino. Nestes tempos encontramos duas décadas marcadas por guerras,
responsáveis pela abertura de feridas um pouco por todo o território18. Como
tal, neste primeiro momento da exposição devem ser salientadas as consequências
mais visíveis que seguiam no encalço da guerra, tendo sempre como horizonte de
análise o facto de que, na Idade Média, os não-combatentes (onde tinham
especial relevo os lavradores), em conjunto com os seus bens e propriedades,
constituíam um objetivo militar de extrema importância estratégica e que
convinha, a todo o custo, anular19.
A destruição de casas de morada representa uma face percetível deste flagelo.
Neste contexto, deve ser nomeada a ação dos exércitos inimigos, como foi, por
exemplo, aquilo que aconteceu durante o cerco de Lisboa, em 1384, movido pelas
tropas de Juan I de Castela, no contexto do Período de Interregno português
(1383-1385). Se recuarmos alguns anos, entre 1381 e 1382, observamos relatos
sobre os estragos provocados por tropas aliadas da Coroa portuguesa,
nomeadamente os exércitos mercenários ingleses, que se encontravam estacionadas
no Vimieiro. No entanto, em caso de necessidade, não é surpreendente assistir-
se a uma política de autodestruição. A título exemplificativo, existem registos
sobre a utilização de muitas pedras de habitações lisboetas, em 1373, na
reconstrução da muralha fernandina20.
No espectro da destruição das casas de habitação própria associava-se
frequentemente a devastação de terras cultiváveis21, não só pela ação direta da
guerra, mas também pelo abandono dos campos agrícolas, quer devido ao
recrutamento militar que recaía sobre os seus trabalhadores, quer porque estes
padeciam às mãos dos exércitos inimigos, quer porque simplesmente fugiam para
locais mais seguros.
Entre 1369 e 1400 multiplicam-se os documentos escritos que relatam estes
problemas. Em 1370, a abadessa do mosteiro do Lorvão, situado no termo de
Coimbra, intervém junto de D. Fernando, argumentando que o mosteiro possuía
algumas marinhas de sal através das quais havia «prol e mantijmento». No
entanto, nestes tempos de guerra, o mosteiro não podia aproveitar as suas
marinhas porque os homens «que desto sabem» são recrutados para «hir a
frontaria serujr»22. Mais tarde, em 1372, reunidas as Cortes em Lisboa, logo no
primeiro artigo dos Capítulos Gerais do Povo, ganham voz as queixas dos
populares contra a guerra movida entre Portugal e Castela, a qual, em conjunto
com as desvalorizações constantes da moeda, provocava «dapno aa nossa terra»23.
No 22.º artigo destas Cortes este assunto é retomado. Diz o povo que o
recrutamento de lavradores e de caseiros para servirem nas hostes régias
provoca graves danos nas terras cultiváveis, pois estas ficam «despobradas e
dapnificadas E que o nosso Reyno he porem peor manteudo»24.
Neste ano voltam a reunir-se Cortes, desta feita na cidade do Porto. As queixas
dos populares, incorporadas logo no primeiro artigo dos Capítulos Gerais, são
muito esclarecedoras sobre as dificuldades vividas pelas gentes do reino. O
povo queixa-se que a guerra era responsável por «grande dano e carestia na nosa
terra por mujtas Razoes que seeria longo de contar no que se o nosso poboo
tijnha por mujto Agrauado (…) E porque o dano que da guerra avijnha nom se
podia Bem enmendar s[em] Avendo paz»25.
Com a chegada do Período de Interregno de 1383-85 sobrevieram novos
enfrentamentos militares, colocando o reino a ferro e fogo. Em 1385, segundo
Fernão Lopes, um contingente militar castelhano, comandado pelo arcebispo de
Toledo, D. Pedro Tenório, invadiu Portugal utilizando a conhecida “estrada da
Beira”, destruindo tudo aquilo que encontrava, «a tallar as vinhas e paaes
(…)»26. Esta invasão prolongou-se até Viseu e reuniu um enorme saque; «contudo,
a coluna castelhana acabou por se despedaçar já no regresso, ao ser dizimada
por um pequeno exército português que a esperava na veiga de Trancoso»27. Mais
tarde, em 1386, Gonçalo Aranha, cavaleiro e vassalo do rei, queixava-se que o
seu couto de Cerzedelo tinha sido agravado. Este homem possuía a jurisdição
cível e criminal do dito lugar. No entanto, durante a guerra com Castela,
Fernão Gomes da Silva, partidário do rei castelhano, que tinha em sua posse o
castelo de Lanhoso, usurpou-lhe a jurisdição do couto de Cerzedelo, para além
de derrubar os seus Paços, e obrigou os lavradores e caseiros da localidade a
velar e roldar o referido castelo, incumbências a que estes homens estavam
escusados28.
Um ano depois, em 1387, Estêvão Fernandes, abade de Bouças, provedor e
administrador do morgado de Mindelo, lamenta-se a D. João I sobre o
despovoamento que grassava por um conjunto de herdades da sua jurisdição29.
Ouçamos o discurso do documento, bem mais esclarecedor do que qualquer linha
que possa esboçar sobre o assunto: antes da guerra com Castela, segundo o
clérigo, as terras tinham alguns caseiros que «aprouetauam [sic] os beens
dellas per que se o dicto moorgado mantjnha assy no temporal como no
spiritual».
No entanto, com os conflitos advieram as dificuldades, ao ponto de as herdades,
quintãs e casais terem sido totalmente «danjficadas stroidas e delapidadas e
<outrosy> falidas dos caseyros per cazo da dicta guerra» 30. Assim, quando a
guerra entrava pelas suas moradas, multiplicam-se os casos de homens que
sofriam na pele várias dificuldades provocadas pelos conflitos bélicos. Num
documento de 1390, D. João I reconhece que os moradores da Almendra de Riba Côa
enfrentavam múltiplas vicissitudes, porque estes «servujrom muy bem em esta
guerra <e afanaram> e padecerom mujto por nosso servjço»31.
Igualmente adversa terá sido a destruição de instrumentos de produção
agrícol32. O prejuízo que daqui advinha poderia levar, em alguns casos, meses
ou anos a recuperar33. Em 1381, uma frota da Biscaia, composta por 87 velas, ao
serviço de Juan I de Castela, provocou o caos numa quinta de Santa Iria de
Azóia (Loures). Os homens que nela viajavam, depois de desembarcar, incendiaram
o Paço dos Arcos, bem como outros edifícios de menores dimensões, e destruíram
cinco lagares de vinho, derrubando as suas portas, paredes e telhados. A índole
assoladora desta força militar não terminaria sem antes devastarem as prensas
dos lagares de azeite e de vinho, arruinarem o pombal, os alpendres, os
pardieiros, os portais e os utensílios das adegas34.
A perda de gados, sobretudo nas zonas fronteiriças, era também objeto de
grandes dificuldades para as gentes do reino35. Ao contrário daquilo que venho
fazendo até aqui, não falarei sobre nenhum acontecimento vivenciado em
Portugal. Foquemo-nos, antes, na célebre cavalgada de Antão Vasques por terras
castelhanas. O guerreiro português, em outubro de 1385, não conseguiu reunir
atempadamente, no Alentejo, com as forças de Nuno Álvares Pereira, as quais
combateram os exércitos castelhanos nas margens do Guadiana. No entanto, Antão
Vasques aproveitou a hoste militar que reuniu (400 homens de pé, 15 homens de
armas, 20 besteiros e 40 batedores de cavalo) e comandou-a desde Serpa para uma
incursão em terras castelhanas, travando aí algumas escaramuças. Segundo Fernão
Lopes, no rescaldo da cavalgada, os homens liderados por Antão Vasques apuraram
um saque de 5.000 ovelhas, 4.000 vacas e 1.000 porcos, aos quais se juntavam
ainda 10 cativos castelhanos36. Miguel Gomes Martins e João Gouveia Monteiro,
em estudos recentes, atentaram que os prisioneiros de guerra podiam ser
utilizados em trabalhos agrícolas enquanto servos, suprindo assim a ausência de
mão-de-obra. No entanto, é difícil quantificar e qualificar a sua utilização,
em Portugal, durante a Idade Média37. Encerrado este pequeno parêntesis, é
altura de regressar à narrativa de Fernão Lopes. O cronista, a propósito da
cavalgada empreendida pelos guerreiros de Antão Vasques, indica que entre os
cativos encontrava-se um tal de Ascenço Martins, um lavrador rico de Aroche,
que teve de pagar um resgate por si de 100.000 reais38: trata-se, portanto, de
números verdadeiramente astronómicos! Mesmo que o cronista possa ter carregado
no acelerador para empolar o sucesso deste assalto, lembremos estes dados,
pois, ainda que exagerados, demonstram que em tempos de guerra (e de crise, em
geral), existiam homens a ganhar muito dinheiro.
Para contornar os problemas que aqui descrevi, a Monarquia procurou, desde
cedo, afastar os lavradores das lides da guerra, para que estes se dedicassem
em exclusivo a uma função fundamental para o abastecimento do reino. Assim,
vemos o impedimento de se recrutar besteiros do conto junto deste grupo de
homens, limitando-se o seu arrolamento ao corpo de mesteirais,
preferencialmente sobre aqueles que não lavrassem continuadamente com uma junta
de bois 39. De outro modo, assiste-se à promulgação de sucessivas prerrogativas
gerais para povoadores de lugares onde se sentia a escassez de gentes, tendo
como objetivo incrementar a produção agrícola e melhorar a defesa militar das
terras, tantas vezes localizadas em pontos raianos estratégicos. Assim
aconteceu com alguns dos casos que citei anteriormente, sendo outorgadas cartas
de privilégios para os pedidos da abadessa do mosteiro de Lorvão, em 1370, e do
administrador do morgado de Mindelo, em 1387. Esclarecedora é também uma carta
de privilégios concedida, em 1378, aos povoadores de Torres Novas. Segundo D.
Fernando, a cerca da vila foi reconstruída recentemente, mas «os moradores
della som muj poucos e conpre que busquemos razam como se mjlhor aia de
pobrar». Assim, para corrigir a situação, o monarca concede vários privilégios,
entre os quais convém destacar a isenção de serviço militar, a isenção de
pagamento de fintas e talhas concelhias, bem como a dispensa de pagamento de
almotaçaria no caso de venda de pescados, caças e outros víveres,
respetivamente, pelos pescadores, caçadores e almotacés que povoassem o
lugar40. Mais tarde, em 1383, Gonçalo Rodrigues Araújo recebia um préstamo de
D. Fernando «em compensação por terras que tinham sido queimadas durante as
Guerras Fernandinas com Castela»41. Os moradores de Évora, pelo apoio que
prestaram à causa de D. João, Mestre de Avis, durante o Período de Interregno,
foram agraciados, em 1385, com o privilégio de isenção de pagamento de tributos
na venda «em praça e <em> no terreiro .s. de pam cozido e trigo e mjlho e
centeo e ceuada de que leuam huũ djnheiro do alqueyre»42.
As múltiplas concessões de privilégios observáveis nas Chancelarias dos dois
monarcas aqui estudados atestam as dificuldades e a desordem que a guerra
trouxe à produção agrícola do reino e aos seus trabalhadores. Assim, à
devastação e à deserção dos campos agrícolas – não raras vezes como
consequência de ambas – poderia juntar-se a desorganização da vida
profissional43. Aquando da Primeira Guerra Fernandina, nos meses de agosto e
setembro de 1369, os exércitos do rei castelhano, Enrique II, tomaram com
relativa facilidade as praças portuguesas de Bragança, Vinhais e Outeiro de
Miranda44. Segundo Fernão Lopes, isto sucedeu porque as gentes de Trás-os-
Montes andavam fugidas pelos montes por causa dos temores provocados pela
guerra45. Um caso mais específico surge na Chancelaria de D. João I. Em 1385, o
monarca trata de regulamentar certos problemas que tinham surgido em Santarém
durante os conflitos com Castela. Nesta localidade alguns lavradores, bem como
«outros homens que som da lauoira», organizaram-se como um bando guerreiro
durante a guerra. Quando a paz regressou ao concelho estes homens continuavam a
pilhar, a roubar e a matar e recusavam voltar às suas lavouras. Alertado para
este problema, D. João I acata o pedido dos homens-bons do município, o qual
consistia num ultimato movido aos lavradores para que estes regressassem às
suas antigas tarefas, ameaçando-os com a pena de morte46.
No encalço da guerra surgiam frequentemente problemas relacionados com o
abastecimento de cidades do reino. O caso mais flagrante seria o de Lisboa.
Existem relatos, em 1372, sobre a diminuição do número de vendedores de carne e
de pão na cidade, denotando-se um sinal claro da falta desses produtos nos
locais de venda. Um ano depois, em 1373, as hostes militares de Enrique II de
Castela devastaram, principalmente através do fogo, múltiplos campos de cultivo
e explorações agrícolas e pecuárias quer da cidade, quer do seu termo. Estas
incursões castelhanas afetaram gravemente o abastecimento de Lisboa, sobretudo
porque a guerra diminuiu substancialmente a produção das zonas mais próximas da
capital. Em 1374 esta situação é relevada pelos procuradores da cidade. Estes
lamentam-se a D. Fernando sobre a falta de carne, de pão e de outros géneros
alimentares nos mercados lisboetas. O monarca responde autorizando, sem impor
qualquer tipo de restrições, a “livre-saca” de mantimentos com destino à
capital do reino47.
Os problemas relacionados com o abastecimento de Lisboa persistiram após a
morte de D. Fernando, intensificando-se quando a capital esteve sitiada pelas
forças castelhanas, em 1384. No entanto, Lisboa não terá conhecido um ponto de
rutura provocado pela escassez de víveres, pois esta não atingiu o momento que
levava à necessidade de rendição, para evitar que a cidade fosse totalmente
sucumbida pela fome. Para tal, deverá ter contribuído a expulsão do interior
das muralhas, por duas ou três vezes, a mando do Mestre de Avis, das gentes que
não tivessem alimentos, nem que pudessem auxiliar nas tarefas de defesa de
Lisboa.
As dificuldades de abastecimento de uma cidade cercada resultavam,
essencialmente, de uma estratégia de ataques organizados aos circuitos normais
de provimento. Assim, em 1384, as forças militares de Juan I lançavam ofensivas
a partir de pontos estratégicos em seu poder, a saber: Santarém, Sintra, Torres
Vedras, Alenquer e Óbidos; a estes raides juntava-se o bloqueio naval do rio
Tejo48.
Com estes exemplos é possível perceber que quando a guerra trilhava o seu curso
pelo reino sobrevinham, então, as dificuldades de abastecimento, situação que
se agudizava no maior centro urbano português. Aliás, a «dependência da capital
relativamente a todos estes víveres assentava assim num equilíbrio delicado,
imediatamente afectado quando ocorria qualquer interrupção ou perturbação ao
seu transporte e comércio ou sempre que se verificava uma quebra mais acentuada
da produção agrícola e pecuária nos centros fornecedores, como acontecia em
períodos de guerra». Isto é, «quando as estradas eram inseguras e poucos
corriam o risco de as percorrer, quando as culturas eram incendiadas, os
mantimentos confiscados, pilhados e destruídos; quando o gado era morto ou
roubado; e quando a mão-de-obra agrícola abandonava os campos em busca da
segurança – muitas vezes ilusória – conferida pelas muralhas das vilas e
cidades»49.
A guerra naval contribuía também para a criação de problemas de abastecimento
nas cidades, quer através de práticas de pirataria ou de corso50, quer por meio
de bloqueios navais, conforme vimos no parágrafo anterior, quer pelo recorrente
desvio de navios mercantes para a guerra, podendo levar, em alguns casos, à sua
captura ou destruição51. Em tempos de guerra, empresa particularmente corajosa
era a dos homens que se lançavam ao mar para comerciar, arriscando a
possibilidade de encontrar armadas inimigas52, ou outro tipo de “malfeitores”,
tal como descreve um documento muito interessante, datado de 1404. Luís
Martins, mercador de Lisboa, recebe, neste ano, uma carta de quitação de D.
João I. Neste documento, é indicado que este homem conheceu a ruína financeira.
Na data da feitura do documento passavam-se dois anos desde que alguns
rendeiros, entre os quais se incluía este homem, faltaram ao pagamento de
muitas das suas rendas, as quais perfaziam somas monetárias muito
significativas. De tal forma que foram penhorados bens móveis e de raiz a Luís
Martins – avaliados em 150.000 reais! –, após ter sido preso, os quais foram
rematados a Luís Nicolau, ourives em Lisboa. Apesar do dinheiro arrecadado,
aparentemente esta soma muito significativa não era suficiente para saldar a
totalidade das dívidas, uma vez que o monarca decidiu outorgar uma quitação
pelos valores monetários que este mercador ainda devia, perdoando-lhe também
pelo seu incumprimento. Mas que causas eram estas que levaram um homem,
aparentemente bem abonado, à ruína financeira? O documento é esclarecedor na
resposta a esta questão: «E como asy foi grande per dalgũus cassos fortoytos
que no dito tempo acontecerom conuem a saber tormentas desfeitas e Jntes (sic)
malfeitores que andauom pollo mar E outrosy começos e bollimentos dee guerra
que se entõ Segiam e carestija de pam por a quall rrazõ se perderom mujtos
naujos asy dos nossos regnos como doutros estrangeiros que vinham para a dita
Çidade e Outrosy partirom della com entençõ de tornar hir com seus empregos E
esso medes outros naujos e mercadores que no dito tempo leixharom de carregar e
segir sua viagem pera a dita Çidade com Reçeo e themor dos ditos malfeitores
[...]»53.
Os abusos de poderosos e dos exércitos provocavam também graves dificuldades às
gentes do reino, sobretudo através de excessos no direito de aposentadoria. Os
abusos dos combatentes eram perpetrados nas populações dos lugares por onde
estes marchavam, quer pela sua necessidade de alimentação, quer pelo referido
privilégio de aposentadoria. Deve ser salientado que o abastecimento dos
guerreiros era feito, geralmente, pela apropriação de víveres aos produtores
agrícolas, sem que estes fossem, na maioria das vezes, ressarcidos pelas suas
perdas. Nestas circunstâncias, a passagem de um exército por um determinado
lugar, fosse hostil ou não, acarretava sempre preocupações acrescidas para a
Monarquia, para a respetiva comarca e para as suas populações54. Ouçamos o que
um documento da Chancelaria de D. João I nos tem a dizer sobre estes gravames.
Em 1385, o abade do mosteiro de São João de Alpendorada leva à agenda de D.
João I um problema relacionado com umas quintãs das quais o referido mosteiro
recebe pensões, foros de pão, vinho, carnes e rendas estipendiárias. Para além
disso, o abade argumenta que é com estas rendas e produtos que o mosteiro e a
sua
familia55
se mantêm. No entanto, existem fidalgos e pessoas poderosas, aos quais o
monarca deu as ditas terras, que pousam nas quintãs onde têm os referidos
mantimentos. O clérigo argumenta que estes poderosos «lhes britam as portas das
adegas e casas e lhes comem todo e leuam pera hu se pagam emquanto stam em as
dictas terras E que os scudeiros dos dictos fidalgos e pioões se vaão pousar
com os dictos seus lauradores e lhes tomam quanto ham assy os <seus> djreitos
que os dictos lauradores ham de dar ao dicto dom abade e conuento E que os
dictos seus lauradores teem suas molheres e filhos e que nom sabem se guardem
suas casas se vaão laurar porque receam de receberem delles deshonrra por a
qual razam os dictos dom abade e conuento e seus caseiros receberom e recebem
grande perda e dampno per tal guisa que nom podem manteer suas casas porque
padecem grande mjngoa e fome»56. Em síntese, estes lavradores, além de verem os
seus mantimentos confiscados abusivamente, ainda tinham receio de lavrar as
suas terras, abandonando assim as suas mulheres e filhos à mercê da índole
opressora dos escudeiros e peões destes fidalgos. Se recuarmos até ao reinado
de D. Fernando, observamos que estes excessos eram recorrentes em períodos de
guerra. Reunidas as Cortes de Lisboa, em 1371, no 47.º artigo dos Capítulos
Gerais do Povo, os procuradores queixam-se que «quando taaes poderosos e sas
companhas chegam pelos montes alheos tomam per força o que acham em elles e nas
casas deles per que se os lauradores ham de manteer e lhjs dapnam e estragam o
seu per tal guisa que os lauradores as desenparam ca lhjs couem E lhes he
melhor de os desempararem ca de os manterem». Pediam, portanto, que fosse
colocado «escarmento» em tais poderosos, para evitar que os lavradores
abandonassem as lavouras «que som proueijtosas ao Reijno pera mantijmento do
poboo E por esto leijxam de pousar nas vilas e uaão pousar nos montes»57D.
Fernando toma, claro está, o partido dos lavradores. No entanto, é muito
difícil acreditar que estes homens tenham sido devidamente protegidos…
Apesar de a Monarquia procurar solucionar os gravames cometidos pelos
poderosos, dificilmente estes se resolviam, até porque a própria Coroa se
intrometia em negócios e agravava os produtores e comerciantes do reino. São
sucessivas as queixas dos povos do reino sobre a apropriação de recursos e de
bens por parte da Monarquia e dos seus oficiais, sem nunca ressarcirem os
prejudicados58. D. Fernando procurou mesmo envolver-se no jogo das trocas,
desejando assim ver os seus recursos exponenciados através de um envolvimento
no comércio59, praticado por vezes fora das “normas”60. Esse é o caso descrito
numa queixa muito dura dirigida ao rei pelos povos, feita nas Cortes de Lisboa
de 1371. Trata-se de um documento complexo61. Por isso, fiquemos com a análise
esclarecedora feita por Luís Miguel Duarte sobre o seu conteúdo: «Os reis
anteriores – começam os povos, indicando que vêm aí duras acusações ao rei em
exercício – recolhiam, dos próprios da Coroa muito pão; o suficiente para
acudir ao povo quando o cereal faltava. Se tinham que recompensar um súbdito,
recorriam ao seu tesouro. D. Fernando multiplicara as doações de terras e
vilas; quando precisou de pão para a frota de guerra, não encontrou melhor
solução do que “tomar o pam dos coitados” – por preços baixíssimos que, mesmo
assim, em muitos casos ficaram por pagar. Parece mau, mas foi pior: nem todo o
pão assim requisitado foi necessário para as galés; o que sobrou foi revendido
pelos oficiais régios com lucros desmedidos, acontecendo que muitos dos
“coitados” a quem ele fora tomado a cinco soldos, e não pago, se viram forçados
a comprá-lo – o seucereal – aos homens do rei por cinco libras. Descontando os
exageros retóricos, a acusação é brutal: era uma desonra o rei enriquecer com a
perda dos outros, “mormente por auto tam enlicito”»62.
2. A especulação de preços de produtos agrícolas
As práticas abusivas descrevidas no parágrafo anterior não encerram o género de
excessos cometidos por gentes poderosas em tempos de guerras. A especulação de
preços, muito característica de períodos de carestia agrícola63, encontra-se
muito bem documentada, quer em Portugal, quer nos restantes reinos
peninsulares64. Neste último caso, Oliva Ferrer atentou que, em Castela, é
detetada uma certa tendência para que os senhores recebam os seus pagamentos em
espécies, preferencialmente em cereal, para evitar a sua depreciação, enquanto
propiciavam a uma aristocracia de clara vocação rentista um cenário
privilegiado para conseguir lucrar muito com a especulação de preços nos
mercados urbanos65. Nos momentos de crisede subsistência sobrevém um cenário
privilegiado, no qual se revela a complexidade dos circuitos de abastecimento
agrícolas, os múltiplos intermediários que a ele se encontram associados e os
interesses distintos que se encontram implicados, capazes de beneficiar
diversos estratos sociais, entre eles a elite das comunidades rurais66. Em
Portugal, por sua vez, estes dados são corroborados. A subida dos preços
acontecia frequentemente em períodos de guerra67, pois associa-se à intrínseca
correlação entre a diminuição da oferta e o aumento da procura. Apesar de se
tratar de uma situação bem conhecida pela historiografia portuguesa, considero
que esta temática ainda não terá sido estudada com a devida profundidade.
Habitualmente assume-se que, por exemplo, algumas posturas tomadas pelas
autoridades dos concelhos e da Monarquia desejavam proibir o açambarcamento de
trigo, quando, na minha opinião, estas pretendiam contrariar a existência de
manobras especulativas. Deixemos, no entanto, que os documentos falem por si
próprios. Nas Cortes de Lisboa de 1371, os povos queixam-se que muitos
prelados, mestres e ricos-homens têm pelas comarcas do reino vários celeiros
cheios de pão e de vinho. No entanto, compram e estragam os produtos de outros
vendedores. Mais grave ainda, segundo os povos, estes homens poderosos queixam-
se «muj mal» dos preços praticados pelos vendedores menos abonados, exigindo
que estes vendam o pão e o vinho pelo valor estipulado pelas leis de
almotaçaria. Ao ouvir este relato facilmente nos questionamos sobre os motivos
que levavam estes poderosos a preservar armazéns de pão e vinho bem guarnecidos
enquanto se alimentavam dos produtos dos vendedores mais pobres. A resposta é
dada pelo próprio documento. Estes indivíduos não «querem uender ssenom em
tempos que ueem grande carestija na terra», quando os preços estivessem
inflacionados e, assim, providenciassem lucros mais apetecíveis. Em resposta a
esta situação, D. Fernando ordena que os indivíduos, «em tempo çerto», se
sirvam e vendam o pão e o vinho que possuírem, salvo se houver alguém que lhes
queira vender estes produtos de livre vontade68. Como é evidente, estas ações
facilmente levavam a um escoamento mais acentuado do pão disponível para venda
nos mercados, fazendo, assim, com que os preços se inflacionassem por
influência destes homens poderosos. Esta concorrência desleal era muitas vezes
ampliada pelo recurso a elementos de autoridade de que estes indivíduos se
investiam. Estes eram os casos dos prelados que referi, que se envolviam no
negócio da regatia do pão, sem pagar sisas69, enquanto procuravam penhorar bens
alegando que eram homens privilegiados. Quando alguém se queixava «o bispo e
sseus vigairos» tratavam de excomungar essa pessoa, «o que he muj sem rrazam
(…)», argumentava o povo70. Os próprios regatões também se terão envolvido em
práticas especulativas. Segundo o povo, muitos regatões «andam pelas terras que
poem em elas grandes carestijas e ssom aazo de grandes dapnos». Pediam,
portanto, que deixasse de haver regatões de pão, de gado e de bestas nos
lugares. O monarca refere que, antes de receber este pedido, já havia tomado
esta medida71, concluindo-se, assim, que a diretiva régia anterior não teve
qualquer efeito normativo nestas questões. Quais seriam, no entanto, os lucros
destes homens poderosos? É muito difícil quantificar os ganhos provenientes da
especulação, mas existem duas sugestões pertinentes feitas em Cortes. Os povos,
nas Cortes do Porto de 1372, afirmam que os poderosos «estauam com grandes
tesouros de pam e de vjnho» porque o tabelamento da almotaçaria não se aplicava
senão aos pequenos, pois os grandes, diz o povo, tomavam as «cousas dos
pequenos E Reuendiom nas dePojs por sete tanto que o que lhj custaua»72: ou
seja, lucros multiplicados por sete em cada alqueire de pão! Isto é, segundo
outra queixa dos povos, muitas vezes o alqueire de trigo comprado por 5 soldos
era depois revendido pelos poderosos73 por 5 libras74! Estas práticas
especulativas, em estreita articulação com os danos provocados pela guerra,
chegavam ao ponto de fazer com que os territórios – e são os povos que o dizem
– fossem «mjnguados (…) de pam gaados e doutras cousas que am mester pera sseus
mantijmentos75.
As queixas dos povosindicam que em momentos delicados, como eram os de guerra,
muitas das vezes, os produtores e comerciantes menos abonados e que não se
investiam de nenhum tipo de autoridade, impotentes perante os cenários que se
desenhavam, limitavam-se a acenar negativamente com a cabeça, resignados, face
aos gravames cometidos pelos poderosos do reino. O cenário descrito pelos povos
parece péssimo, mas deve ser relativizado: quem é este povo que formula estas
duras queixas em Cortes? De acordo com Armindo de Sousa, apesar de os
procuradores municipais afirmarem nas Cortes que «são os autênticos e devotados
representantes dos povos do reino, tal afirmação não passa, objectivamente, de
floreado retórico»76. Isto é, estes homens, na verdade, representavam a voz dos
indivíduos que tinham poder decisório nas vereações concelhias, ou, numa
perspetiva mais otimista, reproduziam os desejos de algumas dezenas de
habitantes que possuíam relativa importância nos respetivos lugares. Portanto,
é necessário assumir que as expressões dos procuradores concelhios que reclamam
a “representativade universal”dos povos do reino devem ser encaradas como um
mero instrumento de retórica política. Aliás, os grupos sociais representados
pelos embaixadores municipais nem sempre se limitavam aos indivíduos
pertencentes ao povo. Assim, vemos procuradores concelhios a argumentar em
favor de fidalgos em várias Cortes77, quer porque a defesa destes pode ser, por
vezes, uma estratégia para que os povosconsigam deferimentos, quer porque, em
muitos lugares, os fidalgos e o povoassociavam-se na governação municipal. Para
além disso, os concelhos não rejeitavam a escolha para seus procuradores de
homens de fidalgos e de clérigos. Em suma, prossegue Armindo de Sousa, «entre
fidalgos e povo, especialmente entre os estratos mais baixos de um grupo e os
mais elevados de outro, havia comunhão de interesses ou, ao menos, convivência
amigável»78.
Ao longo desta última nota explicativa percebemos que o discurso dos povos, o
qual acusava os poderosos do reino de cometer práticas especulativas que
inflacionavam o preço dos víveres, necessita de ser relativizado. Esta dedução
impele a formulação de uma nova questão: eram apenas os privilegiados que
praticavam manobras especulativas de preços nos mercados medievais? Alguns dos
relatos citados anteriormente contêm dados interessantes que merecem ser
analisados à luz desta nova questão. Nas Cortes de Lisboa de 1371, enquanto se
queixavam da especulação dos preços praticada pelos poderosos do reino, os
povosadmitem que vendiam o pão e o vinho por valores superiores àqueles que
eram impostos pelas leis de almotaçaria79. No ano seguinte, nas Cortes do Porto
de 1372, nos Capítulos Especiais de Lisboa, é relatado um caso que confirma em
toda a linha a premissa enunciada neste parágrafo. Segundo os procuradores
municipais, alguns comerciantes, nomeadamente padeiras e carniceiros, vendiam
pão e carne, no interior da cidade, fora dos locais estipulados para este
efeito, fugindo, portanto, à taxação imposta pelo concelho. De acordo com esta
queixa, os jurados e almotacés do lugar procuravam corrigir este gravame, sem
conseguirem, no entanto, obter qualquer sucesso nos seus intentos, pois as
ameaças recebidas provocavam, naqueles oficiais, «medo E reçeo» de eventuais
agressões. Deste modo, as padeiras e os carniceiros conseguiam influenciar os
preços praticados nos mercados lisboetas, levando a que as gentes da cidade
enfrentassem dificuldades, pois os produtos escoavam rapidamente nas praças e
carniçarias onde deveriam ser vendidos pelos comerciantes. A resposta de D.
Fernando foi dura: o monarca ordenou que aqueles que vendessem fora das normas
estipuladas deveriam ser «estranhados» e açoitados pela cidade, demonstrando,
assim, que esta questão possuía uma gravidade significativa80.
3. Crises agrárias e fomes: repensar os seus conceitos
A guerra representava, portanto, um fenómeno que poderia conduzir a períodos de
carestia agrícola, cujo epicentro facilmente provocava crises de produção e de
abastecimento nas principais cidades do reino. No encalço destas sobrevinham as
fomes. Crisese fomes. Conceitos demasiado latos e abstratos, com os quais
devemos ter máxima cautela: o que são crises agrárias?, o que são fomes?
Oliveira Marques escrevia, em 2001, que Portugal, no século XIV, era um reino
em trânsito, que passava «de uma época estável e tradicional para outra de
crise que não foi, aliás, una, desenvolvendo-se em crises várias, parcelares no
tempo e no espaço, com formas várias também, mais ou menos acentuadas e
actuantes de acordo com décadas e locais». Assim, após um momento de grande
depressão demográfica, provocado pela Peste Negra, a população do reino estava
fortemente debilitada, pelos surtos epidémicos, pelas guerras e pelas fomes81.
Historiadores internacionais têm analisado a história económica medieval
partindo de novas perspetivas, levando-os, portanto, a repensar algumas das
ideias comummente aceites sobre as crisesdo século XIV. O trabalho de Paolo
Malanima, publicado em 1995, em Itália, merece ser destacado82. Em síntese,
este autor procura compreender a evolução da economia europeia entre o século X
e 1820 partindo de uma variável diferente, ou seja, a capitação do produto,
utilizando os exemplos de Inglaterra, Países Baixos, Espanha, Itália, França e
Alemanha, para representar a Europa do Norte, do Centro e do Sul. Ao converter
o produto agrícola num índice contemporâneo83, este autor atinge conclusões
interessantes: «do século X à Peste Negra registou-se um progresso lento, com
razoável produção agrícola, que decresce nos finais do século XIII mas é
compensada pelo aumento da produção industrial e dos serviços. No geral, a
evolução da capitação do PIB entre 1000 e 1800 passaria por três períodos
longos: um de progresso moderado (séculos X ao início do século XIV); um de
estagnação, de cerca de cinco centúrias, e finalmente o grande take-offdo
início do século XIX». Para além disso, Malanima defende que podemos observar
uma crise na Idade Média tardia e um crescimento no século XVI se tivermos em
consideração a análise do produto agregado. No entanto, se considerarmos o
produto per capita, então, a crise poderá ser encontrada na centúria de
Quinhentos84.
Outro trabalho de referência é o de Stephan R. Epstein85. Este autor junta-se
àqueles que têm uma visão otimista sobre a Idade Média Tardia e fala de uma
crise de integração. «Uma integração operada desde logo pelos estados nascentes
ou em franco reforço, mas que não teria ainda assim permitido baixar os custos
de transacção; para isso foi essencial o desenvolvimento de instituições e
práticas políticas e judiciais – a ligação entre as dimensões política e
institucional e a económica é talvez a mais estimulante sugestão». Neste
sentido, é evidenciada a importância das economias regionais (nas quais é dada
uma importância acentuada ao nível regional da análise e ao reconhecimento das
diferenças regionais existentes), do comércio marítimo e terrestre de curto e
médio alcance, «desvalorizando as responsabilidades do mais visível trato
marítimo de longa distância na economia tardomedieval. As suas propostas,
elaboradas a partir da sua investigação sobre a península italiana, e cuja
validade para outras regiões europeias deve ser testada caso a caso, renovam
totalmente o questionário de partida para a consideração dos séculos finais da
Idade Média»86.
Com base nesta contextualização, acredito, portanto, que é ao nível regional
que podemos responder a estas questões. Sempre que se analisa uma economia pré-
industrial percebe-se que são frequentes as crises de abastecimento de cereal
nas grandes cidades. Em relação a Barcelona e a toda a área envolvente, por
exemplo, Claude Carrère defendeu que apenas nos bons anos agrícolas o trigo
chegaria para a procura87. Valência, por sua vez, encontrava-se numa situação
similar. Ainda assim, no interior de Aragão o trigo era produzido. No entanto,
as deficientes condições das vias terrestres impossibilitavam o seu transporte
para as cidades costeiras88. Com base no que escrevi, considero que devem ser
evitadas, sobretudo, as generalizações abusivas, pois quando «Oliveira Marques
insistiu, na sua clássica Introdução à História da Agricultura,na escassez
crónica de cereais no Portugal medievo, não poderia estar a generalizar ao país
uma situação muito sentida em Lisboa e, em menor medida, no Porto?»89
Trabalhos recentes sugerem que se mantenha esta questão em aberto. Oliva Ferrer
escreveu, sobre o mundo rural castelhano do século XV, que as análises globais
demonstram insuficiências na utilização de asserções generalistas, as quais
revelam uma incapacidade em compreender o facto de a economia agrária medieval
sustentar amalgamas complexas de produções de subsistência e de relações
comerciais90. Filipe Themudo Barata notou que as exportações portuguesas de
cereais e de vinho para o exterior dependiam, acima de tudo, dos bons anos
agrícolas. Por vezes, nos menos bons, era possível para algum mercador colocar
trigo no estrangeiro, lucrando certamente muito com isso, caso este conseguisse
fugir às prescrições legais91. Apesar de Oliveira Marques já ter apontado para
estas oscilações produtivas92, dados recentes podem ajudar a comprovar este
cenário. Segundo Themudo Barata, Pegolloti apontava, em meados do século XIV,
Lisboa como um local onde era possível comprar e vender trigo. Mais frequentes
são, ainda assim, as menções ao transporte de trigo de Portugal para o Ocidente
mediterrânico. Através de cartas de segurança, entre outras fontes, é possível
observar a exportação de trigo e de cereais, durante vários anos, para
Valência, Barcelona, para várias cidades italianas e até para Terras de Mouros.
Ainda assim, conclui Filipe Themudo Barata, apesar de se conhecerem registos de
exportação portuguesa de trigo, as fontes parecem traduzir uma maior incidência
para a importação deste produto para Portugal93. Isto mesmo é descrito por um
documento interessante. Em 1414, numa altura em que a cidade de Lisboa ainda
lambia as feridas provocadas pelos difíceis anos de guerra, os procuradores
deste concelho movem uma queixa a D. João I. Segundo estes homens, o pão, em
Terra de Mouros, tinha por estes tempos uma «grande uallia». Os navios
portugueses que aportavam na Flandres, na Bretanha e em Inglaterra eram
fretados aos mestres portugueses, pelos mercadores estrangeiros, com objetivo
de levar pão a Terra de Mouros. Assim, esta ação, «he aazo e cajom de nom vijr
pam a estes nossos regnos». D. João I, após ouvir esta queixa, toma medidas
bastante duras: ordena que seja proibido o envolvimento de qualquer senhor,
mestre e marinheiro português no frete de navios que levem pão, castanhas,
avelãs, nozes, entre outros mantimentos, bem como armas (lanças, dardos,
espadas, solhas, bacinetes, cotas de malha, bestas), ferro e aço, a qualquer
Terra de Mouros. A punição para quem incumprisse? A ameaça de pena de morte94!
Se esboçarmos breves raciocínios em torno deste documento, facilmente podemos
atingir algumas conclusões. Em primeiro lugar, a falta de pão em alguns lugares
do reino poderia ser motivada pelo deslocamento de navios que carregavam este
produto para portos financeiramente mais atrativos, interrompendo assim uma
estreita articulação entre a produção interna e a aquisição em mercados
externos, diminuindo a oferta deste produtos nas grandes cidades, onde se
destacava Lisboa, no caso português. Para além disso, o facto de em Terras de
Mouros a “valia do pão” ser bastante superior àquela que era praticada em
Lisboa, pode significar que os preços do trigo estavam deflacionados na capital
do reino, justificando, assim, uma maior presença deste produto nos mercados da
cidade. De resto, esta suposição é confirmada pelos registos de preços
conhecido95.
Em síntese, tendo em consideração aquilo que escrevi, devemos ser cuidadosos
quando falamos em crises agrárias. Ao conceito de carestia agrícola
necessitamos associar sempre uma data, um local concreto e devemos atentar,
acima de tudo, na sua causa, seja ela motivada pela perturbação dos mecanismos
de comercialização ou de armazenamento devido a medidas políticas ou
administrativas, provocada por más colheitas96, estimulada pela especulação de
preços ou, por fim, movida pelas devastações nos campos de produção e nos
circuitos de fornecimento provocados pela guerra. Nem sempre os motivos para a
carestia agrícola estavam relacionados com a improdutividade dos solos. Por
vezes, uma colheita poderia ser simplesmente devastada pela presença de
animais, como parece ter acontecido com os porcos monteses97 ou os veados98.
Existe, aliás, um documento muito pertinente que ajuda a repensar esta ideia
generalizada sobre a escassez crónica de cereal em todo o reino. Em 1386, três
mercadores, Vasco Martins, morador em Santarém, Joane Anes e Afonso Rodrigues,
moradores em Setúbal, decidiram fretar ao mestre, João Ramalho, o baixel a que
chamavam de Santiago, pelo valor de 1.140 libras e 171 soldos. Como podemos
observar através deste valor avultado, o comércio abria portas à existência de
funções lucrativas que lhe estavam diretamente associadas, como é o caso dos
fretamentos marítimos e dos agentes envolvidos nestes mecanismos mercantis99.
Prosseguindo a narrativa, na embarcação seriam carregados 57 moios de pão
(contendo 64 alqueires em cada um)100; tratava-se de cerca de 35.842 litros de
pão101! Números verdadeiramente impressionantes para uma cidade do reino que
curava feridas recentes provocadas pela guerra. Note-se também que neste ano os
preços de trigo no sul de Portugal encontravam-se particularmente
inflacionados. Existem registos sobre preços fixados em 80 soldos na Golegã102
e em Santarém103. Em Lisboa, por sua vez, dois anos antes (1384), o valor do
trigo encontrava-se em valores semelhantes (80 soldos). Admitindo que estes
valores representavam uma soma recorrente nas transações do alqueire de trigo,
em Lisboa, em 1386, os 3 mercadores encontraram uma oportunidade de negócio
muito lucrativa. Trazendo trigo do Porto, localidade onde aparentemente, por
estes tempos, este produto não rareava, estes homens procuravam vender este
produto em mercados que pagavam muito dinheiro por ele, qualquer coisa como
291.840 soldos pela totalidade do carregamento! Este documento corrobora as
queixas dos povos nas Cortes de Lisboa de 1371, quando afirmavam «que mujtos
logares de nosso Senhorio ssom mjnguados per esta guerra de pam gaados e
doutras cousas que am mester pera sseus mantijmentos E emvijam nas comprar
pelas terras e nom as podem auer por dinheiros pelas defesas e posturas e sisas
muj descomunaaes que os com//çelhos poeem antre sy cada huũ em sseus logares
por lhe nom leuarem as viandas pera fora assij que muijtos o pasam muj bem e
ssom auondados E os outros lazeram muj mal»104. Ou seja, muitos concelhos
enfrentavam com relativa robustez os momentos de carestia de pão, enquanto
outros passavam por grandes dificuldades.
Em relação aos momentos de fomes, de acordo com Vitorino Magalhães Godinho, a
interpretação deste termo na documentação medieval merece algum cuidado.
Existem dois tipos distintos de fome. O primeiro género, o qual podemos
designar de fome biológica, era, na prática, aquele que levava à subnutrição e
consequentemente à morte105. Durante o cerco de Lisboa, em 1384, Fernão Lopes
descreve um cenário negro vivido no interior das muralhas. Na cidade, segundo o
cronista, «nom avia triigo pera vemder, e se o avia, era mui pouco e tam caro,
que as pobres gemtes nom podiam chegar a elle… e começarom de comer pam de
bagaço dazeitona, e dos queyjos das mallvas e rraizes dervas… No logar hu
costumavam vender o triigo, andavom homeẽs e moços esgravatamdo a terra; e sse
achavom alguũs graãos de triigo, metiãnos na boca… outros se fartavõ dervas, e
beviam tamta agua, que achavom mortos homẽes e cachopos jazer imchados nas
praças e em outros logares». Sabemos hoje, e Fernão Lopes evidentemente
desconhecia, que o inchaço do abdómen, sobretudo nos “cachopos”, é provocado
pela desnutrição alimentar. Aquele cronista prossegue, no entanto, com o seu
discurso sobre a fome sentida em Lisboa, durante o cerco da cidade, afirmando
que alguns homens chegavam ao ponto de «comer as carnes das bestas, e nom
soomente os pobres e minguados, mas grãdes pessoas da çidade… Amdavomm os moços
de tres e de quatro anos, pedimdo pam pella çidade por amor de Deos, como lhe
emssinavam suas madres (…)»106.
O segundo tipo de fomespode ser caracterizado por fome cultural, o qual
corresponde à falta dos alimentos preferidos pelos hábitos alimentares da
época. Assim, quando faltava o pão ou a carne havia fome. Daí que, quando os
documentos medievais abordam os anos de fome, não se infira desta asserção a
inexistência total de alimentos. Existia, por exemplo, o recurso à caça, ao
peixe, aos frutos cultivados e silvestres e aos legumes107. A análise ao
comércio agrícola português permite facilmente comprovar a existência destes
produtos nos mercados nacionais108. O simples estudo mais aprofundado sobre a
existência de ocupações acumuladas poderia ajudar a responder a algumas
questões relacionadas com esta temática. A título exemplificativo, encontrei
dados pertinentes num documento da Chancelaria de D. João I. Em 1386, o abade
do mosteiro de São João da Alpendorada descreve ao monarca uma situação
interessante: o mosteiro possui quatro poços coutados, no rio «Paũha», junto
das suas herdades, nos quais os seus lavradores «matam bogas e trujtas». Estes
homens tinham, assim, «fectas <pesqueiras aparedados> de paredes em que lançam
suas redes e armadilhas em que tomam pescados». No entanto, estas pesqueiras
eram devassadas por alguns homens do lugar, que «lhes britam as paredes e com
suas redes pescam em elles contra suas vontades e dos dictos lauradores». O
monarca corrige a situação109.
4. As causas da Lei das Sesmarias: a Peste Negra de 1348 e as Guerras
Fernandinas?
Em suma, vimos que a guerra travada pela Coroa portuguesa durante os anos em
estudo alimentou vários problemas. O rastilho da destruição das terras
cultiváveis era, em alguns casos, verdadeiramente incontrolável. As
dificuldades que acompanhavam estes acontecimentos não resultavam apenas na
devastação de produções agrícolas e dos seus solos. Como foi observado, os
homens, aqueles que eram os principais atores da produção agrícola, ficavam
sujeitos a uma série de privações e de condicionalismos.
Este filme que narrei representa um certo déjà-vu de um tema bastante conhecido
da historiografia portuguesa. O cenário que descrevi obriga-me a abordar a
interpretação que vem sido feita pela historiografia portuguesa acerca da
promulgação da Lei das Sesmarias, em 1375, por D. Fernando. Esta legislação
sobre a agricultura, integrada num conjunto de leis que procuravam proteger e
fomentar o comércio, tentou, segundo a historiografia, corrigir o problema de
falta de mão-de-obra que grassava no reino português. Para atingir este
objetivo a Monarquia procurou fixar o trabalhador na terra, mesmo contra a sua
vontade, recorrendo às autoridades do rei e dos poderes locais. Esta deserção
dos campos aconteceu, segundo os próprios legisladores, devido aos problemas de
abastecimento do reino e aos aumentos de salários110. Estas dificuldades –
prossegue a historiografia – derivam sobretudo da grande mortandade sentida em
Portugal após a Peste Negra de 1348111, resultando numa sequência clássica:
razia brutal na população, falta de mão-de-obra, campos abandonados, migrações
internas e fuga para as cidades, baixa produção agrícola e carestia do
cereal112. Assim, a Lei das Sesmarias procurava dar resposta às consequências
económicas e aos custos sociais deste acontecimento, os quais «apenas foram
perceptíveis em toda a sua extensão, em muitos lugares da Europa, para a
geração contemporânea de D. Fernando»113.
No entanto, creio que o cenário que foi descrito ao longo deste artigo encontra
paralelismos com o quadro que é narrado pela Lei das Sesmarias114. Como tal,
sem negar o importante papel desenhado pela depressão demográfica que se seguiu
ao surto epidémico de 1348, julgo que é sensato repensar a subvalorização da
historiografia portuguesa em relação ao papel das Guerras Fernandinas no
impulso da criação da Lei das Sesmarias. Entre o início do reinado de D.
Fernando e a data de promulgação desta legislação passaram apenas 8 anos. Houve
guerra em metade destes anos, entre 1369-1370 e, acima de tudo, entre 1372-
1373, período que correspondeu à fase mais dura dos conflitos com Castela. O
regresso da paz e o fim das hostilidades não garantia obrigatoriamente o
restabelecimento a curto-prazo da produção e a regularização dos circuitos de
abastecimento de géneros. Apesar de a guerra não destruir a fertilidade dos
campos, poderia dificultar a produtividade a curto-prazo, pois era necessário
que os lavradores voltassem para as terras e que adquirissem sementes e
animais, que reconstruíssem os estábulos e os celeiros das explorações
agrícolas e pecuárias, para além de se verem obrigados a substituir as alfaias,
as carroças e os carros destruídos ou requisitados e nunca devolvidos. Em pior
situação estariam os casos em que era necessário esperar, por vezes anos, para
que os solos, desgastados com a guerra, voltassem a produzir115, pois até mesmo
a obtenção de estrume podia ser dificultada, uma vez que muito do gado que o
produzia estava morto ou foi simplesmente roubado116, levando a uma forte
inflação do seu preço. Tendo isto em consideração, «o espaço de tempo que podia
demorar até que uma seara, uma vinha ou um olival voltasse a ser produtivo e
rentável podia ser demasiado longo e trazer, por isso, a ruína de muitos homens
e mulheres cuja subsistência dependia da sua produção e, em último caso, trazer
o abandono dos campos e a desertificação»117. O destino desta gente era, não
raras vezes, o refúgio na cidade, aparentemente mais segura aos raides
inimigos, enquanto acalentavam a esperança de encontrarem melhores condições de
trabalho118. De resto, a teoria que avanço parece estar em estreita relação com
as queixas dos procuradores do concelho de Silves, em 1372, nas Cortes
Especiais de Leiria. Segundo estes homens, «em no tempo que as gentes eram mais
no mundo que ora som a dicta cidade nom era tam pobrada per como aa dicta
cidade e muro compria E que depois per a pestellença grande que foe E outrossy
por terremotos e outros aujamentos de guerra e d armaçam de gallẽes que a dicta
cidade era ora mais despobrada e que poer qual e que per qual acerca he
(…)»119. Esta é, de resto, a única menção nos capítulos de Cortes de D.
Fernando ao despovoamento provocado pelas pestilências, enquanto se multiplicam
aqueles que culpabilizam a guerra pelo decréscimo populacional. Embora seja
verdade que os procuradores dos concelhos, sobretudo raianos, aperfeiçoaram uma
retórica habilidosa ao longo de décadas ameaçando com a possibilidade de
desertificação dos seus lugares com o objetivo de verem mais facilmente
aprovados os pedidos que moviam120, é extremamente provável que os fantasmas da
guerra tivessem tido uma grande responsabilidade na promulgação da Lei das
Sesmarias, em 1375, pois «quando começou a guerra (…) naceo outro mundo novo
muito contrairo ao primeiro»122.
Conclusões
Para rematar este longo percurso, resta-me sintetizar em algumas linhas aquilo
que escrevi nas páginas anteriores:
Em primeiro lugar, concluí que quando a guerra trilhava o seu curso pelo reino
sobrevinham, então, dificuldades de produção e de abastecimento no território,
algo que se acentuava nos maiores centros urbanos, como era o caso de Lisboa.
As múltiplas contrariedades que foram descritas (destruição de instrumentos de
produção, devastação de campos agrícolas, interrupção de circuitos de
abastecimento, etc.) não se manifestavam em resultado de danos colaterais
provocados pelos enfrentamentos bélicos. Pelo contrário, na Idade Média, os
não-combatentes (com especial destaque para os lavradores), em conjunto com os
seus bens e propriedades, representavam um objetivo militar de extrema
importância e que devia ser anulado a todo o custo.
Em segundo lugar, indiquei que a especulação de preços nos mercados do século
XIV é relatada na documentação manuscrita. Os indivíduos que a patrocinavam
usavam recursos diversificados para lucrar no comércio de produtos agrícolas:
por um lado, os privilegiados recorriam, por exemplo, ao seu estatuto e à sua
própria riqueza para inflacionar o preço dos víveres; por outro lado, os
populares incorriam nestas práticas através de outros meios, vendendo, a título
exemplificativo, as suas mercadorias fora dos locais apropriados, por forma a
fugirem ao controlo das autoridades municipais; enquanto os primeiros usavam de
elementos de autoridade para praticar estes atos, os segundos recorriam com a
mesma facilidade a ameaças de violência. Em suma, a especulação de preços
demonstra, em toda a linha, a complexidade do comércio agrícola de finais da
Idade Média, o qual poderia suscitar lucros muito significativos para os
indivíduos que sabiam como aproveitar algumas das fragilidades deste mercado.
Em terceiro lugar, foram repensados os conceitos de crises agráriase de fomes,
procurando contrariar as ideias clássicas sobre a escassez crónica de cereal em
Portugal. Como referi, ao conceito de carestiaagrícola é obrigatória a
associação de uma data, de um local concreto, procurando conhecer a sua causa,
seja ela motivada pela perturbação dos mecanismos de comercialização ou de
armazenamento, provocada por más colheitas, movida pela especulação de preços
ou estimulada pela devastação nos campos de produção e nos circuitos de
fornecimento provocados pela guerra. Por sua vez, sobre as fomes, subscrevi a
teorização de Vitorino Magalhães Godinho acerca da fome biológica(definindo-se
por ser aquela que leva, de facto, à subnutrição e possivelmente à morte)e da
fome cultural(caracterizando-se por ser aquela que resulta da falta dos
alimentos preferidos pelos hábitos alimentares da época). Neste contexto, julgo
ser importante o desenvolvimento de novas investigações cujo objetivo seja o de
conhecer a existência de ocupações acumuladas, temática que ajudaria a
desmistificar algumas das ideias comummente aceites pela historiografia
portuguesa. Isto é, um mau ano agrícola não significaria que um lavrador
sucumbisse perante a ausência total de alimentos. Para além do acesso ao
mercado, este homem poderia recorrer à caça ou à pesca, conforme demonstrei
através de um exemplo referente a esta última atividade.
Por fim, em quarto lugar, a condução da minha narrativa levou-me a repensar a
interpretação que vem sido feita pela historiografia portuguesa sobre a
promulgação da Lei das Sesmarias, em 1375, por D. Fernando. Isto é, considero
que deve ser reconsiderado o papel das duas primeiras Guerras Fernandinas
(1369-1370 e 1372-73) na criação desta legislação. Como tal, creio que o
cenário desenhado pelos conflitos bélicos, os quais foram narrados ao longo
deste texto, encontra muitos paralelismos com o quadro que é descrito pela Lei
das Sesmarias. Assim, sem rejeitar o importante papel traçado pela depressão
demográfica que se seguiu à Peste Negra de 1348, julgo que é sensato
reconsiderar a subvalorização excessiva da historiografia portuguesa em relação
à responsabilidade das Guerras Fernandinas no impulso de conceção da Lei das
Sesmarias.
Recrutar. Produzir. Abastecer: conforme iniciei este artigo, assim o encerro.
Entre 1369 e 1400, D. Fernando e D. João I viram-se obrigados a articular com
destreza a envolvência do recrutamento militar, com os processos de produção e
de abastecimento agrícolas. Isto é, num período marcado por sucessivos
enfrentamentos bélicos, a Coroa necessitava de homens para integrar as fileiras
da sua hoste. No entanto, este alistamento precisava de ser feito tendo sempre
como horizonte presente as necessidades de abastecimento do reino, evitando,
assim, que o recrutamento recaísse sobre os lavradores – tarefa que, aliás, nem
sempre era conseguida. Porém, não era apenas o recrutamento militar que poderia
influenciar as relações económicas e sociais de finais do século XIV. As
incursões de soldados inimigos em território nacional levaram, não raras vezes,
à criação de períodos de carestia agrícola que dificultavam o abastecimento de
algumas cidades do reino. Esta análise permite – repito – contrariar algumas
das conceções clássicas da historiografia portuguesa. Assim, julgo ser
fundamental que a historiografia portuguesa crie novos campos de pesquisa tendo
como base de trabalho a integração da componente militar articulada com a
análise à sociedade e aos sistemas de produção e comercialização da Idade
Média. A guerra é um elemento de mobilização social e económica: como vimos,
enquanto alguns indivíduos conheceram a sua ruína financeira fruto dos
conflitos militares, outros beneficiaram de oportunidades de enriquecimento
económico através da exploração de um comércio agrícola que se encontrava
inflacionado. Em suma, acho que é crucial que qualquer estudo de história
económica medieval, o qual esteja evidentemente delimitado por períodos
cronológicos marcados por conflitos bélicos, tenha em consideração a trilogia
que procurei descrever ao longo deste texto, ou seja, a existência de uma
preocupação constante por parte da Coroa em articular o recrutamento militar, a
produção e o abastecimento agrícolas do reino.
Ho caminho fica aberto
a quem mais quiser dizer:
tudo o que escreui he certo.
non pude mais escreuer
por nã ter mais descuberto;
sem letras, e sem saber,
me fuy naquisto meter,
por fazer a quem mais sabe,
que o que minguar acabe;
pois eu mais não sey fazer.
Garcia de Resende, in Miscelânea
Referência electrónica
Fontes manuscritas
IAN/TT, Chancelaria de D. Fernando.
Fontes impressas:
Cantigas d'Escarnho e de Mal Dizer dos Cancioneiros Medievais Galego-
Portugueses. Ed. crítica e vocabulário de Manuel Rodrigues Lapa. Lisboa: João
Sá da Costa, 1995.
Chancelarias Portuguesas: D. João I. Ed. de João José Alves Dias. Vol. I-IV.
Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, Centro de Estudos Históricos, 2004-2006.
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383). Ed. de A. H. de
Oliveira Marques. Vol. I-II. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação
Científica, 1990.
Descobrimentos portugueses: documentos para a sua história. Ed. de João Martins
da Silva Marques. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1988.
LOPES, Fernão – Cronica del rei Dom Joham I.Lisboa: INCM - Imprensa Nacional
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LOPES, Fernão – Crónica de D. Fernando. Lisboa: INCM - Imprensa Nacional Casa
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Ordenações Afonsinas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.
Estudos
BARATA, Filipe Themudo – Navegação, Comércio e Relações Políticas: os
Portugueses no Mediterrâneo Ocidental (1385-1466). Lisboa: Fundação Calouste
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BARATA, Filipe Themudo e HENRIQUES, António Castro – “Economic and Fiscal
History”. in MATTOSO, José (dir.) – The Historiography of Medieval
Portugal.Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, Universidade Nova de Lisboa,
2011, pp. 261-81.
BARROS, Amândio – "O Porto contra os corsários. (A expedição de 1469)". in
Revista da Faculdade de Letras. História. Porto. Vol. III, nº 1 (2000), pp. 11-
27.
BARROS, Amândio – Porto: a construção de um espaço marítimo nos alvores dos
tempos modernos. Porto: Dissertação de doutoramento em História apresentada à
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004.
BORRERO FERNÁNDEZ, Mercedes – “El mundo rural y la crisis del siglo XIV. Un
tema historiográfico en proceso de revisión”. in Edad Media. Revista de
Historia. Valladolid. 8 (2007), pp. 37-58.
BOUTHOUL, Gaston – O Fenómeno Guerra. Lisboa: Estúdios Cor1966.
CARRÈRE, Claude – Barcelone, Centre économique à L'époque des Difficultés.
Paris: De Gruyter Mouton, 1967.
CASADO ALONSO, Hilario –Señores, Mercaderes y Campesinos. La Comarca de Burgos
en la Baja Edad Media. Valladolid: Junta de Castilla y León. Consejería de
Cultura y Bienestar Social, 1987.
CASADO ALONSO, Hilario – “Existió la crisis del siglo XIV? Consideraciones a
partir de los datos de la contabilidad de la catedral de Burgos”. in VAL
VALDIVIESO, María Isabel del e MARTÍNEZ SOPENA, Pascual (coord.) – Castilla y
el Mundo Feudal. Homenaje al Professor Julio Valdeón. Vol. III. Valladolid:
Junta de Castilla y León – Universidad de Valladolid, 2009, pp. 9-25.
COMO CITAR ESTE ARTIGO
Referência electrónica:
FERREIRA, Leandro Ribeiro – “Recrutar. Priduzir. Abastecer. Repensar a produção
e o comercio agrícolas em tempo de guerras (1369-1400)”. Medievalista [Em
linha]. Nº 18 (Julho - Dezembro 2015). [Consultado dd.mm.aaaa]. Disponível em
http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA18/. ISSN 1646-740X.
Data recepção do artigo: 24 de Novembro de 2014
Data aceitação do artigo: 17 de Abril de 2015
1
BARATA, Filipe Themudo e HENRIQUES, António Castro – “Economic and Fiscal
History”. in MATTOSO, José (dir.) – The Historiography of Medieval
Portugal.Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, Universidade Nova de Lisboa,
2011, p. 270.
2
MARQUES, A. H. de Oliveira – “Ideário para uma história económica da Idade
Média”. in Ensaios de História Medieval Portuguesa. 2ª ed. Lisboa: Veja, 1979,
pp. 23-48.
3
BARATA, Filipe Themudo e HENRIQUES, António Castro – “Economic and Fiscal
History”…, p. 262.
4
MARQUES, A. H. de Oliveira – Introdução à História da Agricultura em Portugal:
a questão cerealífera durante a Idade Média. 3.ª ed. Lisboa: Edições Cosmos,
1978, p. 51.
5
MARQUES, A. H. de Oliveira – “Cidades Medievais Portuguesas (Algumas Bases
Metodológicas Gerais)”. in Revista de História Económica e Social. Lisboa. 9
(1982), p. 4.
6
BARATA, Filipe Themudo e HENRIQUES, António Castro – “Economic and Fiscal
History”…, p. 262.
7
Sobre este último ponto, veja-se, por exemplo, alguns trabalhos bastante
pertinentes: BARATA, Filipe Themudo – Navegação, Comércio e Relações Políticas:
os Portugueses no Mediterrâneo Ocidental (1385-1466). Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1998; MELO, Arnaldo – Trabalho e Produção em Portugal na Idade
Média: O Porto, c. 1320 – c. 1415. 2 vols. Braga: Dissertação de doutoramento
apresentada à Universidade do Minho e à École des Hautes Études en Sciences
Sociales, 2009; DOMINGUEZ, Rodrigo da Costa – Mercadores e Banqueiros:
Sociedade e Economia no Portugal dos Séculos XIV e XV. Brasília: Hinterlândia,
2009; DUARTE, Luís Miguel – “«Tomar O Pão Dos Coitados». Para Repensar a Crise
do Século XIV em Portugal”. in COSTA, Leonor Freire, DUARTE, Luís Miguel e
GARRIDO, Álvaro (ed.) – Economia, Instituições e Império: Estudos em Homenagem
a Joaquim Romero Magalhães. Lisboa: Almedina, 2012, pp. 241-61; MIRANDA, Flávio
– Portugal and the medieval Atlantic: commercial diplomacy, merchants, and
trade, 1143-1488. Porto: Dissertação de doutoramento em História apresentada à
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2012; MUHAJ, Adrian – Quando
todos os caminhos levavam a Portugal: Impacto da Guerra dos Cem anos na vida
económica e política de Portugal (Séculos XIV-XV). Lisboa: Dissertação de
Doutoramento em Letras, especialidade em História Medieval, apresentada à
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2013. Estudos de épocas
posteriores podem representar uma importante base de apoio para os trabalhos de
história económica medieval portuguesa, como por exemplo: BARROS, Amândio –
Porto: a construção de um espaço marítimo nos alvores dos tempos modernos.
Porto: Dissertação de doutoramento em História apresentada à Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, 2004; POLÓNIA, Amélia – A Expansão Ultramarina
Numa Perspectiva Local: O Porto de Vila do Conde no Séc. XVI. 2 vols. Lisboa:
Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2007.
8
DUARTE, Luís Miguel – “«Tomar O Pão Dos Coitados»”…, p. 242.
9
VALDEÓN BARUQUE, Julio – “La Crisis del siglo XIV en Castilla: Revisión del
problema”. in Revista de la Universidad de Madrid. 20 (1972), p. 161-82;
VALDEÓN BARUQUE, Julio – “Reflexiones Sobre La Crisis Bajomedieval En
Castilla”. in En La España Medieval. 2 (1984), pp. 1047-1060.
10
PORTELA SILVA, Ermelindo –La región del obispado de Tuy en los siglos XII al
XV. Una sociedad en la expansión y en la crisis. Santiago de Compostela:
Diputación Provincial de Pontevedra, 1976.
11
IRADIEL MURUGARREN, Paulino – “La crisis Bajomedieval, un tiempo de
conflictos”. inIGLESIA DUARTE, J. I. de la (ed.) – XIV Semana de Estudios
Medievales de Nájera: Conflictos Sociales, Políticos e Intelectuales en la
España de los Siglos XIV y XV. Logroño: Gobierno de la Rioja, Instituto de
Estudios Riojanos, 2004, pp. 13-48.
12
BORRERO FERNÁNDEZ, Mercedes – “El mundo rural y la crisis del siglo XIV. Un
tema historiográfico en proceso de revisión”. in Edad Media. Revista de
Historia. Valladolid. 8 (2007), pp. 37-58.
13
OLIVA HERRER, Hipólito Rafael – “El mundo rural en la corona De Castilla en la
Baja Edad Media: Dinamicas socioeconomicas y nuevas perspectivas de analisis”.
in Edad Media. Revista de Historia. Valladolid. 8 (2007), pp. 295-328; OLIVA
HERRER, Hipólito Rafael – “Reacciones a la crisis de 1504 en el mundo rural
castellano”. in OLIVA HERRER, Hipólito Rafael e BENITO I MONCLÚS, Pero (eds.) –
Crisis de Subsistencia y Crisis Agrarias en la Edad Media. Sevilha: Universidad
de Sevilla, 2007, pp. 259-76.
14
IGUAL LUIS, David – “¿Crisis? ¿Qué crisis? El comercio internacional en los
renos hispánicos en la Baja Edad Media”. inEdad Media. Revista de Historia.
Valladolid. 8 (2007), pp. 203-23.
15
CASADO ALONSO, Hilario – “Existió la crisis del siglo XIV? Consideraciones a
partir de los datos de la contabilidad de la catedral de Burgos”. in VAL
VALDIVIESO, María Isabel del e MARTÍNEZ SOPENA, Pascual (coord.) – Castilla y
el Mundo Feudal. Homenaje al Professor Julio Valdeón. Vol. III. Valladolid:
Junta de Castilla y León – Univeersidad de Valladolid, 2009, pp. 9-25.
16
Veja-se a obra sobre o Baixo Mondego nos finais da Idade Média, de Maria Helena
da Cruz Coelho, a qual, inclusive, antecipou, entre nós, em 1983, alguns dos
temas que grassam atualmente pela historiografia internacional. Adicionalmente
veja-se também: CASADO, Hilario –Señores, Mercaderes y Campesinos. La Comarca
de Burgos en la Baja Edad Media. Valladolid: Junta de Castilla y León.
Consejería de Cultura y Bienestar Social, 1987.
17
DUARTE, Luís Miguel – “«Tomar O Pão Dos Coitados»”…, p. 247.
18
Sobre est assunto, cf.: “As Cicatrizes da Guerra no Espaço Fronteiriço
Português (1250-1450)”, título sugestivo de um recente trabalho de João Gouveia
Monteiro e de Miguel Gomes Martins, publicado em 2010, o qual nos oferece um
retrato fiel sobre as peugadas deixadas pela guerra, em Portugal, durante a
Idade Média.
19
MARTINS, Miguel Gomes – A Arte da Guerra em Portugal (1245-1367).Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2014.
20
MONTEIRO, João Gouveia – “As feridas da guerra entre 1350 e 1450”. in MARTINS,
Miguel Gomes e MONTEIRO, João Gouveia – As cicatrizes da guerra no espaço
fronteiriço Português (1250-1450). Coimbra: Palimage, 2010, pp. 73-75. Para o
período entre 1250 e 1350 veja-se MARTINS, Miguel Gomes – “A marca da guerra
entre 1250 e 1350”. in MARTINS, Miguel Gomes e MONTEIRO, João Gouveia – As
cicatrizes da guerra no espaço fronteiriço Português (1250-1450). Coimbra:
Palimage, 2010, pp. 35-37.
21
MONTEIRO, João Gouveia – “As feridas da guerra entre 1350 e 1450”…, pp. 75-79;
MARTINS, Miguel Gomes – “A marca da guerra entre 1250 e 1350”…, pp. 37-40.
22
IAN/TT, Chancelaria de D. Fernando, Livro 1, fls. 67v.º-68.
23
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383). Ed. de A. H. de
Oliveira Marques. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1990,
p. 16, vol. I, art.º 1.º.
24
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, p. 25, vol. I,
art.º 22.º.
25
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, p. 82, vol. I,
art.º 1.º.
26
LOPES, Fernão – Cronica del rei Dom Joham I.Lisboa: INCM - Imprensa Nacional
Casa da Moeda, 1997, p. 37, cap. XIX.
27
MONTEIRO, João Gouveia – “As feridas da guerra entre 1350 e 1450”…, pp. 75-76,
nt. 187.
28
Chancelarias Portuguesas: D. João I. Ed. João José Alves Dias. Vol. I, t. 3.
Lisboa: Centro de Estudos Históricos – Universidade Nova de Lisboa, 2004, doc.
1272, pp. 172-173.
29
A saber: quintã de Alcadaria, Baraçal, Randide, quintã de Valverde e Vialonga.
30
Chancelarias Portuguesas: D. João I, ed. cit., vol. II, t. 3, doc. 1443, pp.
207-208.
31
Chancelarias Portuguesas: D. João I, ed. cit., vol. II, t. 1, doc. 438, p.
232.
32
MONTEIRO, João Gouveia – “As feridas da guerra entre 1350 e 1450”…, pp. 76-77.
33
GOMES, Rita Costa – D. Fernando. Mem Martins: Círculo de Leitores, 2005, p.
111.
34
MARQUES, José – “Devastações biscainhas na quinta da Azóia (1381)”. in Revista
Portuguesa de História. Vol. XXXI, n.º 2 (1996), pp. 214-216.
35
MONTEIRO, João Gouveia – “As feridas da guerra entre 1350 e 1450”…, pp. 77-78.
36
LOPES, Fernão – Cronica del rei Dom JohamI…, caps. LIX e LX, pp. 144-149.
37
Comunicações proferidas sobre os temas «Prisoners of War in Portugal, 1128-
1350» e «Prisoners of War in Portugal, 1350-1450», respetivamente, no âmbito do
congresso «Common Men and Women at War, 300-1500 AD», entre 4 e 6 de Junho de
2014, Tronheim (Noruega). Prevê-se que as atas do congresso sejam publicadas em
finais de 2015, inícios de 2016.
38
LOPES, Fernão – Cronica del rei Dom JohamI…, caps. LIX e LX, pp. 144-149.
39
Ordenações Afonsinas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984, vol. I, tít.
LXIX, n.º 29, p. 437.
40
IAN/TT, Chancelaria de D. Fernando, Livro 2, fls. 26v.º-27.
41
MONTEIRO, João Gouveia – “As feridas da guerra entre 1350 e 1450”…, p. 75.
42
O monarca exclui do âmbito deste privilégio, como é evidente, aqueles que não
eram da cidade mas que lá vendiam estes produtos (Chancelarias Portuguesas. D.
João I,ed. cit., vol. I, t. 2, doc. 825, p. 162).
43
Sobre este assunto veja-se MONTEIRO, João Gouveia – “As feridas da guerra
entre 1350 e 1450”…, pp. 91-95 e MARTINS, Miguel Gomes – “A marca da guerra
entre 1250 e 1350”…, pp. 48-52.
44
MONTEIRO, João Gouveia – “As feridas da guerra entre 1350 e 1450”…, p. 85.
45
LOPES, Fernão – Cronica del rei Dom JohamI…, cap. XXXV, p. 115-117.
46
Chancelarias Portuguesas: D. João, ed. cit., vol. I, t. 2, doc. 666, p. 77.
47
MARTINS, Miguel Gomes – “Abastecer as cidades em contexto de guerra: o cerco
de Lisboa de 1384”. in ARÍZAGA BOLUMBURU, Beatriz e ÁNGEL SOLÓRZANO, Beatriz
(Coords.) – Alimentar la ciudad en la Edad Media.Logroño: Instituto de Estudios
Riojanos, 2009, pp. 133-135.
48
MARTINS, Miguel Gomes – Lisboa e a Guerra (1367-1411). Lisboa: Livros
Horizonte, 2001, pp. 111-112.
49
MARTINS, Miguel Gomes – “Abastecer as cidades em contexto de guerra: o cerco
de Lisboa de 1384”…, p. 136.
50
Veja-se, por exemplo, BARATA, Filipe Themudo – Navegação, Comércio e Relações
Políticas: os Portugueses no Mediterrâneo Ocidental (1385-1466). Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1998; BARROS, Amândio – "O Porto contra os
corsários. (A expedição de 1469)", in Revista da Faculdade de Letras. História.
Porto. Vol. III, nº. 1 (2000), p. 11-27; BARROS, Amândio – Porto: a construção
de um espaço marítimo nos alvores dos tempos modernos. Porto: Dissertação de
doutoramento em História apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, 2004.
51
Veja-se: DUARTE, Luís Miguel – “A Marinha de Guerra. A Pólvora. O Norte de
África”. in BARATA, Manuel Themudo e TEIXEIRA, Nuno Severiano (dir.) – Nova
História Militar de Portugal. vol. I. Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2004,
pp. 290-442.
52
MARTINS, Miguel Gomes – Lisboa e a Guerra (1367-1411)…, p. 114.
53
Descobrimentos portugueses: documentos para a sua história. Ed. de João
Martins da Silva Marques. Vol. I. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação
Científica, 1988, doc. 209, pp. 217-218.
54
MONTEIRO, João Gouveia e SILVA, Vasco Jorge Rosa da – “A Vivência da Guerra no
Outono da Idade Média”. in BARATA, Manuel Themudo e TEIXEIRA, Nuno Severiano
(dir.) – Nova História Militar de Portugal. vol. I. Rio de Mouro: Círculo de
Leitores, 2004, p. 15.
55
A familia monástica é, em linhas gerais, um agrupamento complexo e numeroso,
que reúne pessoas de todas as condições sociais, que ambicionam viver à sombra
do mosteiro, sob a sua proteção. MATTOSO, José – O Monaquismo Ibérico e Cluny.
Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2002.
56
Chancelarias Portuguesa. D. João I, ed. cit., vol. I, t. 2, doc. 931, pp. 236-
237.
57
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, p. 38,
art.º 47º.
58
Cf., por exemplo, Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…,
vol. I, art.º 5º, pp. 126-127.
59
GOMES, Rita Costa – D. Fernando…, p. 116.
60
Isto verifica-se não só no comércio, mas também nos mecanismos que lhe estavam
associados. Nos fretamentos marítimos lisboetas, empresa que fornecia lucros
apetíceis, verifica-se uma intervenção direta de D. Fernando, estipulando que
as barcas que se encontravam ao serviço da Coroa necessitariam de ser as
primeiras a ser fretadas na localidade. As restantes apenas poderiam ser
contratadas quando não houvesse barcas régias nos portos. Sobre este assunto
veja-se um artigo da minha autoria, que se encontra em fase de publicação, com
o título “De Lisboa rumo ao reino: Fretamentos e fretadores nos séculos XIV e
XV”.
61
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, art.º 43º,
p. 35.
62
DUARTE, Luís Miguel – “«Tomar O Pão Dos Coitados».”…, pp. 257-258.
63
Cf. PALERMO, Luciano – Sviluppo Economico e Società Preindustriali. Cicli,
Strutture e Congiunture in Europa dal Medioevo Alla Prima Età Moderna. Roma:
Viella, 1997.
64
Cf., por exemplo: SANTAMARÍA LANCHO, Miguel – “Del concejo y su término a la
comunidad de ciudad y tierra: Surgimiento y transformación del señorío urbano
de Segovia (siglos XIII-XVI)”. Studia Historica. Historia Medieval. Salamanca.
2 (1985), pp. 103-105; BORRERO FERNÁNDEZ, Mercedes – “El mundo rural y la
crisis del siglo XIV. Un tema historiográfico en proceso de revisión”…, pp.53-
62; CASADO, Hilario –Señores, Mercaderes y Campesinos. La Comarca de Burgos en
la Baja Edad Media…, p. 501; OLIVA HERRER, Hipólito Rafael – “Reacciones a la
crisis de 1504 en el mundo rural castellano”. in OLIVA HERRER, Hipólito Rafael
e BENITO I MONCLÚS, Pero (eds.) – Crisis de Subsistencia y Crisis Agrarias en
la Edad Media. Sevilha: Universidad de Sevilla, 2007, pp. 259-276.
65
OLIVA HERRER, Hipólito Rafael – “El mundo rural en la corona De Castilla en la
Baja Edad Media: Dinamicas socioeconomicas y nuevas perspectivas de analisis”…,
p. 322.
66
OLIVA HERRER, Hipólito Rafael – “El mundo rural en la corona De Castilla en la
Baja Edad Media: Dinamicas socioeconomicas y nuevas perspectivas de analisis”…,
pp. 321-322.
67
BOUTHOUL, Gaston – O Fenómeno Guerra. Lisboa: Estúdios Cor, 1966, p. 273.
68
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, art.º 70º.
p. 48.
69
Optei por não esboçar nenhum apontamento sobre a questão das sisas e da
tributação, pois foi publicado recentemente, em 2014, um artigo muito
esclarecedor sobre este assunto. Cf.: HENRIQUES, António Castro – “The Rise of
a Tax State: Portugal, 1371-1401”. in E-journal of Portuguese History. Vol. 12,
n.º 1 (2014), pp. 49-66.
70
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, art.º 44º,
p. 36.
71
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, art.º 65º,
p. 46.
72
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)..., vol. I, art.º 3º,
p. 84.
73
No caso deste documento, analisado anteriormente, eram os próprios oficiais do
rei que incorriam nestas práticas…
74
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, art.º 43º,
p. 35.
75
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, art.º 65º,
p. 46.
76
SOUSA, Armindo de – As Cortes Medievais Portuguesas. Vol. I. Porto: Instituto
Nacional de Investigação Científica – Centro de História da Universidade do
Porto, 1990, p. 205.
77
Armindo de Sousa indica vários exemplos: Cortes de Elvas, de 1361; Cortes de
Lisboa de 1371; Cortes de Guimarães de 1401; Cortes de Lisboa de 1427 e 1455;
e, finalmente, Cortes de Évora de 1490. SOUSA, Armindo de – As Cortes Medievais
Portuguesas…, vol. I, p. 206.
78
SOUSA, Armindo de – As Cortes Medievais Portuguesas…, vol. I, pp. 189-214.
79
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, art.º 70º,
p. 48.
80
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, p. 108.
81
MARQUES, A. H. de Oliveira – “O Tempo das Crises”. in Memória de Portugal – O
Milénio Português. Ed. de Roberto Carneiro e Artur Teodoro de Matos. Lisboa:
Círculo de Leitores, 2001, p. 166.
82
MALANIMA, Paolo – Economia Preindustriale. Mille Anni: Dal IX el XVIII Secolo.
Milão: Bruno Mondadori, 1995.
83
A paridade de poder de compra tal como era calculada em 1990. DUARTE, Luís
Miguel – “«Tomar O Pão Dos Coitados».”…, p. 243.
84
DUARTE, Luís Miguel – “«Tomar O Pão Dos Coitados».”…, pp. 242-243.
85
EPSTEIN, Stephan R – An Island for Itself. Economic Development and Social
Transformation in Late Medieval Sicily. Cambridge: Cambridge UP, 1992.
86
DUARTE, Luís Miguel – “«Tomar O Pão Dos Coitados».”…, p. 243.
87
CARRÈRE, Claude – Barcelone, Centre économique à L'époque des Difficultés.
Paris: De Gruyter Mouton, 1967, pp. 326-342.
88
BARATA, Filipe Themudo – Navegação, Comércio e Relações Políticas: os
Portugueses no Mediterrâneo Ocidental (1385-1466)…, p. 108.
89
DUARTE, Luís Miguel – “A História Económica do Portugal Medieval (Sugestões
para uma recuperação)”. in VIII Congreso de la Asociación Española de Historia
Económica. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela,
2005, p. 11.
90
OLIVA HERRER, Hipólito Rafael – “El mundo rural en la corona De Castilla en la
Baja Edad Media: Dinamicas socioeconomicas y nuevas perspectivas de analisis”…,
pp. 310-31.
91
BARATA, Filipe Themudo – Navegação, Comércio e Relações Políticas: os
Portugueses no Mediterrâneo Ocidental (1385-1466)…, p. 109.
92
Cf.: MARQUES, A. H. de Oliveira – Introdução à História da Agricultura em
Portugal: a questão cerealífera durante a Idade Média. 3ª ed. Lisboa: Edições
Cosmos, 1978.
93
BARATA, Filipe Themudo – Navegação, Comércio e Relações Políticas: os
Portugueses no Mediterrâneo Ocidental (1385-1466)…, pp. 109-11.
94
Chancelarias Portuguesas: D. João I, ed. cit., vol. III, t. 3, doc. 1078, pp.
162-163.
95
Cf.: FERREIRA, Sérgio – Preços e Salários em Portugal na Baixa Idade Média.
Porto: Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, 2007, pp. 34-35; VIANA, Mário – “Alguns Preços de
Cereais em Portugal (séculos XIII-XVI)”. in Arquipélago. História.Ponta
Delgada. 12 (2008), p. 217.
96
DUARTE, Luís Miguel – “«Tomar O Pão Dos Coitados».”…, p. 248.
97
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, art.º 12º,
p. 16, e p. 94, art.º 15º.
98
DUARTE, Luís Miguel – “«Tomar O Pão Dos Coitados».”…, p. 255.
99
Cf. BARATA, Filipe Themudo – Navegação, Comércio e Relações Políticas: os
Portugueses no Mediterrâneo Ocidental (1385-1466)…; BARROS, Amândio – Porto: a
construção de um espaço marítimo nos alvores dos tempos modernos…. Para além
destes, encontra-se em fase de publicação um artigo da minha autoria com o
título “De Lisboa rumo ao reino: Fretamentos e fretadores nos séculos XIV e
XV”.
100
Descobrimentos Portugueses…, supl. ao vol. I, doc. 50, p. 69.
101
Os cálculos são simples: cada moio de pão contém 64 alqueires, conforme refere
o documento. Admitindo o valor de 9,8251 litros proposto por Luís Seabra Lopes
por cada alqueire, para este espaço temporal, estariam naquela embarcação, em
rigor, cerca de 35.841,9648. LOPES, Luís Seabra – “A cultura da medição em
Portugal ao longo da História”. in Educação e Matemática.Lisboa. 84 (2005), p.
42-48.
102
FERREIRA, Sérgio – Preços e Salários em Portugal na Baixa Idade Média…, p. 33.
103
VIANA, Mário – “Alguns Preços de Cereais em Portugal (séculos XIII-XVI)”…, p.
216.
104
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, art.º 65º,
p. 46.
105
GODINHO, Vitorino Magalhães – Os descobrimentos e a economia mundial.2.ª ed.
Vol. IV. Lisboa: Editorial Presença, 1983, p. 17.
106
LOPES, Fernão – Cronica del rei Dom Joham I…, cap. CXLVIII, pp. 269-270.
107
GODINHO, Vitorino Magalhães – Os descobrimentos e a economia mundial…, vol. IV,
p. 17.
108
Veja-se, por exemplo, BARATA, Filipe Themudo – Navegação, Comércio e Relações
Políticas: os Portugueses no Mediterrâneo Ocidental (1385-1466)…, pp. 114-115;
CHILDS, Wendy R. – Trade and Shipping in the Medieval West: Portugal, Castile
and England. Bélgica: Textes et Etudes du Moyen Âge, 2013, pp. 97-102.
109
Chancelarias Portuguesas: D. João I, ed. cit., vol. I, t. 3, doc. 1193, pp.
132-133.
110
As dificuldades sentidas com o elevado custo da mão-de-obra no período pós-
Peste Negra são comprovadas por alguns trabalhos consagrados: RODRIGUES, Ana
Maria S. A. – Torres Vedras. A Vila e o Termo nos Finais da Idade Média.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian / JNICT, 1995, p. 407; COELHO, Maria
Helena da Cruz – O Baixo Mondego nos finais Da Idade Média, 1ª ed.. Coimbra:
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1983, pp 634-642; GONÇALVES,
Iria – O Património do Mosteiro de Alcobaça nos Séculos XIV e XV. Lisboa:
Universidade Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 1989, pp.
150-154. No entanto, esta não era uma situação desconhecida para os senhores
das terras que contratavam assalariados. É necessário ressalvar que, em 1340,
conforme Oliveira Marques frisou, já existiam queixas sobre os altos salários
pedidos pelos trabalhadores. MARQUES, A. H. de Oliveira – Introdução à História
da Agricultura em Portugal: a questão cerealífera durante a Idade Média…, pp.
257-258.
111
RAU, Virgínia – Sesmarias Medievais Portuguesas. Lisboa: Universidade de
Lisboa, 1946, pp. 62-67.
112
MARQUES, A. H. de Oliveira,Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV.Vol. IV da
Nova História de Portugal. Lisboa, Editorial Presença, 1989, pp. 19-32.
113
GOMES, Rita Costa – D. Fernando…, p. 120.
114
Note-se que não é meu objetivo discutir o conteúdo desta lei, o qual implica
um estudo aprofundado, que mereceria, por si só, a redação de um artigo (talvez
num futuro próximo…). Posto isto, declaro que apenas ambiciono discutir as
causas que levaram à promulgação desta legislação.
115
MARTINS, Miguel Gomes – “Abastecer as cidades em contexto de guerra: o cerco
de Lisboa de 1384”…, p. 136.
116
MARTINS, Miguel Gomes – A Arte da Guerra em Portugal (1245-1367)…, p. 526.
117
MARTINS, Miguel Gomes MARTINS – “Ficou aquela terra estragada quemaravylhosa
cousa era de ver. Guerra e paisagem no Portugal medieval (1336-1400)”. in
GONÇALVES, Iria (coord.) – Paisagens Rurais e Urbanas – Fontes, Metodologias,
Problemáticas. Actas das Segundas Jornadas. Lisboa: Centro de Estudos
Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2006, p. 132.
118
MARTINS, Miguel Gomes – A Arte da Guerra em Portugal (1245-1367)…, p. 524.
Isto mesmo é descrito numa composição do trovador Martim Moxa: “perde[n]-se
[lavradores nas cidades], / porque non an omen que os defenda: / nen lavran
vinhas nem lavran erdades, / nem ar tẽe per u se pagu'a renda. / Perden-‘as
onras [sen mais cousimento]”. Cantigas d'Escarnho e de Mal Dizer dos
Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses. Ed. crítica e vocabulário de Manuel
Rodrigues Lapa. Lisboa: João Sá da Costa, 1995, cantiga 277, p. 183.
119
Cortes Portuguesas: Reinado de D. Fernando I (1367-1383)…, vol. I, p. 137.
120
COELHO, Maria Helena da Cruz e RÊPAS, Luís Miguel – “As petições dos concelhos
do distrito da guarda em cortes e a política transfronteiriça”. in Territórios
e Culturas Ibéricas. Porto: Campo das Letras, 2005, pp. 131-142.
121
LOPES, Fernão – Crónica de D. Fernando. Lisboa: INCM - Imprensa Nacional Casa
da Moeda, 2009, Prólogo, p. 4.