A Comunicação determina a nossa Realidade
A Comunicação através da Arte e a Vanguarda como Protesto
Abstract
A arte é, ainda hoje, um tema que causa alguma controvérsia relativamente ao que é, ou não, arte. No entanto, é certo que esta tem a sua individualidade e significado, para além de ter também um objetivo.
Este trabalho vai mostrar, não só como a arte tem a sua utilidade e forma expressão própria, como é a maneira mais impactante de protesto, o que se vai poder ver no segundo tópico, que diz respeito à Vanguarda como Protesto, referindo especificamente o Dadaísmo. Este foi o movimento mais marcante de todas as vanguardas, tendo em conta a radicalidade e conteúdo anárquico que não só era constantemente contraditório ao sentido de “arte”, como questionava os próprios conceitos à sua volta.
introdução
O presente trabalho foi elaborado com o intuito de fazer ver como a arte pode ser útil no que diz respeito ao seu uso na comunicação. É um tema que é desvalorizado, sendo que nem toda a gente tem gosto por arte e pelo seu significado e/ou objetivo.
O seguinte trabalho vai centrar-se nesse mesmo tópico, referindo brevemente como a arte tem um papel único na comunicação e de como as vanguardas artísticas do século XX tiveram um impacto na sociedade que teve efeito até aos dias de hoje, sendo que o tópico principal vai ser o Dadaísmo, a vanguarda mais radical do movimento vanguardista e cuja intenção irá ser explicada ao longo do trabalho. São feitas breves referências a Tristan Tzara, um dos criadores do movimento Dada, que afirmava a sua vontade de destruir a sociedade e os valores desta nas suas obras.
Com esta pesquisa pretendo provar que a arte não é apenas uma forma de “entretenimento”, mas é também uma forma de transmitir emoções e “histórias”, não só através dos teus assuntos como na forma como são apresentados, sendo que o dadaísmo foi a forma de protesto que teve mais impacto na história da arte devido ao contexto histórico em que se encontrou.
A comunicação através da arte
A arte é uma das melhores e mais poderosas formas de comunicação. São a forma de expressão dos artistas, que estes usam para fazer a “sua voz ouvir-se” através das suas obras, que passam uma mensagem, podendo essa ser óbvia ou implícita. Servem ainda como “registos” que ajudam a entender o ambiente em que foram criadas, já que os artistas do século XX, especificamente, usavam a arte para mostrar como se pensava em determinada época, como funcionava a sociedade em que viviam e as questões, não só políticas, como religiosas, económicas e sociais que os envolviam.
A arte tem o dom de, para além de emitir tanto quanto as palavras, arrecadar o sentimento. Leva-o a partir de si para todo o lugar. Ganha asas numa inspiração sem discriminação ou opressão [1].
São ainda a maneira mais eficaz de representar os problemas da atualidade em que se inserem, tendo ainda o ponto de vista do artista, que pode ser, ou não, imparcial, mas que, no caso de isso não acontecer, expressa as emoções e impactos dessa realidade no próprio autor da obra.
A Vanguarda como Protesto – O Dadaísmo
No contexto histórico da Primeira Guerra Mundial, a sociedade passou por várias transformações e começou assim o início da época das vanguardas, do francês “avant-garde”, que subentende uma acção pioneira e cujos movimentos vieram influenciar a arte moderna a nível mundial. Entre essas vanguardas destaca-se o Dadaísmo, um movimento independente, com forte conteúdo anárquico que se destacou pela sua radicalidade e influência. Este movimento simbolizava o caráter antirracional contrário, não só à guerra, como aos padrões da arte da época, e foi um reflexo das emoções causadas por essa mesma guerra, como a revolta, a agressividade e a indignação, “Não é difícil entender esses sentimentos, mas sempre me pareceu um tanto incongruente registar, analisar e ensinar tais gestos de "antiarte" com a mesma solenidade (…) que eles se empenharam em ridicularizar e abolir”, refere Gombrich no seu livro A História da Arte.
A utilização da palavra “dadá” marca a falta de sentido do movimento e é associada à fala de um bebé que, como relata Gombrich, “Era certamente desejo desses artistas tornar-se como que crianças pequenas e fazer pouco caso da solenidade e pomposidade da Arte com A maiúsculo”,
Em 1917, o Dada já era internacionalmente conhecido e aceitava todas as experiências que destruíssem a ordem, os valores e as normas estéticas estabelecidas e questionava até o próprio conceito de “arte”, de “obra” e de “artista”. Excedia-se a espontaneidade, a anarquia e o individualismo da criação, ou, neste caso, da anticriação, sendo que um dos seus lemas era a “contradição sistemática” das afirmações, o non-sense e a antiarte e, sobretudo, a impossibilidade de se ser “absolutamente original”.
Causou uma transformação profunda que originou uma nova sensibilidade criadora e influenciou os movimentos plásticos, cuja intenção era a libertação artística onde a originalidade era vista como lema e a rutura com o passado como regra.
Os artistas reuniam-se em movimentos e publicavam vários livros e manifestos, entre outros, onde explicavam a sua investigação e contribuíam para a interpretação das suas obras e do próprio movimento. No entanto, as suas ideologias, por vezes expressadas de forma provocatória e agressiva, apenas acentuaram a rutura entre a arte e o público. Nesta época, os vanguardistas não hesitaram em provocar a sociedade, com intervenções radicais, provocatórias e por vezes, escandalosas, e, assim, intensificou-se o tom de indignação e revolta, contra as ordens estabelecidas, das suas intervenções. O radicalismo destas assumiu um caráter provocatório e escandaloso e a arte divorciou-se naturalmente do público, que não conseguiu assimilar certas expressões ocultas, estranhas e incompreensíveis. Porém a verdadeira vocação do vanguardismo implica o distanciamento em relação à sociedade.
Este movimento deu ainda origem à criação de manifestos contra tudo e contra todos e não negava apenas a arte mas ainda a moral, política e religião, e até a si mesma [2]. É ainda contra os manifestos e nega também o passado, o presente e o futuro.
Entre os artistas deste movimento mais conhecidos está Marcel Duchamp, autor da “Fonte”, feita com um urinol, apesar deste não ter relação direta com o dadaísmo, e Tristan Tzara, um dos iniciadores deste movimento que afirmava que “A obra de arte não deve ser a beleza em si mesma, porque a beleza está morta".
conclusão
Com este trabalho foi possível confirmar que, para além da arte ser uma forma de comunicação ainda atual e eficaz, tem diversas formas de expressão. Podemos ainda ver como o dadaísmo usou a antiarte para transmitir a sua revolta, através da agressividade e provocações que usou nas suas intervenções, sendo estas tão radicais que intensificavam a revolta.
É, também, fácil de ver como o protesto feito neste movimento foi extremista ao ponto de se negar a si mesmo e a tudo o que estava à sua volta, além de ser contraditório ao ponto de ter como objetivo o distanciamento da sociedade.
[1] – BRANDÃO, Lucas “A Arte como meio de Comunicação”. Disponível em XXX
[2] – “Ser dada é ser antidadá”, afirma Tristan Tzara num dos seus protestos.