O nosso mundo está “recheio” de diversas culturas, todas diferentes. É a cultura individual de cada comunidade que influencia a maneira de agir e de comunicar de cada um dos seus indivíduos. Comunicamos pela nossa língua, que faz parte do nosso património cultural, mas que também representa a nossa cultura e é condicionada por ela. Podemos mesmo dizer que a língua é simbólica, todos a partilhamos e é um património imaterial, um reflexo da nossa cultura. Há-de haver expressões na língua que correspondem a algo que a nossa cultura nos transmite. Um bom exemplo disto é a palavra “saudade”. Há um estereótipo de que só os portugueses têm esta palavra e, portanto, só eles sabem o que é. Por outro lado, há línguas em que não há necessidade em fazer certas distinções. Como por exemplo, na Irlanda não se distinguem algumas tonalidades. Já os esquimós, não precisam de distinguir diferentes tonalidades de verdes porque não faz parte do ambiente deles. Em conclusão, podemos chegar a pensar se a maneira como a nossa língua representa a realidade condiciona a nossa visão dessa realidade. É a partir deste ponto que pensamos nas relações que podem existir através da língua e da cultura.
Surge então uma hipótese, denominada “Hipótese Sapir-Whorf”. Esta hipótese foi proposta por duas entidades: Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf.
Edward Sapir (1884-1939) continha estudos na área da linguagem, dos comportamentos culturais (nativos-americanos) e do desenvolvimento da personalidade. Ele elaborou estudos sobre os nativos-americanos (tribos) e encontrou características próprias que influenciaram da forma particular a língua. Dentro delas, verificou que havia tribos que não tinham marcas de tempo (como “Hoje”, “Amanhã”, “Ontem”), pois o que interessava não era a data, mas sim a importância atribuída ao acontecimento; havia tribos em que a distinção entre o feminino e o masculino não era feita e, no entanto, havia outras em que era feita a distinção entre 7 géneros; por último, verificou que em algumas tribos não se estabelecia a diferença entre pessoas e animais.
Por outro lado, Benjamin Whorf (1897-1941) era formado me linguística e realizou estudos na área do conflito entre a ciência e a religião e com as línguas/dialetos de tribos de nativo-americanos (Hopi).
A ideias principal da Hipótese “Sapir-Whorf” era que as “pessoas vivem segundo as suas culturas, em universos mentais muito distintos, que são determinados pelas diferentes línguas que falam”. Esta hipótese continha duas vertentes: o Determinismo Linguístico e o Relativismo Linguístico. O primeiro diz-nos que a língua codifica as perspectivas sobre a realidade e os processos de pensamento dos falantes. A nossa língua é que condiciona a nossa cultura, e não ao contrário e por cada língua que existe, existe uma maneira de organizar o pensamento. Ou seja, uma língua organiza as categorias da maneira que entende e isso leva a várias diferenças, o que nos conduz para a segunda perspetiva, o Relativismo Linguístico. Este está relacionado com os diferentes sistemas de representação que as línguas compreendem, que podem não ser equivalentes. Por exemplo, os falantes da língua uma clivagem de géneros processam mais rápido a informação para falar do que os falantes que não têm esta distinção. No fim de contas, o género é uma marca que uma palavra leva para a categorizar. De uma língua para outra há diferenças, e é isso que nos leva a perceber que a tradução é a aproximação e não a perfeição.
Concluindo, a ideia principal da Hipótese “Sapir-Whorf” era que podiamos ter realidades diferentes, mas isso não quer dizer que não podiamos compreender outras línguas ou culturas (tomamos outra vez como exemplo a palavra “saudade”. Não há palavras para a traduzir; no entanto, isso não quer dizer que só os portugueses é que podem/conseguem sentir este sentimento).
Surge então um problema na Hipótese, levando-nos à ideia de que há a possibilidade das realidades existirem em todas as línguas, conforme a língua e as culturas podemos delimitar melhor. E é então que a Hipótese é revista. Steven Pinker surge dizendo que “em todos nós há emoções que não têm nome em várias línguas”. Um exemplo claro disto é o “Hijab”- o véu muçulmano. A palavra “véu” também existe em português e está relacionada com o cristianismo. Por isso, especificamos “véu muçulmano”. No entanto, os muçulmanos têm designações para os diferentes tipos de véus. Nós podemos não ter tantas definições, mas conseguimos ver as diferenças. É aqui que podemos também pegar na situação do enunciado do teste. Na língua coreana, no nosso exemplo, vemos que um convite para jantar pode ser feito de diversas formas, dependendo da pessoa a quem se dirige, mas também há diferentes definições para “jantar”, conforme o rigor do convite (a um professor, um estudante, um amigo, etc).
Entramos então na dimensão da comunicação intercultural. As práticas acima referidas, em relação ao jantar, “não refletem apenas a etiqueta, mas também o reflexo da cultura oriental na própria língua, bem como a ideia segundo a qual temos identidades diferentes conforme as pessoas a quem nos dirigimos”, já acima referida.
As culturas transmitem aquilo que mais valorizam de acordo com certos parâmetros.* Estes parâmetros têm influência na comunicação, mas também na forma como mesmo entidades grandes (ex: empresas) comunicam. Na cultura coreana, baseando-nos no nosso exemplo, verificamos que se dá muito valor à etiqueta, ao formalismo. **
Concluimos então que existem diferentes culturas e estas influenciam a nossa maneira de agir e de pensar. Esta cultura é representada pela respetiva língua e é condicionada por ela. Ou seja, cada cultura tem diferentes termos e isso pode influenciar a sua maneira de visionar o mundo em seu redor. No entanto, não é por não sabermos todos estes termos específicos que não podemos conhecer/aprender uma nova cultura/língua.
*Parâmetros:
Individualismo x Coletivismo;
Formalidade x Informalidade;
Masculino x Feminino;
Segurança x Incerteza;
** Existe um índice de poder/distância que diz que a escola de desigualdade entre indivíduos é medida de forma diferente nas sociedades mais formais (como na Ásia) e nas mais informais. Este índice é marcado, por exemplo, pelo grau de formalidade e pela etiqueta, sendo isto o que se pode constatar no exemplo do enunciado.