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1718LCCPEA61a

1718LCCPEA61a

Género de textoEnsaio
Student
PLM/PLNMPLM
GenderF
Task
Task descriptionRedija um ensaio académico subordinado ao tema A comunicação determina a nossa realidade. Instruções de execução: Com base no tema proposto, deve construir uma tese e sustentá-la por meio de argumentos e exemplos colhidos na(s) área(s) científica(s) do seu curso. Organize as suas ideias num plano estrutural, com várias secções, incluindo obrigatoriamente um abstract, uma introdução e uma conclusão. Todas as fontes de informação (obras consultadas, textos lidos, sítios em linha, segundo uma das normas aprendidas em aula) têm de ser devidamente identificadas. O uso de informação não autorizada ou não referenciada constitui crime de plágio e implica reprovação imediata.
Task ID1718LCENSAIO02
ContextoLivre
Curso
UniversityUniversidade de Coimbra
ÁreaCiências Sociais e Humanas
CursoEstudos Artísticos
DisciplinaLinguagem e Comunicação
School year2017-2018
Collection
PaísPortugal

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LINGUAGEM COMO RECORTE DA REALIDADE: REFLEXÕES APLICADAS AO TEATRO

Resumo

Este trabalho pretende relacionar a hipótese de Sapir-Whorf da linguagem como recorte da realidade e a sua presença em traduções de textos teatrais. Pretendemos refletir sobre as dificuldades de tradução dos textos teatrais, relacionando com a cultura e a linguagem.

Abstract

This work is designed for a Sapir-Whorf hypothesis of language as a clipping of reality and its presence in translations of theatrical texts. We intend to reflect on how difficulties of translating theatrical texts, relating to a culture and a language.

Palavras Chave: teatro; linguagem; recorte da realidade

I. Introdução

Conduzimos este trabalho com o objetivo de responder à questão: qual o relacionamento entre a hipótese de Sapir-Whorf e a tradução de textos teatrais? Através da revisão da literatura pretendíamos concluir se existe ou não relacionamento. Iniciámos o trabalho com uma apresentação da hipótese de Sapir-Whorf seguindo-se exemplos de como a linguagem pode recortar a realidade e na reflexão desta problemática aplicada ao teatro, procurámos na literatura esse relacionamento, apresentando por ultimo as conclusões.

II. Hipótese de Sapir-Whorf

A hipótese de Sapir-Whorf foi criada por dois linguistas Edward Sapir (1884-1939) e Benjamin Lee Whorf (1897-1941) que acreditaram que o nosso pensamento é dependente da nossa linguagem. Este pensamento nasceu do estudo das línguas indígenas norte-americanas quando os investigadores verificaram ?a ausência de tempo na língua Hopi? (Ciência Hoje, 2005) através da ausência de qualquer forma de linguagem que o descrevesse ou seja, se não havia na sua língua forma de contar o tempo ou a sua passagem seria porque não conseguiam pensar nem perceber o que é o tempo. Logo a linguagem e as palavras que cada língua contem refletem a realidade dessa cultura.

Esta hipótese não se restringe apenas à linguagem verbal, mas também à que é pensada. Sapir (citado em Ciência Hoje, 2005) alegou que, mesmo quando as pessoas se encontram em silencio estão a formular e a dizer palavras durante o seu pensamento, será como deslizar ?para um fluxo silencioso de palavras que servem como cápsulas de pensamento que contêm milhares de experiências distintas?.

Assim percebemos na teoria de Sapir e Whorf que a linguagem tem uma enorme importância na realidade de uma cultura expressando as necessidades da mesma, se a cultura não contem uma palavra é porque não necessita dela, por exemplo, num documentário recente sobre a vida selvagem foi mencionado que na cultura Inuíte [1] não existem palavras para descrever um incêndio, embora seja uma informação que não conseguimos validar no âmbito deste trabalho, é natural que não exista, pois, esta cultura é rodeada maioritariamente por neve, gelo e água e a necessidade dessa palavra seria praticamente nula.

III. Linguagem como recorte da realidade

Para percebermos este tema temos que ter em conta e entender o tópico mencionado anteriormente onde é explicada a ligação entre pensamento, linguagem e realidade cultural.

Temos variados exemplos de como a linguagem reflete realidades diferentes em culturas diferentes. Um dos exemplos mais conhecidos na nossa língua será o da palavra ?saudade?. Ouvimos muitas vezes que os países lusófonos usam e conhecem esta palavra, mas será que isto quer necessariamente dizer que são os únicos a conhecer este sentimento? Não conseguimos afirmar que haja uma resposta verdadeira a esta pergunta porque são conhecidos argumentos contra e a favor, no entanto podemos afirmar que não uma tradução literal para saudade, sendo que a tradução mais próxima em línguas como a inglesa ou alemã será a expressão ?sinto a tua falta?, no entanto em português também se utiliza esta expressão e uma distinção clara entre ?sinto a tua falta? e ?sinto saudades tuas?, por exemplo podemos sentir saudades de ser criança, no entanto não sentir falta de o ser.

 Isto demonstra que, embora a linguagem tenha propriedades que são comuns em todo o mundo, características da comunicação entra os homens, cada língua associada a uma cultura terá palavras únicas que a caracterizam e a refletem (Robl, 1975).

Mas se as línguas têm características únicas que refletem culturalmente a vivência do seu povo, tal não será determinístico da existência ou não de emoções ou vivências. Para Steven Pinker (Aula, 13-12-2017) a existência ou não de emoções não estará relacionada com palavras concretas, uma vez que ele argumentava dizendo que em todos nós existem várias emoções e que nem todas têm palavras para as descrever, no entanto não se pode afirmar que por essa razão não as conseguimos perceber ou sentir. Também no exemplo do povo Inuíte, a não existência da palavra incêndio não determina que não possa ocorrer essa vivência. Logo "a mútua interdependência entre o pensamento e a palavra deixa patente que as línguas não são, evidentemente, meios de representação da verdade conhecida; elas são meios de descobrir verdades até então desconhecidas" (Hörmann, 1972, citado em Robl, 1975)

IV. Reflexão aplicada ao teatro

Os textos dramáticos têm características próprias e delicadas que os seus tradutores têm que ter em consideração. Traduzir uma peça de teatro não é apenas traduzir um texto, mas requer cuidados adicionais pois tem que ser pensado para ser representado e adequado ao público a que se destina.  vários exemplos que nos mostram que o contexto cultural e o publico em questão são fundamentais para um determinado texto ter sucesso, por exemplo ?O teatro veneziano de Goldoni não conseguiu ter êxito em Paris, apesar de o autor ter traduzido suas próprias obras? (Zardo, 2008). Quem vai traduzir um texto dramático tem que perceber que dentro deste dois géneros: o teatro como literatura e o teatro como espetáculo. Se a tradução for feita para o género literário, o tradutor tem que ter em conta que, tanto o encenador como os atores podem fazer modificações no texto, adaptando, sozinhos ou com o apoio do tradutor, a obra dependendo da sua perceção. Assim, o tradutor de teatro terá de ter um ?conhecimento prévio conhecimento prévio da realização funcional e da concepção dramática? da peça para a qual prepara a tradução. (Zardo, 2008).

A tradução de um texto teatral é como a criação de uma nova obra, ?uma actividade de escrita/rescrita? (Zurbach, 2007). É um ato de escrita porque a tradução de um texto teatral tem as suas exigências, pois não será lido como um texto literário, e acresce o facto de existirem diversos elementos não existentes em textos literários como as didascálias ou a linguagem não verbal. É um ato de rescrita porque não é fácil traduzir culturalmente um texto. Por exemplo, traduzir um texto de Shakespeare para a língua portuguesa captando as mesmas intenções e emoções do texto de original, será dificultado pelo facto de existirem infinitas interpretações na sua língua de origem e o tradutor tem que saber igualar essa possibilidade de infinitas traduções na língua em que está a traduzir o respetivo texto sabendo que o auditório e a realidade deste vai ser diferente.

V. Conclusão

 Na pesquisa que realizámos não encontrámos muita informação sobre a relação entre a linguagem como recorte da realidade e a tradução de textos teatrais, no entanto a sua ligação está sempre presente nas dificuldades de adaptação cultural das obras. A escrita original dos textos teatrais tem muitas vezes várias interpretações na língua de origem, permitidas pelo duplo sentido de expressões ou palavras, que podem não existir na língua de destino. A tradução de obras destinadas à interpretação teatral deve ter cuidados adicionais pela mensagem que muitas vezes estas obras carregam. O teatro é um espelho da realidade e da cultura, um género artístico que, como muitos outros, pretende gerar reflexão.

Da realização deste trabalho, julgamos pertinente salientar a noção que, a nossa realidade não é universal nem é a única, sendo importante manter a disponibilidade para conhecer outras realidades que derivam de outras culturas.

Esta área de investigação que liga a linguística a ao lado artístico será bastante interessante para desenvolvimento futuro, uma vez que a falta de conhecimento sobre o impacto das diferenças culturais na língua pode conduzir a interpretações tendenciosas.

[1] ? Povo esquimó da região ártica que abrange o Alasca, a Gronelândia e parte do Canadá. Significado de "inuíte", in Dicionário XXXX

 

 


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