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Género de textoArtigo de divulgação
ContextoLivre
DisciplinaComunicação Técnica
ÁreaCiências

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Operações de Alta Frequência

  1. Sumário

O termo Operações de Alta Frequência (OAF) refere-se ao uso de avançadas ferramentas tecnológicas para efetuar transações em bolsa totalmente automatizadas, feitas em frações de segundo e em grande número. Atualmente são alvo de grande controvérsia, que dependem fortemente em tecnologia de ponta que está acessível aos grandes grupos financeiros. Adicionalmente, acusam-se estes sistemas de criarem instabilidade económica e de explorarem falhas nos mercados de ações.

  1. Introdução

As OAF são transações de ações em bolsa, levadas a cabo por processos completamente automatizados. Baseiam-se em sofisticados algoritmos que analisam uma gigantesca quantidade de informação, e efetuam compras e vendas em frações de de segundo de modo a maximizar o lucro. Neste negócio, obter informações mili ou mesmo microssegundos antes da concorrência pode equivaler a ganhos de milhares ou até milhões de euros por dia. Contudo, este tipo de transação é alvo de grande polémica por parte de pequenas empresas que acusam os grandes grupos económicos de controlarem o monopólio das OAF. Estas grandes empresas competem entre si a fim de alcançarem redes de fibra ótica cada vez mais velozes, ganhando milésimos de segundo preciosos sobre a concorrência. Para se ter uma ideia dos valores envolvidos, de acordo com o jornal britânico The Telegraph, a instalação de um cabo transatlântico de fibra ótica terá custado cerca de 230 milhões de euros. Estima-se que venha a poupar aproximadamente 6 milésimos de segundo em cada transmissão. [1] Estes valores mostram bem o valor que apenas alguns milésimos de segundo representam.

Fora do setor financeiro, as OAF eram pouco conhecidas até bem pouco tempo. Em 2009, um artigo publicado pelo New York Times chamou a atenção do público geral para o tema. [2]

  1. Métodos

As OAF surgiram em 1999, depois da Comissão de Títulos e Bolsa dos Estados Unidos (SEC, na sigla inglesa) ter autorizado as transações controladas eletronicamente. Como consequência da evolução dos computadores e das redes de alta velocidade de transmissão, as OAF começaram a ganhar bastante importância. No virar do século 21, tinham tempos de execução de alguns segundos, atingindo em 2010 a fasquia dos microssegundos. [3]

No inicio do século, as OAF representavam menos de 10% do total de transações em bolsa, contudo, esse número começou rapidamente a aumentar. Segundo a Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE, na sigla inglesa), as transações recorrendo a OAF cresceram cerca de 164% entre 2005 e 2009. Nesse ano, representaram mais de 70% de todas as transações em bolsa nos Estados Unidos. Este valor resulta quase exclusivamente a empresas especializadas especificamente em OAF, representando apenas 2% do total de empresas que opera naquele país. [4]

Como Funciona?

As estratégias de OAF baseiam-se em modelos computacionais puramente quantitativos e altamente eficientes. De um modo simplificado, estes algoritmos tentam detetar oportunidades disponíveis apenas alguns instantes. As ações compradas são mantidas desde uma fração de segundo até algumas horas, e vendidas com apenas alguns cêntimos ou euros de lucro. O objetivo é conseguir milhões de transações destas por dia. Devido a estes factos, as OAF são altamente dependentes em computadores e conexões super rápidos. Estima-se que, em 2005, os custos com software e hardware para a indústria financeira tenha atingido os 20 mil milhões de euros. [5] A importância da eficiência dos algoritmos levou a indústria financeira a contratar os melhores programadores informáticos, desenvolvendo programas cada vez mais otimizados de modo a poupar preciosos milésimos de segundo. Um inquérito online de 2011 revelou precisamente que os mais bem pagos programadores trabalhavam em Wall Street para empresas envolvidas em OAF. [6] 

  1. Resultados

Alguns apoiantes deste tipo de transações defendem que elas fornecem liquidez ao mercado, estimulando a economia. Um estudo recente sugere que as OAF conferem benefícios adicionais como a diminuição dos preços e outros efeitos que contribuem para o crescimento económico. [7]

Contudo, as críticas à volta destes sistemas têm vindo a aumentar. Um mini crash, ocorrido a 6 de maio de 2010 no mercado de ações dos Estados Unidos, provou-se que foi causado por transações OAF. Nesse dia o mercado de ações abriu em baixa devido à crise europeia. Temendo as consequências da crise da dívida grega, os principais índices entraram em queda, levando um grande grupo económico a vender uma quantidade considerável de ações, baixando o seu preço. O que aconteceu a seguir foi um encadeamento de vendas por OAF, em que os algoritmos de várias empresas detetaram uma queda acentuada para a qual estavam programados para vender as ações que detinham. Como peças de dominó, foram feitas milhares de transações de venda umas atrás das outras, levando a um mini crash. Estes factos ocorreram apenas em 5 minutos e, depois de detetado o problema, diversas transações foram revertidas, retornando os principais índices aos valores de abertura, 20 minutos após o crash. [8]

  1. Discussão

Apesar de conferirem liquidez aos mercados, o facto das OAF se apresentarem como transações totalmente automatizadas apresenta alguns problemas à estabilidade dos mesmos, como é o caso do mini crash de 2010. Além disso, os detentores dos computadores e das ligações mais velozes têm acesso às informações críticas do mercado antes de a concorrência as conhecer, beneficiando os grandes grupos económicos, possuidores de maior poder financeiro. Adicionalmente, acusa-se as empresas de OAF de manipulação, programando os sistemas de OAF para darem milhares de ordens de compra de uma determinada ação e cancelando-a de seguida, o mais rapidamente possível, obtendo uma previsão parcial do sentido dos mercados, a qual outras empresas não têm acesso.

Com o crescente mercado das OAF e os problemas que elas causam, começam a surgir propostas para a sua regulamentação. Depois do mini crash de maio de 2010, o senador norte-americano Ted Kaufman propôs nova legislação de modo a regulamentar as empresas de OAF, enquanto na Europa surgem também propostas de regulamentação destas atividades. [9, 10]

  1. Conclusão

Com a aprovação de transações controladas eletronicamente, várias empresas desenvolveram sistemas de OAF, explorando pequenas falhas nos mercados de ações. Essas empresas competem entre si, investindo fortemente em infraestruturas que lhes permite poupar preciosos milésimos de segundo em transações automáticas. Estas frações de segundo ganhas à concorrência permitem obter informação financeira crítica, que pode resultar em lucros enormes diariamente. Além disso, estas transações automáticas podem causar reações em cadeia, causando o colapso dos mercados como aconteceu no crash de maio de 2010.

Com a crescente relevância destes sistemas e os problemas que eles causam, surgiram propostas de legislação de modo a controlar as suas atividades. Uma maior regulamentação destas atividades evitará que um grupo restrito de empresas obtenha e beneficie de informações privilegiadas, conferindo maior justiça e estabilidade à economia.


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