Existem inúmeras definições para um conceito que é fundamental, a comunicação. A comunicação é um processo complexo e contínuo que resulta da interação entre indivíduos num contexto particular. E tudo pode ser considerado comunicação, ou seja, basta haver interpretação para haver significação e, por conseguinte, comunicação.
Tendo por base o excerto apresentado, há duas visões distintas relativamente à comunicação. Ou seja, são apresentados dois modelos de comunicação que são formas particulares que visam representar o processo de comunicação. O primeiro modelo é o modelo linear ou de transmissão proposto por Shannon e Weaver no âmbito da engenharia das telecomunicações. Este é considerado um modelo parcial uma vez que integra apenas alguns aspetos do processo de comunicação pois coloca apenas em estudo a comunicação verbal e exclui a não verbal e paraverbal. Os principais objetivos deste modelo eram quantificar a informação recebida e a informação transmitida de A (emissor) para B (recetor), medindo a quantidade de ruído que dificulta a transmissão e a compreensão da mensagem. Este é, portanto, um modelo que veicula uma mensagem monolítica, ou seja, transmitida de A para B (mensagem unidericional e sem retorno de B para A). Segundo Finke, este é um modelo processual pois vê a comunicação como um processo e matemático pois visa quantificar a informação. Tal como Finke afirma , Shannon e Weaver vêem a comunicação como um processo linear e a simplicidade do seu processo e a sua natureza linear têm suscitado várias dúvidas. E, obviamente, que há um número considerável de limites a este modelo. De entre estes limites destacam-se a imprevisibilidade; a multiplicidade de meios (veiculada a ideia de que a comunicação humana é complexa, não é só verbal); a capacidade interpretativa que é fundamental e este modelo não pressupõe espaço para interpretações diferentes; a redundância que neste caso é um problema pois este modelo pressupõe quantificar a informação. Citando Santos (2011): “quanto mais repetida é uma mensagem, menos informação conterá, logo mais redundante será e menos pertinência terá para o recetor”. Ainda tendo em conta Santos (2011), o problema deste modelo é o facto dar maior ênfase ao emissor e à transmissão da mensagem do que à mensagem propriamente dita e ao recetor. Isto quer dizer também que o feedback (essencial à comunicação) não é tido em conta, ou seja, neste modelo é uma reação verbal ao que foi dito (noção redutora do que é o feedback).
Ao invés deste modelo, temos o modelo de base semiótica que é mais expressivo do processo de comunicação e afirma que os intervenientes são todos responsáveis pela transmissão da mensagem e a mensagem não é um produto acabado. Segundo Santos (2011), se tivermos em conta o recetor, este deixa de ser um elemento passivo e vai acrescentar a [...] sua capacidade interpretativa ao processo. Tendo em conta Santos (2011), a mensagem é uma produção constante e em curso e para analisar a comunicação enquanto significação há a necessidade de ter em conta a participação de todos os intervenientes, o contexto em que essa produção foi levada a cabo assim como os meios utilizados nessa construção. Neste modelo, há então uma partilha de valores, conhecimentos, relações entre indivíduos que recebem e emitem em simultâneo e há a perceção e compreensão do que o outro diz com a ajuda do contexto e da cultura. E neste modelo, o processo de comunicação tem sempre uma parte que constituída através da cooperação entre emissor e recetor, ou seja, o sentido que é descrito como uma coprodução negociada. Tal como já disse, o contexto neste modelo é crucial pois para a compreensão de uma mensagem é necessário ter em conta [...] o contexto sociocultural em que essa mensagem foi produzida. Segundo Santos (2011), o contexto diz respeito não só à situação física (temporal e espacial) mas também às crenças e conhecimentos que temos do mundo.
Em suma e tendo em conta a complexidade do processo de comunicação, o modelo linear de Shannon e Weaver é extremamente redutor pois afirma que a mensagem termina quando o emissor a emite e o recetor recebe, descodifica e transmite a mensagem. Já, o modelo semiótico é mais completo e pressupões a capacidade interpretativa e também a possibilidade de feedback (transmissão da reação do recetor de voltar ao emissor) e segundo Santos (2011), o feedback permite a cooperação entre emissor e recetor e constitui uma avaliação externa do ato comunicativo.
Sintetizando, a comunicação é um processo complexo, contínuo e simbólico que se desenrola a nível verbal, não verbal e paraverbal. Daí, as formas de comunicação serem variadas, múltiplas e [...] envolvem intervenientes diferentes, daí que tenhamos de ter em conta o contexto assim como a capacidade interpretativa. Uma mesma mensagem pode ter várias leituras, isto é, pode ser suscetível de variadas interpretações consoante o contexto e a experiência pessoal dos intervenientes em questão.
Na minha opinião, o modelo que ilustra de forma mais detalhada, pormenorizada e fiel o processo de comunicação é o modelo semiótico pois não podemos crer que a comunicação seja um processo linear e simples pois este não é. Há uma extrema necessidade de harmonizar os diferentes componentes da comunicação como forma de maximizar os efeitos do ato comunicativo e, por conseguinte, aumentar a sua eficácia e precisão (Santos (2011)).