A linguagem verbal é um processo cognitivo que nos permite cooperar enquanto espécie e grupo. Apesar da comunicação não ser algo exclusivo aos humanos, a capacidade de produzir sons e, [...] a partir de módulos que se concatenam e organizam, construir frases e significados é algo intrínsecamente humano (Hakansson e Westander 2013). Apesar de nascermos com a capacidade de produzir linguagem verbal temos de a adquirir ao longo do nosso desenvolvimento, da nossa infância.
De facto, todos nós temos uma cavidade especializada, musculatura adaptada e podemos aprender a utilizar a respiração para vibrar as cordas vocais e produzir sons. A nossa capacidade de produção sonora, ao nível de sons, tons e timbre, é de facto excepcional (Yule 2010, Hakansson e Westander 2013). No entanto aprendemos a ou as línguas do grupo em que nos inserimos, as línguas faladas por aqueles que nos rodeiam (Yule 2010, Hakansson e Westander 2013). Na nossa fase de crescimento começamos por imitar sons, por exercitar as nossas capacidades vocais. Passamos de uma para duas ou três palavras, que concatenamos de forma telegráfica com morfemas lexicais mas com ausência de morfemas funcionais (Yule 2010, Hakansson e Westander 2013). Mas, não nos limitamos a repetir aquilo que escutamos. Pois [...] nem todas as construções frásicas construídas por uma criança surgem por imitação. Isto é, a aprendizagem também se faz por analogia de conteúdos já adquiridos. Daí ser recorrente as crianças generalizarem nomes de objetos ou conjugações verbais por exemplo (Yule 2010, Hakansson e Westander).
Apesar das nossa capacidades intrínsecas, físicas e cognitivas, para adquirir a capacidade de comunicar verbalmente utilizando as línguas que nos rodeiam, existe um chamado período crítico a partir do qual a aprendizagem fica afectada de modo irreversível. Este período crítico está bem patente nas chamadas crianças ferais, [...] crianças que cresceram isoladas, sem contacto com qualquer linguagem verbal, proibidas de falar. Nestas situações, quando o período crítico de aprendizagem é ultrapassado, as crianças, [...] nunca conseguem aprender uma língua e sua gramática. Podem aprender a comunicar usando algumas palavras mas ficam incapacitadas verbalmente. Estas crianças apresentam também défices cognitivas, o que sugere a relação entre a produção de linguagem e a cognição (Yule, 2010). Não quero inferir com isto que os mudos tem capacidades cognitivas inferiores pois eles desenvolvem a sua própria linguagem. Isto sugere sim que, durante o desenvolvimento da criança, ocorre uma maturação cerebral nas áreas relacionadas com a produção e compreensão da linguagem (áreas de Broca e Wernicke, respectivamente, sendo que outras zonas do cérebro também participam na [...] linguagem) (Yule 2010, Faria 1996).
Apesar de possuirmos as ferramentas, se não formos expostos, directa ou indirectamente a uma língua, em tempo útil, as nossa faculdades linguísticas e cognitivas ficam comprometidas de forma irreversível, por isto se entende período crítico.