Comportamento de cinco genótipos de coqueiro (Cocos nucifera L.) na fase de
germinação e de crescimento de mudas, sob diferentes sistemas de produção
COMPORTAMENTO DE CINCO GENÓTIPOS DE COQUEIRO (Cocos nucifera L.) NA FASE DE
GERMINAÇÃO E DE CRESCIMENTO DE MUDAS, SOB DIFERENTES SISTEMAS DE PRODUÇÃO1
INTRODUÇÃO
No Estado de Mato Grosso, a cocoicultura vem expandindo-se consideravelmente
(Gaiva & Santos, 1999), tendo como principal empecilho técnico, para maior
expansão, as dificuldades em se obter mudas de genótipos produtivos e de
variedades comprovadamente adaptadas à região.
O sucesso da implantação de um coqueiral está na origem genética da semente, na
formação, no vigor e na sanidade das mudas, que são indispensáveis para
obtenção de plantas que apresentem alta produtividade (Fontes et al., 1998).
Segundo Taffin & Ouvrier (1985), citados por Fontes et al. (1998), as
sementes, quando colhidas completamente secas (11 a 12 meses), iniciam a
germinação entre 40 e 60 dias após a semeadura, no caso de variedades anãs; 70
a 90 dias para os híbridos e 100 a 150 dias para a variedade Gigante.
Wuidart (1979), citado por Passos (1998), afirma que as mudas podem ser
produzidas em sacos plásticos, com seis a oito meses de enviveiramento, devendo
apresentar 18 a 20 cm de circunferência do coleto, com sete a oito folhas vivas
e 1,1 a 1,2 m de altura com folíolos diferenciados.
Recomenda-se, para o plantio, a utilização de mudas com 1,0 m de altura, 15 a
18 cm de circunferência do coleto e cinco a sete folhas vivas (Embrapa, 1986)
Atualmente, tem-se observado a preferência pela utilização de mudas mais
jovens, com três a quatro folhas, por apresentarem menor área foliar e maior
teor de reserva no endosperma, com quatro meses de enviveiramento (Passos,
1998).
Passos (1998) obteve o percentual de germinação de 89,6% aos 126 dias,
utilizando o ecotipo gigante-do-Brasil de Itaporanga, quando estudava três
fases de maturação dos frutos destinados para sementes, no Campo Experimental
de Itaporanga-SE.
Fontes & Leal (1998), no Campo Experimental de Itaporanga/SE, quando
estudavam o híbrido (anão-verde de Jiqui x gigante-do-Brasil), obtiveram
germinação média de 87,9%; até o quarto mês, e aos 163 dias após a semeadura, a
circunferência do coleto foi de 7,15 cm.
Estudando efeito do entalhe da semente sobre a germinação do coqueiro-gigante-
do-Brasil, Fontes & Leal (1994) obtiveram 68,8% das sementes germinadas com
entalhe e 74,7% naquelas não entalhadas. Com relação à intensidade de
iluminação, houve diferenças significativas, com germinação de 74,4% à sombra e
69,1% a pleno sol.
Passos et al. (1998), avaliando o comportamento germinativo da semente e o
crescimento da plântula do coqueiro-anão-verde, na estação experimental de
Jales-SP, obtiveram 36,7% de sementes germinadas, aos 194 dias, quando houve
temperaturas inferiores a 15OC, sem ocorrência de geadas.
A opção pela distribuição das sementes na posição vertical tem sido bastante
utilizada entre alguns produtores, não tendo sido observada nenhuma diferença
com relação ao índice final de germinação das sementes. Tem-se verificado, no
entanto, que esse sistema facilita o transporte, reduz o problema de quebra do
coleto, dispensa o entalhe e permite maior número de sementes por área (Fontes,
1998).
Wuidart & Nucé de Lamothe (1981), citados por Fontes et al. (1998),
comparando as posições horizontal e vertical de distribuição de sementes,
concluíram que, embora tenham apresentado retardamento inicial, as sementes
dispostas verticalmente apresentaram pequena vantagem na germinação final.
Verificaram, ainda, que as variações observadas no índice de germinação,
comparando-se variedades diferentes, podem ser atribuídas ao conteúdo do
endosperma líquido e a distância que separa este endosperma do embrião.
O presente trabalho teve o objetivo de avaliar o comportamento de diferentes
genótipos de anões e híbridos do coqueiro, na fase de germinação e
desenvolvimento de mudas, em diferentes sistemas de produção.
MATERIAL E MÉTODOS
Este experimento foi instalado no dia 1º-08-98 na Fazenda Experimental da
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato
Grosso, localizada no município de Santo Antônio do Leverger, a uma altitude de
165 m e latitude de 15°47'S e longitude 56°04'W. A temperatura média observada
no período foi de 26,7°C; o maior valor para a temperatura máxima ocorreu nos
meses de outubro e fevereiro (34,3°C), e a menor mínima, com 15,2°C, em agosto.
Avaliaram-se os efeitos de cinco genótipos: anão-verde de Jiqui (AVeJ), anão-
vermelho-de-Gramame (AVG), anão-amarelo da Malásia (AAM), híbrido anão-vermelho
Gramame x gigante-Brasil-da-praia-do-Forte (AVG x GBrPF) e o híbrido anão-
amarelo de Gramame x gigante do oeste Africano (AAG x GOA), em duas posições de
semeadura: horizontal com entalhe, e vertical e duas condições de iluminação:
sombreada (50%) e a pleno sol. Esses fatores foram combinados fatorialmente,
resultando em 20 tratamentos que foram distribuídos no delineamento
inteiramente casualizado, com três repetições, sendo os dados submetidos à
análise de variância e ao teste de Tukey.
Os germinadouros constaram de canteiros preparados com 1,2 m de largura, sendo
dois cobertos com sombrite (50%) e dois a pleno sol. Para cada metro quadrado
de canteiro, foram colocadas 25 sementes, distribuídas lado a lado, e cobertas
com terra vegetal até aproximadamente dois terços de suas alturas. A avaliação
da percentagem de germinação foi encerrada aos 120 dias após a instalação do
experimento.
Posteriormente, efetuou-se a seleção das mudas, descartando-se as anormais
(albinas, bifurcadas, etc.). A seguir, realizou-se transplante para sacos
plásticos de polietileno preto, com 0,2 mm de espessura e dimensões 0,40 x 0,40
m, nos quais se utilizou substrato: mistura de 2/3 de terra de superfície
devidamente peneirada, 1/3 de palha de arroz carbonizada e enriquecida com 250
g de superfosfato simples.
As sacolas foram enchidas até a metade com o substrato e as mudas plantadas com
as raízes aparadas a 1 cm de comprimento, completando o volume da sacola com o
substrato, trabalho esse realizado à sombra para se evitar estresse nas mudas.
No viveiro, obedeceu-se ao espaçamento de 0,80 x 0,80 x 0,80 m em triângulo
eqüilátero, permanecendo 8 meses a pleno sol. O viveiro foi mantido livre de
plantas daninhas e recebeu adubações foliares e tratos fitossanitários
recomendados para a cultura (EMBRAPA, 1986). Foram realizadas regas de 6 a 7
litros de água por metro quadrado, tanto na fase de germinadouro, quanto na de
viveiro.
Avaliou-se a percentagem de germinação, obtida através da relação: número de
sementes colocadas para germinar pelo número de sementes germinadas, durante o
período de avaliação (quatro meses); o percentual de mudas selecionadas aptas a
serem plantadas no campo; a altura das mudas aos 30; 60 e 90 dias após a
semeadura, utilizando-se de régua graduada de 2,5 metros, colocando-a sobre a
noz e medindo-se até a extremidade mais alta; o número de folhas; o peso da
muda e o peso da parte aérea, sendo estes três últimos obtidos no terceiro mês
de viveiro, ou seja, no sétimo mês após a semeadura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na percentagem de germinação, foi verificado efeito significativo dos genótipos
avaliados. Os híbridos AVG x GBrPF e AAG x GOA não apresentaram diferenças
entre si, e entre os anões AVeJ e AAM, variando de 75,0 a 88,1%. Já o AVG, com
60%, apresentou o menor valor, como ilustra a Figura_1.
Comparando aos resultados obtidos por Passos (1998), que obteve, aos 126 dias
após semeadura, valores de 89,6% na germinação de sementes da cultivar gigante-
do-Brasil de Itaporanga, verificando-se valores próximos aos obtidos neste
experimento, com exceção da AVG (Figura_1). Fontes & Leal (1998) obtiveram
média de 87,9% de germinação para o híbrido anão-verde de Jiqui x gigante-do-
Brasil. Esse resultado está próximo aos obtidos com os genótipos avaliados
neste experimento.
Fontes & Leal (1994), estudando o efeito do entalhe da semente, sobre
germinação do coqueiro-gigante-do-Brasil, não detectaram efeito significativo,
de forma semelhante aos resultados obtidos neste experimento.
Quando as mudas foram mantidas à sombra, a percentagem de mudas aptas para o
plantio variou de 70 a 91%, nos genótipos AVeJ, AAM, AVG x GBrPF e AVG x GOA,
os quais não diferiram entre si. Já o AVG apresentou o menor valor de
germinação de mudas (50%), sendo significativamente menor que os outros
mencionados (Figura_1). Quando as mudas foram mantidas ao sol, não foi
verificada diferença significativa entre os genótipos avaliados.
Verificou-se diferença significativa entre as mudas mantidas à sombra e ao sol
somente para o AVeJ, onde as que cresceram à sombra, apresentaram maiores
valores de percentagem de mudas aptas para o transplantio (Figura_1).
A percentagem de mudas aptas para o plantio, obtida com os genótipos avaliados,
permite aos produtores estimarem a percentagem de mudas que terá a sua
disposição para o plantio no campo.
Os genótipos AAG x GOA, AVG x GBrPF e AVeJ apresentaram maiores alturas aos 30;
60 e 90 dias, sendo que, aos 90 dias, apresentaram 1,61; 1,60 e 1,35 m de
altura, respectivamente (Tabela_1). O anão-vermelho de Gramame com 1,09 m
apresentou a menor altura, aos 90 dias após transplantio, diferindo
significativamente dos citados acima.
Com relação ao efeito de condição de crescimento, verificou-se maior altura
significativa das plantas quando cresceram com 50% de sombra, em todas as
épocas avaliadas (Tabela_2). Esses resultados podem estar relacionados aos
efeitos inibitórios da elevada luminosidade sobre a fotossíntese, de acordo com
o mencionado por Osmond et al. (1997).
Observou-se que as mudas provenientes de sementes colocadas na posição
horizontal apresentaram maiores alturas (Tabela_3).
Wuidart (1979), citado por Passos (1998), menciona que as mudas devem
apresentar 1,1 a 1,2 m de altura com folíolos diferenciados, e a Embrapa (1986)
recomenda a utilização de mudas com 1,0 m de altura, valores menores que os
encontrados nesta pesquisa.
Os híbridos AAG x GOA e AVG x GBrPF e o AVeJ apresentaram a maior média de
número de folhas, já o AVG apresentou o menor número de folhas (Figura_1). Como
o processo fotossintético ocorre principalmente nas folhas, os genótipos que
apresentaram maior número de folhas, tiveram maior disponibilidade de
fotoassimilados e, conseqüentemente, maior crescimento, como pode ser
verificado na altura das mudas (Tabela_1)
Considerando o efeito das posições de semeadura, verificou-se que as mudas
provenientes de sementes colocadas na posição horizontal apresentaram maior
número de folhas, quando comparadas com as mudas provenientes de sementes na
posição vertical (Tabela_3).
Passos (1998) recomenda, para plantio no campo, mudas com três a quatro folhas
e com quatro meses de enviveiramento, valores semelhantes aos encontrados nesta
pesquisa. O número de folhas obtido neste experimento foi inferior ao
recomendado pela Embrapa (1986), que é de utilizar mudas com cinco a sete
folhas vivas. Apesar deste menor número de folhas, as mudas apresentavam-se com
maior crescimento em altura, como citado anteriormente.
De acordo com a Figura_1, verifica-se que os genótipos AVG x GBrPF, AAG x GOA e
AVeJ apresentaram maior peso da parte aérea. Já os menores valores foram
obtidos nos genótipos AVG, AAM, que não diferiram do AVeJ.
Avaliando as posições de semeadura, o maior peso da parte aérea foi obtido nas
mudas provenientes de sementes colocadas na posição horizontal (Tabela_3).
Fontes & Leal (1998) obtiveram peso da parte aérea das mudas menor (0,246
kg) que os encontrados nesta pesquisa para o híbrido anão-verde de Jiqui x
gigante-do-Brasil, no Campo Experimental de Itaporanga, aos 230 dias.
As mudas que apresentam maior peso da parte aérea têm maior possibilidade de
apresentarem área foliar maior, facilitando o estabelecimento inicial das mudas
no campo.
CONCLUSÕES
1. Os híbridos apresentaram melhor desempenho quanto à porcentagem de
germinação das sementes e vigor das mudas aptas ao plantio avaliado pela
altura, número de folhas e peso.
2. O anão-verde de Jiqui apresentou desempenho comparável aos híbridos e o
anão-vermelho de Gramame o menor desempenho.
3. A produção de mudas sob condições de sombreamento proporcionou a obtenção de
plantas com maior vigor, assim como, as germinadas na posição horizontal.