Características físicas e físico-químicas de um tipo de bacuri (Platonia
insignis Mart.) com rendimento industrial superior
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Características físicas e físico-químicas de um tipo de bacuri (Platonia
insignis Mart.) com rendimento industrial superior1
Physical and physicochemical characteristics of a bacuri (Platonia
insignisMart.) type with better industrial yield
José Edmar Urano de CarvalhoI; Raimunda Fátima Ribeiro de NazaréII; Walnice
Maria Oliveira do NascimentoIII
IMestre em Agronomia, Área de Produção Vegetal, Pesquisador da Embrapa Amazônia
Oriental. Caixa Postal 48. CEP 66095-110, Belém, PA. E-mail:
urano@cpatu.embrapa.br
IIMestre em Tecnologia de Alimentos, Pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.
Caixa Postal 48. CEP 66095-110, Belém, PA. E-mail: fatima@cpatu.embrapa.br
IIIMestre em Tecnologia de Sementes, Pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental.
Caixa Postal 48. CEP 66095-110, Belém, PA. E-mail: walnice@cpatu.embrapa.br
O fruto do bacurizeiro é uma baga uniloculada, com formato arredondado, ovalado
ou achatado (Cavalcante, 1996, Guimarães et al., 1992), contendo em seu
interior de uma a cinco sementes envolvidas pelo endocarpo, que se constitui na
parte comestível do fruto (Carvalho et al. 1998, Mourão & Beltrati, 1995a/
1995b). Alguns tipos, de ocorrência rara, apresentam frutos desprovidos de
sementes (Calzavara, 1970; Souza et al., 2000), os quais têm despertado pouco
interesse, pois apresentam tamanho diminuto e baixo teor de sólidos solúveis
totais na polpa (Carvalho et al., 2002).
O bacuri é oriundo de ovário pentaloculado, com número de óvulos por lóculo
variando entre oito e quatorze (Guimarães et al., 1990; Maués & Venturieri,
1996). Quando nenhum dos óvulos, em um ou mais lóculos, é convertido em
semente, ocorre a formação de segmentos partenocárpicos, popularmente
denominados de filhos ou línguas, que se constituem na porção preferida da
polpa, por não estar aderida às sementes e ser de fácil remoção (Cavalcante,
1996).
Em termos porcentuais, a maior parte do bacuri é constituída pelo epicarpo e
mesocarpo, os quais, em conjunto, constituem a casca do fruto, que é de
consistência rígido-coriácea e com espessura variando entre 0,7 cm e 2,0 cm
(Santos, 1982; Guimarães et al., 1992; Cavalcante, 1996). Em média, a casca
representa 64% a 70% do peso do fruto, vindo a seguir as sementes, cuja
participação varia de 13% a 26%. A polpa é o componente que se apresenta em
menor proporção, representando somente cerca de 10% a 18% do peso do fruto
(Calzavara, 1970; Barbosa et al., 1979; Santos, 1982; Cruz, 1988; Guimarães et
al., 1992; Teixeira, 2000).
O objetivo deste trabalho foi caracterizar um tipo de bacuri que apresenta
rendimento porcentual de polpa bem superior ao da maioria dos tipos ocorrentes
em populações nativas e em áreas de cultivo.
Os frutos foram provenientes da matriz CPATU 207-3, do Banco de Germoplasma de
Bacurizeiro da Embrapa Amazônia Oriental, localizado no município de Tomé-Açu,
PA. Essa matriz constitui-se em um dos indivíduos do acesso CPATU 10007,
estabelecido na forma de progênies de meios-irmãos. A planta-matriz que deu
origem ao acesso apresentava frutos com formato arredondado, peso médio de
267,56 g, espessura da casca de 1,15 cm e rendimento porcentual de polpa de
6,88% (Guimarães et al., 1992).
Para a caracterização física utilizou-se uma amostra de 50 frutos, os quais
foram individualmente analisados quanto às seguintes características:
coloração, formato, peso, comprimento, diâmetro, espessura da casca, volume da
cavidade interna, número de sementes por fruto, número de segmentos
partenocárpicos, rendimentos porcentuais de casca, polpa total, sementes e do
conjunto representado pela coluna placentária e óvulos abortados. A polpa total
foi fracionada em duas porções: polpa aderida às sementes e segmentos
partenocárpicos.
As características físico-químicas da polpa foram determinadas com base em três
amostras de polpa, oriundas, cada uma delas, de 25 frutos coletados nos meses
de janeiro, fevereiro e março. As seguintes características foram avaliadas:
teores de umidade e de sólidos totais, determinados pela secagem da amostra em
estufa a 105ºC até peso constante; pH, valor obtido pela leitura da solução de
amostra em aparelho pH-meter digital marca HORIBA F-21; acidez total titulável,
quantificada pelo método titulométrico com solução de NaOH 0,1N fatorada,
usando como indicador solução de fenolftaleína a 1%; sólidos solúveis totais,
determinado pela leitura direta da solução de amostra diluída com fator
conhecido, em aparelho refratômetro digital, marca ATAGO modelo PR-101 e a
relação ºBrix / acidez total titulável.
Observou-se que o bacuri CPATU 207-3 apresenta epicarpo de cor amarela, quando
completamente maduro, formato ovalado, com a extremidade apical ligeiramente
pontiaguda (Figura_1a) e grande freqüência de frutos com no máximo duas
sementes (Figura_1b). Com relação ao tamanho, peso e volume da cavidade
interna, os frutos são semelhantes ao da maioria dos tipos ocorrentes em
populações naturais e em áreas de cultivo, podendo ser enquadrados no grupo de
bacuris de tamanho médio, os quais são bem aceitos no mercado e apresentam peso
variando entre 250 g e 350 g. As principais características diferenciais do
bacuri CPATU 207-3, em relação à maioria dos tipos ocorrentes em populações
naturais e em áreas de cultivo, são: casca fina, elevado número de segmentos
partenocárpicos e rendimento porcentual de polpa superior. A espessura da
casca, apenas 0,75 cm, é bem inferior à da maioria dos tipos de bacuri que,
predominantemente, apresentam casca com espessura superior a 1,0 cm, em alguns
genótipos chegando mesmo a atingir 2,0 cm (Santos, 1982; Cavalcante, 1996;
Guimarães et al., 1992). Essa característica é a principal responsável pelo
elevado rendimento porcentual de polpa (27,7%), pois condiciona menor
participação relativa da casca na composição do fruto. Esse fato fica bem
evidenciado quando se considera o rendimento porcentual de sementes, 18,7%
(Tabela_1), que está dentro dos limites assinalados na literatura (Calzavara,
1970; Barbosa et al., 1979; Cruz, 1988; Santos, 1982; Guimarães, 1992;
Teixeira, 2000).
No que concerne à partição da polpa, constatou-se que os rendimentos
porcentuais das frações polpa aderida às sementes e segmentos partenocárpicos
se equivaleram (Figura_2). Isoladamente, o rendimento porcentual de segmentos
partenocárpicos, em torno de 13,0%, foi igual e, em alguns casos, mesmo
superior ao rendimento porcentual total de polpa de muitos tipos de bacuri
(Calzavara, 1970, Cruz, 1979; Barbosa et al., 1979; Guimarães et al., 1992). O
elevado rendimento porcentual da fração da polpa representada pelos segmentos
partenocárpicos está associada à grande freqüência de frutos contendo no máximo
duas sementes, pois foi constatada correlação negativa entre o número de
sementes e o número desses segmentos (r = - 0,9012). A elevada proporção de
segmentos partenocárpicos é uma característica desejável, pois essa porção da
polpa é a que tem maior valor comercial. Além disso, sua presença, em
proporções elevadas, é altamente desejável quando os frutos se destinam ao
consumo como fruta fresca ou para a elaboração de compotas.
As variações entre as características físicas dos frutos da planta-mãe
(Guimarães et al., 1992) e de sua descendente, a matriz CPATU 207-3,
principalmente em relação à espessura da casca, formato do fruto e rendimento
porcentual de polpa foram bem pronunciadas. Tal fato é decorrente de que a
espécie é essencialmente alógama, por ser geneticamente auto-incompatível
(Maués & Venturieri, 1996).
Os resultados concernentes às características físico-químicas da polpa, oriunda
de frutos produzidos em janeiro, fevereiro e março, demonstraram que
praticamente não houve variação na qualidade dos frutos do bacuri CPATU 207-3,
em função da época de produção (Tabela_2).
Os valores para teor de umidade, nas três amostras consideradas, foram
superiores aos valores encontrados por Santos (1982) e Teixeira (2000) em polpa
oriunda de frutos produzidos no Estado do Piauí, mas compatíveis com as
determinações efetuadas por Guimarães et al. (1992) e por Barbosa et al. (1979)
em polpa de frutos produzidos no Estado do Pará. No que concerne às demais
características, com exceção da acidez e da relação sólidos solúveis totais/
acidez total titulável, onde Teixeira (2000) verificou valores entre 0,32% e
0,43% e entre 43,87 e 56,84, respectivamente, os resultados estão dentro dos
limites comumente registrados na literatura. Convém ressaltar, no entanto, que
em relação à acidez total existem grandes variações, em função do genótipo
(Guimarães, 1992).
O bacuri CPATU 207-3 apresenta características físicas e físico- químicas que
permitem sua utilização tanto como fruta fresca quanto como fruta industrial.
Nesse último caso, é particularmente indicado para a elaboração de compotas
pois apresenta elevado rendimento de segmentos partenocárpicos.