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BrBRCVHe0034-71672010000300022

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National varietyBr
Country of publicationBR
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0034-7167
Year2010
Issue0003
Article number00022

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Novos diagnósticos de enfermagem em imagenologia: submissão à NANDA International

INTRODUÇÃO O diagnóstico de enfermagem (DE) é uma etapa fundamental do processo de enfermagem, na medida em que representa a interpretação científica dos dados coletados na avaliação do paciente, dando origem ao planejamento, a implementação e a avaliação dos cuidados prestados. Apesar do processo de enfermagem ser uma sistemática reconhecida pela comunidade de enfermeiros desde a década de 50, foi somente a partir dos anos 70 que os diagnósticos de enfermagem começaram a ser classificados em uma linguagem padronizada, por meio da NANDA North American Nursing Diagnosis Association(1).

Esta classificação diagnóstica evoluiu de lista alfabética para um sistema taxionômico, que permanece em constante desenvol-vimento. Atualmente, enfermeiros pesquisadores de todo o mundo têm direcionado esforços para aprimorar esta linguagem, através da criação, submissão e validação de diagnósticos aplicáveis na prática clínica. As últimas versões da NANDA International (NANDA-I) contemplam diagnósticos de enfermagem que foram desenvolvidos a partir de pesquisas relacionadas com a prática clínica de enfermeiros brasileiros, o que faz com que estejamos representados nesta classificação, assim como enfermeiros de diversos países(2). Assim, considerando-se a necessidade permanente de atualização e refinamento desta classificação, este artigo tem por objetivo relatar a experiência de criação e submissão de novos diagnósticos de enfermagem na área de imagenologia, com a finalidade de informar e incentivar os enfermeiros brasileiros a contribuir com o desenvolvimento da taxonomia da NANDA-I.

A ENFERMAGEM NA ÁREA DE IMAGENOLOGIA A idéia de desenvolver novos diagnósticos na área de imagem partiu da necessidade percebida na prática clínica na Unidade de Radiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), onde são realizados exames radiológicos com o uso do meio de contraste iodado (MCI). O contraste a base de iodo é uma substância radiopaca que proporciona a visualização de detalhes que não podem ser observados através de radiografias simples, melhorando a qualidade da informação fornecida pelo exame(3-4).

Assim como qualquer outro fármaco, o MCI não está completamente isento de riscos e reações adversas podem ocorrer com freqüência entre 1 e 12%. Estas reações podem variar desde manifestações leves, que não necessitam tratamento específico, como náuseas, vômitos, tontura, pápulas e/ou prurido, até reações mais intensas, que exigem intervenção medicamentosa e medidas de suporte à vida, como urticária difusa, edema facial e de laringe, dispnéia, hipo ou hipertensão, arritmias cardíacas, insuficiência renal, convulsão, edema pulmonar e parada cárdio-respiratória. Determinadas condições clínicas aumentam o risco para a ocorrência de eventos adversos ao contraste iodado, podendo-se citar história prévia de reação ao contraste iodado, múltiplas alergias ou asma, mieloma múltiplo, doença renal, diabetes, doença cardiovascular, feocromocitoma, discrasias sanguíneas, ansiedade, entre outras. Desta forma, todos os pacientes que receberão contraste iodado necessitam criteriosa avaliação e manejo para reduzir a probabilidade de complicações(3,5-7).

A equipe de enfermagem atuante na área de imagenologia tem papel fundamental na assistência à clientela, na medida em que realiza a avaliação, as orientações e o preparo do paciente para o procedimento, providencia os materiais necessários, posiciona e acompanha o paciente durante o exame, administra o contraste e observa as reações que possam ocorrer durante ou após o mesmo.

Portanto, os cuidados relacionados à prevenção, à identificação e ao tratamento das reações adversas ao contraste iodado são ações fundamentais no cotidiano dessa equipe.

Todavia, tais eventos ainda não encontram na classificação de diagnósticos de enfermagem da NANDA uma terminologia apropriada que os defina como um diagnóstico de enfermagem. Por outro lado, verifica-se que a Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC) aponta algumas intervenções para uso na Enfermagem Radiológica, porém sem associá-las a diagnósticos específicos desta especialidade(8).

Partindo-se deste contexto, pensou-se em desenvolver diagnósticos de enfermagem relacionados ao uso de contraste iodado, para subsidiar os cuidados de enfermagem prestados aos pacientes submetidos a exames contrastados. As etapas deste processo estão descritas a seguir.

ETAPAS DE CRIAÇÃO E SUBMISSÃO DOS NOVOS DIAGNÓSTICOS A partir da idéia de criação dos novos diagnósticos, o primeiro passo foi contatar a NANDA-I para averiguar se algum diagnóstico relacionado ao uso de contraste iodado estaria em avaliação pelo Comitê de Desenvolvimento de Diagnósticos (DDC Diagnosis Development Committee), por meio do endereço eletrônico info@nanda.org. Poucos dias depois, a presidente do DDC respondeu informando sobre a inexistência de submissão de diagnósticos de enfermagem nesta área e encorajando a criação e o envio do material, segundo as orientações constantes no site da NANDA:http://www.nanda.org/ DiagnosisDevelopment_/DiagnosisSubmission.aspx É importante salientar que, nesse contato, a presidente do DDC relacionou o diagnóstico existente de "Resposta alérgica ao látex" ao diagnóstico proposto, o que talvez indicasse a necessidade de criação de um DE mais amplo como "Resposta alérgica". Isso evitaria a existência de múltiplos diagnósticos relacionados à reação alérgica e seus diversos fatores desencadeantes. Entretanto, argumentou-se que a reação ao contraste iodado não se trata de processo alérgico, sendo classificada como um evento adverso e, portanto, merecedor de um diagnóstico específico.

Assim, foi iniciado o processo de criação de dois novos DE, cujos títulos são "Reação Adversa ao Contraste Iodado" e "Risco para Reação Adversa ao Contraste Iodado".

Para isso, foi realizada uma revisão integrativa da literatura, que consiste num método de revisão bastante amplo, que inclui pesquisas experimentais e não- experimentais com o intuito de entender melhor um dado fenômeno(9). Esta busca de artigos científicos foi necessária para dar suporte ao conteúdo dos DE em todos os seus componentes, ou seja, título, definição, características definidoras, fatores relacionados ou fatores de risco. Esta revisão também permitiu evidenciar as principais intervenções de enfermagem e resultados de enfermagem julgados como adequados para cada DE. As bases de dados consultadas foram Pubmed, LILACS e SciELO, além de periódicos relacionados à área de radiologia e imagem disponíveis no Portal da CAPES. Devido à escassez de publicações sobre o assunto na língua portuguesa, a busca pela literatura apoiou-se na combinação dos seguintes descritores: "Contrast Media" (meios de contraste), "Drug Toxicity" (toxicidade de drogas), "Extravasation of Diagnostic and Therapeutic Materials" (Extravasamento de Materiais Terapêuticos e Diagnósticos) e "Adverse Drug Reaction Reporting Systems" (Sistemas de Notificação de Reações Adversas a Medicamentos). Além destes, outros termos mais amplos como, "adverse reactions" (reações adversas) e extravasation (extravasamento) também foram utilizados. Posteriormente, os artigos foram selecionados através da leitura do material e avaliação da pertinência do conteúdo para o desenvolvimento do trabalho. Conforme solicitação do DDC, os três principais artigos foram assinalados com um asterisco na lista de referências.

Outro importante recurso foi a discussão de todos os itens componentes dos DE a serem propostos com profissionais e professores atuantes no Grupo de Trabalho sobre Diagnósticos de Enfermagem (GTDE) do HCPA, o que possibilitou aprimoramento e maior objetividade na redação do texto. Vale ressaltar que o Processo de Enfermagem é utilizado no HCPA, em todas as suas etapas, mais de três décadas e que o mesmo se constitui em objeto de constante aprimoramento, a fim de proporcionar uma assistência de enfermagem qualificada(10-11).

Para estruturar a apresentação dos diagnósticos nos moldes preconizados pelo DDC, também foram consultadas as taxonomias da NANDA, NIC e NOC (Nursing Outcomes Classification). As duas últimas com o intuito de identificar as intervenções e os resultados de enfermagem mais apropriados aos diagnósticos propostos. Em etapa subseqüente, procurou-se inserir estes novos DE nos domínios e classes da NANDA-I. No sistema desta classificação diagnóstica, os DE são categorizados em domínios e classes, onde os domínios são uma esfera de atividade, estudo ou interesse, que são subdivididos em classes específicas.

Assim, os diagnósticos criados foram relacionados ao Domínio 11 Segurança / Proteção, na Classe 5 Processos Defensivos(1,8,12).

Finalmente, os novos diagnósticos de enfermagem foram submetidos à presidente do DDC da NANDA- I, em formulário próprio e cópia da documentação exigida, por meio de correio eletrônico. Todo o texto foi enviado em inglês, acompanhado pelas respectivas referências de literatura nos padrões exigidos pelo DDC. Além das orientações fornecidas pelo site e livro da NANDA-I, também foi utilizado artigo publicado no International Journal of Nursing Terminologies and Classification,o qual fornece informações bastante pertinentes(13). Nas figuras de_1_a_3 consta o diagnóstico de risco encaminhado na íntegra, porém em língua portuguesa para fins desta publicação. Salienta-se, que no formulário proposto pelo DDC é necessário relacionar o novo diagnóstico a um DE existente e, neste caso, o escolhido foi "Risco de resposta alérgica ao látex".

ANÁLISE DOS DIAGNÓSTICOS PELA NANDA INTERNACIONAL O material enviado foi recebido pela presidente do DDC, que realizou uma avaliação prévia do conteúdo e realizou um pequeno parecer, onde questionava se a literatura que dava suporte aos conceitos dos diagnósticos também apoiava os títulos dos mesmos. Uma vez que a resposta foi positiva e os demais aspectos dos DE estavam contemplados, o material foi encami-nhado para todos os membros do DDC.

A partir de então, seguiu-se um período de espera pela resposta do DDC, com troca de algumas mensagens ele-trônicas solicitando pre-visão de retorno, além de contato pessoal com a presidente do DDC durante a Conferência da NANDA realizada em novembro de 2008, em Miami. Nesta ocasião foram reforça-das e discutidas as idei-as de que tais DE seriam úteis na prática clínica de enfermagem na área de imagenologia.

Finalmente, após aproximadamente seis meses desde o primeiro contato, o DDC infor-mou que o diagnóstico de "Risco para Reação Adversa ao Contraste Iodado" havia sido aprovado com mínimas alterações, que foram enviadas em documento anexado para apreciação. Comunicou ainda, que o Comitê havia optado por não aprovar o diagnóstico de "Reação Adversa ao Contraste Iodado", porque o mesmo suscitou extensa discussão entre os membros revisores. Alguns deles o consideraram um diagnóstico de enfermagem e outros argumentaram que o mesmo seria um diagnóstico médico reformulado. Entretanto, informou que haverá um novo encontro multidisciplinar, onde a discussão sobre este diagnóstico específico e outros que se encontram em situação semelhante será retomada.

O Quadro_1 demonstra as correções finais sugeridas pelo DDC para o diagnóstico de risco e o encaminhamento da autora frente às sugestões.

Observa-se que as modificações realizadas evidenciaram preocupação em sintetizar a definição e os fatores de risco do diagnóstico, não havendo nenhuma consideração em relação aos exemplos de intervenções e resultados sugeridos para o caso. A partir desse documento, foram sugeridas duas modificações, como substituir a palavra câncer por feocromocitoma, entre as doenças concomitantes, e incluir a ansiedade como fator de risco. Estas modificações foram enviadas através de e-mail, com as respectivas argumentações e referências bibliográficas. No momento atual, espera-se o retorno quanto às últimas sugestões enviadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando-se a importância do diagnóstico de enfermagem na prática clínica, enquanto etapa fundamental do processo de enfermagem, é imprescindível que existam DE aplicáveis para todas as especialidades, orientando a escolha das intervenções pertinentes para cada caso, de forma a se obter o melhor resultado. Além disso, a existência de uma nomenclatura padronizada visibilidade à atuação da enfermagem, o que contribui para o desenvolvimento dos processos assistenciais, de ensino e de pesquisa. Portanto, espera-se que este artigo sirva de modelo e estímulo para que os enfermeiros brasileiros sigam contribuindo com o desenvolvimento dessa nomenclatura, seja com a criação e submissão de novos diagnósticos, seja com revisões ou estudos de validação, auxiliando no aperfeiçoamento e definição do conhecimento na enfermagem.


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