Protagonistas na sociedade civil: redes e centralidades de organizações civis
em São Paulo
INTRODUÇÃO
A extraordinária atenção suscitada pela sociedade civil no mundo acadêmico e
nos circuitos nacionais e internacionais de formuladores de políticas públicas
contribuiu, paradoxalmente, para eclipsar as organizações civis reais, sua
diversidade, lógicas de atuação e dinâmicas de interação com outros atores. Nas
últimas duas décadas, foram empenhados inúmeros esforços ao desbravamento do
terreno analítico, de modo a conferir precisão conceitual à categoria Sociedade
Civil, investindo-a, a um só tempo, de estatuto político normativo capaz de
centrá-la como peça-chave de novo projeto para democratizar a democracia. Por
motivos outros, múltiplos atores multilaterais, governamentais e societários
também granjearam, nesses anos, novo estatuto para a chamada sociedade civil,
agora portadora inconteste de virtualidades positivas para o gerenciamento
local e focalizado de políticas públicas e para impulsionar a boa governança.
Independentemente do mérito de tais esforços, sem dúvida foram bem-sucedidos,
se julgados pelos seus efeitos de proliferação: a literatura acadêmica centrada
na sociedade civil é hoje quase incomensurável; as transferências financeiras
de organismos multilaterais, governos e agências financiadoras do hemisfério
norte para organizações não-governamentais ' ONGs do hemisfério sul aumentaram
em proporções galopantes1; isso sem esquecer, é claro, as inovações
institucionais participativas que, no Brasil e pelo mundo afora, têm estimulado
a intervenção de organizações civis no desenho e implementação de políticas
públicas.
Porém, malgrado e em boa medida graças a semelhante sucesso, sabe-se
surpreendentemente pouco acerca do modus operandi das organizações civis reais,
mesmo daquelas que têm sido constantemente salientadas na literatura devido à
emergência de protagonismos inéditos. Embora seja compreensível a presença rala
na literatura de atores "miúdos", ora por seu perfil acanhado, ora por
carecerem de implicações atraentes quando olhados através das lentes das
teorias, espanta a ausência de conhecimento sistemático e cumulativo sobre o
funcionamento real de atores "graúdos" ' inclusive no caso de organizações
civis como as ONGs, consensualmente assinaladas na literatura como grande
protagonista dos anos 1990. Com efeito, caracterizações altamente estilizadas
de uma esfera de ação societária circunscrita por princípios unificadores
comuns e por nítida diferenciação em relação ao Estado e ao mercado alimentaram
consensos largamente difundidos sobre as potencialidades da sociedade civil '
por sinal, consensos pouco sensíveis às diferenças internas, conflitos,
afinidades, hierarquias e modalidades de articulação próprias ao universo das
organizações civis reais.
Contra esse pano de fundo, este artigo visa trazer à tona e avançar na apuração
de uma questão que, a despeito da sua relevância, tem recebido tratamento
precário na literatura: como funcionam as organizações civis?2 Isto é, quais as
diferentes lógicas de atuação e dinâmicas internas de interação que organizam o
universo desses atores societários, particularmente daqueles que têm se
notabilizado nos últimos anos por seu protagonismo ou capacidade de atuação?
Trata-se de avançar na elaboração de respostas alicerçadas na produção de
conhecimento empírico, pelo que a própria definição dos atores com maior
capacidade de atuação constitui um resultado empírico, evitando-se assim
deduzir protagonismos a partir da literatura. Nesse sentido, a idéia de
sociedade civil permanece aqui reservada apenas para remeter àquela perspectiva
geral e estilizada existente na literatura, com ecos claros nas comunidades
internacionais de formuladores de políticas, mas nunca aos atores empíricos
estudados. Para eles utiliza-se o termo organizações civis, mais neutro e, de
certo, menos estilizado e normativamente sobrecarregado3.
Desse modo, a partir de estratégia de análise de redes aplicada aos resultados
de survey realizado na cidade de São Paulo em 2002, o funcionamento das
organizações civis com maiores capacidades de atuação ou mais centrais será
aqui reconstruído mediante diversos recortes analíticos a serem expostos no
decorrer deste artigo. As vantagens cognitivas de se utilizar análise de redes
para abordar conjuntos de atores normalmente encobertos pela categoria
sociedade civil são conhecidas e têm recebido atenção alhures4.
Neste caso, os recortes analíticos adotados revelaram padrões de relacionamento
com conseqüências pertinentes para entender o funcionamento das organizações
civis. Primeiro, trata-se de um universo de atores altamente hierarquizado, em
que organizações populares, ONGs e articuladoras ocupam posições centrais
privilegiadas por maiores capacidades de ação e escolha. Em Gurza Lavalle,
Castello e Bichir (2006) foi mostrado que associações de bairro e comunitárias
são claramente periféricas, enquanto os fóruns e as entidades assistenciais se
situam em posição intermediária. Segundo, os tipos de organizações civis melhor
articuladas entre si correspondem, precisamente, àquelas que também ocupam
posições privilegiadas na rede como um todo. Terceiro, verificou-se a
existência de vínculos preferenciais entre certos tipos de organização que
seguem sempre a mesma direção: das entidades periféricas para aquelas mais
centrais e, como era de esperar, das organizações com posições privilegiadas
para outras organizações igualmente privilegiadas. Porém, entidades podem
ocupar posições privilegiadas ou ter capacidades de atuação limitadas por
diversos motivos e desempenhando papéis muito diferentes. É neste terreno que
os resultados são mais valiosos, pois permitem caracterização relacional do
funcionamento das organizações civis estudadas. Aqui serão salientados apenas
os principais achados contra-intuitivos e as feições mais relevantes do
funcionamento dos tipos de organização civil mais centrais, de modo a atentar
para lacunas no estado do conhecimento sobre os atores estudados ' lacunas
iluminadas ou "descobertas" a partir de uma perspectiva relacional.
Os resultados apresentados são produto de um survey levado a cabo no município
de São Paulo, ao longo de seis meses de trabalho de campo, no ano de 2002. Os
critérios de escolha favoreceram organizações civis ativas, particularmente
aquelas engajadas nos segmentos mal-aquinhoados da população5. Os diversos
tipos de atores e o conhecimento estabelecido na literatura sobre eles serão
abordados nas próximas seções, e, depois, serão explicitadas a estratégia de
análise de redes aqui ensejada e a metodologia correspondente. Uma síntese dos
resultados gerais, seguida do exame e interpretação detalhados das diferentes
modalidades de protagonismo inerentes aos atores centrais analisados ocupará as
penúltimas seções. O artigo encerra com breve comentário final.
ATORES CENTRAIS
Os rótulos normalmente utilizados para distinguir atores societários são objeto
de disputa simbólica para atribuir sentido a seu agir, e, portanto, a assunção
de uma determinada denominação por parte das entidades entrevistadas obedece a
uma série de cálculos de auto-apresentação pública, destinados a posicioná-las
em campos específicos do mundo das organizações civis perante interlocutores
determinados. No intuito de contornar essa dificuldade, as organizações civis
não foram classificadas com base em suas autodefinições, mas conforme critérios
objetivos de duas ordens: a relação com seus beneficiários e o perfil das
atividades normalmente realizadas. No primeiro caso, o conjunto dos
beneficiários encarna uma unidade real ou abstrata (por exemplo, os moradores
do bairro ou os cidadãos, respectivamente), cujos componentes são indivíduos,
organizações e atores coletivos, ou segmentos da população concebidos como
membros ou sócios, como público-alvo, ou como a comunidade. No segundo, a cada
tipo de associação corresponde uma estratégia de atuação distintiva e
combinações excludentes de atividades orientadas para a reivindicação e
mobilização, para o fornecimento de serviços, para a organização popular, ou
para a intermediação entre o governo e os beneficiários.
Mediante a aplicação desses critérios, tornou-se possível delinear uma
tipologia de atores notabilizados por seu protagonismo dentro do universo das
organizações civis. Por exemplo, no primeiro caso, as ONGs costumam trabalhar
para beneficiários definidos em termos de uma unidade abstrata, composta por
determinados recortes ou segmentos da população concebidos não como membros ou
sócios, mas como público-alvo. No segundo, sua estratégia de atuação distintiva
normalmente é a tematização pública de problemas trabalhados dentro de uma
semântica política de direitos cidadãos e/ou humanos; nesse sentido, é raro
definirem o perfil das suas atividades a partir da mobilização dos eventuais
beneficiários ou da organização popular ' antes, centram-nas em combinações
diferentes de prestação de serviços e de intermediação simbólica ou material
entre o poder público e a sociedade.
Dado o caráter empírico da tipologia, outros tipos de organizações civis foram
encontrados, mas em virtude da sua posição periférica na rede não receberão
tratamento neste artigo. Contudo, a categoria Demais Atores não é residual: de
um lado, adiciona os resultados, separadamente calculados, de quatro tipos de
organizações civis definidos empiricamente conforme os mesmos critérios e cujas
posições na rede revelaram-se intermediárias ou francamente periféricas; de
outro, funcionará como categoria de referência na ordenação dos dados a serem
examinados nos primeiros dois recortes analíticos. Fóruns, entidades
assistenciais, associações de bairro e associações comunitárias são assim
grupados sob a mesma rubrica, e não devido aos seus resultados individuais, mas
porque a análise agregada mostrou se tratar de tipos de atores claramente
diferenciados em relação às organizações civis centrais6.
A relação entre a tipologia e as caracterizações disponíveis na literatura será
abordada na próxima seção. O Quadro_1 sistematiza a tipologia, informa a
freqüência relativa de cada tipo e oferece exemplos das organizações civis
classificadas. A composição da amostra obedece a critérios expostos na seção
Centralidade, Análise de Redes e Survey. Cumpre mencionar que testes empíricos
não revelaram outras formas de agrupação contrárias ou mais consistentes que os
critérios analíticos aqui utilizados.
A LITERATURA E AS CARACTERIZAÇÕES
A distância entre a tipologia e as caracterizações existentes na literatura é
menor no caso dos atores que maior atenção têm recebido, tal como ocorre com as
ONGs. Embora a denominação organização não-governamental, oriunda dos
organismos de cooperação internacional, tenha sido utilizada de modo corrente
como termo genérico na literatura internacional, no Brasil corresponde stricto
sensu às organizações civis conhecidas na literatura anglo-saxônica como
entidades de advocacy ' dedicadas a vocalizar ou reivindicar publicamente as
demandas e necessidades de terceiros. Se na sua origem foram concebidas como
entidades de assessoria aos movimentos sociais, há consenso amplo na literatura
nacional quanto ao fato de as ONGs terem se tornado os atores de maior destaque
no cenário da ação coletiva nos anos 19907. Também há consenso no que diz
respeito a certas feições recorrentes na sua caracterização, a saber, discurso
elaborado dentro de uma semântica de direitos e de ampliação substantiva da
democracia, orientação temática, ação voltada à publicização de problemas e
coordenação com outros atores mediante trabalho em rede (ver, por exemplo,
Landim, 1996)8. A definição de para quem trabalham as ONGs é menos pacífica na
literatura, pois mesmo se aceita essa função de mediação capaz de transitar
"entre os locais românticos das comunidades tradicionais e os esclarecidos
territórios da cidadania" (Fernandes, 1994:76), ou sua conhecida origem como
entidades de apoio aos movimentos populares9, parece inescapável reconhecer que
"tal função de mediação é unilateral" (idem:78). A compreensão dos
beneficiários do trabalho dessas organizações em termos de público-alvo, a
despeito de parcialmente controversa, aponta precisamente para essa
unilateralidade10.
Uma segunda categoria da tipologia também tem sido amplamente estudada, embora
sob denominação diferente. Organizações populares correspondem em parte àqueles
atores que, a partir dos anos 1970 e, sobretudo, nos anos 1980, passaram a ser
denominados e pensados no registro das teorias dos movimentos sociais '
especialmente para apreender a lógica de atuação de atores específicos voltados
para a mobilização coletiva a propósito de demandas populares. À margem das
orientações teóricas mais influentes na literatura sobre movimentos sociais11,
o conceito apresenta problemas de ambigüidade na sua definição: tem sido
utilizado igualmente na definição de atores empíricos específicos, normalmente
portadores de capacidade de contestação perante o Estado ' Movimento dos Sem-
Terra ' MST, Movimento dos Atingidos por Barragens ' MAB ', e na unificação
analítica de conjuntos esparsos de iniciativas individuais e coletivas
sintonizadas ao longo do tempo por afinidades de sentido ' movimento feminista,
movimento negro, movimento de saúde. O universo de atores aqui definidos como
organizações populares corresponde à primeira acepção. Salvo raras exceções
(ver Feltran, 2005; Mendonça, 2002; Marteleto, Ribeiro e Guimarães, 2002), os
movimentos sociais registraram misterioso sumiço na literatura a partir do
início dos anos 1990, em boa medida graças ao encerramento do ciclo da
transição e à conseqüente estabilização e institucionalização da política e do
protesto social, mas também devido a mudanças nas categorias analíticas
utilizadas ' agora convertidas ao registro heurístico da sociedade civil e/ou
das ONGs (Gurza Lavalle, Castello e Bichir, 2004; Sobottka, 2002). A onda de
balanços desiludidos do final dos anos 1980, apontando para a desmobilização e
cooptação dos atores, bem como para a ingenuidade e otimismo dos autores,
parece ter prenunciado um certo abandono do conceito12. De fato, não é raro se
deparar ainda hoje com diagnósticos que reafirmam o esmaecimento dos movimentos
e a despolitização generalizada da ação coletiva, imputando semelhante panorama
aos efeitos corrosivos do ajuste estrutural (ver Casanovas Sainz e García
Chacón, 2000:63-67; Rucht, 2002)13. Seja como for, aos movimentos sociais foi e
é conferida uma capacidade de ação coletiva centrada na construção de novas
identidades (Evers, 1984; Touraine, 1989; Sader, 1988; Melucci, 1989),
normalmente não absorvíveis dentro do universo das instituições tradicionais de
representação de interesses; também lhes é imputado um protagonismo altamente
espontâneo, devido à exigência de uma mobilização não-burocratizada ou
corporativizada.
Embora as entidades denominadas articuladoras na tipologia ocupem novo espaço
no cenário da ação coletiva institucionalizada, não têm recebido atenção na
literatura ou, com maior precisão, é regra serem rotuladas como ONGs ' e em
menor medida como organizações populares ' e tratadas, assim, de modo
indiferenciado sob essa rubrica14. O empenho das ONGs na criação de redes e de
espaços de coordenação é amplamente reconhecido, todavia, articuladoras diferem
significativamente das ONGs em aspectos relevantes: são fundadas por outras
entidades com o intuito de coordenar e articular suas ações, de construir
agendas comuns e de escalar sua capacidade de agregação de interesses com fins
de representação perante o poder público e outros atores sociais. Por outras
palavras, as articuladoras podem ser classificadas como organizações civis de
terceira ordem, distintas tanto daquelas instituídas sob o signo da identidade
entre beneficiários das associações e seus fundadores, administradores ou
trabalhadores ' organizações civis de primeira ordem como as associações de
bairro ou as de caráter comunitário ', quanto daquelas outras estabelecidas
para beneficiar terceiros definidos como pessoas ou segmentos da população '
nesse sentido, de segunda ordem, como as entidades assistenciais e as ONGs.
CENTRALIDADE, ANÁLISE DE REDES E SURVEY
A análise de redes sociais assume como premissa a importância dos laços sociais
como elementos que estruturam a vida social, imputando a eles diversas
conseqüências em termos de possibilidades e restrições para a ação de
indivíduos e atores coletivos. A unidade de análise utilizada são as relações
estabelecidas entre pessoas e entre entidades, e não os indivíduos ou
organizações em si e sequer seus atributos. Como estratégia analítica, situa-se
em plano cognitivo intermediário, trazendo consigo mudanças de perspectiva
tanto na compreensão do plano macro quanto do micro (Emirbayer, 1997). É
importante destacar que, a rigor, a análise de redes sociais não constitui uma
teoria, tampouco um conjunto de técnicas estatísticas complexas, mas uma
estratégia analítica passível de utilização à luz de diferentes perspectivas
conceituais e teóricas15.
Assume-se aqui que o protagonismo das organizações civis é expressão de sua
capacidade de atuação ' a qual, na análise de redes, depende do posicionamento
do ator em uma teia de relações16. Um ator central no interior de uma dada rede
é aquele que, a partir de um número considerável de relações, consegue exercer
grande influência sobre os demais atores e gerar neles certa dependência,
controlando diversas possibilidades de fluxos e desfrutando uma capacidade
maior de fazer escolhas dentro de seu universo de relações (Hanneman, 2001).
Enquanto as escolhas aparecem associadas à capacidade de ação ou agência, os
fluxos remetem a bens materiais e imateriais cuja natureza varia enormemente
dependendo dos atores contemplados pela análise. Ademais, atores centrais
ocupam posições estratégicas no interior da rede, sendo importante considerar
não apenas os vínculos diretos com outros atores, mas também aqueles de caráter
indireto (Wasserman e Faust, 1994). A centralidade no interior de uma rede
surge como conseqüência dos padrões de relações estabelecidos entre os atores
e, portanto, não é um atributo ou "posse" dos atores em si (Scott, 1992). Em
suma, a noção de centralidade está associada à noção de capacidade de ação,
quer dizer, de escolha entre diversas alternativas possíveis e de autonomia em
relação aos vínculos estabelecidos com atores específicos.
Embora existam diversas ferramentas analíticas disponíveis no âmbito da
metodologia de análise de redes, a maior parte dos resultados aqui expostos
exprimem medidas de centralidade17, utilizadas para destacar a posição relativa
de cada um dos atores considerados dentro do universo das organizações civis.
Grosso modo, na análise foram empregadas sete medidas18. Procurou-se
identificar tanto as organizações da sociedade civil que funcionam como
referências ou detêm prestígio no conjunto das organizações, sendo muito
citadas (número de vínculos recebidos ' indegree), quanto aquelas
caracterizadas por citar muitos parceiros (número de vínculos enviados '
outdegree)19. Também foi analisada a relação entre tipos de organizações civis
e suas capacidades de intermediação (betweenness) e articulação de diferentes
sub-redes; capacidades que permitem impedir ou facilitar o contato entre
diversas entidades, bem como controlar os fluxos entre elas. Outra forma de
caracterização da centralidade consistiu na observação das organizações civis
relativamente mais próximas das outras ' proximidade (closeness) passível de
ser traduzida em capacidade de ação e de coordenação. Examinou-se igualmente a
assimetria das relações existentes entre as organizações civis, aferindo a
dependência produzida por certas entidades sobre outras, ou o poder de
determinada entidade (power). Procurou-se diferenciar, ainda, as organizações
que lançam mais vínculos daquelas que são preponderantemente receptoras de
vínculos, apresentando diferentes tipos de influência (influence). Procurou-se
destacar, também, as organizações com maior acesso à informação (information)
no interior da rede, isto é, ao controle de certos fluxos preferenciais entre o
conjunto de relações disponíveis.
De uso mais modesto nesta análise, algumas medidas de coesão foram empregadas
com o intuito de determinar o modo de estruturação dos atores e suas relações
no interior de uma rede, abordando aspectos como o tamanho da rede, sua
densidade, as distâncias existentes entre cada um dos atores (geodesic
distance) e o número de atores que podem ser alcançados no interior da rede
(reachability). Além disso, também foram utilizadas representações gráficas das
redes ' sociogramas ' tanto para introduzir subsídios de caráter mais
qualitativo à análise quanto para tornar mais fácil a compreensão dos
resultados mediante representações visuais peculiarmente elucidativas.
Uma vez que a expressão numérica das medidas de centralidade parece complexa e
carece de referentes empíricos óbvios, optou-se por apresentar resultados
simplificados. Para tanto, os resultados das medidas de redes para os atores
centrais ' apresentados em tabelas-resumo ' foram convertidos ou em
porcentagens, sempre em relação à média dos Demais Atores na amostra ' tomada
como valor de referência ', ou em ranking simples. As denominações técnicas das
medidas também foram simplificadas.
Todas as informações relacionais necessárias para análise de redes aqui
apresentada foram obtidas por meio de entrevistas realizadas com 202
organizações civis, na mencionada pesquisa realizada no município de São Paulo
em 200220. Foi utilizada a técnica bola de neve (snowball) ' bastante comum em
análises de redes sociais (Scott, 1992). Ao todo, as entrevistas com essas
entidades geraram um total de 741 atores diferentes citados e 1.293 relações
diretas levantadas. Na medida em que cada entidade entrevistada pôde citar até
cinco relações em ordem de importância ou as mais próximas para diferentes
tipos de entidades, as redes aqui examinadas representam a malha mais densa de
relações existentes entre as organizações civis paulistanas pesquisadas ' não a
totalidade de vínculos existentes. Cada relação direta incrementa
exponencialmente o número de relações indiretas e, por isso, há um total de
549.081 relações possíveis. O universo das entidades pesquisadas não foi
definido a priori, mas empiricamente como base nas cadeias de referências
fornecidas, a partir de 16 pontos de entrada, pelos atores entrevistados21.
PADRÕES DE RELACIONAMENTO DAS ORGANIZAÇÕES CIVIS CENTRAIS
Esta seção apresenta de modo sintético os principais resultados referentes aos
padrões de relações das organizações civis com maiores capacidades de atuação.
A interpretação dos padrões encontrados será efetuada na seção seguinte. As
relações foram examinadas a partir de três ângulos ou recortes analíticos. No
primeiro caso, para distinguir os papéis desenvolvidos pelos diferentes tipos
de organizações civis, centra-se o foco na relação entre cada tipo e o universo
das organizações como um todo; no segundo, examinam-se cuidadosamente apenas as
conexões internas próprias a cada tipo de organização civil (por exemplo, ONGs
com ONGs), como se se tratasse de esquadrinhar subcampos caracterizados por
lógicas relacionais distintas; no terceiro, opera-se novo recorte sobre as
inter-relações mais freqüentes entre tipos de entidades distintos, mostrando
claramente afinidades e distâncias que organizam as relações dos atores
centrais no universo das organizações civis na cidade de São Paulo. Cada
recorte apresenta contribuições específicas para o entendimento das dinâmicas
de funcionamento das organizações civis.
O principal resultado a ser destacado, do ponto de vista da inserção das
organizações civis na rede como um todo22, refere-se à marcada estratificação
das diversas organizações civis. Há três tipos de entidades que ocupam posições
altamente centrais, enquanto os demais atores se situam em posições periféricas
ou intermediárias, acusando dependência em relação às primeiras. Os dados
apresentados na Tabela_1 evidenciam o contraste; os números exprimem, para cada
medida, a posição relativa dos tipos de organizações civis examinados em
relação aos Demais Atores da amostra; isto é, o quanto (%) os tipos mais
centrais se aproximam ou se afastam da média dos resultados médios dos tipos de
entidade compreendidos nos Demais Atores23. Assim, por exemplo, as
articuladoras realizam 139% mais intermediação do que os Demais Atores.
Os resultados apontam de modo consistente para o papel protagônico desses três
tipos de entidades dentro do universo das organizações civis paulistanas:
organizações populares, articuladoras e ONGs ' nessa ordem. Essas entidades
ocupam as posições mais centrais tanto pela quantidade de vínculos enviados e
recebidos quanto pela sua capacidade de intermediação e de difusão de
informação, e, no caso das organizações populares e das articuladoras, também
pelo balanço favorável entre as relações enviadas e recebidas (influência).
Nesse balanço e na clara dependência gerada por ambos os tipos de organizações
nas outras entidades (poder), percebe-se marcado contraste com o padrão de
centralidade das ONGs ' as quais não geram dependência nem recebem mais
vínculos do que enviam. No caso das medidas de coesão, bem como nos dados de
proximidade, a variação geral dos resultados é muito menor, mas ainda assim as
organizações em questão apresentam posições relativamente favoráveis.
O segundo recorte analítico foca as relações internas entre as organizações
civis de cada tipo (Tabela_2). Os resultados indicam que os atores
caracterizados por apresentarem organicidade e complexidade
desproporcionalmente maiores nas suas relações internas correspondem,
exatamente, àqueles que ocupam posições mais centrais na rede como um todo; e
isso aponta para uma estreita relação entre os modos de organização interna dos
diferentes tipos de entidades e os papéis por eles desempenhados no universo
das organizações civis. A rede interna das organizações populares é de longe a
mais densa em termos do número de vínculos, aquela em que há mais intermediação
interna ' algumas organizações populares atuam como pontos de passagem
necessários para todas as outras ' e em que os atores estão relativamente mais
próximos entre si. Com redes consideravelmente maiores, obstando a proximidade
interna, articuladoras e ONGs apresentam feições semelhantes, embora atenuadas.
Cabe destacar que a ausência de dependência constitui traço complementar da
maior organicidade e horizontalidade dos vínculos internos das organizações
populares e das articuladoras; porém, diferentemente desses tipos de
organizações civis, verifica-se significativa assimetria de poder ou
dependência no caso das relações entre ONGs. O assunto será retomado na seção
seguinte.
O terceiro recorte ilumina os vínculos preferenciais das organizações civis ao
atentar para as relações estabelecidas entre tipos diferentes (Tabela_3). A
análise procede por meio do recorte das redes que unem tipos de organizações
civis em pares ' ONGs com articuladoras, ONGs com organizações populares e
assim por diante ', de modo a verificar tanto os vínculos mais "valiosos" ou
procurados por diversos atores quanto as relações mais "eficientes" em termos
de ampliação da capacidade de atuação dos tipos de organizações nelas
envolvidos. Foram considerados apenas os ganhos obtidos em cada um dos
cruzamentos entre dois tipos de organizações civis, cancelando os resultados
oriundos das redes internas; isto é, consideram-se apenas os saldos da
interseção entre duas redes. A tabela apresenta (i) os vínculos novos que
surgiram para cada combinação em pares por tipos de organizações civis; (ii) os
ganhos de intermediação trazidos por esses vínculos; e (iii) a integração ou
aproveitamento real das relações que potencialmente poderiam existir em cada
cruzamento. Neste caso, os tipos compreendidos na categoria Demais Atores
figuram de modo separado, ou seja, são apresentados individualmente e não de
forma agregada. Os resultados são apenas um ranking simples que ordena, dos
melhores aos piores resultados, cada uma das três medidas para cada tipo de
ator central.
Como seria de esperar, as entidades centrais cultivam vínculos preferenciais
com atores igualmente centrais e desenvolvem entre si uma integração mais ampla
' maior número de vínculos possíveis que estão efetivamente presentes. Assim,
organizações populares encontram-se mais integradas ou aproveitam mais a
potencialidade das relações que estabelecem com articuladoras e ONGs;
articuladoras guardam maior integração com ONGs e organizações populares; e,
por sua vez, ONGs com organizações populares e articuladoras. Embora em patamar
inferior, também é possível apreciar certa relevância das relações entre
organizações populares, articuladoras e ONGs, com atores de centralidade média
como fóruns e entidades assistenciais. O quadro pode ser completado se trazido
à tona que a procura pelas organizações mais centrais, de modo especial as
articuladoras, também é dominante no caso das entidades intermediárias e
periféricas. De fato, conforme mostrado alhures (Gurza Lavalle, Castello e
Bichir, 2006), o caráter dominante da procura por organizações mais centrais
por parte de entidades periféricas é consistente e diferenciado ' entidades
procuradas variam segundo o tipo de ator periférico ' ao ponto de tornar
evidente que sua estratégia de construção de relações obedece ao desafio de
equacionar quais os vínculos a serem privilegiados para atingir os benefícios
veiculados nos circuitos centrais.
INTERPRETANDO DIFERENTES PROTAGONISMOS
A condição central das organizações civis, a alta densidade dos seus vínculos
internos, bem como os padrões de vínculos preferenciais, encobrem significados
diversos, dependendo do tipo de organização civil considerada. Por outras
palavras, é possível ocupar posições similares na rede e apresentar feições
relacionais semelhantes por motivos diferentes. O exame integrado dos
resultados dos três recortes analíticos para cada uma das três organizações
civis mais centrais, complementado com a análise dos respectivos sociogramas24,
permitirá iluminar esses motivos e mostrará o significado dos distintos padrões
de centralidade ou protagonismos que caracterizam essas entidades.
As Organizações Populares
A despeito do relativo "sumiço" das organizações populares na literatura, esse
tipo de ator é o de maior centralidade no universo das organizações civis de
São Paulo, especialmente devido ao fato de ser muito procurado e, em menor
medida, por ele desenvolver estratégias ativas de construção de relações
(Tabela_1). Tal posição privilegiada e, como será visto adiante, a existência
de vínculos com o tipo de entidade mais periférica fazem com que as
organizações em questão se destaquem por sustentar relações assimétricas no
universo das organizações civis.
A articulação das organizações populares entre si parece mais relevante para
sua estratégia de atuação ' centrada no protesto ' do que a conexão com outros
tipos de entidades. A rede interna dessas organizações é a mais coesa entre
todas as analisadas e apresenta notável densidade de relações, atores com forte
poder de intermediação e grande proximidade entre seus integrantes, cujas
posições na rede são as mais equilibradas (Tabela_2). Tais características
podem ser melhor compreendidas a partir do Sociograma_125. O papel ativo das
organizações populares na sua articulação interna dá lugar a uma rede
binuclear: praticamente todos os vínculos existentes são constituídos em
relação a dois atores centrais ' o MST e o Movimento dos Sem-Teto do Centro
(mstc)**. O MST é a ponte que vincula movimentos nacionais, como o Movimento
Nacional de Luta pela Moradia (mnlm), e movimentos de índole rural, como o
Movimento dos Pequenos Agricultores (movpeqagri), com movimentos urbanos
locais, quer dizer, da cidade de São Paulo, nucleados em torno do segundo ator
' Movimento de Moradia do Centro (mmc) ou Defesa do Favelado (mdf), por
exemplo. Neste caso, cumpre ressaltar, a referência central está no ator de
maior capacidade de mobilização e visibilidade pública, o MST, e não em atores
que atendem demandas localizadas ou apresentam afinidades temáticas, como
acontece com praticamente todos os tipos de organizações civis.
Quanto aos vínculos privilegiados pelas organizações populares com outras
organizações civis (Tabela_3), a proximidade com as ONGs está inscrita na
origem das próprias ONGs como assessoras de movimentos sociais, mas a
proximidade das organizações populares com as articuladoras é fato mais recente
que não tem sido apontado na literatura. Há, ainda, outros resultados
inesperados: organizações populares conferem importância mínima às relações com
associações de bairro e, por sinal, trata-se de uma indiferença completamente
recíproca (Gurza Lavalle, Castello e Bichir, 2006). Paradoxalmente, entre os
três tipos de entidades mais centrais, as organizações populares apresentam
relativamente mais vínculos com as associações comunitárias, o que contribui
para a compreensão do caráter assimétrico de suas relações quando olhadas do
primeiro recorte analítico.
A trajetória histórica das organizações populares levaria a supor a presença de
maior (ou pelo menos de alguma) proximidade com entidades de base popular, como
as associações de bairro; ainda mais se considerado que boa parte das
organizações populares lida com a questão da moradia ' metade no caso do
Sociograma_1. Embora a análise evidencie que as organizações populares
continuam a ocupar posição protagônica no seio das organizações civis ' em que
pese o foco dominante da literatura em outro tipo de atores ', a perda de
relevância das associações de bairro para essas organizações, e vice-versa,
sugere deslocamentos inéditos no plano da ação coletiva durante os anos pós-
transição; deslocamentos que ganharão contornos mais precisos mediante a
interpretação dos outros tipos de organizações civis centrais.
As Articuladoras
Não surpreende a alta centralidade das articuladoras (Tabela_1) dada sua
qualidade de entidades cujos públicos são outras entidades. Os efeitos de seu
caráter de organizações de sócios ou membros institucionais transparecem na
análise relacional: elas são relativamente distantes do universo mais amplo de
entidades com as quais mantêm relações e, em se tratando de entidades assim
centrais, acusam capacidade limitada de alcançar outros atores ' plausivelmente
além dos seus próprios membros. Como as organizações populares, e por motivos
semelhantes, as articuladoras sustentam relações marcadas pela assimetria.
As relações internas das articuladoras iluminam com maior precisão sua forma de
operação. De um lado, sustentam entre si relações das mais equilibradas
(ausência de dependência), configurando uma rede notavelmente densa, de outro,
seus padrões internos de relacionamento obedecem a clivagens claras, diminuindo
a proximidade dos seus vínculos (Tabela_2). O Sociograma_226 permite visualizar
tais padrões. Nele se verifica que as articuladoras ordenam suas estratégias de
relacionamento por afinidades temáticas, funcionais e programáticas, não raro
parcialmente sobrepostas. O nicho das entidades que tratam da questão de gênero
é caso de afinidade eminentemente temática, e aquele das articuladoras de
associações de bairro supõe clara afinidade funcional; entretanto, as sub-redes
de movimentos populares, financiadoras do Terceiro Setor e articuladoras
religiosas combinam com peso relevante mais de uma afinidade. Nos últimos três
casos, as articuladoras de cada nicho trabalham em prol de atores com um perfil
específico, e, a um só tempo, disputam e representam concepções diferentes do
sentido da ação coletiva. Por sua vez, as relativas distância e dificuldade de
alcançar atores decorrem do fato de os nichos dependerem de entidades-ponte
(gatekeepers) para se vincularem a seus pares orientados por outras afinidades;
notadamente, a União Brasileira de Mulheres (ubm) para as articuladoras do
movimento de gênero, a Confederação Nacional de Associações de Moradores
(conam) para aquelas das associações de bairro, a Central dos Movimentos
Populares (cmp) para as dos movimentos, e a Rede Brasileira das Entidades
Assistenciais Filantrópicas (rebraf) para as articuladoras religiosas.
O exame das relações que as articuladoras estabelecem com outras associações
traz à tona algumas feições que complementam a compreensão do papel deste novo
ator. As relações entre articuladoras e ONGs constituem caso único em que, nas
relações entre dois tipos de atores, coincidem reciprocidade plena e
importância máxima: para todas as medidas de inter-relação, as ONGs são os
vínculos mais relevantes para as articuladoras e vice-versa (Tabela_3). A
aliança exprime em boa medida a origem das próprias articuladoras e,
simultaneamente, mostra seus vínculos mais recorrentes, reforçando seu perfil
temático. Em segundo plano, as entidades em questão estabelecem vínculos com
organizações populares e, depois, com organizações civis de condição
intermediária ' fóruns e entidades assistenciais. Cumpre notar que a existência
de articuladoras de associações de bairro franqueia o seu acesso aos atores
mais centrais da rede; fato evidenciado não apenas pela relativa importância
das associações de bairro para as articuladoras, mas, em perspectiva inversa,
pelo caráter privilegiado das relações construídas pelas primeiras com as
segundas (Gurza Lavalle, Castello e Bichir, no prelo).
Os esforços de organizações civis orientados para a construção de novos atores
' articuladoras ' foram notavelmente bem-sucedidos. De fato, a ausência de
relações entre organizações populares e associações de bairro e os achados
apresentados anteriormente apontam não apenas para a existência de mudanças de
envergadura na ação coletiva, mas também para a plasticidade da própria ação
coletiva e para a capacidade de inovação institucional das organizações civis
no sentido de incrementarem sua escala de atuação. Mais: dadas suas funções,
importância e o custo de criar e manter entidades com semelhante perfil, a
composição do universo das articuladoras acaba por projetar, como em jogo de
sombras, as constelações de atores com maior peso na disputa pelo sentido da
ação coletiva perante o Estado e perante os próprios atores sociais ' o chamado
campo de esquerda popular, o empresariado e as igrejas.
As ONGs
A análise relacional revela que as atividades de advocacy das ONGs guardam
conexão com uma forma de centralidade passível de ser contraposta àquela
própria das organizações populares e das articuladoras: a centralidade das
últimas encerra um componente passivo, enquanto a das ONGs segue um perfil
ativo. Elas são o tipo de organização civil que mais constrói vínculos ' mais
procura do que é procurado ', além de ser menos próximo das organizações que o
citam do que daquelas com as quais entabula ativamente relações (Tabela_1). A
centralidade ativa torna esse tipo de entidade o mais eficiente quanto à
capacidade de alcançar outras organizações ou locais da rede. Outra feição
distintiva é o caráter marcadamente simétrico das relações construídas pelas
ONGs, pois são as entidades que criam menor dependência nos seus
relacionamentos dentro do universo das organizações civis.
A rede interna de ONGs é notavelmente coesa, a despeito de ser muito numerosa
(Tabela_2). Seu perfil como construtoras ativas de relações e como entidades de
advocacy adquire concreção, no plano das suas relações internas, como uma
especialização temática acentuada que, no entanto, vem acompanhada mais uma vez
da maior eficiência para alcançar diferentes atores, mas agora acrescida da
maior disponibilidade de caminhos rápidos para alcançá-los. Apesar da coesão
interna, trata-se de uma rede relativamente descentrada. O Sociograma_327
permite verificar, precisamente, que a especificidade das relações entre ONGs
está na constituição de vínculos múltiplos, dirigidos para organizações civis
que trabalham em prol do mesmo tema; por exemplo, os nichos compostos por
entidades dedicadas aos temas da educação, da habitação, de gênero e raça28.
Também se observam sub-redes temáticas que não apresentam interação com os
demais nichos: violência ou crianças deficientes. Assim, a lógica temática a um
só tempo constrange e viabiliza a interação de determinados nichos com a rede
mais ampla de ONGs. A despeito de as sub-redes isoladas e as ONGs se
articularem seguindo uma lógica temática, a construção de vínculos múltiplos
inibe a presença de atores-ponte ou intermediários indispensáveis ' como ocorre
no caso das articuladoras. À coesão e ao perfil temático e descentrado da rede
é preciso acrescer mais duas feições. Em parte devido ao grande número de
entidades na rede interna das ONGs, a proximidade entre seus integrantes é
baixa e, ao contrário do que ocorre nas relações dessas entidades com as outras
organizações civis, os vínculos internos são assimétricos, ou seja, as relações
entre ONGs são consideravelmente hierárquicas.
Quando observados os vínculos privilegiados pelas ONGs com outros tipos de
organizações civis (Tabela_3), emerge primeiro sua aliança com as articuladoras
' já abordada ', e, depois, os vínculos estabelecidos com organizações
populares, seguidos daqueles construídos com fóruns e entidades assistenciais.
Relações com associações que obedecem à lógica de demandas populares
específicas, como as comunitárias e associações de bairro, mostram-se pouco
importantes. Por isso, diferentemente das organizações populares e das
articuladoras, ONGs não acusam relações assimétricas no conjunto da rede.
A idéia de as ONGs trabalharem em rede encontra-se amplamente presente na
literatura, todavia, quando assumidos os pressupostos da análise de redes, tal
afirmação torna-se um truísmo, visto que o ponto de partida é o caráter
relacional do mundo. Os resultados permitem qualificar melhor o perfil das ONGs
como construtoras de vínculos ou atores centrais ativos. A combinação entre a
simetria das relações das ONGs com a rede como um todo e a dependência gerada
pelos vínculos com seus pares contrasta com o padrão inverso dos outros dois
tipos de organizações civis centrais que aliam horizontalidade nas relações
internas com aguda assimetria nos vínculos estabelecidos dentro do conjunto das
organizações civis. Semelhante contraste decorre não apenas da centralidade
ativa, mas de seletividade que privilegia apenas outras entidades centrais '
entidades periféricas e intermediárias não são procuradas. De fato, a aliança
entre ONGs e articuladoras reforça esse perfil ao sinalizar emblematicamente a
trajetória das primeiras e a consolidação do seu protagonismo no contexto pós-
transição: originadas como entidades de assessoria aos movimentos populares
(organizações populares), acabaram por se desvencilhar da sua missão inicial
assumindo funções próprias na disputa da agenda pública e da formulação,
fiscalização e, por vezes, implantação de políticas públicas. As funções
assumidas e politicamente construídas ao longo dessa trajetória correm
paralelas a sua acentuada especialização temática e a sua diferenciação e
hierarquização internas.
CONCLUSÃO
A interpretação dos achados apresentados neste artigo ilumina de ângulos
diversos a atuação das organizações civis mais centrais e aponta para lacunas
no estado do conhecimento desses atores; lacunas que, para serem sanadas,
exigem a construção coletiva de uma vasta agenda de pesquisa, na qual
abordagens relacionais constituem estratégias conceituais e metodológicas de
enorme valia. A abordagem relacional mostra que ' pelo menos em São Paulo ' o
universo das organizações civis é hierárquico e desigual quanto às capacidades
de ação e de interlocução. Organizações populares, articuladoras e ONGs são os
grandes protagonistas da rede, com padrões de centralidade diferenciados, quer
dizer, os atores que, por motivos diferentes, se apresentam como referência
para entidades menos centrais ou francamente periféricas. Por sua vez, as
organizações civis mais centrais são simultaneamente aquelas com investimentos
maiores na construção de relações com seus próprios pares, e aquelas mais
procuradas pelas próprias entidades centrais, bem como pelas entidades
periféricas e intermediárias.
Neste artigo há evidências tanto do caráter impreciso ou apressado de alguns
consensos na literatura quanto de transformações de envergadura sem tratamento
ou estudo adequado. Movimentos sociais (organizações populares), por exemplo,
distam de ter submergido no marasmo em que os prostrou a literatura a partir da
onda de balanços que marcara a passagem dos anos 1980 para a década seguinte.
Eles são os atores mais centrais no universo das organizações civis pesquisadas
e, no entanto, experimentaram transformações no seu perfil. De outro lado, as
articuladoras são produto notável de uma estratégia bem-sucedida de criação de
atores que reflete o adensamento e diferenciação funcional do universo das
organizações civis. Sua centralidade não apenas atesta a capacidade de
construção institucional das organizações civis, em particular das ONGs, mas
ilumina a plasticidade da ação coletiva no sentido de inovar para escalar
demandas e problemas, bem como para representar interesses e perfilar agendas
compartilhadas por constelações amplas de atores sociais.
Hierarquização e desigualdades estruturais na capacidade de ação e comunicação,
mas sobretudo o caráter cumulativo das vantagens estruturais, apontados nestas
páginas, sugerem críticas e levantam uma série de problemas para a teoria da
sociedade civil, bem como a sua junção com o debate em curso no campo da teoria
democrática ' não abordados aqui. O quão corrosivos possam eventualmente ser
achados como estes depende, em boa medida, do grau de exigências normativas
introduzidas pela teoria, bem como do papel que tais exigências desempenham no
diagnóstico do mundo. Seja como for, os resultados são persuasivos sobre dois
aspectos passíveis de interpretação a partir de diferentes registros teóricos:
primeiro, os alcances da atuação das organizações civis mal podem ser
compreendidos se desconsiderados os processos de diferenciação funcional
impulsionados intencionalmente por esses atores para incrementar suas chances
de incidência nas instâncias pertinentes de tomada de decisões ou na
conformação da agenda pública; segundo, a ação coletiva no contexto da pós-
transição acusa mudanças relevantes, mas sem abordagens sistemáticas e
comparativas do universo das organizações civis, o tratamento do assunto carece
de parâmetros e corre o risco de descansar em apreciações impressionistas.
NOTAS
1. Entre 1970 e 1990, as contribuições privadas e governamentais transferidas
mediante as ONGs do hemisfério norte a suas homólogas do hemisfério sul
aumentaram significativamente, passando de 1.000 a 7.200 milhões de dólares. De
fato, no início da década de 1990, 13% das contribuições oficiais do hemisfério
norte para o hemisfério sul eram alocadas por intermediação das ONGs (PNUD,
1993:100 e 106).
2. Para uma exceção em que são submetidos à análise conflitos, diferenças e
eventuais implicações negativas das sociedades civis reais, ver o volume
organizado por Alexander (1998).
3. Dois componentes normativos definem as fronteiras da sociedade civil na
literatura, a saber, autolimitação e autonomia dos atores societários (ver
Cohen e Arato, 1995; Olvera, 2003). Não se sustenta neste artigo qualquer
crítica geral ao papel da teoria na construção de conhecimento, apenas atenta-
se para os custos cognitivos de certas formulações teóricas de caráter
normativo da chamada sociedade civil.
4. Para um exame autorizado das vantagens analíticas da análise de redes no
estudo dos movimentos sociais, ver o volume organizado por Diani e McAdam
(2003); em relação ao debate no Brasil, ver Gurza Lavalle, Castello e Bichir
(2006).
5. Informações metodológicas mais detalhadas e outros resultados da pesquisa
podem ser encontrados em Houtzager et alii (2002), Houtzager, Gurza Lavalle e
Acharya (2003; 2004); Gurza Lavalle, Houtzager e Acharya (2004); Gurza Lavalle,
Houtzager e Castello (2006a; 2006b).
6. Fóruns são espaços de encontro e adensamento de agendas temáticas para
orientar a atuação de organizações civis. Entidades assistenciais trabalham
prestando serviços diretos a terceiros, concebidos como públicos-alvo a partir
de critérios de vulnerabilidade. Associações de bairro são atores com
identidade territorial voltados para a projeção de demandas ao poder público a
respeito de infra-estrutura urbana. Associações comunitárias trabalham para os
próprios membros da associação seguindo a lógica das associações mutualistas ou
de ajuda mútua, e constituem nichos de convivência específicos (centro da
juventude, clubes de idosos, de jogadores de bocha etc.). Para uma exposição
detalhada da tipologia expandida, ver Gurza Lavalle, Castello e Bichir (2006).
7. Por exemplo: "[...] as ONGs passaram a ter muito mais importância nos anos
90 do que os próprios movimentos sociais" (Gohn, 2003:22). Ver também Paz
(2005:8-11).
8. Na caracterização de Carvalho (1998:87-88), as ONGs regem-se pelo princípio
da solidariedade, por ações de multiple advocacy, de empowerment, e determinam
fortemente a agenda pública. A importância das redes ou a caracterização do
estilo de trabalho das ONGs com base na noção de redes é constante na
literatura (Fernandes, 1994:128-131; Scherer-Warren, 1996; Landim, 1996:xiv).
9. Há quem ainda descreva a relação entre as ONGs e seus beneficiários em
termos que parecem mais apropriados para as décadas de 1970 e 1980: "[...] na
maior parte [trabalhando] junto a grupos populares discriminados ou
marginalizados [...]" (Gohn apud Coelho, 2000:xv). Também até há alguns anos e
pelas prioridades das agências financiadoras "[...] a razão de ser de muitas
ONGs estava associada a sua aliança com organizações populares" (Casanovas
Sainz e García Chacón, 2000:63-67). Ver o trabalho de Landim (2002) para uma
reconstrução notável da gênese das ONGs como entidades de assessoria e apoio
nos anos 1970, e sua diversificação temática e adensamento organizativo na
forma de sub-redes, o que teria levado essas entidades ' em processo tortuoso '
a assumir para si a identidade de ONGs e a se desvencilhar progressivamente do
seu enraizamento (e indiferenciação) nos atores populares. A mesma autora
afirma, no entanto, que o contato com grupos populares continua a ser relevante
para as ONGs (Landim, 1998).
10. É possível, ainda, encontrar especificações dos beneficiários do trabalho
das ONGs em registro semelhante ao da assistência, próprio de entidades
beneficentes (ver Coelho, 2000:60).
11. Para um balanço acessível das principais perspectivas, ver Gohn (1997).
12. Ver, por exemplo, os balanços desenvolvidos por Cardoso (1994:81-90), Cunha
(1993:134-135) e Nunes (1987:92-94).
13. Segundo Gohn (2003:13-32), por exemplo, nos anos 1990 não há processos de
mobilização de massa, mas de mobilização pontual dentro da lógica da
participação cidadã, e não do ativismo popular coletivo.
14. Embora boa parte das articuladoras seja pensada como ONG, algumas poderiam
ser assimiladas às organizações populares; porém, a atuação dessas entidades na
coordenação e representação de interesses de outras organizações civis, e não
na mobilização direta de segmentos da população, valida a distinção. De modo
emblemático, todas as articuladoras de movimentos sociais contempladas na
amostra nasceram após a transição: Central de Movimentos Populares (1993),
Fórum dos Mutirões de São Paulo (1992), União dos Movimentos de Moradia (1987)
e Associação dos Movimentos de Moradia da Região Sul (1994).
15. No Brasil, trata-se de estratégia analítica de incipiente difusão. Os
trabalhos de Marques (2000; 2003) são pioneiros e constituem a referência mais
relevante de aplicação bem-sucedida da análise de redes ao campo das políticas
públicas.
16. Nesse sentido, a análise de redes transforma em um dado estrutural aquilo
que as teorias dos movimentos sociais vinculadas às perspectivas da mobilização
de recursos e do processo político têm apontado sistematicamente, a saber, o
contexto ou ambiente é fundamental para entender a ação coletiva (ver Davis et
alii, 2005:4-40). Contudo, a análise de redes apresenta a vantagem analítica de
contemplar os outros atores não como "entorno" ou dado externo, mas como parte
da definição estrutural do ator em questão.
17. Para uma discussão conceitual a respeito das medidas de centralidade e
coesão utilizadas usualmente nas análises de redes sociais, ver Hanneman
(2001).
18. No processamento das medidas foi utilizado o software Ucinet (Borgatti,
Everett e Freeman, 2002).
19. Aqui se resolveu diferenciar a origem e o destino dos vínculos. Apenas no
caso de algumas medidas, por motivos técnicos, as relações presentes na rede
foram consideradas de modo simétrico.
20. No trabalho de campo, foram entrevistadas 229 organizações civis, mas
devido a critérios metodológicos apenas 202 foram contempladas na análise de
redes.
21. São bem conhecidas as circunstâncias em que a técnica bola de neve oferece
vantagens metodológicas (ver Atkinson e Flint, 2003; Goodman, 1961; Sudman e
Kalton, 1986). Para uma análise das vantagens de se utilizá-la especificamente
no estudo de organizações civis, ver Houtzager, Gurza Lavalle, Acharya (2004:
288-291), e Gurza Lavalle, Houtzager e Acharya (2005). Informações mais
detalhadas sobre os critérios de construção da amostra utilizando a bola de
neve podem ser consultadas em Houtzager, Gurza Lavalle e Acharya (2003).
22. Todos os vínculos levantados constituem, efetivamente, uma única rede ou
componente. Para uma análise das suas principais características, ver Gurza
Lavalle, Castello e Bichir (2006).
23. Todas as medidas a serem apresentadas foram estimadas mediante a aplicação
de diferentes ponderadores para controlar os efeitos decorrentes do peso dos
distintos tipos de organização civil na amostra. Aqui são apresentadas apenas
as porcentagens calculadas a partir das médias ponderadas e sempre em relação
aos Demais Atores.
24. Nos sociogramas, cada ponto representa uma organização civil e os traços
representam as relações existentes entre essas organizações. O comprimento das
linhas e a representação visual da posição do ator no desenho não representam
qualquer distância entre esses atores, mas apenas a presença ou ausência de
vínculo.
25. Atores: mdf ' Movimento de Defesa dos Favelados; mmc ' Movimento de Moradia
do Centro; mnlm ' Movimento Nacional de Luta pela Moradia; moab ' Movimento dos
Atingidos por Barragens; movpeqagri ' Movimento dos Pequenos Agricultores; mst
' Movimento dos Sem-Terra; mstc ' Movimento dos Sem-Teto do Centro; mtst '
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto; muf ' Movimento de Unificação das
Favelas; ulc ' Unificação de Lutas de Cortiços.
26. Atores: abong ' Associação Brasileira de ONGs; abrinq ' Fundação Abrinq;
ammrs ' Associação dos Movimentos de Moradia da Região Sudeste; artmubr '
Articulação de Mulheres Brasileiras; artmusp ' Articulação de Mulheres de São
Paulo; caricanduva ' Câmara do Vale do Aricanduva; ccngo ' Collective
Consultation of NGOs; ceaal ' Conselho de Educação de Adultos da América
Latina; ceres ' Coalition for Environmentally Responsible Economies; cladem '
Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher; cmp '
Central de Movimento Populares; cofrebasgo ' Comissão da Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; comsolidar ' Comunidade
Solidária; conam ' Confederação Nacional de Associações de Moradores; consabesp
' Conselho Coordenador das Sociedades Amigos de Bairro, Cidades e Vilas do
Estado de São Paulo; cooperapic ' Cooperativa de Promoção à Cidadania;
correviva ' Corrente Viva; efc ' European Foundation Center; espforasse '
Espaço Formação e Assessoria; ethos ' Ethos; facesp ' Federação das Associações
Comerciais do Estado de São Paulo; facm ' Federação de Associações Cristãs de
Moços; fecoc ' Frente Continental de Organizações Comunitárias; fedinterdh '
Federação Internacional de Direitos Humanos; fmsp ' Fórum dos Mutirões de São
Paulo; forempresa ' Fórum Empresa; gife ' Grupo de Institutos, Fundações e
Empresas; inantenas ' Instituto Antenas; infonte ' Instituto Fonte; isynergos '
Instituto Synergos; lope ' Rede Latino-Americana; maeb ' Movimento das
Associações e Entidades de Bairro; movespnac ' Movimento Espírita Nacional
(órgão); movnacdhum ' Movimento Nacional de Direitos Humanos; polonorte ' Pólo
Norte; poloregion ' Pólo Regional; rdnacparte ' Rede Nacional de Parteiras;
rebraf ' Rede Brasileira das Entidades Assistenciais; redegri ' Rede GRI
(Global Reporting Initiative); redelatsau ' Rede Latino Americana de Saúde;
refemsaude ' Rede Feminista de Saúde; ubm ' União Brasileira de Mulheres; umm '
União dos Movimentos de Moradia; unamovpop ' União Nacional de Movimentos
Populares; use ' União das Sociedades Espíritas; wings ' Wings.
27. Atores: abdecegos ' Associação Brasileira de Desporto para Cegos;
acaocidada ' Ação da Cidadania; acaoeduca ' Ação Educativa; actionaid ' Action
Aid; agende ' Ações em Gênero, Cidadania e Desenvolvimento; ahortoflor '
Associação Horto Florestal; Alovida ' Alô Vida; Amam ' Associação das Mulheres
que Amam Mulheres; amaosmine ' Associação Mãos Mineiras; amencar ' Amparo ao
Menor Carente; apoio ' Associação Paranaense de Orientação, Integração e
Ofícios; asbereana ' Associação Bereana; aschicomen ' Associação Chico Mendes;
assevoldh ' Associação Evoluir e Desenvolvimento Humano; asspe ' Associação
Santista de Pesquisa, Prevenção e Educação em DST/Aids; asspromsluis '
Associação Pró-Moradia do Jardim São Luis; billings ' Billings que Eu te Quero
Viva; caap ' Centro de Assessoria à Auto-Gestão Popular; cacumuneg ' Casa da
Cultura da Mulher Negra; caico ' Centro de Apoio à Iniciativa Comunitária;
capacitsol ' Capacitação Solidária; casasolida ' Casa da Solidariedade;
catddecarg ' Católicas pelo Direito de Decidir ' Argentina; catddecbol '
Católicas pelo Direito de Decidir ' Bolívia; catddechil ' Católicas pelo
Direito de Decidir ' Chile; catddecmex ' Católicas pelo Direito de Decidir '
México; catdirdec ' Católicas pelo Direito de Decidir; cdefcripmp ' Centro de
Defesa da Criança Padre Marcos Pordrini; cdi ' Comitê para a Democratização da
Informática; cecir ' Centro Cidra Romano; cedac ' Centro de Desenvolvimento
Agroecológico do Cerrado; cedeca ' Centro de Defesa dos Direitos da Criança e
do Adolescente; cedhep ' Centro de Direitos Humanos de Educação Popular; ceep '
Centro de Educação, Estudos e Pesquisas; cengasgarc ' Centro Gaspar Garcia;
cenpec ' Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária;
cenvolunt ' Centro de Voluntariado; cesec ' Centro de Estudos de Segurança e
Cidadania; cfl ' Coletivo Feminista de Lésbicas; coletivfem ' Coletivo de
Feministas Lésbicas; comitebet ' Comitê Betinho; corsa ' Cidadania, Orgulho,
Respeito, Solidariedade e Amor; cria ' Centro de Referência em Informação
Ambiental; criola ' CRIOLA; croph ' Centro de Promoção Humana; cruzaproin '
Cruzada Pró-Infância; csnsbparto ' Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto;
csparelhe ' Centro Social de Parelheiros; cssaojose ' Centro Social São José;
defendasp ' Defenda São Paulo; ecos ' Espaço, Cidadania e Oportunidades
Sociais; entrafrate ' Entraide et Fraternité (Bélgica); entreamigo '
Entreamigos; escfuturo ' Escola do Futuro; esplar ' Centro de Pesquisa e
Assessoria; falanegao ' Fala Negão; falapreta ' Fala Preta; fase ' Federação de
Órgãos para Assistência Social e Educacional; fundorsa ' Fundação Orsa;
funfeale ' Fundação Fé e Alegria; funfrafran ' Fundação Francisca Franco;
funprojtra ' Fundação Projeto Travessia; geledes ' Instituto da Mulher Negra;
gpicenvida ' Grupo de Incentivo à Vida; gpidentid ' Grupo Identidade;
gptornunma ' Grupo Tortura Nunca Mais; gtpos ' Grupo de Trabalho e Pesquisa em
Orientação Sexual; ialode ' Ialodê (Bahia); ibase ' Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas; ibeac ' Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio
Comunitário; inavisala ' Instituto Avisa Lá; incinelem ' Instituto 5 Elementos;
indestrab ' Instituto de Desenvolvimento do Trabalhador; ingovciabc ' Instituto
de Governo e Cidadania do ABC; inkaplan ' Instituto Kaplan; inremivida '
Instituto Recicle Milhões de Vidas; insakatu ' Instituto Akatu; inspconvio '
Instituto São Paulo contra a Violência; inspfreire ' Instituto Paulo Freire;
insterra ' Instituto Terra; instgea ' Instituto GEA ' Ética e Meio Ambiente;
integra ' Asociación Cultural Integra; isoudapaz ' Instituto Sou da Paz; its '
Instituto de Tecnologia Social; jusglobal ' Justiça Global; lac ' Liga de
Assessoria Comunitária; moc ' Movimento de Organização Comunitária (Bahia);
motiva ' Instituto Motiva; mova ' Movimento de Alfabetização; movmenrua '
Movimento de Meninos e Meninas de Rua; movneguni ' Movimento Negro Unificado;
mriscurb ' Movimento de Prevenção aos Riscos Urbanos; mundoafro ' Mundo Afro
(Uruguai); musa ' Mulher e Saúde (Belo Horizonte); netmal ' Núcleo de Estudos
Tecnológicos da Mulher na América Latina; novib ' Oxfam Novib; numorung '
Núcleo Morungaba; oaf ' Organização do Auxílio Fraterno; orgmuntort '
Organização Mundial Contra a Tortura; oxfam ' OXFam International; polis '
Instituto Polis; politevo ' Associação Politevo Rede Local de Economia
Solidária; prabiru ' Instituto Peabirú; proaung ' Pro Aung; projaprend '
Projeto Aprendiz; promundo ' Pró-Mundo; redejovem ' Rede Jovem; redemulher '
Rede Mulher; redesocjdh ' Rede Social de Justiça e Direitos Humanos; renadvpop
' Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares; sof ' Sempre Viva
Organização Feminina; sorribrasil ' Sorri-Brasil; sos ' SOS Mata Atlântica;
umoutrool ' Um Outro Olhar; unimulher ' União de Mulheres; usina ' Centro de
Trabalhos para o Ambiente Habitado; vereda ' Centro de Estudos em Educação;
vitae ' Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social; vivacentro ' Viva o
Centro; votoconsci ' Voto Consciente.
28. Foram destacados apenas os maiores nichos temáticos para permitir a
visibilidade da informação apresentada.