Um espaço racializado: engenharia social em Jerusalém
O projeto sionista de remover ou "transferir" da Palestina os cidadãos
palestinos começou, mas não terminou, em 1948; ele continua até hoje. Desde
1980, Jerusalém tem sido o foco central desse processo de transferência: a
cidade é o núcleo do projeto de remover, coercitivamente, comunidades
palestinas há muito estabelecidas para dar lugar a novos moradores judeus. É
também o centro político, cultural e geográfico do conflito entre o sionismo e
os palestinos, e é , por isso, um lugar privilegiado para a compreensão de como
a separação das duas populações (condição necessária de qualquer solução do
conflito pela criação de dois Estados) foi sistematicamente sabotada e
impossibilitada, por várias décadas, pelas políticas israelenses. De fato, a
ideia de que Israel teria qualquer interesse em compartilhar (ainda que de modo
desigual) o território da Palestina histórica com os palestinos desaba diante
do que está acontecendo em Jerusalém - o que faz da cidade uma espécie de
microcosmo da arena mais ampla do conflito. A cidade não é apenas esse
microcosmo, no sentido de que os conflitos espaciais que ocorrem por toda a
Cisjordânia se repetem, aqui, numa escala menor e mais intensa: para que a
criação de dois Estados tenha alguma chance de sucesso, Jerusalém teria que
ser, necessariamente, compartilhada pelos dois povos. Mas o processo em curso
em Jerusalém tem tornado impossível, de forma intencional, essa vida em comum.
O que vemos na cidade não é uma lógica de separação - muito menos uma lógica de
igualdade - mas, sim, uma política metodicamente implementada de erradicação de
um povo e sua substituição por outro. Essa lógica é posta em prática em dois
níveis: o geográfico (envolvendo a reorganização do espaço social) e o
burocrático (envolvendo o statuse os direitos de habitação de indivíduos e
famílias). Tratarei aqui de ambos os processos.
Para compreender a reorganização geográfica de Jerusalém pelo governo
israelense é necessário lembrar que a cidade foi divida durante e após a guerra
de 1948, que resultou na eliminação da Palestina e na criação do Estado de
Israel. Ao fim dos combates, a parte ocidental da cidade ficou sob controle
israelense. A parte oriental, junto com o restante da Cisjordânia, ficou sob
controle da Jordânia. À época, a assim chamada Jerusalém Oriental compreendia a
área da Cidade Velha e alguns poucos bairros afastados, totalizando um pouco
mais de 5 quilômetros quadrados. Depois da guerra de 1967, na qual Israel
assumiu controle de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia (e da Faixa de Gaza),
os israelenses expandiram as dimensões territoriais daquilo que chamavam de
Jerusalém ao acrescentar aproximadamente 70 quilômetros quadrados do território
da Cisjordânia aos limites municipais da cidade1. Em 1980, reivindicaram também
a anexação desse território a Israel. De fato, mais de 90% da parte oriental
daquilo a que a propaganda oficial israelense chama de "a capital eterna e
indivisível do povo judeu" é composto, na verdade, do território anexado a
Jerusalém depois de 19672. De acordo com o direito internacional, esse
território tem exatamente o mesmo statusque a Cisjordânia: território
militarmente ocupado, não sujeito à anexação unilateral3.
As terras que Israel ilegalmente acrescentou a Jerusalém foram tomadas de 28
vilarejos palestinos na Cisjordânia, e eram, na maior parte dos casos,
propriedades de pessoas que viviam nesses vilarejos, e não de habitantes
(palestinos) de Jerusalém. Em alguns casos, vilarejos inteiros, bem como a sua
população, foram anexados a Jerusalém. Na maioria dos casos, porém - e sempre
onde geograficamente possível - os planejadores israelenses expandiram os novos
limites municipais de Jerusalém até as casas de cidades e vilarejos palestinos
contíguos a Jerusalém, de forma que os pomares, as plantações de oliva e as
pastagens ficaram de um lado da divisa (dentro de Jerusalém), enquanto as casas
e os seus habitantes ficaram do outro lado (fora de Jerusalém). Segundo Meron
Benvenisti, o delineamento dos limites municipais da cidade a partir de 1967
foi explicitamente concebido para incorporar "o máximo de espaço vazio e o
mínimo de árabes"4.
A tentativa de Israel de incorporar território árabe sem os árabes produziu
vários resultados anômalos. A cidade de Numan, por exemplo, foi anexada ao
município de Jerusalém quando as fronteiras foram novamente definidas em 1967,
mas os seus habitantes foram classificados como residentes da Cisjordânia5. Ao
longo dos anos, eles entraram com inúmeros recursos junto ao Ministério do
Interior de Israel buscando mudar sua condição para a de residentes de
Jerusalém, já que sua cidade tinha sido absorvida para dentro das fronteiras
municipais expandidas. O ministério rejeitou sistematicamente esses recursos.
Em consequência, os residentes do vilarejo, tecnicamente residentes da
Cisjordânia, são considerados "pessoas vivendo ilegalmente em Jerusalém" pela
lei israelense, porque foi ali que suas casas passaram a se localizar quando os
israelenses redesenharam os limites municipais. Esses moradores vivem sob
constante ameaça de expulsão (a penalidade correspondente, de acordo com o
sistema israelense) há quarenta anos. Eles também estão excluídos da
infraestrutura e dos serviços públicos de Jerusalém. O acesso aos sistemas
educacional, médico e de infraestrutura, tais como o abastecimento de água,
liga o vilarejo à Cisjordânia - mas, uma vez que a cidade está "dentro" de
Jerusalém, todos esses arranjos são ilegais e estão sujeitos à interdição.
A expansão inicial de Jerusalém pós-1967 consistiu em linhas desenhadas em
papel. Os palestinos residentes podiam cruzar essas linhas até o início do
assim chamado processo de paz, em meados da década de 1990, quando Israel
institucionalizou, em primeiro lugar, a separação dos diferentes segmentos dos
territórios ocupados entre si (e em seguida subdividiu internamente cada um dos
territórios - dividindo a Cisjordânia nas áreas A, B e C, muitas vezes isolando
cada cidade ou vilarejo palestino do restante do território)6. A partir de
então, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia foram separadas uma da outra, bem como
de Israel e de Jerusalém Oriental, que até então tinha sido o centro da vida
palestina. Assim, antes dos Acordos de Oslo, os agricultores palestinos que
viviam "fora" de Jerusalém ainda podiam ter acesso à sua terra "dentro" de
Jerusalém (a não ser que a terra tivesse sido expropriada em favor de alguma
colônia judaica israelense). Hoje, no entanto, os israelenses já construíram
167 quilômetros do muro de separação que passa por dentro e em torno de
Jerusalém Oriental, separando-a fisicamente da Cisjordânia. O que era antes uma
linha num mapa é agora um enorme obstáculo físico.
De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas publicado em julho
de 2007, o traçado do muro, que passa por dentro e pelas vizinhanças de
Jerusalém, adentra a Cisjordânia e circunda os grandes assentamentos judeus
próximos à cidade, ao mesmo tempo em que exclui áreas palestinas densamente
povoadas que se encontram, no momento, dentro dos limites do município7. Além
disso, o muro passa pelo meio de comunidades palestinas situadas na área
municipal de Jerusalém, separando vizinhos e famílias. Existem hoje apenas doze
portões que dão acesso a Jerusalém pelo muro. Desses portões, apenas quatro
estão supostamente disponíveis aos residentes da Cisjordânia, que devem se
submeter a um processo exaustivo para obter uma autorização do Estado de Israel
para entrar em Jerusalém. Na verdade, toda uma geração de palestinos da
Cisjordânia jamais viu Jerusalém ou os territórios sagrados das suas religiões
(incluindo a Igreja do Santo Sepulcro e a Cúpula da Rocha).
Além disso, o fato de Israel negar aos palestinos o acesso aos locais de culto
é uma violação do direito internacional, assim como negar, em geral, a
liberdade de ir e vir no interior dos e entre os territórios ocupados. É
importante notar que nenhum controle de movimento se aplica aos colonos judeus,
que podem se deslocar de um lugar a outro livremente, em Israel, em Jerusalém e
na Cisjordânia. Para uns poucos palestinos afortunados que conseguem
autorização, atravessar o muro para entrar em Jerusalém pode facilmente levar
cerca de duas horas em qualquer uma das direções. "Os pedestres palestinos
passam pelo posto de controle em direção a Jerusalém [em Qalandia] devem
primeiro seguir por um corredor cercado de grades de metal", afirma um
relatório recente da ONU.
Quando chega ao posto de controle, os pedestres devem passar por cinco catracas
ou portas giratórias antes de terem as identidades checadas. Apenas uma pessoa
pode passar de cada vez por esses portões eletrônicos. De um local escondido, o
soldado que examina a área por meio de câmeras e monitores pode interromper o
movimento das catracas a qualquer momento. Após a verificação da identidade,
todos os pertences do pedestre são vistoriados.
Não há , segundo o relatório, nenhum tipo de contato entre os palestinos e os
soldados israelenses. "Os soldados ficam em cabines protegidas por vidro
reforçado. A comunicação entre os soldados e a pessoa que cruza o muro é feita
principalmente por meio de um sistema de alto-falantes; em alguns casos fala-se
com a pessoa pelo vidro"8.
Até recentemente - até o advento do "processo de paz", em meados da década de
1990, e do muro que expressa com perfeição a lógica desse processo - a
Jerusalém árabe existia como parte de um continuum, compreendendo as
comunidades palestinas ao seu redor, da mesma maneira que, em qualquer lugar,
os centros urbanos são ligados a cidades adjacentes e ao interior. Dezenas de
milhares de palestinos com direitos de residência em Jerusalém não apenas
trabalham em Jerusalém como vivem em áreas que já fazem parte do outro lado do
muro, assim como muitos palestinos que moram em Jerusalém trabalham na
Cisjordânia, principalmente em Ramalá.
Hoje, no entanto, o muro de Israel separou da cidade um quarto da população
palestina de Jerusalém9. De acordo com o relatório de 2007 da ONU, o traçado do
muro "passa por dentro da Cisjordânia para circundar os assentamentos [judeus]
de Givat Ze'ev (pop. 11 mil) e Ma'ale Adumim (pop. 28 mil), que atualmente
estão situados fora dos limites municipais". O relatório também afirma:
Em contrapartida, áreas palestinas densamente povoadas - Su'fat, Kafr
Aqab e Samiramis, totalizando uma população de 30 mil habitantes, que
estão atualmente dentro dos limites municipais, estão separadas de
Jerusalém pelo muro. Outros vilarejos ao norte e a leste da cidade,
com uma população de mais de 84 mil habitantes, também estão
excluídos. Além disso, o muro atravessa comunidades palestinas,
separando vizinhos e famílias - isso acontece em Abu Dis, por
exemplo10.
Ao norte da cidade, ainda dentro dos novos limites municipais, o muro e uma
estrada que contorna as concentrações urbanas cercam completamente os 15 mil
palestinos que vivem em quatro vilarejos próximos de Bir Nabala. O acesso ao
mundo exterior só é possível através de um túnel.
O muro também piorou muito as perspectivas econômicas dos palestinos de
Jerusalém Oriental, que costumava ser o centro comercial da vida palestina.
Muitos estabelecimentos comerciais palestinos de Jerusalém dependem, para seu
abastecimento, ou para sua sobrevivência econômica, de conexões livres com o
interior da Cisjordânia. Mas o muro impede a livre circulação de pessoas e
mercadorias, forçando os palestinos a mudar completamente seus hábitos
econômicos. Trazer mercadorias da Cisjordânia para comercializar na Jerusalém
Oriental envolve agora, de fato, a sua importação por intermédio de uma
fronteira internacional do Estado de Israel - ainda que a fronteira
internacional esteja na verdade a quilômetros a oeste do muro. Atravessar a
nova "fronteira" exige o uso de um sistema de transporte "de caçamba a
caçamba"11 e o pagamento de várias taxas de importação. A maioria dos pequenos
comerciantes não tem como arcar com essas despesas. E mesmo se conseguissem,
muitos dos fregueses já não podem ir até os estabelecimentos. De acordo com o
relatório da ONU de 2007, por exemplo, os palestinos em Abu Dis costumavam
comprar frutas e legumes nos mercados da Jerusalém Oriental (uma pequena
distância os separa); agora eles são obrigados a ir a Belém. O mesmo acontece
com os palestinos no subúrbio de al-Ram, que são agora obrigados a fazer suas
compras em Ramalá , e não mais em Jerusalém. Quase trezentos estabelecimentos
comerciais foram forçados a fechar suas portas nos últimos anos. A taxa de
desemprego em Jerusalém Oriental está perto de 20%, contra uma média de
aproximadamente 8% para toda Israel. O prejuízo causado pelo muro de israelense
tem sido tão ou mais grave para as comunidades palestinas nos arredores de
Jerusalém, agora isoladas pelo muro, que costumavam depender dos fregueses
palestinos de Jerusalém. Quase metade das lojas da até então próspera al-Ram
tiveram de fechar suas portas após a construção do muro.
Enquanto isso, centenas de milhares de palestinos que vivem nos subúrbios de
Jerusalém, bem como no restante da Cisjordânia, dependem dos serviços médicos
oferecidos por seis hospitais palestinos situados em Jerusalém Oriental, tais
como o al-Makassed e o Augusta Victoria, que não têm equivalentes na
Cisjordânia. De acordo com a ONU, o número de pacientes na Cisjordânia e na
Faixa de Gaza que conseguem ter acesso às instalações médicas em Jerusalém
Oriental caiu pela metade entre 2002 e 2003, e tem diminuído desde então. O
hospital al-Makassed registrou uma queda de 50% no serviço de atendimento de
emergência após o início da construção do muro: de 33 mil em 2002 para 17 mil
em 2005. O hospital St. John Eye também registrou uma queda acentuada no
atendimento. Do mesmo modo, o hospital Augusta Victoria registrou uma queda de
um terço no volume de pacientes desde a implementação de medidas de controle
rígidas sobre o acesso dos palestinos a Jerusalém Oriental pelo governo
israelense. Os pacientes que não têm acesso a esses hospitais não têm
alternativa; sem acesso a Jerusalém Oriental, eles simplesmente não recebem o
tratamento médico de que necessitam. E o que é pior, mais de dois terços dos
funcionários do hospital residem na Cisjordânia, e agora precisam pedir
autorização a Israel para chegar ao trabalho; além disso, uma vez que o número
de autorizações concedidas por Israel varia arbitrariamente de mês a mês, os
funcionários mais importantes às vezes simplesmente não conseguem chegar ao
hospital12.
Da mesma forma, milhares de estudantes palestinos que vivem em Jerusalém
Oriental estão matriculados em escolas e faculdades que agora estão do outro
lado do muro, em Abu Dis. Toda manhã , esses estudantes devem enfrentar uma
escolha incômoda: passar por cima, por baixo ou dar a volta no muro que separa
Abu Dis de Jerusalém; ou podem aventurar-se nos congestionamentos, nos
bloqueios de estrada e nos postos de controle espalhados pela longa e sinuosa
rota que os levaria, rodeando a cidade de Jerusalém, até a metade do caminho
que leva a Jericó , antes de terem de serpentear de volta no sentido de Abu
Dis, que fica muito perto de onde vivem. O muro também abalou as atividades
regulares da vida familiar, separando primos, sobrinhos, tios, tias, avós e -
em uma a cada cinco famílias que vivem a leste do muro - um pai ou mãe do
restante da família. Em suma, de acordo com a ONU, um quarto dos palestinos de
Jerusalém estará situado na parte leste do muro quando este estiver finalmente
completado.
No entanto, a reorganização geográfica de Jerusalém por Israel por meio de
mecanismos como a construção do muro é apenas metade do projeto de judaização e
desarabização - ou "despalestinização" - da cidade, conforme assinalou John
Dugard, ex-relator especial sobre Direitos Humanos em Territórios Ocupados13. A
outra metade do projeto envolve procedimentos burocráticos estruturados pela
constantemente reafirmada diferença entre judeus e não judeus e pela
substituição destes por aqueles. De acordo com funcionários e ex-funcionários
israelenses do município de Jerusalém, a distinção entre construir habitações
para judeus e negá -las aos não judeus tem sido essencial para o planejamento
da cidade desde 1967. "A pedra angular do planejamento de Jerusalém é a questão
demográfica", observou Israel Kimchi, diretor da Secretaria de Planejamento
Urbano do Município de Jerusalém, em 1977:
O crescimento da cidade e a manutenção da proporção demográfica entre
esses grupos étnicos foi uma questão decidida pelo governo de Israel.
Essa decisão, concernente à taxa de crescimento da cidade, hoje serve
como um critério para o sucesso do processo de consolidação de
Jerusalém como capital de Israel14.
Amir Cheshin, antigo consultor israelense do prefeito de Jerusalém para
assuntos árabes, explica:
As leis de planejamento e construção de Jerusalém Oriental baseiam-se
numa política que implica a inserção de obstáculos no caminho do
planejamento do setor árabe - isto é feito para preservar o
equilíbrio demográfico entre judeus e árabes na cidade, que no
momento está numa proporção de 72 por cento de judeus contra 28 por
cento de não judeus15.
Na medida em que a porcentagem de judeus e não judeus (isto é , palestinos)
começou inevitavelmente a desviar-se da proporção desejada, membros do
Legislativo israelense esforçaram-se por elaborar formas de reverter essa
tendência, insistindo na proporção de 72 para 28 como o resultado desejável.
Assim, por exemplo, embora os palestinos totalizem hoje um terço dapopulação
deJerusalém, elestêmacessoamenosdoque10%doterritório dentro dos novos limites
da cidade. Noventa por cento do território anexado a Jerusalém em 1967 - todo
ele da Palestina - está hoje indisponível para o desenvolvimento palestino
porque o território está ou ocupado pelas colônias judaicas ou mantido em
reserva para a futura expansão dessas colônias16. Enquanto se faz tudo para
encorajar e facilitar a colonização judaica de Jerusalém Oriental, o município
faz tudo que pode para impedir que os palestinos de Jerusalém construam na
cidade, negando-lhes regularmente autorização para edificação de casas e
construções em geral. Desde 1967, aproximadamente 100 mil unidades
habitacionais foram construídas para os colonos judeus em Jerusalém Oriental,
incluindo financiamento direto do governo de Israel - tudo isso em flagrante
violação do direito internacional (especificamente, no que tange à proibição de
remoção de populações de territórios ocupados, estabelecida na Quarta Convenção
de Genebra). No mesmo período, o município emitiu apenas 9 mil autorizações
para a construção de unidades habitacionais para os palestinos de Jerusalém.
Um resultado inevitável de todos esses impeditivos burocráticos oficiais e do
controle sobre o crescimento e desenvolvimento dos palestinos de Jerusalém é o
recurso àquilo que Israel considera ser construção "ilegal". Desde 1967,
milhares de unidades habitacionais foram construídas pelos palestinos sem
autorização oficial. Isso, porém, envolve riscos sérios. Entre 2004 e 2008,
somente, aproximadamente 400 casas palestinas situadas em Jerusalém foram
demolidas por ordem das autoridades israelenses17. Existem hoje cerca de 9 mil
casas de palestinos que foram construídas "ilegalmente" em Jerusalém, todas
elas sujeitas à demolição.
O controle estrito das construções de palestinos é apenas um dos métodos
burocráticos usado por Israel para limitar a população não judaica da cidade.
Assim como as políticas de Israel levaram, por força da construção de muros e
estradas, à fragmentação física dos territórios ocupados e assim como a
manutenção de barreiras e postos de controle nas estradas pretendia a um só
tempo restringir o deslocamento de palestinos e permitir a livre circulação de
colonos judeus na Cisjordânia, elas também redefiniram a identidade pessoal e
familiar, conforme um esquema paralelo (e mutuamente intensificador). Ser
classificado como pertencente a um ou outro espaço externo dividido por Israel
tem influência decisiva na vida palestina privada e familiar, bem como na
natureza, na privacidade, na segurança de suas casas e, até mesmo, na sua
vulnerabilidade à demolição por ordem do Estado. Para um palestino que vive sob
o regime do governo de Israel, há uma enorme diferença entre ser classificado
como residente de Jerusalém e habitante da Cisjordânia ou da Faixa de Gaza, ou
como um cidadão do Estado (de modo semelhante, entre os próprios habitantes da
Cisjordânia existem, por exemplo, diferenças significativas entre os residentes
da região da assim chamada zona de sutura18 entre a linha do Armistício de 1949
e o muro; entre os residentes do Vale do Jordão e os residentes de Nablus: cada
subdivisão adicional do espaço externo traz suas próprias formas peculiares de
restrição interna).
Ser residente de Jerusalém não traz consigo os benefícios da cidadania
israelense, tais como aqueles de que dispõem (até certo ponto) os cidadãos
palestinos de Israel, por exemplo. Mas desde o advento do assim chamado
"processo de paz", o documento de identidade de Jerusalém confere ao palestino
de Jerusalém um grau de liberdade de circulação pelo território inconcebível
para um habitante da Cisjordânia ou da Faixa de Gaza. Tal documento coloca um
palestino numa espécie de meio termo entre a cidadania de segunda classe dos
cidadãos palestinos de Israel (que, como não judeus no suposto Estado judeu,
enfrentam formas assustadoras de discriminação racialmente motivada, em
violação da Convenção para Eliminação de todas as formas de Discriminação
Racial, da qual Israel é signatário19) e a condição de vida mais brutalmente
restrita dos habitantes da Cisjordânia, ou ainda a vida abjeta dos que vivem na
Faixa de Gaza. Ademais, são os israelenses, e não os palestinos, que decidem
qual identidade deve ser conferida a cada palestino; as decisões são tomadas
com base num critério que não tem nada a ver com - ou que vai completamente
contra as - circunstâncias particulares ou familiares do indivíduo em questão,
mas com a divisão e o controle do espaço externo e com base em pretensões e
desejos políticos e territoriais de Israel. É exatamente por essa razão que
Israel continua controlando os registros oficiais da população da Cisjordânia e
da Faixa de Gaza, o que demonstra a mentira sobre a suposta autonomia dessas
regiões.
Em conformidade com esses modos de controle da vida palestina, o esforço de
Israel para manter uma proporção definida de judeus e não judeus começa
literalmente no nascimento.Por exemplo, um bebê judeu nascido em Jerusalém
(assim como em Israel ou nas colônias israelenses em territórios ocupados)
recebe automaticamente uma certidão de nascimento e um número de identidade
conferido pelo Estado, que, assim como número do seguro social dos Estados
Unidos, é uma das principais chaves para se viver em Israel. Por outro lado, um
bebê palestino nascido em Jerusalém não recebe automaticamente o mesmo status.
Se um dos pais de uma criança palestina reside na Cisjordânia, e não em
Jerusalém, os pais receberão uma "notificação de nascimento", mas não uma
certidão de nascimento oficial (um documento específico), tampouco um número de
identidade. Os pais podem usar a notificação de nascimento para requisitar uma
certidão de nascimento para a criança, mas ainda assim eles não terão direito a
um número de identidade. "Ao se dirigem ao ministério para obter uma certidão
de nascimento e registrar o nome da criança nas suas carteiras de identidade,
os pais nem sempre estão a par do fato de o filho não ter um número de
identidade", conforme indica um estudo conjunto da fundação B'Tselem e da
organização HaMoked20 .
Os funcionários do Ministério do Interior não os informam de que eles devem
iniciar o processo de registro do filho; em vez disso, emitem uma certidão de
nascimento sem um número de identidade para a criança. Só mesmo os pais que
notam que o filho não tem um número de identidade fazem um pedido para registrá
-lo21.
Se os pais de uma criança palestina notam que está faltando o número, eles
podem entrar com pedido como um processo terciário. No entanto, qualquer um dos
pedidos posteriores pode exigir a comprovação de que a família reside em
Jerusalém e que Jerusalém é "o centro da vida" familiar, exigência que não é
feita às famílias judias. Se algum documento estiver faltando, ou não estiver
de acordo com o rigoroso padrão israelense de comprovação, não apenas a criança
não terá direito a um número de identidade, mas também a família toda corre o
risco de ser expulsa de Jerusalém.
Isso levanta outro problema. Em meados da década de 1990, milhares de
palestinos que viviam em Jerusalém caíram numa cilada por causa de uma nova
regulamentação israelense, destinada a destituir os palestinos de Jerusalém de
seus registros residenciais"22. De acordo com o Estado de Israel, os palestinos
de Jerusalém que não conseguissem provar que a cidade sempre fora o "centro de
suas vidas" poderiam permanentemente perder o direito de ali morar. Não só
morar, pois como para entrar na cidade é preciso o comprovante de residência -
os palestinos da Cisjordânia têm acesso negado, a não ser que tenham uma
permissão oficial extremamente difícil de obter, e os da Faixa de Gaza nem
sonham com essa autorização -, então eles seriam impedidos também de visitar a
cidade em que nasceram. Isso se aplicaria, por exemplo, ao palestino que
tivesse passado alguns anos no exterior estudando numa universidade
estrangeira; ao palestino que tivesse conseguido trabalho em um subúrbio da
Cisjordânia; ao palestino que tivesse se casado com alguém da Cisjordânia ou da
Faixa de Gaza; ao palestino que tivesse sido forçado a alugar ou comprar um
apartamento na Cisjordânia porque não tinha condições para alugar, comprar ou
construir uma casa em Jerusalém.
O controle burocrático israelense sobre a vida palestina foi claramente
expresso em uma nova lei draconiana aprovada pelo parlamento de Israel em 2003,
que proíbe os palestinos residentes em territórios ocupados, casados com
cidadãos israelenses ou residentes em Jerusalém de adquirir a cidadania
israelense ou a condição de residente, impedindo-os assim de viver com seus
consortes e com seus filhos em Israel ou em Jerusalém. A lei aplica-se aos
filhos e aos consortes: aos 14 anos, os filhos de pais palestinos de Jerusalém
cujos nascimentos - por qualquer que seja a razão, até mesmo pela extrema
dificuldade de fazer o registro em Jerusalém Oriental - foram registrados na
Cisjordânia devem entrar com um pedido de autorização militar especial para
poder viver com seus pais em Jerusalém. Quando atingirem a maioridade, eles
terão que deixar seus pais - ou pais e filhos terão que ir embora de Jerusalém.
A lei não afeta os judeus que residem nos territórios ocupados (isto é , os
colonos), ou os imigrantes judeus casados com cidadãos de Israel, os quais
podem imediatamente obter a cidadania conforme a Lei do Retorno, ou, em suma,
qualquer judeu: ela se dirige aos cidadãos palestinos de Israel, aos que
residem em Jerusalém ou nos territórios ocupados. Por volta de 24 mil famílias
foram afetadas pela nova lei israelense, o que pôs em risco casamentos e
destruiu famílias, forçando uma separação.
É claro que, enquanto um setor do Ministério do Interior de Israel revoga o
direito de os palestinos de Jerusalém viverem na cidade onde eles e seus
antepassados nasceram, outro setor do mesmo ministério garante cidadania
imediata para judeus vindos de qualquer parte do mundo e que sejam capazes de
provar que são judeus (pelo menos em conformidade com os atuais padrões
rabínicos, os quais de tempo em tempo são discutidos em Israel). Assim,
enquanto os palestinos foram forçados a deixar Jerusalém na década de 1990, os
lugares em que viviam foram ocupados por imigrantes judeus que não haviam
jamais posto os pés na cidade, vindos da Moldávia e da Rússia - em torno de um
milhão de pessoas, entre as quais Avigdor Lieberman, que foram admitidas e
conseguiram cidadania em Israel, simplesmente porque são judias.
Na realidade, após vários questionamentos jurídicos, alguns dos palestinos que
haviam sido destituídos por Israel de seu direito de residência na década de
1990 conseguiram restituí -los silenciosamente logo após a suspensão da nova
medida política no ano 2000. Entretanto, essa diretriz foi rapidamente
reintroduzida, tornando-se mais eficiente por força do cada vez mais vigilante
controle de entrada em Jerusalém, possibilitado pela construção do muro. Só em
2006, Israel destituiu 1. 363 palestinos de Jerusalém do seu direito de viver
na cidade: um número seis vezes maior do que o registrado no ano anterior e o
maior que se registrou em todos os anos. Entre 1967 e 2006, Israel tirou a
posse residencial de 8. 269 palestinos de Jerusalém23.
Nenhum judeu israelense - centenas de milhares, a bem dizer, milhões dos quais
residem, estudaram, trabalharam, viveram ou imigraram da Cisjordânia (ou vindos
de outros países) - jamais foi consultado sobre onde fica o seu "centro de
vida"; tampouco lhes foi solicitado a reunião de um conjunto imaculado de
documentos concernentes à comprovante de aluguel, impostos, contas de água
acumuladas ao longo de dez ou doze anos. De acordo com a lei de Israel, o
direito que um judeu tem de viver em Jerusalém (ou em qualquer parte de Israel
ou dos territórios ocupados) surge do simples fato de ser judeu, mesmo se vier
da Moldávia - "esse direito é inerente ao fato de ser judeu", como expressou o
primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion, ao apresentar a Lei do Retorno
ao parlamento em 1950. Os que não são judeus não usufruem do mesmo direito,
mesmo que provenham de famílias palestinas que viveram em Jerusalém durante
várias gerações - simplesmente porque eles não são judeus. Como se vê , as
políticas implementadas por Israel são simplesmente cruéis e vulgares.
Remover os palestinos é , evidentemente, apenas um dos lado da moeda da
judaização de Jerusalém; o outro é a implementação de uma nova população
judaica em Jerusalém Oriental, em violação flagrante do direito internacional.
Uma série de governos israelenses desencadeou ao total cinco grandes movimentos
de expropriação dentro e em torno de Jerusalém, tomando terras de proprietários
palestinos e cedendo-as exclusivamente para áreas de colonização judaica. Hoje
existem dezenas de colônias judaicas na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental -
cada uma delas (e não simplesmente os "postos avançados ilegais" de que se ouve
falar de tempo em tempo) implantada em violação do direito internacional - com
uma população de quase meio milhão de pessoas. Por serem geograficamente
distribuídas para maximizar a ocupação territorial de Israel - com vistas a
dificultar ao máximo a sua retirada - essas colônias se espalham agora por todo
o território. De acordo com um relatório da ONU publicado em 2007, a população
de colonos judeus nos territórios ocupados está aumentando num ritmo três vezes
maior do que o de Israel antes de 1967 dentro de suas fronteiras; na próxima
década, estima-se que a população duplicará , chegando a um milhão24. Essa
população é , sem dúvida, o "fato consumado" mais assustador criado pela
política de Israel ao longo das últimas quatro décadas.
"A judaização de Jerusalém é um exercício cínico de engenharia social", afirma
John Dugard, ex-Relator Especial sobre Direitos Humanos da ONU25. Ao defender a
alegação de que Jerusalém é uma cidade judaica, Israel revogou o direito de
habitação dos palestinos; expulsou-os à força de Jerusalém; negou seus pedidos
de unificação de famílias; recusou-se a registrar o nascimento dos seus filhos;
elaborou leis para forçar os filhos a abandonar os pais, mudando-se aos 18 anos
para Cisjordânia; construiu um muro para forçá -los a escolher entre o seu
trabalho na Cisjordânia e a sua casa em Jerusalém ou vice-versa; e fez com que
enfrentassem as maiores dificuldades possíveis para construir suas casas sobre
a terra em Jerusalém que pertenceu às suas famílias por inúmeras gerações.
O que está em jogo aqui, evidentemente, é o desejo de Israel consolidar a sua
alegação de que Jerusalém é , conforme o sloganoficial do governo de Israel, "a
capital eterna e indivisível do povo judeu". O processo de consolidação da
reivindicação judaica de Jerusalém exclui, por sua própria natureza, a
reivindicação palestina pela cidade, e encerra a questão de que a cidade
poderia ser partilhada igualmente por dois Estados separados. Não pode haver
Palestina sem Jerusalém. A ironia, no caso, é que por impossibilitar tão
sistemática e obstinadamente a vida em comum em Jerusalém, Israel
impossibilitou a criação de um Estado palestino separado, tornando a solução de
um único Estado a mais provável - a bem dizer, inevitável.
SAREE MAKDISI é professor de Literatura Inglesa e Literatura Comparada na
Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
[*] Publicado originalmente em Contemporary Arab Affairs, vol. 2: 4 (2009),
Centre for Arab Unity Studies/Routledge - Taylor & Francis, Reino Unido. Este artigo é uma versão adaptada da discussão sobre
Jerusalém em Makdisi, Saree. Pales tine inside out: an everyday occupation.
Nova York: W. W. Norton, 2008, e foi apresentado na Conferência One State
Solution, organizado pelo Trans Arab Research Institute (TARI) em setembro de
2009.
[1] "Greater Jerusalem: a special report". Washington: Foundation for Middle
East Peace, 1997; "A policy of discrimination: land
expropriation, planning and building in East Jerusalem". B'Tselem, maio 1995,
em <www.btselem.org> ; Halper, J. "The three Jerusalems and
their role in the occupation". Jerusalem Quarterly, arquivo 15, 2002; Benvenisti, M. City of stone: the hidden history of Jerusalem.
Berkeley: University of California Press, 1996.
[2] B'Tselem, op. cit., 1995; "Thequiet deportation
continues: revocation of residency and denial of social rights of East
Jerusalem residents". B'Tselem, set. 1998, em <www.btselem.org> .
[3] Cf., por exemplo, Dugard, J. "Report of the special rapporteur on the
situation of human rights in the Palestinian territories occupied since 1967".
Conselho de Direitos Humanos da ONU, 2007, em <www.ohchr.org/EN/countries/
MENARegion/Pages/PSIndex.aspx> .
[4] Benvenisti, op. cit.
[5] "Nu'man, EastJerusalem: lifeunder thethreatof expulsion". B'Tselem, 2003,
em <www.btselem.org> .
[6] Siedmann, D. The separation barrier and the abuse of security. Washington:
Foundation for Middle East Peace, 2004; Hass, A., "East Jerusalemites will need
permits to visit Ramallah". Haaretz, 25/1/2005; Ibidem, "Separating 'Jerusalem'
from the 'West Bank' ". Haaretz, 26/1/2005; Ibidem, "IDF said changing its
checkpoint policy". Haaretz, 29/3/2005; Ibidem, "Palestinians also sleep in the
day". Haaretz, 31/3/2005. Rappaport, M. "Government decision strips
Palestinians of their East Jerusalem property". Haaretz, 20/1/2005.
[7] "The humanitarian impact of the West Bank barrier on Palestinian
communities: East". Jerusalem: Escritório das Nações Unidas para a Assistência
Humanitária (ONU/OCHA), 2007, em <www.ochaopt.org> .
[8] "Accessto Jerusalem: newmilitary order limits West Bank Palestinian
access". Jerusalém: ONU/OCHA, 2006, em <www.ochaopt.org> .
[9] ONU/OCHA, op. cit., 2007.
[10] Ibidem.
[11] A maioria dos motoristas palestinos da Cisjordânia não dispõe de permissão
para atravessar a fronteira com seus veículos, o que os obriga a descarregar
suas mercadorias nos postos de controle e portões, carregá -las manualmente até
o outro lado, e reacomodá -las em um novo veículo. Cf. Makdisi, op. cit. [N. E.
].
[12] ONU/OCHA, 2006, 2007; "Facing the abyss: the isolation of Sheikh Sa'ad
Village before and after the separation barrier". B'Tselem, fev. 2004, em
<www.btselem.org> .
[13] Dugard, op. cit.
[14] B'Tselem, op. cit., 1995.
[15] Ibidem.
[16] "The planning crisis in East Jerusalem: understanding the phenomenon of
'illegal' construction". ONU/OCHA, 2009, em <www.ochaopt.org> .
[17] Os números são da B'Tselen, cf. em <http://www.btselem.org/english/
Planning_and_Building/East_Jerusalem_Statistics.asp>.
[18] Em inglês, seam zone, área entre a Zona Verde na Cisjordânia e o muro
israelense.
[19] Cf. nota 2 supra. Ver também Segev, T. "I am a Jerusalemite". Haaretz,
2006; Beaumont, P. "Israel fears invasion of immigrants". The Observer, 2002;
"Israel: don't outlaw family life". Human Rights Watch, jul. 2003, todos em
<http://www.hrw.org/press/2003/07/israel072803.htm/> ; "Israel/occupied
territories: high court decision institutionalizes racial discrimination".
Anistia Internacional, maio 2006, e "Right to family life denied: foreign
spouses of Palestinians barred", Anistia Internacional, mar. 2007, em
<www.amnesty.org>.
[20] "Forbidden families: family unification and child registration in
Jerusalem". B'Tselem, jan. 2004, em <www.btselem.org> ; "Torn
apart: families split by discriminatory policies". Anistia Internacional, jul.
2004, em <www.amnesty.org> .
[21] "The quiet deportation continues: revocation of residency and denial of
social rights of East Jerusalem residents". B'Tselem/HaMoked, set. 1998.
[22] "Eviction, restitution, and protection of Palestinian rights in
Jerusalem". Resource Center for Palestinian Residency and Refugee Rights
(Badil), 1999, em <www.badil.org> ; "A capital question". The
Economist, 2007; B'Tselem/HaMoked, op. cit., 1998.
[23] The Economist, op. cit. Cf. também os números apresentados pela
organização B'Tselem em seu site.
[24] ONU/OCHA, op. cit., 2007.
[25] Dugard, op. cit.