O bom professor: opinião dos estudantes
Introdução
No contexto educacional atual, o desenvolvimento da docência reveste-se de
novos desafios no que se refere ao conhecimento pedagógico, científico e
cultural exigido aos professores, com aumento de responsabilidades atribuídas à
necessidade de lidar com uma maior diversidade de estudantes, com distintas
capacidades de aprendizagens, requerendo capacidade de organizar e sistematizar
informação, mobilizar conhecimentos e motivar os estudantes para propiciar as
aprendizagens.
Há um certo consenso sobre os comportamentos que se esperam de um estudante e o
mesmo acontece relativamente ao professor. O processo educativo concretiza-se
nos mais diversos espaços, pelo que, o professor não pode ser visto
isoladamente dos restantes fatores intervenientes. Contudo, não sendo o único
elemento significativo, é ao professor que cabem as tomadas de decisão da
prática pedagógica a desenvolver. Os múltiplos contextos nos quais o professor
se move e os diversos papéis que assume na sua prática quotidiana, vão
construindo as representações sobre o bom professor' (Feitoza, Cornelsen e
Valente, 2007; Gisi, Ens e Eyng, 2010). Na opinião de Cunha (2008), quando se
fala de bom professor as características e os atributos que compõem esta
noção são consequência do julgamento individual, mas dimensionadas socialmente
no tempo e no espaço. Gebara e Marin (2005) referem que historicamente se tem
criado um rol de atributos que fazem parte do papel do professor, assimilado
socialmente, sem muita consciência ou atitude reflexiva, em parte através das
expectativas dos estudantes. É neste sentido que Nimtz e Ciampone (2006)
defendem que a análise relativa ao processo educacional, em qualquer área, deve
ser contextualizada no momento histórico, político e social do grupo e do
cenário focado.
A tendência educativa atual de centrar os processos no estudante, implica uma
mudança no papel do professor e o desenvolvimento de novas competências. Como
refere Catarino (2004), não basta transmitir o conteúdo das disciplinas, a ação
do professor deve ir no sentido de estimular a autonomia e a participação dos
estudantes no processo de aprendizagem. Gebara e Marin (2005) assumem-se
concordantes com as diversas teorias de aprendizagem que defendem que os
processos de aprendizagem passam necessariamente por uma construção de relações
e interação, sendo o estudante ativo e responsável pela direção e significado
do aprendido. Neste contexto, o processo de aprendizagem dá-se em virtude do
fazer e do refletir sobre o fazer, sendo fundamental no papel do professor, não
só o saber e o saber fazer, mas, sobretudo, o saber ser para estimular o
estudante e criar o ambiente propício à aprendizagem reflexiva e crítica.
O cenário educacional contemporâneo apela à inovação pedagógica, mas o
desempenho docente no ensino superior tem-se caracterizado pelo professor
especialista no seu domínio de conhecimento, mas que não domina necessariamente
a área educacional e pedagógica, vivendo, entretanto, uma situação educacional
quer do ponto de vista institucional quer de relação com os estudantes (Santos,
2001). Castanho (2002) cita alguns estudos, versando professores do ensino
superior, reveladores de conceções diferentes das tradicionais, apontando para
uma nova forma de ver o conhecimento, a formação profissional e o ensino na
universidade. Nas práticas dos professores universitários começam a emergir
novas formas de conceber as relações entre professor/aluno, o ensino e a
investigação, a interdisciplinaridade na conceção do conhecimento. No estudo
que realizou sobre a prática pedagógica de professores do ensino superior da
área de Saúde, a análise das atividades de ensino evidenciou características
inovadoras, pesquisa e aprendizagem que instigam e propiciam autoformação do
estudante, favorecem a relação horizontal professor/aluno, evitando a
homogeneização, e incorporam a investigação como princípio educativo
fundamental que faz a mediação entre ensinar e aprender.
Os dispositivos legais que regem o ensino da enfermagem não são específicos
para a formação pedagógica do professor e para a prática docente, contudo, o
perfil do enfermeiro a formar, crítico, reflexivo e capaz de intervir sobre os
problemas de saúde ' evidenciam as competências e habilidades pedagógicas
exigidas ao professor. Se, como refere Oliveira (2007), o imaginário social
sobre os professores, que antigamente ingressavam na carreira universitária,
assentava no facto de ser um bom profissional na área específica, para que
pudesse ser um bom professor universitário, acreditando-se que quem sabe,
consequentemente, sabia ensinar. O cenário académico contemporâneo coloca
exigências específicas de formação que remetem o desempenho profissional do
professor para novas posturas pedagógicas e pessoais.
O perfil profissional docente é cada vez mais complexo, exigindo-se que na sua
práxis pedagógica reúna competências que evidenciem domínio tanto do
conhecimento da sua Disciplina como da gestão do seu currículo e inovação na
prática docente. Tal implica refletir e investigar, integrando o conhecimento
disciplinar e pedagógico, propiciando um clima de motivação e trabalho
colaborativo, potenciando uma aprendizagem de qualidade.
Professores, estudantes e instituições educativas são o eixo fundamental para a
formação humana. A exemplo do que acontece com as instituições de ensino
superior portuguesas, parte do processo de autoavaliação da Escola Superior de
Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) situa-se ao nível de indicadores relativos ao
desempenho dos professores e das disciplinas no contexto dos cursos de
ministra. De um modo global, esses indicadores contêm a expressão de um valor
eventualmente associado ao conceito de bom professor'. No imaginário da
comunidade académica, imersa no processo formativo, supõe-se que sejam
diversificadas essas conceções, tendo em conta os diferentes níveis de
escolaridade e modelos' de professor que para elas contribuíram no percurso
dos estudantes. Assim, alicerçado numa base de valores como o sentido crítico e
a cidadania, a perspetiva dos estudantes afigurou-se oportuna para gerar
subsídios consistentes para o aperfeiçoamento dos mecanismos auto avaliativos
da ESEnfC, com base nos seus valores e compromissos.
Metodologia
Para a realização deste estudo desenvolvemos uma pesquisa descritiva
exploratória, de natureza qualitativa, que tem como objetivo identificar as
características de um Bom Professor' na perspetiva do estudante. Os
participantes são os estudantes da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra,
com matrícula nos Cursos de Licenciatura e Pós-Licenciatura de Especialização
em Enfermagem. Para a recolha da opinião, utilizou-se um questionário
autopreenchido com uma questão aberta o que considera ser um Bom Professor?,
a identificação do curso e ano de frequência. A utilização de apenas uma
questão aberta foi determinada pelo facto de não pretendermos a indução de
respostas mas antes a espontaneidade, dado o caráter exploratório do estudo. O
questionário foi distribuído nas diferentes salas de aula, solicitando-se aos
estudantes o seu posterior preenchimento e entrega, visando a liberdade de
resposta e participação voluntária. Após preenchimento cada estudante colocou o
questionário em urna destinada a esse fim, que esteve disponível durante duas
semanas nas receções dos dois campus da Escola. A recolha de dados foi
desenvolvida em dois tempos diferentes, tendo sido efetuado em janeiro de 2008
a todos os estudantes em atividade letiva e em junho de 2009 apenas os
estudantes do 1º ano e dos pós - licenciaturas, que não tinham sido incluídos
no grupo anterior. Obtiveram-se amostras intencionais 174 e 52 estudantes nos
Cursos de Licenciatura e Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem.
As respostas foram objeto de análise de conteúdo, recorrendo-se simultaneamente
à descoberta de unidades de análise e identificação de ideias chave nos
discursos, comparando significados numéricos e verbais. Como estratégia para
sistematizar a análise dos testemunhos baseamo-nos em Candau (1983) citada por
Rangel (2001), Feitoza, Cornelsen e Valente (2007), e Cunha (2008), que propõe
uma visão da prática pedagógica que compreende o entrelaçamento de três
dimensões: dimensão humana, que coloca no centro do processo de ensino/
aprendizagem a relação interpessoal. É uma abordagem subjetiva, individualista
e afetiva do professor; dimensão técnica, mais objetiva e racional, privilegia
as condições que melhor propiciem a aprendizagem. Tem em conta os aspetos
instrumentais e de sistematização do processo; dimensão ideológica, que
enfatiza a cultura específica, olhando o professor como alguém com uma posição
de classe definida na organização social onde se move. Ela impregna toda a
prática pedagógica do professor, o qual deve reproduzir a ideologia dominante e
integrá-la nos seus comportamentos, como resultado da apropriação que fez da
prática e dos saberes histórico sociais do seu domínio de ensino.
Assim, para analisarmos o corpus de informação resultante das respostas
seguimos algumas etapas, ocorrendo por vezes em simultâneo: numa leitura
exploratória dos discursos procurámos as palavras-chave utilizadas pelos
estudantes ao referirem-se ao Bom Professor; novas leituras e análises ao
conteúdo dos discursos visaram a identificação progressiva de características
discriminatórias, ou seja, procurámos identificar as qualidades que estão mais
frequentemente associadas com o conceito; simultaneamente, apurámos o
significado numérico das expressões indicadoras das características de um Bom
Professor.
Resultados e discussão
No nosso estudo emergiram 40 características de um Bom Professor, das quais
20 (50%) se enquadram na Dimensão Técnica, 12 (30%) na Dimensão Humana e 8
(20%) na Dimensão Ideológica. Apesar do maior número de indicadores surgir na
Dimensão Técnica, a valorização efetuada pelos estudantes assume maior
expressividade na Dimensão Humana com 287 (48,5%) referências, de um total de
591, conforme se visualiza na tabela 1.
TABELA 1 ' Características do Bom Professor
Apesar de concordantes no global, os estudantes têm valorizações diferentes,
consoante o curso que frequentam: para os estudantes da Licenciatura os aspetos
subjetivos são, praticamente, os responsáveis pela determinação do que seja um
bom professor, observando-se que a Dimensão Humana concentrou 41,6% das
referências relativas a características do Bom Professor; por seu lado, os
estudantes da Pós-Licenciatura de Especialização revelam-se mais objetivos,
reunindo 13,2% das suas referências em atributos da Dimensão Técnica do
professor. Estes dados sugerem que é a interação com o professor que vai
dirigir o processo educativo, na perspetiva dos estudantes da Licenciatura,
enquanto para os da Pós-Licenciatura de Especialização é a atitude do
professor, permanentemente construída no contexto formativo. Na opinião de
Nóvoa (1991), é através da relação interpessoal que se cria um cenário
pedagógico mais rico e amplo, que melhor responde às necessidades do aluno, o
que ajuda a compreender a opinião dos estudantes em formação inicial. No caso
dos estudantes em formação especializada, sendo simultaneamente profissionais,
é a atitude de compromisso com o processo de ensino-aprendizagem, visível
através das competências cognitivas e didáticas, que encontra paralelismo com
os aspetos instrumentais e de sistematização da realidade profissional na qual
se inserem e que lhes serve referencial objetivo, que permite perceber a
valoração da Dimensão Técnica.
Resultados semelhantes foram encontrados por Gabrielli e Pelá (2004), num
estudo com estudantes de enfermagem, no Brasil, para os quais o professor ideal
deve, sobretudo, ter domínio do conteúdo teórico-prático e possuir habilidades
didático pedagógicas, além de ser paciente, tolerante, amigo, flexível e
afetuoso. Os autores concluem que as características e atitudes relativas aos
aspetos afetivos do relacionamento professor/aluno são mediadores entre os
domínios do conteúdo específico da disciplina e os aspetos didáticos e
pedagógicos, para que o processo ensino/aprendizagem se concretize com sucesso.
Características idênticas foram obtidas por Cabalín e Navarro (2008) no estudo
realizado com estudantes da Faculdade de Saúde da Universidade de La Frontera -
Chile, para os quais o Bom Professor Universitário é principalmente definido
pelos atributos: respeitoso, responsável, compreensivo e empático, excetuando-
se os estudantes de enfermagem que surgem como os únicos a valorizar o
conhecimento e considerá-lo como o atributo mais importante. De modo análogo,
no estudo de López et al. (2010) as qualidades do Bom Professor mais
valorizadas pelos estudantes universitários inquiridos foram a atitude de
respeito, aberta e com capacidade de escuta, a competência, a capacidade
comunicacional, a responsabilidade e a pontualidade no cumprimento dos
horários.
Subjacentes ao significado de um Bom Professor estão um conjunto de
indicadores, dos quais se evidenciam o Domínio dos conteúdos da disciplina que
leciona (n = 98) e a capacidade de Cativar e motivar (n = 98).
Independentemente do curso que frequentam, os estudantes parecem concordar que
o importante, em sala de aula, é o instruir bem, o que pode ser traduzido pelo
domínio de conhecimento da matéria que o professor ministra na aula. Contudo, o
domínio do conhecimento não deve estar dissociado da capacidade de ensinar, de
fazer aprender. Como dizem os estudantes:
- Um bom professor é aquele que leciona a matéria com recurso a material
didático, mas que sabe o que está a explicar de forma apelativa e que cativa os
estudantes. ECLE 181;
- Um bom professor é aquele que domina perfeitamente a matéria que leciona e
que sabe transmiti-la aos seus alunos, tem em conta a realidade dos próprios
alunos e cria neles o interesse de quererem saber mais sobre os assuntos
abordados. ECPLEE 187.
No estudo desenvolvido por Martínez (2010) junto de estudantes da Universidade
das Ilhas Baleares, observou-se relação entre estes conceitos: a ideia de
segurança na transmissão dos conteúdos revelou-se como um dos principais
elementos motivadores do estudante. Esta perceção é concordante com a hipótese
confirmada por Cunha (2008), num estudo com estudantes de vários cursos do
ensino superior no Brasil, de que o professor em sala de aula é o principal
agente da instrução e transmissão do conhecimento, seja qual for o currículo a
ser seguido. Defende que o conhecimento não se faz apenas com metalinguagem,
com conceitos, mas sim, com didática e com pedagogia. Para a autora, o
professor capaz de despertar o interesse nos estudantes faz com que o
conhecimento seja assimilado de forma mais clara e efetiva.
Outros aspetos fundamentais aparecem relacionados com a capacidade do professor
desenvolver uma Boa relação com os estudantes (n = 55), de ser Disponível e
acessível (n = 48), Compreensivo e tolerante (n = 29), como ilustram estas
expressões:
- Um bom professor, considero que seja alguém que mostre e que procure dar
apoio aos seus estudantes. ECLE 179;
- É um professor exigente, que explique bem, mas que ao mesmo tempo seja
compreensivo e tente ajudar os alunos. ECLE 180;
- É aquele que tem competências relacionais, empatia, desprovido de
preconceitos. ECPLEE 186;
- É aquela pessoa que ( ) estabelece um bom relacionamento com os alunos; está
sempre disponível para orientação e esclarecimento de dúvidas; escuta os
alunos; respeita e valoriza o seu esforço. ECPLEE 188;
- Considero um bom professor: ( ) o que mantém relação professor-estudante
baseada numa atitude pedagógica e humanizada. ECPLEE 196;
- Sincero e honesto, interativo, correto, dinâmico, disponível e humano.
ECPLEE 204.
Estas enunciações evidenciam a importância atribuída à capacidade que o
Professor tem de se mostrar próximo dos estudantes, bem como o relevo imputado
à tolerância enquanto característica capaz de fazer o professor admitir modos
de pensar, de agir e de sentir, diferentes dos seus. Na opinião de Feitoza,
Cornelsen e Valente (2007) esta perspetiva encerra uma conceção eminentemente
subjetiva e afetiva do professor no processo de ensino/aprendizagem. Nos
estudos desenvolvidos por Gabrielli e Pelá (2004) e Martínez (2010), ressalta
esta ideia de que um Bom Professor é aquele que trata os estudantes como
pessoas únicas, diferentes entre si, com diferentes histórias e conhecimentos
prévios, e não como simples discentes, desenvolvendo assim um favorável
relacionamento interpessoal professor/aluno facilitador da aprendizagem,
baseado no respeito mútuo.
A habilidade de Relacionar a teoria com a prática (n = 15), sendo Exigente (n =
16) surge de forma menos expressiva. Em idêntica circunstância surge também a
Assiduidade e pontualidade (n = 11) do professor. São características que fazem
emergir o jogo de influência, determinado pelo conjunto de expectativas da
sociedade face a um bom professor, transposto pelos estudantes para o contexto
específico no qual atua, se desenvolve e é reconhecido.
Para Feitoza, Cornelsen e Valente (2007) isto significa que parte da opinião
dos estudantes sobre o professor é predeterminada socialmente: o contexto
envolvente veicula ideias e valores entre os integrantes da sua comunidade,
passando a fazer parte das suas expectativas. Alguns exemplos de discursos dos
estudantes:
- ( ) que conheça a realidade e não seja teórico, obcecadamente. ECPLEE 197;
- ( ) coerente na informação que ensina, ser até um pouco exigente, ( ), que
cumpra o horário, não falte e chegue atrasado ECLE 182;
- É também importante que saiba fazer a ponte para a realidade, para o
contexto de trabalho. ECPLEE 190.
Para os estudantes de enfermagem participantes no estudo de Gabrielli e Pelá
(2004), o professor ideal deve, sobretudo, dominar profundamente a disciplina
que ensina, o que no caso da enfermagem inclui competências e habilidades
clínicas relacionadas com a prática. A capacidade de relacionar a teoria com a
prática foi o aspeto que recolheu maior homogeneidade entre as expressões
utilizadas no estudo de Martínez (2010), deixando entrever como a utilização de
exemplos práticos para ilustrar a explicação dos conteúdos puramente teóricos
permite não só a sua posterior aplicação no contexto real mas também se
repercute favoravelmente sobre a atenção do estudante.
Os estudantes do Curso de Licenciatura salientam ainda o facto de ser
Imparcial/justo (n = 17), de Facultar o material pedagógico (n = 11) e de
Utilizar estratégias pedagógicas eficazes (n = 7), sendo expressivas as
palavras destes estudantes:
- Um bom professor é um professor que capta a atenção dos alunos, ajuda-os,
motiva-os, interessa-se pela sua aprendizagem, e sobretudo não se fixa nos maus
resultados, deve ser isento e justo, ( ) ECLE 183;
- Um bom professor' é aquele que se preocupa com o seu modo de interagir com
os seus alunos, que se preocupa com a maneira como leciona as suas aulas. É
aquele que se preocupa com a aprendizagem dos seus alunos arranjando formas de
se adotar e de adaptar as suas matérias às necessidades de aprendizagem dos
seus alunos. ECLE 187.
Os estudantes dos Cursos de Pós-Licenciatura destacam também a Atitude
pedagógica (n = 19), o Direcionar o ensino para práticas profissionais/
realidade (n = 6) e o Estar sempre atualizado (n = 6), como ilustram estes
discursos:
- Deve ter conhecimento científico atualizado, saber passá-lo, transmiti-lo,
envolvendo os aprendentes. Promovendo a reflexão e a crítica. É também
importante que saiba fazer a ponte para a realidade, para o contexto de
trabalho. ECPLEE 190;
- Todo aquele que estimula, apoia, orienta, colabora com o aluno no
desenvolvimento de capacidades crítico-reflexivas valorizando as suas
capacidade/potenciais. ECPLEE 193.
Transparece a importância que o contexto profissional assume para estes
estudantes, uma vez que lhes serve de referência e lhes permite estabelecer
significados. Nesta postura, o Bom Professor deve conhecer a realidade global
que interfere no seu trabalho, refletir sobre ela, discriminar as práticas,
pois só assim poderá dar significado e sentido à aprendizagem, o que é
concordante com o defendido por Nóvoa (1992) relativamente á atividade docente.
De um modo global, os resultados obtidos estão em conformidade com os
encontrados por Gabrielli e Pelá (2004), Feitoza, Cornelsen e Valente (2007),
Cabalín e Navarro (2008), Cunha (2008), López et al. (2010) e Martínez (2010),
sugerindo que os estudantes valorizam, no Bom Professor, aspetos relativos às
suas competências formais ' saber e saber fazer, mas conjugadas com outras de
cariz mais pessoal ' saber ser, numa perspetiva multidimensional.
Conclusão
Na sua prática, o Bom Professor necessita de entrelaçar as Dimensões Humana,
Técnica e Ideológica, colocando no centro do processo de aprendizagem a relação
interpessoal, organizando e sistematizando a prática pedagógica enquadrada numa
cultura específica que se espera seja reproduzida pelos estudantes.
Do perfil traçado pelos estudantes neste estudo, sobressaem as competências
pedagógicas e científicas, sendo um Bom Professor o que tem atualidade
científica conjugada com habilidade pedagógica e responsabilidade profissional,
num compromisso com os estudantes para o sucesso do processo de aprendizagem.
Vislumbram-se, ainda, elementos concetuais tradicionais - o bom professor é
aquele que detém o saber de forma indiscutível, começando a emergir outros mais
contemporâneos - um professor construtor do conhecimento, em interação
permanente com a realidade construída que lhe serve de referência.
Ao caracterizarem o Bom Professor, os estudantes mobilizaram indicadores que
encontram correspondência com a globalidade dos indicadores relativos ao
desempenho dos professores constantes no processo de autoavaliação da ESEnfC,
contudo colocam em perspetiva a inclusão ou reformulação de outros indicadores
tendo em vista o contínuo aperfeiçoamento dos mecanismos auto avaliativos da
Escola.
Em síntese, conquanto os estudantes tenham apontado indicadores consensuais a
respeito do que esperam da prática docente, há que se reconhecer a complexidade
de traduzir o Bom Professor num conceito acabado:
Não sei se existe o professor ideal'. Em suma o bom professor é aquele que
consegue ser exemplo no seu dia-a-dia e que deixa uma marca para sempre.
ECPLEE 192