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EuPTCVHe0874-02832012000200014

EuPTCVHe0874-02832012000200014

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0874-0283
Year2012
Issue0002
Article number00014

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Saberes e práticas de mães ribeirinhas e o cuidado dos filhos recém-nascidos: contribuição para a enfermagem

Introdução O interesse pelo estudo surgiu do contacto direto com mulheres ribeirinhas e sua cultura peculiar através de um período de convívio no qual fui académica voluntária na assistência em saúde local. O cenário é a cidade de Benjamin Constant, localizada nas margens do Rio Solimões, região sudoeste do Estado do Amazonas, Brasil. Por ser uma área de fronteira com mais dois países, Colômbia e Peru, a população é formada por estrangeiros, descendentes de índios e de imigrantes nordestinos que ocuparam o Estado do Amazonas na segunda metade do século XIX atraídos pela extração do látex.

Como esta experiência pude associar as relações entre enfermagem e a cultura, entendendo que a prática profissional da enfermagem se define como uma profissão focalizada no fenómeno, nas atividades do cuidado e comportamento humano e suas variações determinadas pelo processo cultural (Leininger e McFarland, 2002).

A cultura influencia diretamente o processo saúde-doença dos indivíduos, familiares ou grupos. Por este motivo, a enfermeira poderá desenvolver ações congruentes, se interagir com a consciência de que a sua cultura pessoal e profissional poderá ser diferente daquela dos indivíduos, famílias e grupos com quem está atuando (Leininger e McFarland, 2002).

Através da convivência com a população ribeirinha, constatei como os valores culturais das mães podem influenciar de modo direto no cuidado com os filhos.

As práticas culturais estão extremamente inseridas na rotina diária das pessoas, e os neonatos, por serem frágeis, podem estar suscetíveis ao adoecimento como por exemplo, o enclausuramento nas residências no primeiro mês de vida e o número de banhos racionados ou permitidos conforme o avançar dos dias de vida. Os recém-nascidos são então os mais vulneráveis aos costumes, pois se trata do período em que é totalmente dependente do cuidado materno.

Outras práticas também são realizadas na alimentação, como o fato da não- ingestão de animais reimosos (classificação para determinar o grau de segurança dos animais selvagens e domésticos para o consumo) por aqueles indivíduos que tenham feridas, erupções cutâneas e doenças inflamatórias, ou ainda por mulheres nos períodos de menstruação, gravidez ou pós-parto. Quanto aos cuidados com os recém-nascidos, é comum a procura do rezador para curar o mau- olhado, o uso de fitinha vermelha na testa do bebé para acabar com o soluço, colocar óleo de mamona no coto umbilical ou não dar banho no recém-nascido nos primeiros dias, por acreditarem que ela poderia morrer.

O encontro entre o enfermeiro e a população ribeirinha pode ser uma oportunidade significativa de troca de informações, saberes e práticas em saúde. No entanto, o que é perceptível para uns, pode ser um desencontro entre as ações dos profissionais de saúde e a comunidade ribeirinha, principalmente no que diz respeito à cultura local e sua forma de cuidar, especialmente dos recém-nascidos.

Sabe-se que um cuidado culturalmente coerente com uma realidade funciona como uma estratégia de atenção diferenciada, que aproxima o saber popular do saber profissional, como nos fala Leininger e McFarland (2002). Porém, é sabido que os currículos dos cursos de saúde não contemplam discussão da realidade das famílias, por exemplo, ribeirinhas, indígenas, portanto a formação dos profissionais de saúde está distante da real necessidade da população brasileira.

É importante entender como as mães ribeirinhas vivem, pensam, sonham para as suas vidas e como a sua cultura influencia no cuidado com os seus recém- nascidos, estabelecendo uma interação constante entre os saberes, valores e práticas da vida quotidiana. Conhecendo as práticas da cultura ribeirinha, os profissionais de saúde poderão desenvolver condutas que aliadas com a comunidade possam evitar prejuízo na saúde e bem-estar do recém-nascido.

Respeitando e orientando o saber popular é possível adotar medidas ativas e produtivas locais com o intuito de desmistificar algumas práticas populares e promover a saúde dos neonatos, a partir do cuidado materno. Este estudo tem como objeto: "Saberes e práticas de mães ribeirinhas e o cuidado materno dos seus filhos recém-nascidos." Para o desenvolvimento do tema foram adotados os seguintes objetivos: identificar os valores culturais materno no cuidado dos filhos recém-nascidos ribeirinhos; discutir os saberes e as práticas de mães ribeirinhas com relação ao cuidado do filho recém-nascido.

Quadro teórico O referencial teórico utilizado foi a Teoria do Cuidado Cultural de Madeleine Leininger, enfermeira e antropóloga americana. O objetivo desta teoria é descobrir, documentar, conhecer e explicar a interdependência do cuidado e do fenómeno com as diferenças e semelhanças entre as culturas. A finalidade é manter ou retornar o bem-estar (saúde), ou enfrentar a doença de modo culturalmente apropriado, tendo em vista que a saúde é o estado percebido ou cognitivo de bem-estar, que capacita o indivíduo ou grupo a efetuar as atividades segundo os padrões desejados em determinada cultura. Esta última é constituída por valores, crenças e práticas compartilhadas, apreendidas ao longo das gerações (Leininger e McFarland, 2002).

As relações entre mãe e filho iniciam-se desde a gestação, onde começam os cuidados prestados ao filho, e a influência da cultura é percebida a partir deste momento, quando o saber popular e a família se fazem presente. E como esta influência se reflete no processo saúde/doença de mãe e filho, o conhecimento destas relações, através da Teoria do Cuidado Cultural, possibilitou-me levantar as dimensões da estrutura sociocultural das mulheres ribeirinhas, traduzindo como vivem, seu modo de vida, crenças e valores, entendendo, assim, como as mulheres cuidam de seus filhos à luz dos saberes populares.

Metodologia Trata-se de um estudo descritivo-exploratório com abordagem qualitativa, que a pesquisa exploratória tem como objetivo explorar aspectos de uma situação (Minayo et al., 2003) e a descritiva têm como objetivo a descrição das características de determinada população ou fenómeno, sendo uma das suas características mais significativas a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, como questionários (Gil, 2002). As pesquisas descritivas são as que geralmente, junto com as exploratórias, são utilizadas pelos pesquisadores sociais preocupados com a prática.

A fim de garantir o cumprimento das questões éticas, o estudo foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, considerando-se o que prevê a Resolução 196/96 do Conselho Nacional da Saúde ' CNS/MS a qual estabelece normas para a pesquisa com animais e seres humanos (Brasil, 2006). Ressalta-se que, todos os sujeitos foram informados sobre a justificativa, os objetivos e a metodologia do estudo. Foi ainda assegurada a confidencialidade dos dados, bem como o respeito ao anonimato dos sujeitos envolvidos. Estes, após receberem todos os esclarecimentos pertinentes ao estudo assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

Para a colheita dos dados foram utilizados como instrumentos um questionário, composto de duas etapas: a primeira, referente à identificação socioeconómico e cultural e a segunda etapa uma entrevista estruturada com o objetivo de conhecer o dia a dia das mães ribeirinhas e os valores que influenciam no cuidado dos filhos recém-nascidos. Durante a entrevista foram utilizadas perguntas que versaram sobre: alimentação (artificial e/ou aleitamento materno), higiene (banho e coto umbilical), vestimenta, direitos da criança (certidão de nascimento, vacinação, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento), outros (banho de sol, cuidado com o filho doente).

E a análise qualitativa seguiu o método da etnoenfermagem de Leininger, que utiliza quatro fases específicas: 1) leitura e releitura, organização da documentação; 2) identificação e categorização de narradores e seus componentes codificando e classificando os dados; 3) análise contextual e; 4) síntese e interpretação emergindo uma categoria analítica: cuidado materno com o banho e coto umbilical do recém-nascido ribeirinho.

Resultados e discussão Durante a minha estada em Benjamin Constant, enxerguei a necessidade de identificar, inteirar-me e respeitar a cultura local. A partir desta diferenciação de assistência, o trabalho de enfermagem pôde se desenvolver de forma mais coerente com a realidade das mulheres, deixando-as mais integradas no estudo.

As informantes do estudo foram vinte mães ribeirinhas que viviam na cidade de Benjamin Constant, Amazonas, Brasil e que eram responsáveis pelo cuidado dos filhos ribeirinhos. Como critérios de exclusão: mães que delegam o cuidado dos filhos a outras pessoas e que não tenham filhos ribeirinhos. Para este estudo, entende-se por filhos ribeirinhos toda criança que tenha nascido nas cidades às margens do Rio Solimões.

A idade entre elas variou de 20 a 46 anos, com média de idade 33 anos. Dentre as participantes, quinze tinham entre 20 e 33 anos, e cinco tinham entre 34 e 46 anos de idade. Nota-se a presença de duas gerações de mulheres no estudo. A diferença de idade é de grande valia para a pesquisa, que, cada geração, é possível vislumbrar mudanças culturais em uma sociedade (Laraia, 2003).

Com relação à situação conjugal, dezesseis (80%) possuem relação estável, três (15%) são solteiras e uma (5%) é divorciada. Quanto à escolaridade, duas (10%) são analfabetas, seis (30%) possuem o ensino fundamental Incompleto e duas (10%) o completaram. O ensino médio completo é destaque, sete (35%) conseguiram completar e três (15%) não o concluíram. O grau de instrução certamente influencia as práticas de cuidado dos filhos ' entre elas a alimentação, higiene, cuidado em enfermidade, entre outras (Leininger e McFarland, 2002).

Quanto à ocupação, sete são agricultoras, plantam mandioca, abacaxi, arroz, cana-de-açúcar, feijão, milho, banana, cacau e coco, para sua própria subsistência e vendem o excesso de suas produções, seis relataram ser donas de casa, três são técnicas de enfermagem e trabalham no único hospital da cidade, duas são estudantes e uma é comerciante. Quanto ao número de filhos, variou de 2 a 6 filhos.

As moradias são muito próximas umas das outras, o que estreita os laços entre as famílias. Quanto ao material usado para construção das casas: dezessete (85%) são de madeira e três (15%) de alvenaria. A justificativa para a maioria as casas serem de madeira, segundo as depoentes, é o prazo da construção duas semanas, a um preço bem reduzido em relação às de alvenaria.

Quanto ao número de habitantes em cada casa variou de 4 a 12 moradores. Cabe destacar que de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2010, a média nacional de pessoas que dividem a mesma casa é de 2.1, enquanto que a média de pessoas que moram na mesma casa das entrevistadas é de 6 pessoas.

Cuidado materno com o banho e coto umbilical do recém-nascido ribeirinho Cuidado com o banho do recém-nascido: Quando questionadas sobre os cuidados com o recém-nascido durante o banho, onze (55%) disseram ter maior atenção para não deixar entrar água no ouvido, quatro (20%) ficam sempre atentas para a limpeza do coto umbilical. Duas (10%) disseram ter atenção para não deixar cair sabão nos olhos e uma (5%) se preocupa com o cuidado na limpeza da genitália, outra (5%) com a temperatura da água, e uma (5%) disse ter cuidado para não deixar o bebé cair durante o banho.

O banho do recém-nascido, na maioria das culturas brasileiras, é dado desde o primeiro dia de vida e para isso deve-se fazer uso de água tratada com cloro ou fervida e sabonete neutro, devendo ser evitado o uso de xampus, talcos e loções perfumadas (BRASIL, 2006). Neste estudo, as mães demonstraram grande preocupação para a água do banho não entrar no canal auditivo e em contrapartida apenas uma relata o cuidado com a higiene da genitália, importante para a prevenção de assaduras.

É necessário proteger o ouvido contra a entrada de água sendo uma das recomendações para evitar infecção no ouvido. Quanto à água do banho, deve estar confortavelmente morna, por volta de 37º C. Pode-se usar um termómetro de água, o seu cotovelo, ou a parte interna do pulso para verificar a temperatura da água (Brasil, 2006). Cabe destacar que, dependendo do clima, é hábito dar o banho em água tépida ou frio. Neste estudo, apenas uma mãe relata preocupação com a temperatura da água.

Segundo Beck et al. (2004), o sistema para lutar contra infecções não está desenvolvido em um recém-nascido. Isso significa que o recém-nascido pode desenvolver infecções mais facilmente que uma criança mais velha ou um adulto.

Conforme o bebé cresce, o sistema que combate infecções fica mais forte. A mãe e a família precisam proteger o recém-nascido contra infecção no nascimento e nos primeiros meses de vida.

O uso de ervas medicinais no banho do recém-nascido: A relação existente entre a sabedoria popular e a cura das doenças está diretamente ligada à utilização de plantas medicinais, que é uma das mais antigas práticas populares em saúde, conhecida predominantemente por mulheres (Muller, Araújo e Bonilha, 2007).

Cabe destacar que essas práticas não ocorrem apenas em áreas rurais ou afastadas, mas também nas áreas urbanas em todos os níveis sócio-económico- educacionais, portanto, a medicina popular é extensamente praticada e representa uma alternativa que faz concorrência à medicina tradicional e científica.

Para Lomba (2001), as mães sabem que as crianças são dependentes da sua proteção e necessitam que seja minimizada a sua vulnerabilidade à doença. No estudo, as informantes responderam se utilizavam as ervas medicinais para o banho do recém-nascido e 90% (18) falaram que utilizavam. Dentre as ervas medicinais usadas estão: folha de limão, jambú, mucuracáa, manjericão, japana, cravo, alfavaca e hortelã, conforme quadro 1 abaixo.

Quadro 1 ' Propriedades e indicações terapêuticas das folhas utilizadas no banho do recém-nascido.

As ervas hortelã, alfavacão ou manjericão e a oriza pertencem a uma importante família Lamiaceace, do ponto de vista medicinal, visto que nela se concentra um grande número de plantas referidas e citadas como medicinais em todo o mundo. A família também é importante como fonte de espécies de grande valor no mercado, pois são usadas como condimentos, alimentos, bem como na indústria de perfumes e cosméticos.

as ervas japana, jambu e cravo são da família Asteraceae, que pode ser considerada uma das mais importantes fontes de espécies vegetais de interesse terapêutico, dado o grande número de plantas pertencentes a ela que são usadas popularmente como medicamentos, muitas das quais amplamente estudadas do ponto de vista químico e farmacológico.

As folhas de mucuracaá e limão são usadas para o banho e é útil como antisséptico e antiemético para crianças; o uso tópico do preparado de folhas de mucuracaá, alfavaca e limão é utilizado contra dores de cabeça. O uso externo das folhas novas e da raiz, no alívio de dores musculares, também é comum.

Os banhos dos filhos são preparados, na maioria das vezes, na água em temperatura ambiente e em depósitos, como, por exemplo, bacias de plástico, onde as mães ribeirinhas relataram misturar mais de uma folha com o intuito de potencializar a ação contra os males que afligiam seus recém-nascidos.

As mães disseram ter cuidado para que o bebé não ingerisse a água do banho e também quanto ao tempo dentro da solução, com duração de cinco a dez minutos.

Cuidado com o coto umbilical: Quanto ao cuidado do coto umbilical, sete (35%) utilizaram faixa chamada de umbigueiro e usavam para limpeza óleo Johnson®, violeta de genciana, mertiolate, soro fisiológico ou banha de cobra, seis (30%) limpavam somente com álcool, cinco (25%) passavam óleo de andiroba ou óleo de copaíba para cicatrização e duas (10%) usavam de banana queimada.

O cuidado com o coto umbilical é necessário e muito importante para evitar que um recém-nascido tenha tétano ou sepse (Beck et al., 2004). Limpá-lo com substâncias ou cobri-lo com curativos ou faixas podem causar infecções graves por manter principalmente a área ocluída e propícia à proliferação de micro- organismos.

Para Di Stasi, Hiruma-Lima e Akiko (2002), o óleo de copaíba é indicado para cicatrização e mais de 50 outras finalidades, dentre as quais, destacam-se: anti-inflamatório, antisséptico, vermífugo, faringite, feridas e machucados (cicatrizante), psoríases, eczemas, tumores e dermatoses. a andiroba tem as seguintes propriedades medicinais: antidiarreica, anti-inflamatória, antirreumática, antisséptica, cicatrizante, emoliente, febrífuga. Utilizar substâncias no cordão umbilical ou cobri-lo com curativos pode causar infecções graves no cordão umbilical, como tétano e septicemia Quanto ao de banana queimada não foram encontradas citações científicas sobre seu mecanismo de ação.

O cuidado com o coto umbilical é essencial para cicatrização e leva em média sete dias para mumificação e queda. A região deve permanecer seca e limpa, para evitar infecção e por isso é importante orientar as mães para a utilização do álcool a 70%, com um chumaço de algodão ou hastes flexíveis de algodão, seguindo da base até a extremidade do coto (Agenda de Compromisso com a Assistência Integral à Saúde da Criança e Adolescente, 2004).

Simpatia em relação ao coto umbilical do recém-nascido: Quando perguntado as mães se elas conheciam alguma simpatia em relação ao coto umbilical, dezanove (95%) disseram que haviam realizado, conforme podemos ver no quadro 2 a seguir.

Quadro 2 ' Simpatia em relação ao coto umbilical, finalidade e como realiza.

Com relação à simpatia com coto umbilical, das 20 mães dezanove (95%) as utilizam, sendo que quatorze (70%) afirmam que guardam o coto umbilical de seu filho para ter sorte, três (15%) disseram que faziam chá com o coto umbilical e ofereciam para o recém-nascido em episódios de cólica, uma (5%) enterrou o coto umbilical no quintal de casa para a criança ter vínculo com a família e a outra (5%) escondeu para que o filho não se tornasse ladrão.

Quando questionadas sobre o que fazem quando o seu recém-nascido tem cólica e se realizam alguma simpatia, dez (50%) mulheres ofereceram chá que pode ser de hortelã, elixir paregórico indicado para dores abdominais e para cólica considerada muito forte, cidreira ou capim limão. Quatro (20%) disseram ter cuidado com a roupa do recém-nascido, não torcendo e não secar ao sereno, duas (10%) levaram seus recém-nascidos no rezador, sendo que uma (5%) defuma o bebé com tabaco misturado do de chifre de veado e folhas cheirosas, uma (5%) mãe relata não deixar que nenhum estranho veja o bebé antes de seus sete dias de vida, uma (5%) amarrou a fralda da própria criança no listão da casa, uma (5%) mãe relata usar nas costas da criança formiga saúva e outra (5%) oferece o chá do próprio coto umbilical ao bebé.

Assim como estudo de Galvão e Silva (2011), as experiências e a educação da mulher desde a mais tenra idade influenciarão as suas atitudes e desempenho no cuidado de seus filhos e netos posteriores e que certamente atitudes passadas de geração em geração desenvolverão atitudes positivas de cuidado com o outro.

Conclusão O estudo evidencia como os valores culturais maternos podem influenciar no cuidado prestado aos recém-nascidos ribeirinhos. A perspectiva transcultural empregada permitiu não identificar características do contexto cultural e social do meio ribeirinho, mas delinear novas frentes para o trabalho da enfermagem nessas comunidades.

O conhecimento da habilidade das mães ribeirinhas em cuidar dos seus filhos permitiu apreciar e valorizar as semelhanças e as diferenças culturais de um dado grupo reconhecendo, aceitando e valorizando as suas diferenças culturais.

Os dados e situações levantados devem ser usados na promoção de uma assistência culturalmente adequada e que respeite o saber local das mães para seus filhos com a finalidade de promover o bem-estar e saúde, além de decidir os cuidados de enfermagem que irão preservar, acomodar ou repadronizar.

Constatou-se a importância do profissional de saúde, como cuidador da comunidade e mediador das práticas de cuidado por meio de conhecimento dos valores culturais da área. O profissional de saúde necessita compreender a mulher e o seu contexto para ajudá-la no cuidado direcionado ao seu filho, ou seja, o enfermeiro não pode desconsiderar o cuidado cultural materno e suas experiências passadas, como, também, não devem considerar-se os detentores do saber técnico e científico e sim articular essas vertentes com objetivo de tornar benéfico o cuidado ao recém-nascido ribeirinho.

As conclusões desta pesquisa fortalecem as observações de Madeleine Leininger quando relatam que a Teoria do Cuidado Cultural tem conduzindo a um novo paradigma no cuidado a saúde. Ela move os pesquisadores para longe do enfoque médico, dominante e estreito, patológico e sistemático, para uma perspectiva ampla do comportamento do cuidado humano. Mais acertadamente, focalizar nas culturas tem sido um novo caminho holístico para descobrir a saúde e o bem- estar (Leininger e McFarland, 2002).

Foi um desafio descobrir a influência da cultura no cuidado de mães com os seus filhos ribeirinhos e também uma grata e imensa satisfação conviver e trocar experiências com esta população, experiência essa que não foi aprendida no meio académico. E as informações aqui levantadas podem vir a ser utilizadas para futuras discussões do cuidado materno com um enfoque transcultural, que nada mais é do que escuta, identificar, avaliar, recomendar e negociar.

Sem dúvida, o século XXI traz à tona a discussão sobre a atuação dos enfermeiros em conhecer e trabalhar com diferentes culturas no Brasil e no mundo e assim cuidar de modo eficaz prestando cuidados de saúde culturalmente competentes com a população de diferentes origens culturais.


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