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EuPTCVHe0874-02832013000200014

EuPTCVHe0874-02832013000200014

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0874-0283
Year2013
Issue0002
Article number00014

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Situação vacinal da hepatite B de estudantes da área da saúde

Introducao A infecao pelo virus da hepatite B e um importante problema de saude publica e estima-se que cerca de 600.000 pessoas morrem a cada ano,em decorrencia da hepatite cronica, cirrose e carcinoma hepatocelular (World Health Organization, 2012; Moraes, Luna e Grimaldi, 2010). No Brasil, entre 2000 e 2009 foram registadas 5.441 mortes por hepatite B, levando a uma taxa bruta de mortalidade de 0,3 obitos por 100 mil habitantes (Tauil et al., 2012). O virus da hepatite B e um importante fator de risco para os trabalhadores de saude. Incluem-se neste grupo os estudantes de cursos da saude, pois desde os primeiros periodos mantem contacto com pacientes por meio de aprendizagem pratica com aulas em unidades basicas de saude, ambulatorios e hospitais, onde o cuidado ocorre (Arent, Cunha e Freitas, 2009).

A imunizacao atraves de tres doses da vacina contra esse agravo e a medida de prevencao da doenca mais eficiente. Esta disponivel no servico publico de saude e e iniciada a partir do nascimento; tambem e indicada para proteger pessoas com maior risco de adquirir a infecao, entre elas, os estudantes da area da saude. A vacina contra hepatite B foi comercializada a partir de 1982, tendo sido recomendada desde entao aos profissionais de saude.

Faz-se necessario salientar a importancia de iniciar a imunizacao contra a hepatite B sete meses antes do contacto do estudante com situacoes de risco, considerando, o esquema vacinal de tres doses, com intervalo de administracao da primeira para a terceira dose de 180 dias (Brasil. Ministerio da Saude.

Secretaria de vigilancia em Saude, 2009).

Na Universidade Federal de Sao Joao Del Rei, Campus Dona Lindu (UFSJ), os cursos de enfermagem, medicina e farmacia contam com a insercao dos estudantes, em Unidades de Saude, desde o primeiro ano academico, onde mantem o contacto com pessoas com as mais diversas doencas evitaveis por imunizantes. Alem disso, os estudantes tambem desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensao junto a comunidade. A partir do segundo ano de curso, os graduandos de medicina e enfermagem mantem o contacto tambem com pacientes hospitalizados e em situacoes de risco, o que aumenta a exposicao a infecoes, sobretudo as que estao ligadas aos acidentes com perfurocortantes como e o caso da hepatite B.

As atividades academicas desenvolvidas pelos estudantes de graduacao da area da saude sao similares aquelas que sao realizadas pelos profissionais de saude.

Assim e evidente a necessidade de imunizacao como estabelece a Norma Regulamentadora - NR 32 (2008), que tem por finalidade a implementacao de medidas de protecao a saude dos trabalhadores dos servicos de saude, incluindo a vacinacao. Neste sentido e importante a verificacao da situacao vacinal dos discentes para o diagnostico de saude em relacao a imunizacao e o planeamento de acoes direcionadas para a regularizacao do status vacinal.

Vale destacar que no terceiro periodo do curso de enfermagem da UFSJ e ministrado conteudo sobre a vacinacao e como atividade de aprendizagem realiza- se uma campanha vacinal para os estudantes dos cursos de saude. A Secretaria Municipal de Saude de Divinopolis e parceira nesta intervencao, disponibilizando as seguintes vacinas: Dupla Adulto; Triplice ou Dupla viral; Febre Amarela; e Hepatite B. No ano de 2010 aproveitamos esta atividade de aprendizagem para realizar esta investigacao.

Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar a situacao vacinal de hepatite B dos estudantes de enfermagem, farmacia e medicina da Universidade Federal de Sao Joao Del Rei, campus Divinopolis, em 2010, e descrever o conhecimento destes sobre a forma de contagio da doenca.

Enquadramento/ Fundamentacao teorica O virus da hepatite B tem grande importancia pelo seu potencial de causar infecao cronica (5 a 10% dos individuos adultos infetados) e, sobretudo, pelo alto risco de transmissao, que varia de 6 a 30%, nos acidentes com perfurocortantes que envolvem sangue sabidamente contaminado (Brasil.

Ministerio da Saude. Secretaria de Vigilancia em Saude, 2009).

Os estudantes da area de saude tambem constituem um grupo de risco para a infecao pelo virus da hepatite B, pois desde os primeiros periodos que mantem contacto com pacientes por meio de aprendizagem pratica com aulas em ambiente hospitalar e nas unidades ambulatoriais onde o cuidado e prestado (Arent, Cunha e Freitas, 2009). Eles desenvolvem parte das suas atividades academicas em situacoes semelhantes a pratica profissional, o que tambem os coloca em risco de exposicao a material biologico (Gir et al., 2008).

Os acidentes com material biologico entre profissionais e um facto real. Num levantamento realizado para analisar os acidentes com perfurocortantes, 25,3% dos acidentados apresentavam esquema vacinal contra hepatite B incompleto e 15,1% dos casos de exposicoes ocupacionais envolveram estudantes (Gir et al., 2008).

Porem, observa-se que a cobertura vacinal entre os trabalhadores da saude ainda e baixa, verificando-se que, mesmo apos o ingresso no mercado de trabalho, esses profissionais continuam sem a necessaria protecao. Essa constatacao pode ser atribuida a falta de conhecimento por parte dos profissionais de saude, assim como a pouca importancia que e dada a esta protecao especifica (Araujo, Paz e Griep, 2006).

Um estudo realizado para determinar a prevalencia dos marcadores da hepatite B em profissionais de saude, detetou que do total de funcionarios vacinados, 87,8% completaram o esquema de vacinacao e os outros 12,2% receberam apenas uma ou duas doses da vacina. Eles acreditam que a nao realizacao do esquema completo e um facto que ocorre frequentemente na vacinacao contra a hepatite B, seja por esquecimento ou pela ideia de que uma unica dose ja confere imunidade (Moreira e Lima, 2007).

Os estudantes brasileiros do curso de graduacao em Medicina iniciam estagios extracurriculares precocemente e desordenadamente, as vezes sem conhecimento das normas de biosseguranca e sem a verificacao da sua situacao vacinal, correndo risco de infecao por doencas imunopreveniveis (Moreira e Lima, 2007).

Um estudo com alunos de odontologia encontrou 75,9% de academicos vacinados (Cavalcanti et al., 2009).

A transmissao do virus da hepatite B antes da introducao da vacina constituia um grave problema de saude publica. Entretanto, o numero de profissionais de saude infetados diminuiu nos ultimos 20 anos, o que tem sido atribuido a vacinacao e a utilizacao das medidas de precaucao padrao. Assim, considera-se que e minima a possibilidade de um profissional vacinado adquirir o virus da hepatite B (Paiva, 2008).

Metodologia Trata-se de um inquerito vacinal realizado com estudantes de saude da Universidade Federal de Sao Joao Del Rei, campus Divinopolis, Minas Gerais/ Brasil, em 2010. Foram convidados a participar no estudo todos os graduandos regularmente matriculados nos cursos de Enfermagem, Farmacia e Medicina, totalizando 510 estudantes. Foram selecionados para este estudo os alunos que estavam no momento da coleta de dados e que aceitaram participar na pesquisa.

Os criterios de exclusao foram os estudantes que nao quiseram participar na pesquisa e os que nao estavam presentes no momento da colheita de dados. Assim, participaram na investigacao 392 (76,9%) alunos.

Durante a intervencao aplicou-se o questionario estruturado e autoaplicado que continha questoes relativas a: sexo; idade; curso; ano em que ingressou na universidade; situacao vacinal contra a hepatite B; se o estudante recebeu orientacoes da Instituicao de Ensino Superior sobre a imunizacao contra a hepatite B; local onde recebeu a imunizacao; contacto com o material perfurocortante; se ja teve algum acidente com o material perfurocortante; e quais as formas de contagio do virus da hepatite B que o academico conhece. Foi realizado um estudo piloto com 32 academicos dos tres cursos para testar e validar o questionario aplicado.

Foram utilizados os programas EPIDATA 3.1 para a tabulacao dos dados e o EPI INFO 6.0 para a analise descritiva.

Este estudo obedece aos principios eticos da Resolucao n? 196/96 do Conselho Nacional de Saude e foi aprovado pelo Comite de Etica da Fundacao Educacional de Divinopolis/FUNEDI. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados Do total dos 392 participantes, 144 (36,7%) sao estudantes do curso de medicina, 129 (32,9%) de enfermagem e 119 (30,4%) de farmacia. Os resultados apontaram que a maioria dos participantes era do sexo feminino, possuiam menos de 25 anos de idade e tomaram tres ou mais doses de vacina contra a hepatite B, conforme recomenda o Ministerio da Saude - MS (Brasil. Ministerio da Saude.

Secretaria de Vigilancia em Saude, 2009) (Tabela_1).

Vale destacar o grande numero de alunos que nao tomaram as tres doses recomendadas (15,6%) e nao souberam informar acerca do seu estado vacinal (29,7%). Em relacao ao local onde receberam a imunizacao, 82,1% dos entrevistados foi nas unidades publicas de saude, 7,3% receberam a vacina na propria Universidade, 4,2% em clinicas particulares e 6,4% em outros locais.

Outro resultado de destaque esta no fato de 53,1% dos estudantes relatarem manusear os materiais perfurocortantes nas suas atividade didaticas e 4,1% relataram ja ter sofrido algum tipo de acidente com esses materiais.

Em relacao ao conhecimento sobre as formas de contagio do virus da hepatite B, 91,3% dos estudantes reconheceram os acidentes com materiais perfurocortantes.

Por outro lado, 26,3% nao reconheceram a via sexual como forma de infecao e 16,1% disseram ser a via oral-fecal fonte de infecao. Apenas 6,6% afirmaram desconhecer as formas de transmissao da doenca.

Discussao Verificamos que 93,8% dos estudantes tem menos de 24 anos, o que caracteriza uma populacao jovem. E sabido que a logica racional na prevencao de doencas e pouco motivadora para a juventude, que vive em plena saude e que a ideia de risco nao esta na perspetiva jovem (Cunha-Oliveira et al., 2009). Neste estudo, o considerado numero de estudantes (45,3%) nao imunizados contra a hepatite B pode estar relacionado com as caracteristicas desta fase juvenil. A introducao da vacina contra a hepatite B no calendario nacional do Brasil iniciou-se no ano de 1996 para criancas menores de 2 anos, e somente a partir de 2001 houve a ampliacao do uso desta vacina para os menores de 20 anos de idade. Desta maneira, os entrevistados do estudo no momento da ampliacao do calendario nacional da hepatite B eram maiores de 10 anos, o que de certa forma dificulta a ida aos centros de saude para vacinacao.

Os estudantes de saude sao considerados um grupo de risco para a hepatite B, pelo que e um fator preocupante o numero de estudantes nao imunizados ou com numero de doses insuficientes ou incertas por os colocar em maior risco de contrairem a hepatite B, uma vez que para a soroconversao e necessario a administracao de tres doses da vacina. Estudos semelhantes identificaram prevalencias que variam de 24,7% a 86% de esquemas vacinais incompletos em estudantes e profissionais da area de saude (Garcia e Fachinni, 2008; Silva et al., 2011; Garcia, Blank e Blank, 2007; Ribeiro, 2002).

Espera-se que os profissionais de saude tenham um conhecimento maior sobre as doencas imunopreveniveis e a sua vacinacao. Porem, um estudo realizado para avaliar a cobertura vacinal de alunos do Curso de Especializacao em Saude da Familia, identificou que 31,6% dos enfermeiros, 90,9% dos dentistas e 69,2% dos medicos nao tinham informacao sobre quais as vacinas que o Programa Nacional de Imunizacao preconiza para os profissionais de saude, o que representa uma grande lacuna no conhecimento (Araujo, Paz e Griep, 2006).

Desta maneira, e da responsabilidade da Instituicao de Ensino Superior (IES) assegurar que os estudantes sejam imunizados e informados das vantagens, bem como dos riscos a que estao expostos por falta ou recusa em imunizar-se (Moreira e Lima, 2007).

Tambem e imperativo conhecer o agendamento das doses subsequentes da vacina e a importancia em completar o esquema vacinal para que o individuo nao incorra no esquecimento e se descuide da sua propria protecao, uma vez que o intervalo entre a segunda e a terceira dose e longo (Souza et al., 2008).

Considera-se que os profissionais e os estudantes de saude estao sob risco significativo de contrairem ou transmitirem a doenca pela natureza do seu trabalho. As suas atividades ocupacionais aumentam a sua exposicao ao material biologico, como o sangue, tecidos ou fluidos corporais potencialmente infectantes, e aos materiais perfurocortantes (Garcia, Blank e Blank, 2007).

O manuseio do material perfurocortante por estudantes da graduacao da area da saude e frequente na atividade academica, o que os expoe ao risco acidental devido a inexperiencia clinica e a falta de destreza manual (Oliveira e Goncalves, 2009). Pode-se notar que mais de metade dos estudantes investigados tiveram contacto com perfurocortantes e que uma parte destes ja teve um acidente, o que e um dado relevante porque esses individuos podem nao estar imunologicamente protegidos contra o virus da hepatite B. Uma vez que estes discentes desenvolvem grande parte das suas atividades academicas em estabelecimentos de saude e que na maioria das vezes nao tem conhecimentos sobre biosseguranca, tornam-se mais vulneraveis aos riscos de infecoes causadas por acidentes nos estagios.

Um estudo para identificar e analisar as exposicoes ao material biologico potencialmente contaminado, ocorridas entre os estudantes dos cursos de graduacao da area da saude do municipio de Ribeirao Preto-SP, verificou uma percentagem de 15,1% de casos de exposicoes ocupacionais envolvendo estes estudantes (Gir et al., 2008). E necessario intensificar a orientacao sobre as medidas de biosseguranca, incluindo aspectos relacionados a imunizacao, especialmente a vacina contra a hepatite B (Gir et al., 2008).

Noutro estudo realizado com estudantes de medicina com o objetivo de avaliar o risco ocupacional de exposicao ao HIV, 68 (50%) dos estudantes relataram ja ter sofrido algum tipo de exposicao ao sangue (Junior et al., 1999). As taxas de exposicao a riscos ocupacionais tambem sao altas entre os trabalhadores. Um estudo realizado com trabalhadores de enfermagem identificou que 17,3% ja sofreram acidentes, sendo que na maioria o sangue e a agulha sao o principal agente causador durante o descarte de material (Oliveira, Kluthcoviskt e Kluthcoviskt, 2008). Devido a isso, a utilizacao da vacina e de significativa importancia, uma vez que a vacina utilizada no Brasil confere imunidade acima de 95% (Moraes, Luna e Grimaldi, 2010).

Investigou-se tambem o conhecimento dos graduandos sobre as formas de contagio da hepatite B. Observou-se que a maioria dos participantes relataram a via hematologica como a principal via de transmissao do HBV. Contudo, poucos sao os que demonstraram conhecimento sobre a transmissao vertical, fator a que devemos dar importancia, pois trata-se de graduandos que futuramente participarao de forma ativa na saude da populacao. Os dados reforcam a importancia de aumentar a orientacao dos discentes a respeito das formas de transmissao do virus e das suas respectivas consequencias no organismo.

E importante ressaltar que todos os academicos com situacao vacinal irregular foram orientados para regularizar o esquema das vacinas no inicio das atividades academicas, visto que a insercao destes alunos nas unidades de saude acontece no primeiro periodo do curso.

Por ultimo, cabe destacar que por se tratar de um questionario autorrespondido pode-se especular que os resultados superestimam a aderencia as medidas de protecao individual, ja que os sujeitos tendem a reportar comportamentos aceitaveis mesmo quando nao os adotam. Porem, ainda assim, os resultados fornecem um panorama geral sobre a cobertura vacinal e possiveis medidas a serem adotadas.

Conclusao Constatou-se que uma parte significativa dos estudantes de saude nao esta adequadamente imunizada contra a hepatite B, o que evidencia a necessidade de implementar campanhas que reforcem o conhecimento sobre a doenca e melhorem a cobertura vacinal entre os alunos.

Ainda quanto as formas de transmissao da hepatite B, verificou-se que os estudantes necessitam de aumentar os seus conhecimentos, considerando que alem da sua propria protecao, eles tambem sao agentes multiplicadores da informacao a comunidade.

Diante do exposto, cabe as instituicoes de ensino da area da saude irem alem da formacao tecnico-cientifica dos graduandos, devendo-se comprometerem com as mudancas de comportamento dos futuros profissionais. Neste sentido, faz-se necessario o investimento em acoes educativas, uma vez que no local estudado os academicos estao inseridos desde o primeiro periodo da graduacao, em estagios, e, desta forma, estao em contato constante com as formas de transmissao da hepatite B.


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