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EuPTCVHe1646-706X2013000200004

EuPTCVHe1646-706X2013000200004

National varietyEu
Country of publicationPT
SchoolLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-706X
Year2013
Issue0002
Article number00004

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Angioacesso autólogo: determinantes da funcionalidade e permeabilidade

Introdução Segundo o registo da ERA-EDTA Registry Annual Repport 20091, existem cerca de 10152 doentes no país em programa regular de Hemodiálise e 660 realizam diálise peritoneal, existindo uma prevalência aproximada de 75% de fístulas arteriovenosas, 20% de catéteres vensosos centrais e 5% de acesso protésico.

Num país de reduzida dimensão como o nosso, trata-se de um número muito considerável de doentes, implicando morbilidade, mortalidade e custos sociais e económicos muito elevados.

A morbilidade e mortalidade associada aos acessos vasculares, nomeadamente aos catéteres de hemodiálise, é muito significativa2. Neste contexto surgiu a necessidade da criação de guidelines internacionais (KDOQUI, 1997)3 que regulem a construção, uso e seguimento do angioacesso.

Um dos principais aspectos nelas referidos é o uso preferencial da fístula arteriovenosa (FAV) dada a sua menor associação a co-morbilidades e mortalidade1-3. O angioacesso deve ser construído o mais distalmente possível, sendo o diâmetro interno da veia e artéria superior a 2 mm, no membro superior não dominante, e com uso prioritário de material autólogo5.

Neste contexto, o estudo realizado pretendeu identificar e quantificar o impacto dos factores determinantes da permeabilidade e funcionalidade dos angioacessos autólogos primários na cirurgia de ambulatório, avaliar a taxa de complicações e calcular a taxa de mortalidade global através da curva de sobrevida.

Material e métodos Foram colhidos prospectivamente os dados de 94 acessos autólogos realizados em 88 doentes no ano de 2010. Estes foram construídos no departamento de cirurgia de ambulatório. O tempo de follow-up variou de 365 dias a 898 dias. Para efeitos de follow-up os doentes foram contactados telefonicamente, caso esse contacto não fosse conseguido eram utilizados os dados refrentes à revisãi dos processos.

Definições O tempo de permeabilidade primária foi definido como o intervalo desde a construção do acesso até qualquer procedimento visando a manutenção da permeabilidade e/ou até trombose do acesso.

O tempo de funcionalidade equipara-se ao intervalo desde a construção do acesso até à primeira canulação con ceito do angioacesso com sucesso para a realização de hemo diálise6.

Foram analisados os seguintes factores e o seu respectivo impacto na permeabilidade: idade, sexo, diabetes mellitus, doença arterial obstructiva periférica, pacemaker/CDI, cateter de hemodiálise prévio e oclusão de acesso prévio.

A análise estatística foi realizada usando o programa SPSS® v20.0 sendo a permeabilidade e funcionalidade estimadas pelo método de Kaplan-Meier e o impacto dos factores determinantes avaliado pelo teste de log-Rank (variáveis categóricas) e regressão de Cox (variáveis contínuas).

A maioria destes acessos (cerca de 80-90%) foram efectuados por um mesmo cirugião vascular ou sob a supervisão deste.

Resultados Dos 88 doentes incluídos, 39 (44%) eram mulheres e 49 (56%) homens. A idade média foi de 68 anos (28-89). Cinquenta e um (53,3%) acessos foram construídos no punho, 8 (8,5%) no antebraço e 19 (37,2%) no cotovelo. As características demográficas da amostra encontram-se na tabela_1, de ressalvar a elevada prevalência de diabetes (47%).

A taxa de permeabilidade primária foi de 75% aos 6 meses, 74% aos 12 meses tendo-se mantido na última observação, aos 780 dias (fig._1). Dezasseis doentes possuíam uma fístula anterior à data de construção (não funcionante).

Nas FAVs do punho as taxas de permeabilidade foram de 82,2% ao mês, 76,0% para o mês, mantendo-se na última observação. no antebraço foram de 56,0%, tendo-se mantido sempre estáveis. As FAVs do cotovelo registaram permeabilidade de 74.3% no mês, 71,3% ao mês, tendo-se mantido desde então (fig._2).

Os factores referidos em «Material e métodos», com impacto na permeabilidade foram analisados, encontrando-se representados graficamente (figs._3-8) O seu impacto foi avaliado pelo teste de log Rank sendo os valores de p < 0,05 considerados significativos. Para todos os factores estudados, o valor de p mais próximo da significância foi de 0,20 (existência de FAV anterior não funcionante).

Vinte e quatro (27%) doentes foram reeintervencionados; 3 acessos foram encerrados por síndrome de roubo sinto mático, 4 doentes com estenose da FAV susceptíveis de angioplastia e 18 construíram um novo acesso (por trombose).

A taxa de mortalidade foi de 4.5% aos 898 dias.

Todos os doentes que iniciaram diálise pelo angioacesso mantiveram-no funcional na data da última observação.

Discussão Os angioacessos primários construídos na nossa instituição estão de acordo com as principais recomendações das KDOQI sendo maioritariamente localizados no punho, com taxas de permeabilidade global aos 6 meses de 75% e no primeiro ano 74%, sendo estas sobreponíveis às da literatura; Kazemzadeh7, (patência aos 2 anos de 65%), Kalman8 (54% aos 2 anos) e Fokou (75% ao ano)9.

A trombose do angioacesso ocorre em fases muito precoces do follow-up, havendo depois uma estabilização das curvas de permeabilidade. As más condições anató micas encontradas aliadas eventualmente a um perfil hemo dinâmico desfavorável, poderão justificar este facto.

A permeabilidade no punho foi de 82,2% no mês e 76,0% aos 6 meses e mantendo-se na data da ultima observação. Numa metaanálise relativa a angioacessos do punho10, publicada em 20047 com revisão de 30 estudos retrospectivos observou-se uma taxa de permeabilidade global de 62,5% (IC 95% 58,2-73,0%), tendo sido concluido que embora este acesso seja considerado de escolha a falência é muito significativa. Não foi encontrada nesta meta-analise diferença entre as permeabilidades encontradas nos estudos retrospectivos ou prospectivos.

Quanto à diferença notória de permeabilidades para o antebraço, esta explica-se pelo facto de constituir na maioria das vezes uma solução de recurso em doentes com anato mia desfavorável.

A análise estatística por diferentes factores não evidenciou nenhum factor com valor impacto significativo na permeabilidade. (p < 0,05). A literatura apresenta resul tados muito diversos relativo ao impacto de factores. Allon et al.11 e Kazemzadeh7 descrevem o sexo feminino como o único factor independente capaz de influenciar negativamente a permeabilidade, Prischl12 et al não encontram qualquer relação, resultado concordante com a conclusão da metaanálise. De salientar a existência de uma percentagem muito significativa de doentes diabéticos (47%) bem superior à encontrada em muitos dos estudos retroespectivos revistos o que poderá ter uma influência negativa na permebilidade.

Dos doentes estudados houve 24 complicações registadas, uma percentagem mais elevada à obtida por Fokou9, numa revisão recentemente publicada de 626 acessos em 8 anos com uma taxa global de 16% contudo de realçar que o referido autor teve taxas de permeabilidade sobreponíveis, 76% ao ano e 51% aos 2 anos. A taxa de complicações encontrada relacionou-se maioritariamente com trombose do acesso, cuja intervenção passou por um novo procedimento, recorrendo a um acesso temporário caso o processo de diálise fosse premente. Dos 4 doentes que efectuaram angioplastia, 3 deles mantiveram a permeabilidade na última observação. Este poderá ser um indicador para apostar na «permeabilidade primária assistida» ao invés do investimento num novo acesso à priori.

Quanto às limitações deste estudo, a primeira assenta na selecção de doentes para construção de angioacesso ser feita maioritariamente por avaliação clínica, não recorrendo ao uso sistematizado do eco-doppler como recomendam actualmente as guidelines. A amostra de reduzida dimensão, não traduziu valores de prova significativos, embora, os factores conhecidos como desfavoráveis (sexo feminino, idade, diabetes, doença arterial periférica e doença cardíaca) exibam de facto uma tendência para a diminuição da permeabilidade que podendo esta ser significativa com o prolongar do tempo de follow-up e alargamento do tamanho da amostra.

A taxa de permebilidade primária assistida não foi estimada devido ao reduzido número de casos, embora pudesse constituir um dado interessante. Não deixa de ser curiosa uma taxa de mortalidade relativamente baixa (4,5% aos 898 dias), atendendo ao grupo de risco estudado, o que poderá traduzir uma referenciação precoce para construção do acesso, tal como recomendado pelas Guidelines.

Conclusão Sendo assim, é fundamental, a opção da fístula como primeira opção de acesso.

Na nossa instituição esta mos trou ser uma solução com uma baixa taxa de complicações, que poderá ainda ser mais reduzida com a insti tuição de protocolos mais rigorosos de follow-up, nomeadamente para os chamados «grupos de risco». As taxas de permeabilidade obtidas são muito satisfatórias e concordantes com a literatura13-15. Será de considerar a angioplastia dos acessos em fases passíveis de intervenção, muito precoces dado a curva de sobrevida com oclusao nos primeiros dias, evitando a necessidade de partir para acessos mais diferenciados.

Não foi encontrado nenhum factor que afectasse negativamente a permeabilidade, o que poderia ser alterado com o aumento da dimensão da amostra ou do tempo de follow-up, pois havia tendencialmente menor permeabilidade nos determinantes descritos na literatura como associados a mau prognóstico (idade, sexo feminino, acesso prévio não funcionante, doença cardíaca isquémica ou doenca arterial periférica).


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