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EuPTCVHe1646-706X2013000400008

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National varietyEu
Year2013
SourceScielo

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Desafios endovasculares aórticos: cirurgia de recurso em patologia aórtica

Introdução O tratamento endovascular de aneurismas (EVAR) revolucionou o tratamento do aneurisma da aorta abdominal e de várias patologias da aorta torácica1. A introdução de próteses fenestradas/ramificadas tornou possível oferecer este tratamento a doentes com condições anatómicas desfavoráveis. Estas próteses são, no entanto, dispendiosas e exigem muito tempo para a sua produção, o que limita a sua aplicabilidade, especialmente em contexto de urgência. Deste modo, técnicas como a de Chimney2 ou a de Funnel3, permitem-nos dar uma resposta célere, quando necessário, que de outro modo não seria possível. A técnica de Chimneyfoi descrita pela primeira vez em 2003 por Greenberg et al.2. Desde então, a nossa instituição, assim como outras, expandiram esta técnica.

Utilizou-a como resgate de ramos aórticos inadvertidamente ocluídos, ou em aneurismas urgentes, em que dispositivos off-the-shelf necessitariam de ser utilizados2,4,5. Neste procedimento são utilizados stentsparalelos à endoprótese, de modo a preservar o fluxo para um ramo aórtico vital2,4,5. A técnica da Funnel foi descrita por Zanchetta et al em 2006 para o tratamento electivo de um AAA com um colo ectasiado, não existindo nenhuma endoprótese of- the-shelf com diâmetro proximal suficiente para uma selagem eficaz3. O procedimento consiste na utilização de uma endoprótese torácica com cuffproximal de uma endoprótese abdominal3.

Objectivos Este conjunto de casos pretendem demonstrar a exequibilidade das técnicas, reportando algumas das especificidades inerentes a cada uma. São descritos 3 casos clínicos: No primeiro caso utilizou-se a técnica de Chimney para correcção endovascular de um aneurisma envolvendo o arco aórtico; no segundo caso descrito, procedeu-se à exclusão endovascular de um aneurisma justa-renal recorrendo à mesma técnica; no terceiro caso utilizou-se um stent torácico como cuff proximal, contrariando a adversidade anatómica de um colo aneurismático ectasiado.

Casos clínicos Caso clínico ' Chimney torácico: Doente de 67 anos, sexo feminino, com antecedentes pessoais de cardiopatia isquémia (CI) com revascularização coronária prévia, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), dislipidémia e tabagismo. Apresentava um aneurisma sacular da aorta torácica com 68 mm de maior diâmetro, com início 9 mm após a emergência da artéria carótida comum esquerda (ACCE).

Foi realizada a embolização da artéria subclávia esquerda (fig._1) com .035 Nester Platinium Coils (Cook Medical, Bloomington, IN) e a exclusão endovascular do aneurisma com uma prótese torácica 40 × 20 × 40 mm TAG Gore® (W.L. Gore and Associates, Inc., [AZ, USA]), observando-se intra- operatoriamente a exclusão inadvertida da ACCE.

Perante esta intercorrência, optou-se pela exposição da ACCE seguida pela punção retrógrada desta artéria e colocação de uma bainha 6F. Foi colocado um stentauto-expansivel 8 × 40 mm Zilver Cook® (Cook Medical, Bloomington, IN) por via cervical, com repermeabilização da ACCE (figs._1 e 2). Não se verificam endoleaks ou deficits neurológicos focais no final do procedimento . A tomografia computorizada (TC) realizada ao mês de pós-operatório confirmou a ausência de endoleaks e a permeabilidade da ACCE assim com a embolização eficaz da ASE (figs._3_e_4). Ao 28º mês de follow-up, confirma-se a ausência de endoleaks e permeabilidade do stent carotídeo.

Caso clínico ' Chimney abdominal:Doente do sexo masculino, de 66 anos com antecedentes clínicos de CI com triplo bypass coronário prévio, ICC com uma fracção de ejecção do ventrículo esquerdo muito comprometida (F.Ej.: 25%) e uma doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) GOLD 2. Apresentava ainda, como factores de risco para doença aterosclerótica, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão essencial e tabagismo. O doente é referenciado à urgência da nossa Instituição por AAA justa-renal com 68 mm (fig._5) acompanhado por dor abdominal com 48 horas de instalação. Foi realizada a exclusão endovascular do aneurisma utilizando stents renais paralelos a uma endoprótese abdominal.

Utilizou-se a artéria axilar esquerda, após exposição cirúrgica prévia, como via de acesso à colocação dos stentsrenais. Para a entrega destes stents,foram colocadas na aorta descendente duas bainhas Flexor® Ansel Guiding Sheath (Cook Medical, Bloomington, IN), através de um fio-guia Amplatz Super Stiff (Cook Medical, Bloomington, IN).

Procedeu-se então à colocação de uma endoprótese Endurant® (Medtronic Cardiovascular, Santa Rosa, Calif) com um oversize de 30% em relação ao colo proximal e simultaneamente dois stents revestidos a ePTFE 6 × 50 mm Viabahn® (WL Gore, Flagstaff, Arizona) (figs._6 e 7). Foi ainda colocado um stent auto- expansivel Zilver® (Cook Medical, Bloomington, IN) 6 × 40 mm no interior de cada endoprotese renal. Após a sua libertação, efectuou-se uma dilatação simultânea dos stents renais e aórtico.

No angiograma final constatou-se exclusão total do aneurisma com permeabilidade de ambas as artérias renais. A angio-TC realizada ao mês de pós-operatório confirma a ausência de endoleaks e a permeabilidade das artérias renais (fig.

8).

Caso clínico ' Técnica de Funnel:Doente do sexo masculino, com 77 anos de idade e antecedentes clínicos de CI, hipertensão essencial e tabagismo. Tinha ainda antecedentes cirúrgicos de ressecção anterior do recto por doença oncológica, hepatectomia direita na sequência de metástases hepáticas e nefrectomia direita por doença litiásica. O doente é referenciado à urgência da nossa Instituição por AAA infra-renal com 66mm com uma rotura contida. O angio-TC mostrava um colo proximal ectasiado, com 38 mm de maior diâmetro, o que constituía uma impedimento à utilização das endopróteses abdominais convencionais. Os antecedentes cirúrgicos do doente anteriormente referidos, também tornavam a cirurgia convencional uma opção de elevado risco pelo que se optou pela utilização da técnica de Funnel. O procedimento consistiu na libertação parcial de uma endoprótese bifurcada Endurant Medtronic® (Medtronic Cardiovascular, Santa Rosa, Calif) 36 × 145 × 16 mm (fig._9), recuando-se a bifurcação da prótese até à bifurcação aórtica e cateterizando-se o ramo contra-lateral (fig.

10). A endoprótese aórtica foi então libertada completamente. Posteriormente foi colocado como cuff proximal, uma endoprótese torácica Valiant Medtronic® (Medtronic Cardiovascular, Santa Rosa, Calif) 42 × 100 mm (fig._9 e 11).

Colocou-se a extensão contra-lateral e no angiograma final observou-se a artéria renal direita permeável e ausência de endoleaks(fig._12). Na angio-TC realizada ao mês de pós-operatório foi possível observar as próteses torácica e abdominal utilizadas (fig._13) e confirmar a ausência de endoleaks (fig._14).

Discussão Em cada um dos casos descritos pretendeu-se fazer uma discrição dos detalhes técnicos inerentes a cada procedimento, assim como demonstrar a sua exequibilidade. Em qualquer um dos três casos é ainda perceptível o carácter excepcional na utilização de cada uma das técnicas. Qualquer um dos métodos anteriormente descritos, devem, na opinião dos autores, ser encarados como opções de recurso, quando nenhuma das técnicas cirúrgicas convencionais se revela segura.

O primeiro caso relatado refere-se a uma intercorrência cirúrgica, na qual durante a exclusão endovascular de um aneurisma torácico é constatada a oclusão inadvertida da ACCE. Nesta situação, é necessária a revascularização urgente desta artéria para evitar sequelas neurológicas irreversíveis. A cirurgia convencional preconizada seria uma pontagem carótido-carotídea com enxerto protésico, que condicionaria um tempo operatório prolongado e consequentemente de isquémia cerebral. Deste modo, optou-se por uma solução de recurso, com exposição de um pequeno segmento da ACCE e colocação retrógrada de um stent auto-expansivel para recanalização do óstio desta artéria. O procedimento decorreu sem intercorrências, não se observando sinais neurológicos focais no final da cirurgia. A doente encontra-se no 28º mês de follow-up, mantendo-se clinicamente assintomática, com permeabilidade do stentcarotídeo e sem evidências de endoleaks nos angio-TC de controlo.

O segundo caso descrito representa uma urgência cirúrgica, em que as características anatómicas do aneurisma e os antecedentes patológicos do doente, levam os autores a adoptar esta opção pouco convencional. Na perspectiva dos autores, um aneurisma justa-renal num doente com as morbilidades anteriormente descritas, operado pela técnica aberta em contexto de urgência, esta associado uma mortalidade demasiado elevada. Uma solução endovascular é bastante mais apelativa, embora os dispositivos off-the-shelf para tratamento destes aneurismas ainda não esteja disponível de um modo generalizado. Deste modo, a técnica de Chinmey pode surgir como uma opção atractiva em casos seleccionados, sendo importante respeitar os detalhes técnicos recomendados. Estes incluem um oversize do stentaórtico de 30%, uma sobreposição entre os stents renais e a endoprótese aórtica de 20 mm e uma zona de selagem também de 20 mm. Os autores colocaram ainda 2 stents descobertos dentro das endopróteses renais para aumentar a sua força radial e evitar o seu colapso. O doente encontra-se no 22ª mês de pós-operatório, tendo o follow-up decorrido sem intercorrências clínicas ou imagiológicas.

O último doente exemplifica não as possíveis adversidades encontradas no tratamento de um AAA roto, mas também uma técnica de recurso utilizada para contornar estas contigências. No caso descrito, os autores confrontam-se com uma urgência cirúrgica, na qual a opção convencional é comprometida por um abdómen hostil e por diversas co-morbilidades associadas, enquanto a técnica endovascular fica limitado por colo proximal ectasiado, não existindo nenhuma endoprótese abdominal off-the-shelfcompatível com esta anatomia. Deste modo, optou-se por recorrer a uma técnica descrita na literatura, onde é utilizada uma endoprótese torácica como cuff proximal. A libertação do stent abdominal feita em pleno aneurisma, de um modo parcial apenas ate à libertação do ramo contra-lateral, apoiando-se a sua bifurcação na bifurcação aórtica. Isto permite não dar estabilidade à endoprótese, como também ter espaço entre a origem das renais e a bifurcação protésica para colocar o stent torácico.

Nestas situações, a presença de um colo aneurismático coloca como principal complicação a evolução da doença com consequente endoleak tipo I. Deste modo, assume particular relevância um seguimento imagiológico rigoroso, para a detecção precoce de endoleaks.Até à data, este doente conta com 27 meses de follow-up,sem crescimento do saco aneurismatico ou endoleaks detectados.

Conclusões As técnicas de Chinmey e de Funnel constituem desafios cirúrgicos que exigem um elevado domínio dos procedimentos endovasculares. Apesar de não haver consenso na literatura acerca da sua utilização, são técnicas admissíveis em situações de recurso de casos clínicos complexos, em que outras opções cirúrgicas não se apresentam como alternativas razoáveis.

Os casos clínicos apresentados demonstram a exequibilidade das técnicas, assim como os resultados aceitáveis a médio prazo, focando alguns detalhes técnicos inerentes a cada técnica.


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