Burnout e interação trabalho-família em enfermeiros: Estudo exploratório com o
Survey Work-Home Interaction Nijmegen (SWING)
Burnout e interação trabalho-família em enfermeiros: Estudo exploratório com o
Survey Work-Home Interaction Nijmegen (SWING)
Introdução
Dados recentes da European Agency for Safety and Health at Work (2013)
revelaram que 51% dos profissionais da União Europeia referem a existência de
stress no seu trabalho, valor que antes de 2010 se situava nos cerca de 20%,
sendo também notória a existência de sobrecarga horária, referida por 66% dos
inquiridos.
Uma das consequências do stress crónico no trabalho é o burnout, fenómeno que
pode ser considerado um problema de saúde mental para o trabalhador e que tem
sido alvo de extensa investigação desde a década de 70 até à atualidade
(Braunstein-Bercovitz, 2013; Maslach, Schaufeli & Leiter, 2001). Definido
como o síndrome da exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização
profissional (Maslach et al., 2001), o burnout afeta não só os profissionais,
mas também as instituições, pela diminuição da produtividade e consequências na
saúde do trabalhador, mas também pela influência negativa na qualidade dos
serviços prestados. Os enfermeiros constituem um grupo suscetível de risco para
o desenvolvimento de stress e de burnout, pois na sua atividade laboral
sobrepõe-se fatores pessoais, profissionais e organizacionais que conduzem ao
burnout (Borges & Ferreira, 2013; Queirós, Carlotto, Kaiseler, Dias &
Pereira, 2013; Westermann, Kozak, Harling & Nienhaus, 2014). Alguns estudos
revelam que na enfermagem o burnout está relacionado com uma pior saúde física
e psicológica, maior número de baixas médicas, insatisfação profissional,
intenção de abandonar a profissão e conflito trabalho-família (Anagnostopoulos
& Niakas, 2010; Westermann et al., 2014).
A sobrecarga do horário laboral é também um fator que pode desencadear burnout,
mas, sobretudo, pode interferir com o equilíbrio entre o trabalho e a família.
Ora, na sociedade atual o trabalho e a família constituem os principais papéis
da maioria dos adultos e, inicialmente, as investigações sobre o tema
centraram-se na perspetiva negativa da relação entre o trabalho e a família,
nomeadamente, no conflito trabalho-família. Este foi definido na década de 80
como um conflito inter-papéis ocorrido quando as exigências do trabalho e da
família são mutuamente incompatíveis, dificultando o desempenho de ambos os
papéis (Greenhaus & Powell, 2006). O interesse crescente da investigação na
conciliação entre a vida profissional e familiar deve-se às consequências
negativas da dificuldade em conciliar estes dois domínios, mas também devido
aos benefícios associados ao desempenho de ambos os papéis (Greenhaus &
Powell, 2006; Mcnall, Nicklin & Masuda, 2010). De facto, o conflito
trabalho-família reduz a satisfação com a vida, a satisfação conjugal e o bem-
estar psicológico, aumentando problemas de saúde mental como depressão, burnout
e abuso de substâncias ou álcool (Amstad, Meier, Fasel, Elfering & Semmer,
2011; Braunstein-Bercovitz, 2013; Liu, Zhan & Shi, 2010). Já a interação
positiva entre o trabalho e a família está associada à eficácia profissional,
satisfação profissional e familiar e um maior bem-estar (Mcnall et al., 2010;
Rantanen, Kinnunen, Mauno & Tement, 2013).
Com o desenvolvimento da Psicologia Positiva e o enfoque nas forças
individuais, a investigação privilegiou a perspetiva positiva da relação entre
o trabalho e a família, designada por facilitação/enriquecimento trabalho-
família, onde "(...) as experiências de um papel melhoram a qualidade do
domínio do outro papel" (Greenhaus & Powell, 2006, p.73). Para ambas as
perspetivas, a relação trabalho-família tem uma natureza bidirecional, isto é,
o trabalho tem influência na família, assim como a família tem influência no
trabalho (Greenhaus & Powell, 2006). Relativamente à prevalência da
interação trabalho-família, estudos revelam que a interação trabalho-família
negativa é superior à interação família-trabalho negativa, e a interação
família-trabalho positiva é superior à interação trabalho-família positiva
(Geurts et al., 2005; Marais, Mostert, Geurts & Taris, 2009).
Os instrumentos que avaliam a relação entre o trabalho e a família geralmente
privilegiam apenas a influência do trabalho na família ou a dimensão negativa
desta interação e raramente a dimensão positiva. Para superar estas limitações,
Geurts e colaboradores (2005) desenvolveram o Survey Work-Home Interaction-
Nijmegen (SWING), que permite avaliar de forma integrada ambas as dimensões da
interação trabalho-família (positiva e negativa), considerando igualmente a sua
bidirecionalidade. Neste modelo teórico a interação trabalho-família é definida
(Geurts, et al., 2005, p.322) como "(...) um processo em que o funcionamento
(comportamento) do profissional num domínio (e.g. casa) é influenciado pelas
reações (positivas ou negativas) que foram desenvolvidas no outro domínio (e.g.
trabalho)".
Inicialmente, o SWING era composto por 27 itens, distribuídos por quatro sub-
escalas, que após análise fatorial exploratória e confirmatória foram reduzidos
para 22 itens organizados em quatro subescalas de interação: trabalho-família
negativa (oito itens), família-trabalho negativa (quatro itens), trabalho-
família positiva (cinco itens) e família-trabalho positiva (cinco itens).
Verificou-se (Geurts et al., 2005) que as quatro subescalas apresentam uma boa
consistência interna, com valores de alfa de Cronbach acima de 0.75, e que o
modelo de quatro fatores que distingue quer a direção (trabalho-família ou
família-trabalho), quer a qualidade (positiva ou negativa) da interação, é o
que apresenta um melhor ajustamento. A validade convergente do SWING foi
confirmada pela sua relação com variáveis externas, teoricamente relevantes,
como as características do trabalho e da família, e indicadores de saúde e bem-
estar. Este instrumento foi já adaptado e validado para outros países como
França (Lourel, Gana & Wawrzyniak, 2005), Espanha (Jiménez, Vergel, Muñoz
& Geurts, 2009) e África do Sul (Marais et al., 2009) todos com
propriedades psicométricas satisfatórias, confirmando o modelo de quatro
fatores, apresentando uma boa consistência interna (valores de alpha entre 0.73
e 0.90 e apresentando correlações com variáveis do trabalho e da família e
indicadores de bem-estar (Jiménez et al., 2009; Marais et al., 2009). Assim, o
SWING parece ser até este momento o melhor instrumento de avaliação da relação
entre o trabalho e a família, pois distingue quer a direção quer a qualidade da
influência.
Em Portugal encontram-se ainda poucos estudos sobre a interação trabalho-
família, analisando apenas uma das interações ou num contexto pouco relacionado
com o burnout (Tavares, Caetano & Silva, 2007; Vieira, Lopez & Matos,
2013).. Este trabalho tem como objetivo explorar as propriedades psicométricas
do SWING numa amostra de enfermeiros, e conhecer a prevalência da interação
trabalho-família e sua relação com o burnout. Espera-se que o instrumento
apresente boas qualidades psicométricas no modelo de quatro fatores e que se
correlacione significativamente com o burnout, de acordo com a especificidade
das dimensões de cada instrumento.
Metodologia
Participantes
Foram inquiridos 307 enfermeiros de hospitais públicos e centros de saúde do
litoral norte de Portugal, maioritariamente do sexo feminino (83%), casado ou
em união de facto (70%), com filhos (67%) e com idades compreendidas entre os
25 e os 58 anos (M= 38,1 e DP = 8,1). Relativamente à formação académica, a
maioria detinha o grau de Licenciatura (78%), seguindo-se a Pós-Graduação ou
Mestrado (14%) e por último o Bacharelato (7%), desempenhando funções em
hospitais (72%) ou centros de saúde (28%), maioritariamente a trabalhar por
turnos (57%) e durante 35 horas por semana (91%). Foram distribuídos 476
questionários, dos quais foram devolvidos 307 (taxa de devolução de 65%).
Instrumentos
Foi aplicado um questionário demográfico e profissional construído para este
estudo, recolhendo dados sobre o sexo, idade, estado civil, existência de
filhos, habilitações literárias, local de trabalho, tipo de horário de trabalho
e número horas de trabalho semanal. Foi ainda utilizado o Maslach Burnout
Inventory (Maslach & Jackson, 1997), constituído por 22 itens que avaliam
as três dimensões do burnout (exaustão emocional, despersonalização e
realização profissional), numa escala de Likert de sete pontos que varia entre
zero ("Nunca") e seis ("Todos os dias"). Por fim, foi usado o questionário de
Interação Trabalho-Família Survey Work-Home Interaction Nijmen (SWING, Geurts
et al., 2005). Após autorização da autora do SWING procedeu-se à tradução para
português dos 22 itens e realizou-se o processo de retroversão para inglês e
comparação das duas versões. A versão final em português foi submetida a um
teste piloto com 30 enfermeiros, com características sociodemográficas
semelhantes às da população em estudo (Pereira, Queirós & Geurts, 2010).
Foram questionados quanto à compreensão dos itens mas não foi necessário
realizar alterações. O SWING avalia a direção e qualidade da interação entre o
trabalho e a família numa escala de Likert de quatro pontos que varia entre
zero ("Nunca") e três ("Sempre").
Procedimento
Após autorização formal das instituições foram contactados os Enfermeiros-Chefe
dos diferentes serviços, nos hospitais e centros de saúde, para explicar os
objetivos do estudo e identificar o número de enfermeiros por cada instituição.
Em seguida, foram entregues a cada Enfermeiro-Chefe os questionários, a
declaração de consentimento informado e uma cópia do ofício de autorização do
estudo. Cada Enfermeiro-Chefe ficou responsável pela distribuição e recolha dos
questionários pelos respetivos colegas, num envelope comum colocado num local
específico, de forma a garantir a confidencialidade dos dados. Os participantes
foram voluntários, sendo sugerido preencher o questionário no local de
trabalho, num espaço privado e em tempo livre, unicamente para evitar que ao
levarem os questionários para fora do local de trabalho se esquecessem de os
devolver. Aos participantes que pediram para preencher fora do local de
trabalho, tal foi permitido, lembrando a sua entrega posterior, de forma a não
baixar a taxa de devolução. A recolha foi efetuada dois meses após a entrega
dos questionários. O tratamento e análise dos dados foram realizados no
programa SPSS (versão 20.0 para Windows) para as estatísticas descritivas e
verificação do alfa de Cronbach e no programa AMOS (versão 18.0 para Windows)
para a realização da análise fatorial confirmatória.
Resultados
No que se refere à prevalência do burnout e da interação trabalho-família, bem
como sua correlação, verifica-se (Tabela_1) que os enfermeiros reportam maior
interação trabalho-família negativa do que interação família-trabalho negativa,
e maior interação família-trabalho positiva do que interação trabalho-família
positiva. No que se refere ao burnout, apresentam níveis de realização
profissional elevados e baixos níveis de exaustão emocional e
despersonalização. Existem correlações positivas entre as interações trabalho-
família de cada qualidade (e.g. negativa com negativa) e a interação trabalho-
família negativa correlaciona-se, como esperado, com o burnout. Apenas a
interação família-trabalho negativa está negativamente correlacionada com a
realização profissional, e quer a interação trabalho-família positiva, quer a
interação família-trabalho positiva estão positivamente correlacionadas com a
realização profissional.
Relativamente às características psicométricas do SWING, a análise dos itens
apresenta um adequado grau de assimetria, sendo no geral assimétricas
positivas, e os indicadores de achatamento indicam que não existe uma
distribuição normal nos itens. Para a validação da estrutura fatorial do SWING
foram testados quatro modelos recorrendo a análises fatoriais confirmatórias.
Em todas as análises os parâmetros foram estimados com base na matriz de
variância-covariâncias dos itens da escala e usou-se o método da máxima
verosimilhança para a estimativa desses parâmetros. Os fatores foram
especificados como variáveis latentes, representando as componentes
hipotetizadas por Geurts e colaboradores (2005) e as correlações entre os
fatores foram especificadas para serem estimadas livremente. Para se assegurar
a identificação estatística do modelo de medida, as variâncias dos fatores
foram fixadas em 1,00.
Os quatro modelos fatoriais alternativos foram testados com base na
conceptualização de Geurts e colaboradores (2005) e nos estudos de validação
fatorial do SWING dos outros países já referidos. O Modelo 1 (M1) especifica
uma estrutura fatorial constituída apenas por um fator de primeira ordem. Neste
modelo, a hipótese é que todos os itens da escala medem apenas uma variável
latente. O Modelo 2 (M2) especifica uma estrutura fatorial formada por dois
fatores correlacionados relativos à direção da interação (interação trabalho-
família vs. interação família-trabalho). O Modelo 3 (M3)especifica uma
estrutura fatorial formada por dois fatores correlacionados relativos à
qualidade da interação (negativa ou positiva). Finalmente, no Modelo 4 (M4)
especificou-se um modelo de quatro fatores correlacionados (interação trabalho-
família negativa, interação família-trabalho negativa, interação trabalho-
família positiva, interação família-trabalho positiva).
A qualidade de ajustamento global dos modelos foi avaliada através dos
seguintes índices: Qui-quadrado (X2), Comparative Fit Index (CFI), Parcimony
Comparative Fit Index (PCFI), Tucker-Lewis Index (TLI), Root Mean Square Error
of Approximation (RMSEA) e Akaike Information Criterion (AIC). Para a razão X²/
g.l. (qui-quadrado/graus de liberdade), considera-se um valor igual ou menor
que cinco, como indicador de um ajustamento adequado (Hair, Anderson, Tatham
& Black, 2005). Para o CFI e TLI, valores mais próximos de um indicam
melhor ajuste, com 0,90 como o valor de referência para aceitação do modelo
(Hair et al., 2005). Valores de PCFI a partir de 0,6 indicam um adequado
ajustamento (Marôco, 2010). Quanto ao RMSEA, considera-se que quanto mais
próximo este índice for de zero, melhor o ajuste do modelo hipotético aos
dados; admitem-se valores até 0.10, mas, geralmente, o ponto de corte é de 0,08
(Hair et al., 2005). Por fim, quanto ao AIC, para comparar modelos, o que
apresenta o valor mais baixo é escolhido como o modelo que melhor se ajusta aos
dados.
Os resultados (Tabela_2) mostram que o Modelo 4 apresenta índices de
ajustamento razoáveis, ajustando-se significativamente melhor aos dados do que
os restantes três modelos, cujos valores dos índices de ajustamento estão muito
aquém de serem aceitáveis. Todavia, apresenta valores de CFI e de TLI
reveladores de um ajustamento razoável. Assim, realizou-se uma análise
suplementar a este modelo, com o objetivo de verificar possíveis relações entre
as variáveis do modelo que uma vez estimadas, melhorassem o seu ajustamento. A
análise dos índices de modificação mostrou a existência de correlações entre os
erros de medida de duas variáveis (M4: e18 vs. e22). Quando se especifica no
modelo as correlações entre estes erros de medida a serem estimadas livremente
(Modelo 4a), o ajustamento aos dados do modelo hipotetizado melhora, com um
aumento significativo relativamente ao modelo nos quais os erros de medida não
estavam correlacionados (X2 = 452.96, sendo o menor valor df = 202, CFI = 0,90,
PCFI = 0,79, TLI = 0,89, RMSEA = 0,06 e AIC = 598.98). Globalmente, os
indicadores de ajustamento revelam um ajustamento bom para o Modelo 4a
revelando que a estrutura fatorial com quatro fatores correlacionados é a
melhor para traduzir a estrutura fatorial do SWING.
Como era expectável, os itens apresentam valores fatoriais (loadings) elevados
e significativos no fator para o qual foram especificados, e existem
correlações significativas entre os fatores que seguem o sentido esperado. A
Figura_1 apresenta os parâmetros padronizados (coeficientes estandardizados)
estimados para o modelo fatorial em hipótese e que revelou melhor ajustamento.
Também se examinou a fiabilidade das quatro dimensões do SWING calculando a sua
consistência interna através do alpha de Cronbach, bem como o valor de
correlação inter-item. Os valores de alpha obtidos (Tabela_3) são adequados
pois variam entre 0,72 e 0,86, sendo moderados e estando acima dos 0,70
habitualmente recomendados na análise estatística. Estes valores são
semelhantes aos valores obtidos na versão original do questionário, bem como
nas versões francesa, espanhola e sul-africana.
Foram também verificados os valores e média das correlações inter-item, bem
como os valores das correlações item-total. Os valores máximos das correlações
inter-item cumprem na generalidade os critérios de Hair e colaboradores (2005),
que referem o valor ideal como superior a 0,30. Este resultado é reforçado
pelos valores da média das correlações inter-item que se aproximam dos valores
habitualmente referenciados e que variam entre 0,20 e 0,40. Por fim, os valores
das correlações item-total seguem o critério de Hair e colaboradores (2005),
que referem um valor ideal como superior a 0,50.
Discussão
Neste estudo apresenta-se a adaptação e validação do questionário SWING numa
amostra de enfermeiros portugueses, sendo também analisada a prevalência da
interação trabalho-família e sua relação com o burnout. Encontraram-se
resultados de prevalência baixos mas semelhantes aos de estudos anteriores
(Geurts et al., 2005; Marais et al., 2009) e correlações entre burnout e
interação trabalho-família também já obtidos noutros estudos (Braunstein-
Bercovitz, 2013; Marais et al., 2009). Os baixos valores de prevalência de
burnout e de interação encontrados podem ser explicados pelo facto de os
participantes terem sido voluntários, não se tendo uma amostra representativa.
A versão portuguesa apresenta características psicométricas satisfatórias no
que se refere à fiabilidade e validade, sendo os resultados concordantes com os
da versão original holandesa (Geurts et al., 2005) e das versões francesa
(Lourel et al., 2005), espanhola (Jiménez et al., 2009) e sul-africana (Marais
et al., 2009). Neste estudo, o modelo de quatro fatores correlacionados, que
distingue quer a direção, quer a qualidade da interação trabalho-família
revelou ser, de todos os modelos analisados, o que melhor se adequa aos dados,
tal como os resultados obtidos na versão de Geurts e colaboradores (2005).
Quanto à fiabilidade, as quatro subescalas da adaptação portuguesa apresentam
valores moderados e adequados a uma boa consistência interna, sendo semelhantes
aos valores da versão original e das demais adaptações anteriormente
mencionadas. Assim, o SWING demonstra ser um bom instrumento de medida da
interação trabalho-família em toda a sua extensão, permitindo conhecer e
intervir na interação trabalho-família.
Conclusões
A psicologia da saúde ocupacional foca-se na melhoria da qualidade de vida no
trabalho, identificando fontes de stress e de risco na proteção e promoção da
segurança, saúde e bem-estar dos trabalhadores, pelo que o burnout e a
interação trabalho-família constituem domínios indispensáveis na abordagem de
questões relacionadas com a saúde ocupacional. Apesar da amostra inquirido
apresentar baixos valores de burnout e de interação negativa reduzida, as
qualidades psicométricas do SWING são satisfatórias, sugerindo que o
questionário pode ser utilizado no contexto da enfermagem. De facto, as
condições nas quais esta atividade é exercida podem potenciar uma influência
negativa do trabalho na família, dificultando o repouso, e a longo prazo
desencadeando burnout e diminuição da qualidade dos cuidados prestados, o que
pode ter implicações na prática clínica dos enfermeiros.
Este estudo tem algumas limitações, nomeadamente associadas à utilização das
medidas de auto-relato, nas quais o SWING se enquadra. Deste modo, em futuras
investigações sugere-se a utilização de outras fontes de informação (e.g.
conjugue, colegas, chefe) e posterior comparação de resultados. Sugere-se
igualmente a realização de estudos que incluam amostras de outras categorias
profissionais de forma a confirmar a estrutura fatorial do SWING. Uma última
limitação consiste na tipologia transversal do estudo que não permite
estabelecer relações causais. Assim, sugere-se a realização de estudos
longitudinais que analisem a relação entre as subescalas do SWING e os seus
antecedentes e consequências. Pode-se concluir que a versão portuguesa do
questionário SWING apresenta os requisitos necessários em termos de
consistência interna e validade fatorial, estimulando o seu uso na avaliação da
interação trabalho-família em enfermeiros, pois pode ser útil para conhecer a
realidade profissional dos enfermeiros.