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EuPTHUHu1645-00862008000200005

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National varietyEu
Year2008
SourceScielo

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Estabilidade temporal das escalas de esperança para crianças e de satisfação com a vida para estudantes

A investigação contemporânea no campo da psicologia tem dedicado esforços no estudo e identificação de variáveis psicológicas que facilitam um desenvolvimento humano saudável. A Esperança e a Satisfação com a Vida têm recentemente recebido especial atenção quanto à sua importância para a construção de um desenvolvimento humano positivo e estão associadas com uma variedade de resultados adaptativos e como potenciais contributos para o desenvolvimento de outros comportamentos e atitudes positivas. São descritas como variáveis de natureza disposicional (Gilman & Huebner, 1997; Huebner, 1991; Snyder et al., 1991; Snyder et al., 1997a), embora sejam consideradas susceptíveis de mudança ao longo do tempo através de intervenções sustentadas e elaboradas para o efeito (ver Marques, Pais Ribeiro, & Lopez, 2007a).

A Esperança é uma variável psicológica positiva que tem concentrado atenções no estudo com crianças e adolescentes (Valle, Huebner, & Suldo, 2004; Valle, Huebner, & Suldo, 2006). A teoria da Esperança assume que as acções humanas são direccionadas para objectivos (Snyder, Rand, & Sigmon, 2002). A Esperança inclui três componentes distintos: objectivos, caminhos e iniciativa, num sistema dinâmico cognitivo e motivacional que pode ser conceptualizado em termos de capacidade percebida para gerar caminhos para objectivos desejados, e de se auto-motivar via pensamento de iniciativa para percorrer esses caminhos (Snyder, 2002). Os objectivos são os alvos das sequências mentais de acção e variam no grau de especificidade e num quadro temporal entre objectivos imediatos e de longo-prazo. O pensamento de caminhos refere-se à capacidade percebida para gerar caminhos ou percursos mentais para alcançar os objectivos desejados. O pensamento de iniciativa é o componente motivacional da teoria da esperança que reflecte as cognições do indivíduo acerca da sua capacidade para começar e continuar um comportamento direccionado para objectivos (Snyder, Lopez, Shorey, Rand, & Feldman, 2003). Um importante grupo de investigações em crianças e adolescentes tem sido desenvolvido (ver Marques, Pais-Ribeiro & Lopez, 2007b, para uma revisão) apontando para a existência de relações positivas entre a Esperança e as esferas académica, atlética, saúde física, ajustamento psicológico e psicoterapia (Snyder, 2002).

A Satisfação com a Vida pode ser definida como a avaliação global feita pelo indivíduo sobre a sua vida. Aparece como uma variável individual, que o indivíduo percepciona como apropriada, comparando as circunstâncias da sua vida com esse conceito estandardizado (Pavot, Diener, Colvin, & Sandvik, 1991).

A definição desta variável pode comportar julgamentos da Satisfação com a Vida como um todo ou em domínios específicos da vida, conforme esteja subjacente uma avaliação livre de domínios ou multidimensional, respectivamente (Marques, Pais-Ribeiro, & Lopez, 2007b). A Satisfação com a Vida avaliada conjuntamente com o afecto positivo e afecto negativo constituem uma avaliação do bem-estar subjectivo (Diener et al., 1999). Uma Satisfação com a Vida positiva tem sido associada a uma variedade de resultados adaptativos, nomeadamente ao nível intrapessoal, interpessoal, vocacional, da saúde e educacional (ver Marques et al., 2007b, para uma revisão) e tem sido visto tanto como um resultado importante como um potencial contributo para o desenvolvimento de outros comportamentos e atitudes positivas (Huebner, 2004).

Tendo como base as características e potencialidades da Esperança e Satisfação com a Vida, parece relevante explorar a estabilidade destas variáveis ao longo do tempo. As respectivas escalas (Escala de Esperança para Crianças e Escala de Satisfação com a Vida para Estudantes), às quais fazemos referência na continuidade do artigo, estão validadas para a população portuguesa (Marques et al., in press; Marques et al., 2007b) Estudos anteriores examinaram a estabilidade teste-reteste das escalas originais que avaliam estes construtos entre períodos de tempo menores (e.g., Gilman et al., 1997; Snyder et al., 1997a; Snyder, Cheavens, & Simpson, 1997b; Terry & Huebner, 1995), especificamente para intervalos de tempo de 1, 2, 4 semanas e 1 mês.

Recentemente, os autores Valle et al. (2006) publicaram um artigo em que apresentaram a estabilidade das escalas em estudo, no intervalo de 1 ano. Todos os estudos que examinaram a estabilidade destas variáveis ao longo do tempo apontam para a existência de uma natureza disposicional subjacente à avaliação dos construtos. Nenhum trabalho publicado avaliou a estabilidade da Esperança e Satisfação com a Vida num intervalo de 6 meses, e por outro lado, não qualquer referência sobre a estabilidade destas escalas na sua versão portuguesa, em quaisquer intervalos de tempo.

Quanto à avaliação da estabilidade das escalas entre períodos de tempo longos, como é o caso do objectivo do presente estudo, é pertinente tomar em consideração que avaliações teste-reteste entre períodos de tempo mais ou menos longos podem implicar que a estrutura e correlações das medidas, neste caso da Esperança e Satisfação com a Vida, não sejam equivalentes entre diferentes idades. A este propósito, Valle et al. (2004) conduziram um estudo sobre a equivalência, entre crianças e adolescentes, da estrutura e correlações da Escala de Esperança para Crianças, concluindo que os resultados em adolescentes eram generalizáveis para crianças. Outros estudos (Valle et al., 2006) providenciam suporte para o uso da Escala de Satisfação com a Vida em Estudantes como instrumento de investigação válido em crianças e adolescentes.

As conclusões destes estudos permitem prosseguir com avaliações da estabilidade dos construtos que incluam intervalos de tempo compreendidos entre os grupos etários referenciados.

O objectivo deste estudo é avaliar a estabilidade das respostas às escalas de Esperança e de Satisfação com a Vida para estudantes após um período de 6 meses numa população de crianças e adolescentes.

MÉTODO Participantes Os participantes no Tempo 1 (Setembro/ Outubro de 2006) constituem uma amostra de conveniência de 367 estudantes que frequentavam os e anos de escolaridade (idade média de 11,78, entre os 10-15 anos e 53, 1% do sexo feminino). Todos os participantes frequentavam sete escolas do norte de Portugal e preencheram os questionários no início do ano lectivo. Os 62 participantes no Tempo 2 (Março/ Abril de 2007) constituem uma amostra de conveniência seleccionada entre os participantes do Tempo 1, idade média de 10,95, entre os 10-12 anos e 73,5% do sexo feminino.

Material Escala de Esperança para Crianças.A Escala de Esperança para Crianças (EEC) é uma escala disposicional desenvolvida por Snyder et al. (1997a) para aceder aos pensamentos de esperança relacionados com objectivos, em indivíduos entre os 8 e os 16 anos. Segundo proposta dos autores, no acto de aplicação, a escala de esperança para crianças deverá designar-se por Questões sobre os teus objectivos. A escala contém 6 itens (apresentados como uma afirmação) que avaliam a Esperança, três destes seis itens avaliam o componente iniciativa e os restantes três itens avaliam o componente caminhos. Os itens que avaliam cada um dos componentes encontram-se apresentados de uma forma alternada. É pedido aos participantes para se imaginarem como são na maioria das situações e que respondam de que modo consideram que cada afirmação se lhes aplica, numa escala ordinal de seis pontos entre 1= nenhuma das vezes e 6= todas as vezes, com um resultado total possível entre 6 e 36. Valores mais elevados correspondem a níveis mais elevados de Esperança.

A EEC foi validada para a população portuguesa por Marques et al. (in press) e revelou boas propriedades psicométricas para ser utilizada em investigação com crianças e adolescentes e comparáveis com a escala original.

Escala de Satisfação com a Vida para Estudantes. A Escala de Satisfação com a Vida para Estudantes (ESVE) desenvolvida por Huebner (1991) é uma escala de auto-resposta que se propõe avaliar a satisfação global com a vida de indivíduos entre os 8 e os 18 anos. No preenchimento da escala é pedido aos participantes para se centrarem nos pensamentos que têm tido durante as últimas semanas. Para cada um dos 7 itens que constituem a escala, apresentados como uma afirmação, existem seis possibilidades de resposta desde 1= discordo completamente a 6= concordo completamente. Dois dos itens são cotados de modo invertido. A soma dos sete itens, com um resultado possível entre 7 e 42, determina a satisfação global com a vida. Valores mais elevados correspondem a níveis mais elevados de satisfação global com a vida.

A ESVE foi validada para a população portuguesa por Marques et al. (2007b) e revelou boas propriedades psicométricas para ser utilizada em investigação com crianças e adolescentes e comparáveis com a escala original.

Procedimento A aprovação para a recolha de dados foi assegurada pelo conselho directivo de cada escola. Procedeu-se igualmente ao envio a todos os pais dos potenciais participantes de uma carta a pedir o consentimento informado, com a descrição do estudo, nomeadamente da sua natureza longitudinal. Aproximadamente 31% dos estudantes apresentaram a carta assinada. Esta percentagem é comparável com a percentagem obtida noutros estudos semelhantes (Valle et al., 2004). Os procedimentos de administração dos questionários foram semelhantes no Tempo 1 e no Tempo 2. Os instrumentos foram administrados em grupos entre 15 e 30 estudantes. O tamanho do grupo esteve dependente do espaço disponível em cada um dos estabelecimentos de ensino, assim como do número de assistência adulta presente para assegurar a compreensão das instruções e do carácter confidencial das respostas. Os instrumentos foram apresentados aos estudantes segundo uma ordem contrabalançada. O tempo de preenchimento da bateria de questionários foi entre 15 e 20 minutos.

RESULTADOS No presente estudo, a análise descritiva mostra que as médias e os desvios padrão da EEC no Tempo 1 e no Tempo 2 são menores do que as mencionadas em outros estudos com estudantes (M= 25,41-28,86; DP= 3,01-6,11) (e.g., Snyder et al., 1997a; Snyder et al., 1997b; Valle et al., 2006). Quanto à Satisfação com a Vida, as médias e os desvios padrão da ESVE no Tempo 1 e no Tempo 2 enquadram-se dentro das médias e desvios padrão referidos em estudos com populações semelhantes (e.g., Gilman et al., 1997; Huebner, 1991a; Huebner, Suldo, & Valois, 2003). A consistência interna de cada uma das escalas, representadas no quadro 1 pelo alfa de Cronbach, são adequadas e comparáveis com a consistência interna das escalas originais (entre 0,72 e 0,86 para a escala de Esperança para crianças no estudo de Snyder et al., em 1997, e de 0,80 para a escala de Satisfação com a Vida no estudo de Dew & Huebner em 1994).

Quadro 1 Estatística descritiva e consistência interna da Esperança e Satisfação com a Vida no Tempo 1(N=367)e Tempo 2(N=62)

Foi usado o T-test para determinar a significância das diferenças entre a Esperança e Satisfação com a Vida para o género. Relativamente à Esperança, não foram encontradas diferenças significativas entre rapazes e raparigas no Tempo 1 t(367) = 0,70, e no Tempo 2 t(62) = 0,82. Quanto à Satisfação com a Vida, também não foram encontradas diferenças entre rapazes e raparigas no Tempo 1 t (367) = 0,84 e no Tempo 2 t(62) = 1,23. O Quadro 1 apresenta as médias, desvios padrão e consistência interna da Esperança e Satisfação com a Vida acedidas no Tempo 1, e 6 meses depois no Tempo 2.

O quadro 2 apresenta as intercorrelações da Esperança e Satisfação com a Vida no Tempo 1 e Tempo 2. Todas as correlações entre a Esperança e a Satisfação com a Vida são estatisticamente significativas.

Quadro 2 Correlações entre a Esperança e a Satisfação com a Vida no Tempo 1 e Tempo 2

A fidelidade teste-reteste é de 0,60 para a escala de Esperança e de 0,69 para a escala de Satisfação com a Vida para estudantes. Os estudos que examinaram a fidelidade teste-reteste na versão original, apresentam valores de 0,73 (Snyder et al., 1997) e de 0,76 (Terry & Huebner, 1995) para 1-2 semanas, de 0,71 (Snyder et al., 1997) e de 0,64 (Gilman & Huebner, 1997) para 1 mês, de 0,47 e 0,61 (Valle et al., 2006) para 1 ano, para a escala de Esperança e Satisfação com a Vida, respectivamente.

DISCUSSÃO As escalas de Esperança para crianças e de Satisfação com a Vida para estudantes foram desenhadas para reflectirem um pensamento relativamente duradouro ao longo do tempo, de acordo com os modelos teóricos subjacentes a cada uma das variáveis. As correlações positivas e elevadas teste re-teste, com um intervalo de 6 meses, são consistentes com esta intenção. A estabilidade temporal das escalas nas versões portuguesas são consistentes com os resultados encontrados noutros estudos com as escalas originais, e portanto ambas as versões mostram que a Esperança e a Satisfação com a Vida expressam propriedades traço (Gilman et al., 1997; Huebner, Funk, & Gilman, 2000; Snyder, Cheavens et al., 1997; Snyder, Hoza et al., 1997; Terry et al., 1995; Valle et al, 2006).

Este estudo acrescenta um indicador de fidelidade aos estudos de validação das versões portuguesas das escalas de Esperança e de Satisfação com a Vida para estudantes (ver Marques et al., 2007b; Marques et al., i n press) e que deve ser tido em conta. Introduz também um intervalo de tempo teste re-teste não explorado e um acréscimo temporal significativo, comparativamente a estudos conduzidos anteriormente com intervalos de tempo de 1, 2, 4 semanas e 1 mês.

Consideramos, deste modo, pertinente a continuação da exploração destas escalas entre intervalos de tempo mais alargados, nomeadamente que incluam diferentes períodos de transição no desenvolvimento humano, para melhor conhecer as propriedades, forças e vulnerabilidades das variáveis em estudo.

O presente estudo deve ser tido em consideração aquando a elaboração e implementação de intervenções orientadas para a promoção da Esperança e da Satisfação com a Vida em crianças e adolescentes, ou a promoção de um funcionamento humano óptimo quando associadas e integradas com outras variáveis de bem-estar, como por exemplo a auto-estima e a saúde mental.


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