Otimização da rede de uma cadeia de suprimentos com a utilização de uma heurística baseada em Busca Tabu
1 Introdução
Nos últimos anos, as cadeias de fornecimento
intraempresas têm crescido de maneira significativa,
abrangendo produção e locais de distribuição em
todo o mundo e, ao mesmo tempo, o aumento da
concorrência global tem gerado uma forte demanda
por novas ferramentas de apoio à decisão nos níveis
estratégico, tático e operacional (Almeder et al., 2008).
O grande desafio da gestão da cadeia de suprimentos
está na necessidade de movimentação de produtos e
materiais de maneira rápida e confiável entre empresa
e clientes de maneira competitiva (Viana et al., 2014).
Porém, essa movimentação não é linear, visto que,
diversas vezes, faz um caminho por diferentes países
até chegar ao destino final. Assim, a gestão da cadeia
de suprimentos deve administrar de maneira integrada
diversas funções, como transportes, distribuição e
tecnologia de informação (TI), visando à otimização
da produção e à entrega de produtos aos membros
da cadeia de abastecimento (Rezende et al., 2002).
Altiparmak et al. (2006) consideram que as empresas
devem manter altos níveis de serviço ao cliente e, ao
mesmo tempo, são forçadas a reduzir os seus custos
e a permanecer com as mesmas margens de lucro.
Beamon (1998) destaca que, durante anos, vários
pesquisadores e profissionais têm investigado
individualmente os diversos processos da cadeia de
suprimentos; no entanto, recentemente, tem crescido
o interesse no desempenho, desenho e análise da
cadeia como um todo (Visentini & Borenstein,
2014). Este crescente interesse explica-se pela
necessidade de visão integrada da gestão da cadeia
de suprimentos. Além disso, técnicas de pesquisa e
análises das cadeias logísticas estão mais maduras,
permitindo uma análise mais criteriosa e, inclusive,
levando em consideração um número maior de
variáveis relacionadas a questões primordiais das
cadeias de suprimento, tais como custo, rapidez e
preço (Poli & Pureza, 2012). Como consequência,
técnicas de Pesquisa Operacional (PO) vêm sendo
cada vez mais utilizadas para a gestão da cadeia de
suprimentos (Melo et al., 2009).
Em uma cadeia de suprimentos, o fluxo de
mercadorias entre fornecedores e clientes passa por
diversos estágios, que são constituídos por diferentes
instalações (Sabri & Beamon, 2000), podendo ser
centros de serviço, fábricas, armazéns ou depósitos.
Em geral, um projeto de rede da cadeia de suprimentos
começa com a identificação de locais potencialmente
interessantes e que sustentem as capacidades necessárias
para as novas instalações. O principal intuito do
problema é determinar a localização de facilidades de
maneira que a soma dos custos fixos de abertura de
novas instalações e dos custos variáveis de designar
clientes com determinadas demandas às instalações já
operantes seja minimizada (Tragantalerngsak et al.,
1997).
Ombuki et al. (2006) sugerem que nos casos
em que os modelos se tornam muito complexos
estes sejam solucionados por meio de técnicas não
necessariamente exatas, podendo-se, por exemplo,
utilizar meta-heurísticas a fim de buscar soluções
aproximadas em tempo polinomial, em vez de soluções
exatas de alto custo, adequando-se à resolução de
problemas complexos.
Dentre as meta-heurísticas, destaca-se a Busca
Tabu (BT), uma técnica que utiliza a exploração
estratégica e memória flexível como guia na busca
em um espaço de soluções (Arenales et al., 2007),
determinando-se a direção da busca baseada nas
propriedades da solução corrente e no seu histórico.
O método possui uma memória de soluções visitadas,
impedindo que soluções inferiores às já encontradas
sejam revisitadas.
Considerando a necessidade de redução dos
custos logísticos e a complexidade de problemas
com instâncias reais, o objetivo deste artigo consistiu
em implementar e avaliar uma heurística baseada em
Busca Tabu para a otimização do projeto da cadeia
de suprimentos.
A fim de descrever o problema em maiores detalhes,
apresentar o método utilizado para a sua solução e
os resultados obtidos, este artigo está estruturado
em cinco seções. Neste introdutório considerou-se o
contexto, justificativa e objetivo do estudo. A segunda
seção consiste na revisão da literatura, abordando
o projeto de cadeia de suprimentos e métodos
heurísticos. A seguir, abordam-se os procedimentos
metodológicos adotados na pesquisa, detalhando
o problema resolvido e a heurística utilizada para
sua solução. Na quarta seção, são apresentados e
discutidos os resultados da pesquisa. Finalizando, a
seção 5 apresenta as considerações finais da pesquisa.
2 Referencial teórico
Neste capítulo, será apresentada a fundamentação
teórica utilizada neste artigo, compreendendo o
projeto de rede de cadeia de suprimentos e métodos
heurísticos.
2.1 Projeto de redes de cadeias de
suprimento
O Projeto de uma Rede da Cadeia de Suprimentos
é um dos problemas mais abrangentes relacionados
à gestão da cadeia de suprimentos, envolvendo
decisões em níveis operacionais, táticos e estratégicos.
Este problema envolve determinar o número, a
localização e a capacidade das facilidades, bem como
estabelecer os canais de distribuição e os fluxos de
materiais e produtos que serão produzidos e enviados
aos fornecedores em cada nível de consumo da cadeia.
Em geral, para solucionar o problema de projeto
de rede, a rede é decomposta em sub-redes. Modelos
matemáticos e metodologias de solução para cada
sub-rede são então desenvolvidos, e estas são
posteriormente integradas (Elhedhli & Gzara, 2008).
A primeira sub-rede é a rede de todos os fornecedores
de matérias-primas, peças e serviços para as fábricas.
A segunda sub-rede inclui as fábricas em que os
produtos finais são fabricados. Os produtos finais
são enviados a partir das fábricas para os varejistas
por canais de distribuição, utilizando facilidades de
distribuição, como armazéns e centros de distribuição.
O projeto, portanto, envolve a apuração dos custos
totais de uma instalação, incluindo os custos fixos
de abertura de facilidades, os custos de transporte
associados aos fluxos de materiais e produtos, os
custos de suprimentos de materiais, bem como os
custos de armazenagem e movimentação de materiais
e produtos (Wu et al., 2006).
Cordeau et al. (2008) relatam que após o trabalho
pioneiro de projeto de rede de distribuicão de
multi-commodities de Geoffrion & Graves (1974), um
grande número de modelos tem sido proposto para
o projeto de cadeias de suprimento, incorporando
recursos naturais, produção e aspectos de transporte
(Visentini & Borenstein, 2014). Considerando
o grande número de variáveis e restrições, este
problema é de dificuldade NP-hard, para os quais
diversos algoritmos exatos e heurísticos vêm sendo
desenvolvidos nas últimas décadas (Wu et al.,
2006). Kazemi et al. (2008) destacam que muitos
pesquisadores têm abordado a otimização de redes
de cadeia de suprimentos, os quais abrangem um
amplo domi´nio de formulações que variam desde os
mais simples, para um único produto, até modelos
mais complexos, não lineares ou estocásticos. Com a
complexidade desses modelos, se torna necessária a
utilização de heurísticas ou meta-heurísticas para a
sua resolução, assunto abordado na sequência.
2.2 Métodos heurísticos
Zaleta & Socorrás (2004) destacam que não existe
um algoritmo capaz de resolver na otimalidade o
problema do projeto de cadeia de suprimentos para
grandes instâncias, em um período de tempo razoável.
Lee & Kwon (2010) complementam que, embora a
capacidade computacional tenha aumentado e uma
série de softwares eficientes e poderosos para lidar
com programação de grande porte seja oferecida
no mercado, o tempo computacional para resolução
de problemas com centenas de produtos e clientes,
e dezenas de plantas, ainda é muito pesado. Para
os autores, na prática, as decisões sobre operação
de centros de distribuição são avaliadas levando
em consideração vários cenários de análise, sendo
desejável que o tempo computacional para solucionar
cada cenário não exceda 30 minutos.
O Quadro 1 apresenta alguns estudos que
desenvolveram procedimentos heurísticos a fim de
otimizar redes de cadeia de suprimentos. Essa abordagem
de resolução mostra-se importante quando as redes se
apresentam muito complexas e envolvem muitos dados
e variáveis, sendo difícil ou até mesmo impossível
a obtenção de uma solução ótima para o problema.
Pelo Quadro 1, observa-se que diferentes
heurísticas foram aplicadas, desde métodos baseados
em programação linear inteira até meta-heurísticas.
Considerando a simplicidade do método e os bons
resultados obtidos, selecionou-se a Busca Tabu dada
a sua simplicidade e sua capacidade de encontrar
soluções muito próximas às ótimas, em um tempo
computacional muito pequeno (Pepin et al., 2008).
Mesmo sendo uma técnica relativamente nova, os
resultados obtidos em problemas complexos são
geralmente extremamente promissores (Colin,
2007). Devido a estes fatos e à sua grande adaptação
a problemas de otimização de redes de cadeia de
suprimentos (Glover, 1989), esta técnica vem sendo
aplicada com sucesso em diversos problemas com
dezenas de milhares e até milhões de variáveis
inteiras, encontrando soluções muito próximas ao
ótimo global, incluindo-se problemas de logística,
como de localização, transporte, projetos de rede
de cadeia de suprimentos, roteamento de veículos e
distribuição (Keskin & Uster, 2007).
Quadro 1. Abordagens heurísticas para otimização de redes de cadeias de suprimento.
REFERÊNCIA
PROBLEMA
ABORDAGEM HEURÍSTICA
1
Pirkul & Jayaraman (1996)
Minimização dos custos de uma cadeia single-source multi-commodity
Relaxamento Lagrangeano
2
Holmberg & Hellstrand (1998)
Resolução exata ótima de um projeto de rede de cadeia de suprimentos multimodal
com instalações não capacitadas
Lagrange em uma estrutura branch-and-bound
3
Jayaraman & Pirkul (2001)
Minimização dos custos de uma cadeia single-source com diversos estágios
Relaxamento Lagrangeano
4
Altiparmak et al. (2006)
Encontrar um conjunto de melhores soluções possíveis para otimização de
um projeto da rede de uma cadeia de suprimentos multiobjetivo
Algoritmos genéticos e Simulated Annealing
5
Cordeau et al. (2006)
Resolução de um problema de seleção de fornecedores, localização de fábricas
e armazéns e o fluxo de mercadorias por meio da rede
Método branch-and-bound e Decomposição de Bender
6
Lee et al. (2008)
Resolver um problema de planejamento de distribuição para uma rede de cadeia de
suprimentos multinível
Decomposição da rede e utilização de um método de busca pós-melhoria baseado em
Busca Tabu
7
Li et al. (2009)
Determinar a localização de plantas capacitadas incorporadas a um problema
de fluxo de multi-commodities
Heurística Lagrangeana, otimização subgradiente e Busca Tabu
8
Amrani et al. (2009)
Extensão multi-commodity em dois estágios para o problema de localização de
instalações capacitadas com single-source
Método de busca na vizinhança integrada a um procedimento tabu
9
Bidhandi et al. (2009)
Projeto da rede de uma cadeia de suprimentos multi-commodity em um
único período
Decomposição de Bender
10
Hsu & Li (2009)
Projeto da rede de abastecimento da cadeia de uma empresa, buscando explorar
os impactos das economias de escala decorrentes da utilização da capacidade
ideal e da quantidade de produção de cada facilidade
Heurística baseada em Simulated Annealing
11
Javid & Azad (2010)
Otimização simultânea da localização, alocação, capacidades, estoques e
roteamento em uma cadeia de suprimentos estocástica, em que cada cliente possui
uma demanda incerta e cada CD possui determinada quantidade de estoque de
segurança
Método baseado em Busca Tabu e Simulated Annealing
12
Yao et al. (2010)
Problema de localização-alocação de instalações e estoques, permitindo a
utilização de múltiplas fontes de armazéns
Método heurístico iterativo com utilização de técnicas de aproximação e
transformação
13
Shimizu & Fujikura (2010)
Otimização estratégica de um projeto de rede logística para melhorar a eficiência de
uma cadeia de suprimentos
Busca Tabu Híbrida
14
Lee & Kwon (2010)
Problema de localização de instalações e o plano de distribuição em uma cadeia de
suprimentos single-source
Heurística baseada em Busca Tabu
15
Kim & Kim (2010)
Determinar a localização de facilidades de cuidado de pacientes com o objetivo
de balancear o número de pacientes designados às facilidades
Branch and bound
16
Asken & Aras (2012)
Localização de facilidades com cargas fixas para o planejamento de um
sistema para prover serviços públicos a consumidores.
Busca-Tabu
17
Sun (2012)
Localização de facilidades capacitadas
Busca-Tabu
18
Badri et al. (2013)
Desenho e planejamento estratégico e tático de uma rede de cadeias de suprimentos
Relaxação Lagrangeana
19
Addis et al. (2013)
Resolver uma generalização do problema de localização de facilidades na qual dois
níveis de facilidades devem ser localizados
Neighborhood search
20
Rahmani & Mirhassani (2014)
Onde localizar as facilidades e como movimentar as commodities de forma a
minimizar os custos
Algorítmo Genético
21
Li et al. (2014)
Localização de facilidades multiproduto. Minimizar os custos, alocando depósitos,
determinando o fluxo de produtos nas plantas e abrindo centros de distribuição
para outros clientes.
Relaxação Lagrangeana e Dantzig-Wolfe
22
Arrondo et al. (2015)
Localização de facilidades biobjetivas
FEMOEA, Algoritmo Evolucionário
23
Ho (2015)
Determinar um subconjunto de facilidades capacitadas a serem abertas a fim de
satisfazer as demandas dos clientes de forma que os custos sejam minimizados.
Busca-Tabu
Fonte: elaborado pelos autores.
A BT é uma meta-heurística de busca local,
introduzida por Glover (1986), que procura melhorar
uma solução corrente por meio da execução de
movimentos dentro de uma vizinhança (Chiang et al.,
2009). A BT explora o espaço de solução de um
problema movendo, a cada iteração, a solução atual
para o seu melhor vizinho e, para evitar ciclos, alguns
atributos da solução atual são armazenados em uma
lista, e qualquer solução que possua os mesmos
atributos é declarada como proibida (ou tabu) para
um determinado número de iterações (Gendreau et al.,
1999), objetivando impedir a ocorrência de ciclos na
busca (Amrani et al., 2009).
3. Procedimentos metodológicos
3.1 Definição do problema
A cadeia de suprimentos analisada neste artigo é
formada por fornecedores de matérias-primas, plantas
produtoras (fábricas), CDs e zonas de consumos de
produtos (clientes). As fábricas são responsáveis
pela produção de um conjunto de produtos à base de
borracha. Esses produtos possuem diversos tamanhos,
propriedades e especificações diferentes, porém são
basicamente constituídos pelas mesmas matérias-primas.
As fábricas são abastecidas por diversos fornecedores.
Os CDs recebem mercadorias de qualquer fábrica,
enviando aos clientes as quantidades de cada produto
de acordo com a demanda.
Um fator de grande impacto na minimização dos
custos totais da cadeia de suprimentos é o transporte
entre os atores. Assim, é necessário considerar os custos
de transporte de matéria-prima (dos fornecedores às
fábricas) e dos produtos acabados (das fábricas aos
clientes, passando pelos CDs). Devido à quantidade
de produtos envolvidos nos fluxos da cadeia, também
é necessário considerar os limitadores de capacidade
de produção em cada fábrica e de processamento nos
CDs, bem como outros custos fixos e variáveis de
cada instalação.
A localização dos fornecedores, das fábricas, dos
CDs e dos clientes são conhecidas, sendo o objetivo
deste problema determinar o conjunto de CDs que
deverão ser abertos para que a empresa possa atender
totalmente à demanda de seus clientes ao menor
custo possível. Para tanto, é necessário considerar
as quantidades de cada matéria-prima que devem ser
adquiridas a partir de cada fornecedor e a quantidade
a ser produzida em cada fábrica. Quanto à estratégia
de distribuição, o problema considera uma abordagem
single-source, em que cada cliente só pode receber
produtos de um único CD.
3.2 Construção do modelo
Para a construção do modelo, Arenales et al.
(2007) sugerem que o problema seja “traduzido”
em relações lógicas de simulação, matemáticas ou
uma combinação de ambas. Para a solução deste
problema, foi utilizado o modelo single-source
proposto por Farias & Borenstein (2012), no qual
uma zona de consumo pode ser abastecida somente
por um único CD. Os conjuntos utilizados no modelo
são apresentados no Quadro 2, as variáveis de decisão
no Quadro 3.
Os parâmetros utilizados no modelo são ilustrados
no Quadro 4.
O modelo matemático utilizado é apresentado
a seguir:
Sujeito a <formula/>
Quadro 2. Conjuntos do modelo.
conjunto de DCs;
conjunto de fábricas;
conjunto de produtos;
conjunto de matérias-primas;
conjunto de fornecedores;
conjunto de clientes.
Fonte: adaptado de Farias & Borenstein (2012).
Quadro 3. Variáveis de decisão do modelo.
A função objetivo do Modelo 1 busca minimizar a
soma dos custos anuais dos CDs, do processamento em
cada CD, de produção nas fábricas, do transporte de
matéria-prima até as fábricas e de produtos acabados
até os clientes, passando pelos CDs. A abordagem
single-source é expressa em 2, em que é garantido que
cada cliente será atendido apenas por um único CD.
A Restrição 3 assegura que a capacidade do CD
não será violada, enquanto a 4 limita o número
máximo de CDs a serem instalados. A Restrição 5
assegura que os CDs têm capacidade para atender à
demanda, enquanto a 6 assegura que a capacidade
de fornecimento de matéria-prima pelo fornecedor
é respeitada. Em 7, é estabelecida a relação entre
matérias-primas e produtos. A Restrição 8 garante
que a capacidade das fábricas não será violada e a
9 determina uma utilização mínima para que um
CD possa ser instalado. As Restrições 10 e 11 são
as condições de integralidade das variáveis binárias
do modelo.
3.3 Solução do modelo
Para a otimização da rede da cadeia de suprimentos
desta pesquisa, foi adaptado o método heurístico
baseado em Busca Tabu proposto por Lee & Kwon
(2010). Esses autores aplicaram a heurística para uma
cadeia de suprimentos considerando plantas, CDs e
clientes, sendo que nesta pesquisa foram adicionados
os fornecedores de matérias-primas. A heurística
proposta realiza uma busca iterativa de soluções
vizinhas, iniciando a partir de uma solução inicial,
enquanto a checagem à lista tabu impede o retorno
a uma solução recentemente visitada, sendo que a
cada iteração a vizinhança é gerada por meio da troca
de CDs e arcos de transporte, que são selecionados
conforme regras de prioridade que representam um
custo unitário médio para cada operação. O passo a
passo da heurística pode ser observado na Figura 1.
Lee & Kwon (2010) consideram que as heurísticas
utilizam a decomposição de redes para ganhar eficiência
computacional, enquanto as meta-heurísticas, como a
Busca Tabu, utilizam regras de prioridade para seleção
de facilidade e/ou rotas em cada ponto de decisão.
Assim, a rede foi decomposta em dois subproblemas:
decomposição da demanda e decomposição de
suprimentos, sendo o primeiro aplicado no estágio
entre CDs e clientes, enquanto o segundo considera
o restante da rede.
Na decomposição da demanda, os CDs e os arcos
de transporte são trocados para formar uma solução
vizinha com a utilização de um índice de prioridade
e um mecanismo de controle tabu. Nessa etapa, são
decididos os CDs que serão abertos e o plano de
distribuição dos produtos dos CDs aos clientes.
Para a seleção dos CDs e dos arcos a serem
trocados, Lee & Kwon (2010) sugerem a utilização
de um índice de prioridade, o Unit Cost Ratio (UCR),
que, em tradução livre, pode ser chamado de taxa
de custo unitário. Este índice engloba os custos mais
importantes e influencia fortemente o resultado da
função objetivo. Três tipos de índices são sugeridos:
o UCR–F, utilizado para geração da solução inicial;
o UCR–O, utilizado na troca de CDs; e o UCR–S,
utilizado na troca de arcos.
Quadro 4. Parâmetros utilizados no modelo matemático.
Fonte: adaptado de Farias & Borenstein (2012).
3.3.1 Geração da solução inicial
Para a geração da solução inicial, os CDs são
selecionados com base em um índice de prioridade,
o UCR–F, que representa o custo de operação do CD
por unidade de produto, sendo obtido pela divisão
do custo de operação do CD pela capacidade total.
Os CDs com menor índice têm prioridade de abertura
e os clientes com maior demanda são alocados aos
CDs de menor índice, enquanto a capacidade dos CDs
não for excedida. O índice UCR–Fw do CD w . W é
determinado por 12: <formula/>
O procedimento para a geração da solução inicial
é apresentado no Quadro 5.
Figura 1. Heurística para solução do problema. Fonte: adaptado de Lee & Kwon (2010, p. 3097).
3.3.2 Geração da vizinhança: decomposição da demanda
No procedimento de geração de vizinhança na
decomposição da demanda, dois métodos são aplicados:
troca de CDs e troca de arcos. O procedimento de
troca de CDs é capaz de gerar novas vizinhanças
pela substituição de CDs abertos por fechados, ou
vice-versa. Para essa operação, é utilizado o índice
UCR–O, que representa o custo unitário de operação
do CD, sendo definido pela soma do custo de operação
do CD, o custo de transporte entre fábricas e o CD, e
o custo de transporte do produto aos clientes. Os CDs
com menores valores de UCR–O têm preferência de
abertura, sendo que, no procedimento de troca, os
CDs com maiores índices UCR–O são fechados e
substituídos por CDs fechados com menores índices.
Esse procedimento pode ser observado no Quadro 6.
Em 13 é expressa a fórmula para determinar o
valor de UCR–Ow do CD w . W.
<formula/>
Em que:
Qw = quantidade de produtos passando pelo CD w . W;
NPW = número de fábricas que abastecem o CD w . W;
NCW = número de clientes atendidos pelo CD w . W.
O método de troca de arcos é utilizado na geração
de vizinhança por meio da substituição de dois arcos
no estágio de decomposição da demanda, buscando
a redução no custo de transporte e manuseio de
produtos pela troca de CD que atende a determinado
cliente. Dois arcos são selecionados randomicamente
e, então, é calculado o índice UCR–Swc para ambos.
Se a soma do UCR–Swc depois da troca de arcos for
menor que antes da troca, a substituição dos arcos
é realizada. O UCR–Swc considera a soma de três
termos: o custo de transporte unitário, o custo de
operação do CD w . W dividido pelo número de
arcos utilizados e o custo de manuseio de produtos
divididos pelo número de arcos utilizados a partir
do CD w . W. O índice UCR–Swc, para o arco (w,c)
é determinado por 14:
<formula/>
Em que:
NCw= número de clientes atendidos pelo CD w . W;
QAwc = quantidade de produto transportado do CD
w . W ao cliente c . C.
No Quadro 7 é apresentado o procedimento para
troca de arcos.
3.3.3 Procedimento tabu
Para resolução do problema foram utilizadas três
listas tabu, sendo duas para o procedimento de troca
de CDs e a terceira para o procedimento de troca
de arcos. A cada iteração, é realizada uma troca
de CDs e uma troca de arcos, sendo que estas são
registradas nas listas tabu. O procedimento de busca
é realizado de forma guiada, ou seja, a cada iteração
serão selecionados o CD e o arco com menor custo
entre os disponíveis para substituição.
Quadro 5. Procedimento heurístico para geração da solução inicial.
Passo 1: Inicialização e computação dos índices de prioridade:
Passo 1.1: Considerar todos CDs fechados.
Passo 1.2: Calcular UCR–Fw para cada CD.
Passo 1.3: Classificar os CDs em ordem crescente de acordo com o índice calculado.
Passo 2: Solução da decomposição da demanda:
Passo 2.1: Selecionar os CDs sequencialmente de acordo com a lista ordenada em 1.3.
Passo 2.2: Alocar os clientes com maior demanda aos CDs com menor índice, sem exceder as
capacidades.
Passo 2.3: Se todas as demandas foram alocadas a algum CD, parar. Se não, retornar ao passo 2.1.
Passo 3: Solução da decomposição de suprimento:
Passo 3.1: Geração da solução para a decomposição de suprimento e combinação com a solução da
decomposição da demanda para completar a solução inicial.
Fonte: adaptado de Lee & Kwon (2010, p. 3097).
A cada operação de troca de CDs, duas listas tabu
são operadas: uma para os CDs fechados e outra
para os CDs abertos, ou seja, cada vez que um CD é
selecionado para ser fechado ou aberto na busca local,
a lista correspondente é verificada para constatar a
possibilidade de a operação ser realizada e, caso o
CD selecionado já esteja na lista, é necessário que
seja determinado outro CD para concluir a operação.
Na troca de arcos, por sua vez, é registrado o par de
arcos recentemente trocado e a lista tabu é utilizada
para inibir a troca de arcos recentemente alterados,
buscando explorar novos espaços de solução.
Quanto ao tamanho das listas, Lee & Kwon (2010)
fixaram em 5 para os CDs e 20 para os arcos, pois
observaram que são tamanhos apropriados e não
apresentaram grande variação durante a experimentação.
No entanto, para esta pesquisa, o tamanho das listas
foi determinado individualmente para cada instância,
visto que o tamanho da lista afeta consideravelmente
o valor da função objetivo. Desta forma, vários
testes foram realizados até identificar o tamanho de
lista que encontrava o melhor resultado para cada
instância. A Tabela 1 apresenta o tamanho das listas
tabu consideradas para resolução de cada instância.
Quadro 6. Procedimento heurístico para troca de CDs.
Passo 1: Definição da condição inicial:
Passo 1.1: Classificar os CDs de acordo com seu status: aberto ou fechado;
Passo 2: Cálculo do UCR–Ow:
Passo 2.1: Calcular UCR–Ow para cada CD aberto.
Passo 2.2: Classificar os CDs abertos em ordem decrescente de UCR–Ow.
Passo 3: Troca de CDs:
Passo 3.1: Selecionar os CDs abertos sequencialmente de acordo com a classificação anterior.
Passo 3.1.1: Calcular o UCR–Ow para os CDs fechados de acordo com a quantidade transportada dos CDs
selecionados no passo 2.1.
Passo 3.1.2: Classificar os CDs fechados em ordem crescente de UCR–Ow.
Passo 3.1.3: Selecionar os CDs fechados sequencialmente de acordo com a classificação anterior e
verificar a viabilidade, comparando capacidades do CD que se deseja abrir e do que se
deseja fechar.
Passo 3.1.4: Se for viável, trocar os CDs e encerrar o procedimento. Se não, se existir um CD fechado que
ainda não tenha sido selecionado anteriormente, retornar ao passo 3.1.3.
Passo 3.2: Se existir algum CD aberto que não tenha sido selecionado anteriormente, retornar ao
Passo 3.1 e repetir as etapas. Se não, finalizar o procedimento desde que a troca de CDs
não seja mais possível.
Fonte: adaptado de Lee & Kwon (2010, p. 3098).
Quadro 7. Procedimento heurístico para troca de arcos.
Passo 1: Definir as condições iniciais:
Passo 1.1: Classificar os arcos em utilizados ou não.
Passo 2: Calcular UCR–Swc:
Passo 2.1: Calcular UCR–Swc para cada arco utilizado.
Passo 2.2: Ordenar os arcos utilizados em ordem decrescente de acordo com o valor de UCR–Swc.
Passo 3: Troca de arcos:
Passo 3.1: Selecionar arcos utilizados sequencialmente de acordo com a lista de classificação:
Passo 3.1.1: Selecionar outro arco utilizado entre o conjunto de arcos utilizados restantes.
Passo 3.1.2: Assumindo que os arcos selecionados foram trocados, calcular UCR–Swc para os arcos
substituídos.
Passo 3.1.3: Verificar a viabilidade por meio da comparação das capacidades dos CDs utilizados pelos
arcos selecionados. Se for viável, realizar o passo 3.1.4. Se não, voltar ao passo 3.1.1 e
repetir as etapas.
Passo 3.1.4: Se a soma do UCR–Swc calculada no passo 3.1.2 for menor do que a soma de UCR–Swc
calculada no passo 2, realizar a troca de arcos e encerrar o procedimento.Se não, voltar ao
passo 3.1.1 e repetir as etapas.
Passo 3.2: Se existirem arcos utilizados não selecionados anteriormente, voltar ao passo 3.1.3.
Fonte: adaptado de Lee & Kwon (2010, p. 3099).
Tabela 1. Tamanho das listas tabu consideradas em cada
instância.
Fonte: elaborado pelos autores.
Para Lee & Kwon (2010), a Busca Tabu se adapta
perfeitamente ao método de solução proposto, visto
que as regras de prioridade estabelecidas têm a
tendência de ficarem concentradas em uma única
região de solução, porém, com a utilização da lista
tabu, a saída desta região do ótimo local é forçada,
explorando novas regiões em busca de melhor solução.
Lee & Kwon (2010) utilizaram dois critérios de
parada: 10 iterações consecutivas sem melhoria e o
máximo de 1.000 iterações. Para a realização desta
pesquisa, foram utilizadas como critério de parada
2.000 iterações máximas e 500 iterações seguidas
sem melhoria.
Depois de conhecida a necessidade de produtos
acabados em cada CD, resolveu-se o subproblema de
decomposição de suprimento. Para determinar qual
fábrica abastece cada CD, foi utilizado como critério
o somatório dos custos de transporte e de produção
dos produtos, sendo escolhido o CD que apresentar
o menor valor dessa combinação.
Para seleção de fornecedores de matéria-prima, foi
considerado o custo de transporte entre fornecedor
e fábricas. Sabendo a necessidade de produtos em
cada fábrica, é possível calcular a necessidade de
matéria-prima para produção. Assim, as matérias
serão adquiridas dos fornecedores que apresentarem
menores custos de transporte. O custo da matéria-prima
não foi considerado devido aos valores serem muito
semelhantes para todos os fornecedores, sendo o
custo de transporte mais importante para essa etapa.
3.3.4 Instâncias resolvidas
A heurística desenvolvida foi utilizada para resolver
as 22 instâncias propostas por Farias & Borenstein
(2012) e os resultados obtidos foram comparados
com as soluções ótimas encontradas pelos autores
com a utilização do CPLEX e com os resultados de
Lee & Kwon (2010).
As instâncias geradas e apresentadas na Tabela 2
deram ênfase na aplicação de modelos em situações de
diferentes quantidades de CDs, produtos e clientes; a
quantidade de fornecedores, tipos de matérias-primas
e fábricas foram mantidas fixas em todas as instâncias,
enquanto a capacidade de processamento e os custos
fixos dos CDs foram estabelecidos de modo a apresentar
um caráter realista para o problema abordado (Farias
& Borenstein, 2012).
Além das instâncias propostas pelos autores,
foram geradas e resolvidas outras quatro instâncias
com características reais e mais complexas que as
até então solucionadas a fim de verificar a eficiência
da heurística em um cenário ainda mais realista.
Suas configurações serão apresentadas no próximo
capítulo.
A heurística proposta foi desenvolvida em linguagem
de programação C ANSI e os resultados foram obtidos
pela execução computacional em um microcomputador
com processador Pentium Dual-Core T4300 2.10 GHz
com 4 GB de memória RAM e sistema operacional
Linux versão 3.0.0-12-generic com Ubuntu 11.11.
Expostos os procedimentos metodológicos
utilizados para resolução do problema desta pesquisa,
são apresentados e discutidos, no próximo capítulo,
seus resultados.
4 Apresentação e discussão dos resultados
Foram analisadas as soluções iniciais encontradas
para cada instância e a solução final, ou seja, a
melhor solução identificada durante o processo
heurístico. Observou-se que, em média, as soluções
iniciais geradas puderam ser melhoradas em 3,87%
com a aplicação dos procedimentos de troca de
arcos e CDs. No método proposto por Lee & Kwon
(2010), a alocação de clientes aos CDs foi realizada
de maneira aleatória, enquanto que, nesta pesquisa,
optou-se por alocar as maiores demandas aos CDs
que apresentassem menor valor de UCR, obtendo,
assim, soluções iniciais já bastante próximas dos
melhores resultados.
A Tabela 3 apresenta as soluções encontradas (em $)
e o tempo de CPU (em segundos) para cada uma das
22 instâncias, comparando os resultados obtidos pelo
CPLEX com a BT implementada nessa pesquisa.
Fazendo um comparativo entre os valores ótimos e
heurísticos para as 22 instâncias, foi possível constatar
que o gap (diferença entre solução ótima e solução
heurística) teve variação de 0,18% (instância 7) até
7,74% (instância 13), tendo valor médio de 4,98%.
Lee et al. (2008) resolveram um problema com
características semelhantes, utilizando o CPLEX para
otimização de uma etapa do problema e um método
de busca pós-melhoria baseado em Busca Tabu.
Os autores consideraram uma rede com fábricas,
armazéns e CDs e, como resultados, obtiveram um
gap médio de 7,94%, com variação entre 3,05% e
13,57%. Considerando que o gap médio desta pesquisa
foi de 4,98%, conclui-se que o método aqui utilizado
foi capaz de encontrar resultados com gap 37,28%
inferior aos dos autores.
Tabela 2. Configuração das instâncias resolvidas.
Fonte: elaborado pelos autores, adaptado de Farias & Borenstein (2012).
Tabela 3. Comparativo de solução e tempo de execução das instâncias.
Fonte: elaborado pelos autores.
É interessante ressaltar, ainda, que das 20 instâncias
propostas por Lee et al. (2008), 10 consideravam
20 e 50 clientes e puderam ser resolvidas, enquanto
que para as outras 10 instâncias, que continham
70 e 100 clientes, os autores não conseguiram
encontrar resultados, pois o tempo computacional
máximo determinado de 300 segundos foi atingido.
Lee & Kwon (2010), por sua vez, conseguiram
resultados com gap médio de apenas 3,53% para
todas as instâncias resolvidas, valor 29,12% inferior
ao obtido nesta pesquisa. Cabe destacar que as
instâncias de maior complexidade abordadas pelos
autores consideraram apenas 20 CDs, 80 clientes e
5 produtos, enquanto este estudo abordou cenários
com 50 CDs, 150 clientes e 100 produtos, além de
compreender o fornecimento de matéria-prima,
desconsiderado no problema dos autores. Outro
motivo que merece destaque refere-se ao fato de
Lee & Kwon (2010) terem utilizado o CPLEX
para resolver a decomposição de suprimentos do
problema, obtendo, assim, resultados ótimos nesta
etapa. Nesta pesquisa, optou-se por não utilizar o
CPLEX, visando à construção de uma heurística
totalmente independente de softwares de mercado,
o que pode ser mais útil à prática organizacional.
No que se refere aos tempos computacionais
necessários para obtenção dos resultados ótimos pelo
CPLEX e pela heurística, bem como o percentual de
redução do tempo de execução comparando essas
abordagens, observou-se que a heurística foi capaz
de resolver as instâncias em tempos relativamente
pequenos, visto que o percentual médio de redução
do tempo de execução foi de 81,03%. Os tempos de
execução obtidos nesta pesquisa variaram entre 0,16
(instância 4) e 5,63 segundos (instância 8), com média
de 2,05 segundos, sendo que o CPLEX foi capaz de
resolver as instâncias com média de 13,97 segundos e
tempo variando entre 2,07 e 54,42 segundos, conforme
pode-se observar na Tabela 3.
Lee & Kwon (2010) tiveram uma variação no tempo
de execução da heurística entre 0,55 e 260,50 segundos,
com um tempo médio de 42,75 segundos, valor 95,20%
superior ao aqui obtido. Essa diferença expressiva
entre os tempos de execução obtidos nesta pesquisa e
os de Lee & Kwon (2010) pode ser justificada devido
à utilização de elementos randômicos na geração
da solução inicial dos autores, o que os obrigou a
repetir 10 vezes a heurística para cada instância em
busca de melhor resultado, penalizando no tempo
total de execução.
Lee et al. (2008) determinaram como um dos
critérios de parada 300 segundos de execução, sendo
que 10 das 20 instâncias não puderam ser resolvidas
dentro desse limite de tempo. Já no caso da heurística
deste estudo, o tempo máximo de execução de uma
instância foi de apenas 5,63 segundos, o que comprova
a eficiência do método proposto quanto ao tempo
computacional, sendo este um elemento crucial para
escolha entre duas técnicas heurísticas, de acordo
com Bräysy & Gendreau (2005).
4.1 Instâncias com características reais
Depois de analisado o desempenho da heurística
para as instâncias de Farias & Borenstein (2012),
foram propostas outras quatro instâncias com
características reais, visto que a quantidade de dados
envolvidos e cenários possíveis nesses problemas são
maiores. Assim, pretendeu-se verificar a eficiência da
heurística proposta resolvendo os problemas dessas
dimensões, visto que o CPLEX não foi capaz de obter
resultados para instâncias com essas características.
A Tabela 4 apresenta a configuração das instâncias
com características reais resolvidas.
As instâncias A, B e C consideraram a configuração
de uma rede de cadeia de suprimentos real, sendo
que os custos foram gerados de forma aleatória, e a
instância D, que considera a possibilidade de abertura
de 100 CDs que atendam à demanda de 1.000 clientes
por 130 produtos distintos, foi criada para verificar
o comportamento da heurística em um cenário em
dimensões ainda maiores. Ressalta-se que na literatura
investigada não foram encontrados estudos que tenham
abordado uma rede com características similares as
dessa instância.
Comparando as soluções iniciais e finais para os
cenários com características reais, contata-se que
o percentual de melhoria entre soluções variou de
zero até 7,13%, com média de 3,42% de melhoria.
O percentual médio de melhoria vai ao encontro
do valor identificado nas instâncias anteriormente
exploradas, em que a diferença entre soluções foi
de 3,58%.
Quanto ao tempo de execução das instâncias
com características reais resolvidas, observou-se
que este variou entre 6,52 segundos para a instância
B e 117,91 segundos para a instância D, sendo a
instância A resolvida em 6,97 segundos e a C em
35,68 segundos.
Tabela 4. Configuração das instâncias com características reais.
Fonte: elaborado pelos autores.
A resolução das quatro instâncias com características
reais permitiu comprovar a eficiência da heurística
proposta para resolver problemas complexos de
otimização de redes de cadeias de suprimento reais,
podendo ser utilizada pelos gestores no processo
decisório, tanto em nível estratégico (determinando
os CDs a serem abertos), quanto em nível operacional
(determinando a quantidade de produtos a ser
transferida de uma fábrica a um CD).
5 Considerações finais
Embora existam diversos modelos para otimização
de redes de cadeias de suprimento, os problemas reais
tornam-se muito complexos de ser resolvidos, visto
que grandes instâncias necessitam um grande tempo
de execução computacional e, muitas vezes, não
conseguem encontrar soluções. Dada a importância da
redução de custos logísticos por meio da otimização
de cadeias de suprimento e a complexidade de
problemas com instâncias reais, o objetivo desta
pesquisa consistiu em implementar e avaliar uma
heurística baseada em Busca Tabu para otimização
de uma rede de cadeia de suprimentos.
Para atingir esse objetivo, o método proposto por
Lee & Kwon (2010) foi adaptado e implementado,
conforme apresentado nos procedimentos metodológicos
do estudo. Como principais alterações no método
dos autores, destacam-se a opção por não trabalhar
com randomicidade na geração da solução inicial e
o acréscimo dos fornecedores de matérias-primas ao
problema. Depois de implementada a heurística, o
problema foi resolvido considerando as 22 instâncias
propostas por Farias & Borenstein (2012), o que
possibilitou a comparação e avaliação dos resultados
encontrados pela heurística com os valores ótimos.
Por meio da análise dos resultados, foi possível
concluir que a heurística implementada encontrou
soluções com custo 4,98% superior aos valores ótimos,
enquanto Lee & Kwon (2010) obtiveram resultados
apenas 3,53% superiores, porém em instâncias diferentes.
A diferença de resultados pode estar relacionada ao
fato de as instâncias aqui abordadas serem de maior
complexidade, visto que, em instâncias menores,
como as do cenário 2, por exemplo, os resultados
obtidos nesta pesquisa foram melhores que os de Lee
& Kwon (2010), sendo possível encontrar soluções
com gap de apenas 0,76% contra 4,77% dos autores
com tempo de 2,54 segundos contra 17,35 segundos.
Constatou-se, também, que o método heurístico
utilizado para resolver o problema foi capaz de
encontrar resultados com um tempo médio de
2,05 segundos, valor relativamente pequeno se
comparado ao tempo médio de Lee & Kwon (2010),
que foi de 42,75 segundos para instâncias de menor
complexidade. Essa redução substancial no tempo de
execução deve-se à melhoria na geração da solução
inicial proposta nesta pesquisa. Enquanto Lee &
Kwon (2010) optaram pela alocação de clientes a CDs
de forma aleatória, esta pesquisa buscou alocar as
maiores demandas aos CDs de menor custo, gerando
uma solução inicial melhor e com valor fixo. Por ter
trabalhado com aleatoriedade na solução inicial, os
autores necessitaram repetir 10 vezes cada instância
para obter melhores resultados, enquanto que, para
esta pesquisa, os resultados foram encontrados com
apenas uma única repetição.
O quanto uma solução final se aproxima do resultado
ótimo é uma medida padrão de qualidade. Assim,
pode-se concluir que a heurística implementada nesta
pesquisa atende a esse requisito, pois, em um tempo
de solução muito pequeno, é capaz de encontrar boas
soluções, com valores, em média, 4,98% acima do
resultado ótimo.
O problema também foi resolvido para quatro
instâncias com características reais, buscando verificar
o desempenho do método para problemas reais.
A heurística foi capaz de resolver as quatro instâncias
em tempos computacionais reduzidos, variando entre
6,52 segundos para uma rede com 2 fábricas, 20 CDs,
132 produtos e 261 clientes até 117,914 segundos para
5 fábricas, 100 CDs, 130 produtos e 1.000 clientes.
Assim, conclui-se que a heurística apresentada
é eficiente para otimização de redes de cadeias
de suprimentos complexas, sendo capaz de obter
resultados aceitáveis em um tempo de execução
computacional bastante otimizado.
Como limitação deste estudo, constata-se que a
heurística implementada é capaz de resolver apenas
o modelo single-source abordado, sendo que, para
utilização em abordagens que não considerem essa
restrição (comuns em diversas cadeias de suprimento
reais), ela necessitaria de ajustes.
Por fim, alguns tópicos podem ser levantados
como sugestões para pesquisas futuras, a saber: a
possibilidade de inclusão de transporte multimodal
(trem, caminhão, navio, avião, etc.) entre os atores
da rede, visto que essa é a realidade de grande parte
das cadeias de suprimento e pode aproximar ainda
mais o modelo da realidade. Outra questão que pode
ser investigada é a do índice t (tempo) ao modelo,
pois várias cadeias de suprimento possuem a restrição
de prazos de entrega, a qual deve ser respeitada.
Uma abordagem que não considere a restrição de
single-source também pode ser explorada em futuras
investigações, bem como o desenvolvimento de
outras abordagens heurísticas para resolução desse
problema, visto que oportunizaria uma comparação
entre as duas heurísticas para escolha do método que
melhor se aplica a esse problema.