MULTIPLICAÇÃO E ACLIMATIZAÇÃO DA MACIEIRA INFLUENCIADA PELO TIPO DE EXPLANTE E
PELO TEMPO DE PERMANÊNCIA EM MEIO DE CULTURA DE ENRAIZAMENTO
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Diferentes espécies e cultivares possuem características genéticas próprias que
as fazem responder diferentemente ao cultivo in vitro. As diferenças na
capacidade de regeneração e multiplicação podem ser explicadas pelo tipo de
explante utilizado. De acordo com Pierik (1990), são comuns os efeitos da
posição e idade dos explantes sobre a regeneração e multiplicação. San-José et
al. (1998) verificaram que explantes de segmentos nodais produziram mais parte
aérea do que explantes apicais em diversos clones de Quercus robus. A
homogeneidade dos explantes é de fundamental importância na precisão da
estimativa de multiplicação.
Na aclimatização, etapa compreendida entre a transferência das plântulas das
condições assépticas da cultura de tecidos para casa de vegetação, apesar de
fatores como substrato e umidade influenciarem na sobrevivência, o tipo e a
qualidade do sistema radicular obtidos são importantes para se obter sucesso na
sobrevivência. Raízes curtas, em geral, são mais desejáveis, pois, além de
facilitarem seu manuseio no momento do plantio, normalmente estão numa fase de
crescimento ativo, o que facilita o pegamento da planta (Grattapaglia &
Machado, 1990). Por este motivo, discutem-se também os efeitos do tempo de
permanência das brotações em meio de enraizamento sobre a percentagem de
sobrevivência das plantas durante a aclimatização. Sugere-se que o aumento do
tempo de permanência das raízes em meio de cultura pode proporcionar um rápido
envelhecimento nas mesmas, tornando-as menos funcionais, e prejudicando a
sobrevivência das plantas em casa de vegetação.
Este trabalho foi realizado na Embrapa Clima Temperado, Pelotas-RS e teve como
objetivo avaliar a influência do uso de segmentos de origem basal e apical na
multiplicação in vitro dos porta-enxertos de macieira 'M.111' e 'Marubakaido' e
o tempo de permanência dos explantes da cultivar Marubakaido em meio de
enraizamento sobre a sobrevivência das plantas na aclimatização.
Explante de macieira dos porta-enxertos Marubakaido e M.111 de origem basal e
apical, oriundos de brotações em multiplicação in vitro, com 1 gema axilar, foi
inoculado em meio de cultura de MS (Murashige & Skoog, 1962), suplementado
com 30 g.L-1 de sacarose, 100 mg.L-1 de mio-inositol, 1,0 mg.L-1 de
benzilaminopurina (BAP) e 6 g.L-1 de ágar e mantidos em sala de crescimento por
seis semanas. As variáveis avaliadas foram: número e tamanho de brotações, bem
como a formação de gemas. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos
casualizados, sendo que cada tratamento foi repetido 5 vezes e cada repetição
correspondeu a um frasco com 8 explantes.
Após a avaliação, brotações da cv. Marubakaido foram separadas em explantes de
2 a 2,5 cm de comprimento e inoculadas em meio de enraizamento onde
permaneceram por 4 períodos distintos: 12; 15; 21 e 30 dias. Para o
enraizamento dos explantes, utilizou-se ½ da concentração do meio de cultura
MS, suplementado com 100 mg.L-1 de mio-inositol, 30 g.L-1 de sacarose, 0,2
mg.L-1 do ácido indolbutírico (AIB) e 6,0 g.L-1 de ágar. O pH do meio foi
ajustado para 5,8±0,1 antes da adição do ágar, sendo este posteriormente
autoclavado durante 15 minutos a 121ºC, sob pressão de 1,5 atm. Neste
experimento, o delineamento experimental utilizado foi o de blocos
casualizados. Cada tratamento foi repetido 6 vezes e cada repetição
correspondeu a um frasco com 10 explantes.
Ao final de cada período de tratamento em meio de enraizamento, as brotações
foram transplantadas para condições de casa de vegetação, em bandejas de
semeadura, com substrato composto de terra de mato, casca de arroz carbonizada
e esterco bovino na proporção de 3:1:1 (v/v), previamente esterilizados com
brometo de metila. Durante as duas primeiras semanas, as plantas foram mantidas
sob uma folha de sombrite e plástico transparente e irrigadas diariamente,
procurando-se manter as folhas sempre úmidas. A aclimatização das plântulas foi
realizada entre os meses de julho e agosto de 1998. Após um mês de permanência
das plantas em casa de vegetação, avaliaram-se a percentagem de sobrevivência e
o peso seco das raízes e parte aérea das mesmas.
Para ambos os experimentos realizados sob condições in vitro(multiplicação e
enraizamento), utilizaram-se frascos de 250 ml com 40 ml de meio de cultura. As
condições de cultivo foram: fotoperíodo de 16 horas, radiação luminosa de
19µE.m-2.s-1, fornecida por lâmpadas fluorescentes brancas frias, e temperatura
de 25±2ºC.
Os resultados foram analisados estatisticamente com o auxílio do Sistema de
Análise Estatística para microcomputadores (SANEST) (Zonta & Machado,
1984). A comparação entre médias foi realizada pelo teste de Duncan, em nível
de 5% de probabilidade. Os dados referentes a número de brotações e gemas
formadas foram transformados segundo vx+0,5. Os dados sobre a percentagem de
sobrevivência das plantas foram transformados para arc sen vx/100.
Verificou-se que para a cv. Marubakaido, o uso de explantes de origem basal
proporcionou a formação de um maior número de brotações com 12,04 brotos por
explante, em relação ao uso de explantes de origem apical com 7,37 brotos por
explante. A cv. Marubakaido mostrou-se significativamente superior à cultivar
M.111 para o número de brotações formadas, independentemente da origem do
explante (Tabela_1). Na cultivar M. 111, não foram verificadas diferenças
significativas quanto ao número de brotações formadas, com o uso de explantes
basais ou apicais (Tabela_1).
Quando se avaliou o tamanho das brotações formadas, verificou-se que, para a
cv. Marubakido, as brotações originadas de explantes basais foram as que
apresentaram maior tamanho, mesmo quando comparadas com a cv. M.111, a qual não
apresentou diferenças de tamanho nas brotações formadas com o uso de um ou
outro explante (Tabela_1).
Houve um número significativamente maior de gemas formadas na cv. M. 111 do que
na cv Marubakaido (Tabela_1). De acordo com Pierik (1990) e Grattapaglia &
Machado (1990), são comuns os efeitos da posição dos explantes sobre a
multiplicação in vitro. O uso de segmentos de origem basal e apical pode causar
uma fonte de variação na resposta final e, desta forma, provocar erros na
estimativa da multiplicação. Isto confirma os resultados desse trabalho e
salienta a importância de se trabalhar com material vegetal homogêneo para
maior precisão na estimativa da multiplicação.
Após um mês de permanência das plantas da cv. Marubakaido em casa de vegetação,
não foram verificadas diferenças significativas em relação à percentagem de
sobrevivência das plantas. O transplante das brotações, após 12; 15; 21 e 30
dias de permanência em meio de enraizamento, permitiu uma taxa média de
sobrevivência acima de 90% (Figura_1). Resultados semelhantes foram obtidos por
Ribas (1991), trabalhando com a cultivar de macieira Gala, clone FZ, que
observou que períodos de 12; 15 e 20 dias também não apresentavam diferenças
significativas na taxa de sobrevivência nas plantas, variando entre 92,19 e
100%. Grattapaglia & Machado (1990) sugerem que, após os primeiros sinais
de emergência das raízes in vitro, as plantas devem ser imediatamente
transplantadas. Isso confirma os resultados desse trabalho, visto que, após 12
dias de permanência das brotações em meio de enraizamento, se observou o
surgimento das primeiras raízes. Porém, é necessário lembrar que outros fatores
devem ser observados nesse processo. Assim, além da manutenção da alta umidade
durante os primeiros dias de aclimatização, o tipo de substrato, bem como a
época do ano, parece influenciar esta variável. Pereira et al. (1998),
trabalhando com a mesma cultivar, observaram uma taxa média de sobrevivência
menor (71,2%), quando as plântulas foram aclimatadas durante os meses mais
quentes do ano (dezembro e janeiro), confirmando os resultados obtidos por
Werner & Boe (1980) que obtiveram os melhores resultados quando as
plântulas foram aclimatizadas no outono e inverno.
Apesar de não haver diferença significativa na percentagem de sobrevivência das
plantas, esta ocorreu com respeito ao peso da matéria seca das raízes e parte
aérea (Figura_2). Observou-se um comportamento linear no peso da matéria seca,
tanto da parte aérea como das raízes, com o aumento do tempo de permanência das
brotações em meio de enraizamento. Assim, quanto menor o tempo de permanência
das brotações em contato com o meio, menor foi o tamanho do sistema radicular e
da parte área destas plantas em casa de vegetação e, desta forma, originou
plantas de menor vigor. Resultados obtidos anteriormente (dados não publicados)
demonstraram que uma permanência mais prolongada das brotações em meio de
cultura de enraizamento produziu plântulas com parte aérea bastante
desenvolvida. Por terem uma alta razão entre parte aérea e raiz, estas plantas
tendem a apresentar problemas de sobrevivência, devido à elevada transpiração,
com maiores possibilidades de as plantas sofrerem desidratação durante a
aclimatização, principalmente se esta ocorrer nos meses mais quentes do ano.
Conclui-se que o uso de explantes basais na multiplicação in vitro da cv.
Marubakaido proporciona aumento no número e tamanho das brotações formadas
quando comparado com explantes apicais. A cv. M. 111 só mostra diferenças
significativas no número de gemas formadas, sendo superior quando se usam
explantes apicais. A aclimatização da cv. Marubakaido pode ser feita após 12
dias de permanência das brotações em meio de cultura de enraizamento com
sobrevivência superior a 90% das plantas, verificado o período do ano, embora
estas apresentem menor vigor (peso seco das raízes e parte aérea) até 30 dias
de aclimatização, quando comparadas com plantas originadas de brotações que
permaneceram maior período de tempo em meio de cultura de enraizamento.