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BrBRCVHe0034-71672010000500024

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National varietyBr
Year2010
SourceScielo

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Desafios históricos da enfermagem à luz do pensamento bioético

INTRODUÇÃO A evolução histórica do ofício de enfermagem tem percorrido uma trajetória que acompanha a evolução do conhecimento humano no campo das ações de saúde e das ciências humanas, com os agravantes de vencer os desafios impostos pelos antagonismos de classe e pelos preconceitos associados às relações de gênero(1- 2).

Historicamente, a enfermagem pode ser dividida em duas fases conhecidas por antiga e moderna. A primeira diz respeito às enfermeiras que eram treinadas à prática da enfermagem através de outras que dominavam essa prática no cuidar dos doentes, desenvolvendo, nesse sentido, um comportamento baseado em normas, sendo adestradas para cuidar, apenas com o mínimo preparo teórico que fundamentasse seu trabalho profissional. A segunda, caracterizada pela busca de conhecimento sistematizado, tecnicista e cientificista, pelo modelo de saúde pautado no capitalismo. Exigindo daí à formação universitária, por parte daqueles que a desejam praticar(2).

O contexto contemporâneo caracterizado pelo reordenamento econômico e por mudanças no mundo do trabalho e das novas tecnologias aponta a necessidade cada vez maior, de profissionais versáteis, críticos e comprometidos com o ambiente de trabalho; movidos pela autonomia de atitudes e pela presteza de cuidados ao cliente(3).

O objetivo deste estudo é promover uma discussão sobre os atuais desafios que a enfermagem enfrenta à luz do pensamento bioético do cuidar. Portanto, partindo de buscas de referenciais teóricos e filosóficos de diversos pensadores e autores de livros e artigos científicos, inclusive na área de Enfermagem, construiu-se esta reflexão, na perspectiva de formatar um marco conceitual capaz de iluminar as discussões a cerca do posicionamento ético humanístico que deve nortear as ações de cuidar da Enfermagem.

A BIOÉTICA DO CUIDAR E A ENFERMAGEM Em tempos modernos, a complexidade da assistência à saúde exige dos profissionais da área, inúmeras competências para lidar com os problemas cotidianos, como também com os avanços tecnológicos que imergiram da ciência.

Nessa perspectiva, o cuidar da saúde transcende o saber empírico, considerando as descobertas científicas e os mais sofisticados recursos tecnológicos(3).

Mesmo que os profissionais estejam tecnicamente preparados para utilização de métodos e procedimentos inovadores, muitas vezes não conseguirão minimizar o sofrimento e a dor do ser que recebe cuidados, pois nesta prática assistencial tecnológica faltou o cuidado ético, humano e respeitoso.

Diante destes dilemas éticos próprios dos seres humanos, tanto os profissionais, quanto os clientes/pacientes partilham de uma condição comum e inevitável que situa a bioética do cuidar no âmbito das relações humanas, circunscritas no domínio da enfermagem(4). Porém, nem sempre os profissionais se colocam na posição de pacientes, quando isto ocorre evidencia-se uma tomada de consciência, que se mostra desgastante, por exigir uma inversão de valores éticos e morais nos espaços sociais individualizados e moralmente heterogêneos (5-8).

Então como consequência desse ponto de vista, a valorização profissional se encaminha de forma urgente, equivocada e às vezes desesperadora. Gerando uma condição de sobrevivência, biologicamente, ampla, pelas inúmeras possibilidades de adiamento da morte e, baixa qualidade de vida que nos reduz mais a sobreviventes que a viventes(3).

No cenário atual de profunda pluralidade social, ao enfermeiro compete mais que um adestramento técnico de recursos de ponta e um obediente agente da equipe de saúde, mas um competente profissional-cidadão responsável por suas ações, capaz de perceber no ser cuidado, um sujeito do autocuidado e da preservação do seu meio ambiente.

A construção de um modelo mais humanizado na área de saúde pressupõe o exercício de uma ética profissional mais autônoma, comprometida com a clientela, com a comunidade e com o trabalho e muito menos com a técnica e com a doença. Isto é, a bioética do cuidar concentra sua base na promoção de saúde e muito menos no tratamento das doenças(9).

CONSCIÊNCIA MORAL, BIOÉTICA DO CUIDAR E ENFERMAGEM O cuidar, na perspectivada bioética, traz consigo a concepção de que o cuidador precisa ter mais do que conhecimento técnico-científico, ter, sobretudo empatia pelo ato de cuidar com a responsabilização de sua prática em colocar-se no lugar do outro e de sentir-se cuidado, isto é, transcende a existência do dever de cuidar, prática ensinada em toda a história da enfermagem(8-9).

É relevante considerar que, a globalização da economia, a revolução tecnológica, a inserção ainda que tímida, mas frequente nos últimos anos, por parte de homens no exercício da enfermagem, inseriu este profissional em condições de trabalho cada vez mais adestradas, tecnicistas e, portanto, centrados no modelo biomédico(2).

No entanto, e paradoxalmente, se por um lado a inserção do homem no campo da enfermagem e a centralização das ações no modelo biomédico refletiu-se em desumanização, por outro lado ensejou a ampliação das fronteiras profissionais e necessidade de se estabelecer novas relações mútuas e múltiplas com outros profissionais, o que contribuiu para enriquecimento das ciências da saúde. Isto enfatiza o desafio da enfermagem na perspectiva da bioética do cuidar.

Contudo, considera-se pertinente que a subjetividade dos sujeitos sob seus cuidados, seja o foco principal de sua existência profissional e a utilização dos recursos tecnológicos seja um meio para fazê-lo, de forma racional e apenas complementar, não exclusivamente(3).

As Teorias de Enfermagem apontam princípios que possibilitam uma atuação profissional verdadeiramente autônoma, no entanto, ao longo de sua história, o oficio da enfermagem não galgou concretude em suas ações para torná-la profissão liberal, além de ter minimizado suas possibilidades de autonomia(10- 11).

No entanto, a visão bioética do cuidar está voltada para a formação de uma consciência coletiva de responsabilização uns sobre os outros; na compreensão de que a moralidade de nossas ações deve partir desta relação de responsabilidade e da certeza de que a comunicação entre as pessoas seja de tolerância sobre as diversidades culturais que caracterizam o mundo humano a fim de solucionar os conflitos morais(7-9).

Não se pode negar a evidente influência das questões de gênero na desvalorização das profissões eminentemente femininas, tais como a enfermagem, que é frequentemente colocada numa posição hierárquica de inferioridade, porém, tanto a luta de feministas, como os princípios humanistas de igualdade e respeito aos seres humanos independente do sexo, têm atuado de forma combativa nestas desigualdades sociais e culturais, na perspectiva do alcance do respeito e da igualdade entre homens e mulheres(1,5-6).

A consolidação da enfermagem como ciência deveu-se, também, aos aportes da corrente principialista da bioética, ao propor os princípios de autonomia, justiça, beneficência e não-maleficência. Isto, permitiu avanços importantes para superação de determinados conflitos produzidos pelo efeito indesejado das desigualdades no âmbito das relações sociais e profissionais, através da sistematização dos saberes pertinentes ao ofício, para constituir um campo profissional digno do ser humano e para o ser humano(3,10).

CONSIDERAÇÕES FINAIS O desafio que se apresenta ao campo da enfermagem, no início do século XXI, consiste na reconstrução de uma nova postura ética, aqui chamada de bioética do cuidar, que deve estar difuso em todo o modus vivendi e modus operandi, nas diversas áreas da atuação profissional no campo da saúde. Essa nova postura vem se identificando como urgente na sua capacidade de reinventar as relações no universo multiprofissional e destes, com os pacientes.

Portanto, a essência da ação do cuidar não está, necessariamente, situada na utilização da alta tecnologia, mas na natureza das relações humanas que caracterizam a prática da enfermagem no seu cotidiano. Nesse entendimento, os serviços de saúde e as ações que os caracterizam nos diversos fazeres profissionais, voltar-se-ão para a "pessoa com doença e não à doença da pessoa", superando o reducionismo cartesiano que ignora a dimensão emocional, social, histórica e espiritual do ser humano.

A construção do conhecimento na profissão, não se preocupa com a reprodução de antigos modelos, mas com a construção do seu próprio saber como ciência moderna, socialmente reconhecida e legitimada com epistemologia própria, metodologias, autonomia e amplo campo de atuação, portanto, livre das relações históricas de subalternidade.

Esta realidade, emergiu de uma contínua, permanente e necessária interlocução entre os diversos saberes profissionais, que evoluíram historicamente distanciados e culturalmente indiferentes entre si, se reconhecem como elementos integrantes de um corpo profissional heterogêneo e harmônico cuja ações devem convergir para o bem estar do paciente.


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