Efeitos da gestão baseada em EVA® nas decisões intertemporais: um estudo com
gerentes de vendas
1. INTRODUÇÃO
Em consonância com uma preocupação refletida no ambiente empresarial, a
literatura em contabilidade gerencial tem abordado de forma crescente o efeito
relativo dos indicadores de desempenho sobre o comportamento dos gestores. Um
dos tópicos que têm chamado a atenção dos pesquisadores refere-se ao efeito de
diferentes medidas de desempenho sobre as decisões intertemporais dos gestores,
isto é, como os gestores realizam escolhas e alocam esforços em tarefas que
geram consequên- cias em diferentes perspectivas como o desenvolvimento de
clientes, investimentos em tecnologia, conquista de novos mercados e
treinamento da força de trabalho (FREDERICK, LOEWENSTEIN e O'DONOGHUE, 2002;
ABERNETHY, BOUWENS e LENT, 2008; AGUIAR, 2009).
O foco principal dos estudos sobre esse tema está relacionado à escolha de
indicadores de desempenho congruentes com os objetivos organizacionais, que
criem incentivos para que os gestores tomem decisões intertemporais que
maximizem a criação de valor para os acionistas. Além disso, tais estudos
revelam que a utilização de indicadores de desempenho baseados no lucro
contábil tradicional pode levar os gestores a um comportamento míope em suas
decisões intertemporais, em que o melhor curso de ação no horizonte de curto
prazo pode não ser o mesmo no longo prazo (NARAYANAN, 1985; MERCHANT e BRUNS
JR., 1986; LAVERTY, 1996; SLIWKA, 2002; ABERNETHY, BOUWENS e LENT, 2008).
Essa chamada visão míope do longo prazo pode ser caracterizada como um problema
de agência, na medida em que a existência de conflito de interesse entre agente
e principal inclui o fato de que
"em diferentes horizontes de tempo, o agente pode estar menos
preocupado com os efeitos de suas ações no período futuro do que no
período corrente, pois não espera estar na empresa" (LAMBERT, 2001,
p.5).
Ainda sob a perspectiva da teoria da agência, a questão do efeito relativo dos
indicadores de desempenho sobre o comportamento dos gestores não está centrada
em qual é o melhor indicador de criação de valor para o acionista, mas qual
combinação de indicadores de desempenho reflete adequadamente a contribuição
dos gestores para essa criação de valor (INDJEJIKIAN, 1999).
Uma alternativa de solução para mitigar o comportamento míope dos gerentes é a
possibilidade de escolha pelas empresas de indicadores de desempenho
congruentes, tais como o indicador de desempenho com base no lucro econômico,
residual ou EVA® (Economic Value Added) e, ainda, de indicadores de desempenho
não financeiros que podem fornecer incentivos aos gestores para tomarem
decisões que maximizem valor para o acionista e conduzi-los a fazer escolhas
intertemporais que não dissipem a riqueza, por meio de um foco excessivo das
decisões no curto prazo ou short termism (SLIWKA, 2002; ABERNETHY, BOUWENS e
LENT, 2008).
Na literatura em contabilidade gerencial, há forte suporte teórico para a
utilização pelas empresas de indicadores de desempenho baseados no lucro
residual, entre eles o EVA®, para motivar os gestores a tomarem decisões
intertemporais congruentes, ou seja, os gestores são incentivados a fazer
escolhas intertemporais que podem afastar a Orientação Temporal de Curto Prazo
(OTCP) (REICHELSTEIN, 1997; LAMBERT, 2001; DUTTA e REICHELSTEIN, 2002;
ABERNETHY, BOUWENS e LENT, 2008). Entretanto, existem poucas pes- quisas que
investigaram o efeito da adoção da medida de valor econômico adicionado, ou
EVA®, sobre as decisões intertemporais de gestores (ITTNER e LARCKER, 2001),
havendo, assim, uma lacuna nos estudos que comparem resultados con- flitantes
ou cheguem a um consenso sobre os benefícios dessas medidas. Nessa mesma linha,
Abernethy, Bouwens e Lent (2008) afirmam que poucos pesquisadores têm explorado
como a escolha de medidas de desempenho pode influenciar as decisões
intertemporais de gerentes de Unidades de Negócios (UN) no horizonte de tempo.
Já Laverty (1996) afirma que a pesquisa é particularmente escassa ao nível
intraempresas ' unidades de negócios ', e poucas tentativas foram feitas para
ligar as decisões intertemporais e preferências individuais dos gestores dentro
de um contexto organizacional.
Tendo em vista essas discussões levantadas na literatura e a relevância do tema
para o ambiente empresarial, neste estudo propõe-se a responder a seguinte
questão de pesquisa:
Qual o efeito do uso do EVA® como instrumento de avaliação de
desempenho sobre as decisões intertemporais de gerentes de vendas?
Para esse fim, investigou-se a hipótese de pesquisa que prevê que a medida de
avaliação de desempenho baseada no EVA®, quando usada para os propósitos de
incentivo, afeta positivamente as decisões intertemporais de gerentes de
vendas.
Dessa forma, este estudo oferece três relevantes contribuições à literatura
contábil. A primeira considera a carência de estudos no Brasil que investiguem
a relação entre a medida de desempenho baseada no lucro residual ou EVA®e as
decisões intertemporais de gerentes de vendas, por meio de investigação
teórico-empírica com a utilização de dados primários. A segunda contribuição é
apresentar o papel da gestão baseada em EVA® em um contexto organizacional
específico representado pelas empresas estudadas e avaliar se, nesse contexto,
se comprovam os resultados esperados em decorrência do uso do EVA®como
principal medida de desempenho. A terceira contribuição é aprofundar e ampliar
os estudos de Wallace (1997) e Reichelstein (2000), que são eminentemente
analíticos, ou ainda o realizado por Abernethy, Bouwens e Lent (2008), na
medida em que esses estudos abordaram as medidas de forma geral e não de forma
específica.
2. REVISÃO DA LITERATURA
As decisões intertemporais são escolhas feitas pelos gestores na alocação dos
recursos disponíveis, nas quais os momentos de ocorrência dos custos e
benefícios podem ocorrer em diferentes momentos ao longo do tempo (LAVERTY,
1996; FREDERICK, LOEWENSTEIN e O'DONOGHUE, 2002). Idealmente, os gestores devem
tomar decisões que criem valor no longo prazo, sem, contudo, descuidar do
horizonte de curto prazo, uma vez que o objetivo da empresa é garantir a
continuidade de suas operações (MERCHANT, 1990; VAN DER STEDE, 2000).
Problemas de escolhas intertemporais nas corporações são inerentes à prática da
gestão e envolvem decisões relacionadas com a maximização de lucros para os
acionistas ou alcance de algum objetivo (LAVERTY, 1996). Sobre essas decisões,
Marginson e McAulay (2007) afirmam que é importante equilibrar as necessidades
tanto de longo como de curto prazo, fato que pode implicar duas possibilidades:
dificuldade de os gerentes de unidades de negócios (UN) enxergarem
o curto prazo, muito embora suas decisões não impliquem
significativas consequências que prejudiquem o longo prazo. Nesse
caso, a miopia gerencial, ou a incapacidade de avaliar no longo
prazo, não conduz à OTCP, isto é, não traz prejuízos relevantes à
corporação;
preferências dos gerentes de UN em focar no curto prazo em
detrimento do longo prazo, situação prejudicial à empresa e,
portanto, classificada como nociva (LAVERTY, 1996).
Existem vários fatores internos e externos presentes na lite- ratura
considerados como possíveis causadores das pressões sobre os gestores para o
desempenho no curto prazo (DEMIRAG, 1995). Um dos fatores internos que se
destacam é a uti- lização pelas organizações de medidas financeiras baseadas no
lucro contábil tradicional para avaliação de desempenho dos gestores, pois tais
medidas podem induzi-los à OTCP, por meio de uma propensão à alocação de
recursos no curto prazo em detrimento de benefícios de longo prazo (DEMIRAG,
1995; LAVERTY, 1996).
Para explicar a OTCP, Laverty (1996) desenvolveu um modelo que inclui, além da
dimensão econômica, as dimensões individual e organizacional, e afirma que as
decisões intertemporais tomadas pelos gerentes de UN são afetadas diretamente
por essas dimensões. Aguiar (2010, p.4) afirma que a dimensão econômica:
"É representada por fatores que incluem (i) práticas gerenciais,
dentre as quais, medidas de desempenho, (ii) oportunismo gerencial em
realizar investimentos cujo efeito financeiro seja mais rápido e em
apresentar alta mobilidade organizacional, (iii) miopia do mercado de
capitais cuja ênfase seria em resultados de curto prazo, (iv)
volatilidade do capital que é rapidamente transferido de uma empresa
para outra e (v) assimetria de informação quanto ao momento dos
efeitos financeiros das decisões gerenciais".
No debate sobre OTCP em decisões intertemporais, fatores organizacionais como a
mensuração de desempenho de gestores devem ser adicionados a qualquer modelo
que procure explicá-la (LAVERTY, 1996). O estudo aqui apresentado investigou
fatores econômicos internos relacionados aos sistemas de avaliação de
desempenho das empresas pesquisadas.
2.1. Teoria da agência e avaliação de desempenho gerencial
A teoria da agência tem suas raízes na literatura sobre a economia da
informação e tem sido um dos paradigmas teóricos mais importantes na
contabilidade nos últimos 20 anos, pois aborda os conflitos de interesse entre
principal e agente, os quais têm como principais causas: a aversão ao esforço
por parte do agente; a possibilidade de o agente desviar recursos para seu uso
ou consumo privado; a atuação do agente em horizontes de tempo diferenciados e
sua não preocupação com o efeito de suas decisões atuais no futuro (LAMBERT,
2001).
A principal característica da teoria da agência, que a tornou atraente para os
pesquisadores em contabilidade, é que ela permite incorporar explicitamente aos
modelos os conflitos de interesses, os problemas de incentivos e os mecanismos
para controlar esses problemas (LAMBERT, 2001). Dessa forma, a teoria da
agência é aplicada em estudos sobre os determinantes e as consequências das
escolhas pelas empresas de medidas financeiras e não financeiras para avaliação
de desempenho de seus gestores. A ideia fundamental do modelo de agência
clássico é a existência de uma escolha entre risco e incentivos subjacente ao
princípio informacional que sugere como pode ser avaliada a utilidade de
medidas de desempenho (INDJEJIKIAN, 1999).
Intuitivamente, as medidas de desempenho, tais como o lucro contábil
tradicional ou a satisfação dos clientes, não podem ser consideradas úteis
apenas pelo fato de satisfazerem os valores inerentes aos clientes ou por
produzirem retornos contábeis mais elevados, mas porque serão obtidas
informações úteis para determinar quais ações e decisões foram tomadas pelos
gestores, por meio de sua utilização na avaliação de seu desempenho
(INDJEJIKIAN, 1999).
A qualidade de uma determinada medida de avaliação de desempenho é reconhecida
pela sensibilidade com que captura as decisões dos gestores, pela precisão com
que essas decisões são capturadas, e pela ideia de congruência entre o impacto
dessas decisões sobre a medida de desempenho e a criação de valor acionista
(INDJEJIKIAN, 1999). Diante disso, um dos direcionamentos de pesquisa nessa
linha é a avaliação do efeito relativo de diferentes medidas de desempenho
contábil-financeiras, não financeiras e de lucro residual sobre as escolhas
gerenciais. Um resumo dos principais estudos que abordaram essas relações pode
ser visto no quadro_1.
2.2. Indicadores de desempenho baseados no lucro residual
Young e O'Byrne (2005) enfatizam que as ideias básicas que sustentam o EVA® não
são novas, mesma posição defendida por Seal (2010), para quem os consultores
conseguiram difundir uma técnica que já havia sido apresentada pelo acadêmico
David Solomon em 1966. O EVA®, que começou a ganhar força na década de 1980 nos
Estados Unidos, com sua divulgação pela empresa Stern Stewart, de Nova York,
detentora da marca registrada EVA®, é essencialmente uma nova apresentação dos
princípios fundamentais de finanças corporativas e de gestão financeira,
conhecidos de longa data, mas difundidos num momento de difusão do mercado de
capitais. Mesmo assim, o EVA® é uma inovação do ponto de vista da capacidade de
institucionalização, uma vez que tornou a moderna teoria de finanças (e suas
implicações gerenciais) mais acessível aos gestores com pouco conhecimento
sobre esse tema.
A utilização do EVA®, ou gestão baseada em valor, como instrumento de medida de
desempenho centra-se em:
definição e implementação de estratégias que proporcionem o maior
potencial de criação de valor para o acionista;
implementação de sistemas de informação focados na criação de valor
e os direcionadores de valor subjacentes entre as UN da empresa,
produtos e segmentos de clientes;
alinhamento dos processos de gestão, como planejamento de negócios
e alocação de recursos, com a criação de valor;
desenho de sistemas de medida de desempenho e planos de remuneração
variável que reflitam a criação de valor (ITTNER e LARCKER, 2001).
Já a abordagem da medição de desempenho baseada no EVA® incorpora uma vantagem
em relação à abordagem tradicional baseada apenas na noção simples do lucro
contábil e nas relações relevantes dele derivadas, tais como o ROE (Return on
Equity) e o ROI (Return on Investment). A diferença é que os critérios
tradicionais de avaliação de desempenho não consideram o custo total do capital
investido (capital e dívida), necessário para gerar os lucros obtidos por uma
empresa (KYRIAZIS e ANASTASSIS, 2007).
Outro tópico que merece destaque na literatura sobre gestão baseada em valor é
fato de que a fixação de metas não pode ser eficaz sem vinculá-la a qualquer
remuneração variável. A estratégia da remuneração variável é um elo essencial
entre a formulação e a implementação da gestão baseada em valor, já que
decompõe os negócios da empresa em uma série de direcionadores de valor e de
horizontes de tempo adequados e cria incentivos ao desempenho ao vincular as
ações dos gestores com as mudanças nos direcionadores de valor (MORIN e
JARRELL, 2001; MALMI e IKÄHEIMO, 2003). Portanto, um plano bem elaborado de
bonificação baseado no EVA® pode proporcionar alinhamento e incentivos de
alavancagem patrimonial de uma forma que pode motivar um comportamento gerador
de valor nos gerentes de unidades de negócios (YOUNG e O'BYRNE, 2005, p.144),
consoante os resultados alcançados no estudo de Wallace (1997, p.276), o qual
testou empiricamente se planos de remuneração variável com base no lucro
residual (EVA®) mudam o comportamento dos gestores e, concluiu, em linhas
gerais, que "a empresa consegue retorno pelo que premia".
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Na figura da página 236 são apresentadas as etapas do estudo, com a descrição
dos objetivos específicos em cada fase.
Este estudo tem natureza teórico-empírica de abordagem quantitativa e, para se
obterem os dados necessários ao teste da hipótese (ver figura), foi dividido em
duas etapas complementares. A primeira é necessária ao desenvolvimento das
variáveis do estudo (construtos): decisões intertemporais de gerentes de
unidades de negócios (UN) (variável dependente) e utilização da medida EVA®
para os propósitos de incentivo (variável independente). A segunda etapa, a
coleta de dados para testar estatisticamente os relacionamentos, também chamada
de operacionalização das variáveis (CRESWELL, 2007), foi realizada por meio de
um levantamento (survey), pela aplicação de um questionário com questões
fechadas. O público-alvo da pesquisa é constituído de duas empresas do setor de
comércio varejista de produtos derivados de petróleo (que passam a ser
denominadas simplesmente por empresa A e empresa B). Vale destacar que a
empresa B, além de ser subsidiária integral da empresa A, tem seu desempenho
avaliado por ela como um segmento de suas atividades, dentro de uma perspectiva
de conglomerado empresarial e ambas as empresas adotaram o EVA® como prática de
avaliação de desempenho gerencial e organizacional há quatro e seis anos da
data da realização da pesquisa, respectivamente. Essas empresas contrataram os
serviços da empresa de consultoria Stern & Stewart, detentora da marca e da
metodologia EVA®.
Como a estrutura hierárquica das diretorias comerciais das empresas é composta
por 20 UN (9 da empresa A e 11 da empresa B) responsáveis pela comercialização
de produtos e serviços, optou-se por definir a população como sendo a formada
por todos os empregados ocupantes de função gerencial das empresas público-
alvo, assim, a amostra selecionada é formada por 171 potenciais respondentes ao
questionário fechado (20 gerentes das UN e 151 gerentes de vendas, diretamente
subordinados àqueles). A escolha dos gerentes de vendas justifica-se por serem
eles os responsáveis diretos pela comercialização de produtos e serviços, para
atingir as metas estabelecidas no planejamento anual das respectivas empresas.
3.1. Levantamento das variáveis do estudo
Para a obtenção das variáveis do estudo ou construtos, foram realizadas
entrevistas estruturadas com gerentes das áreas de desempenho, Recursos Humanos
e de vendas das empresas A e B, que tiveram a finalidade de identificar as
características dos sistemas de avaliação de desempenho e de remuneração dos
gerentes de UN e de vendas. De uma lista de gerentes, foram escolhidos aqueles
mais experientes, com o objetivo de capturar a realidade com a maior
fidedignidade possível, uma vez que se assumiu que esses informantes possuem
maior conhecimento da realidade organizacional e que ocupavam funções-chave nas
áreas de interesse à pesquisa há mais de cinco anos. Investigou-se também a
percepção deles sobre o momento em que as tarefas cotidianas que executam irão
impactar o resultado econômico-financeiro daquelas empresas, de forma a
atingirem as metas estabelecidas nos respectivos planejamentos anuais.
A partir dos resultados das três rodadas de entrevistas realizadas nessa etapa
(quadro_2), foram identificadas as variáveis a serem utilizadas para medir os
construtos mencionados anteriormente.
![](/img/revistas/rausp/v47n2/a06fig01.jpg)
Como resultados dessa fase, identificaram-se as duas seguintes características
dos sistemas de avaliação de desempenho das empresas A e B: inexistência de
remuneração variável para dirigentes e gerentes de UN em ambas as empresas;
existência de incentivo não monetário em ambas as empresas, correspondente ao
resultado da avaliação de desempenho dos gerentes de vendas quanto ao
cumprimento das metas estabelecidas nos planejamentos anuais, por meio de
sistema de Gerenciamento de Desempenho de Pessoal (GDP).
Para medir o construto horizonte de tempo, foi adotado o mesmo instrumento
utilizado por Abernethy, Bouwens e Lent (2008), composto de seis faixas que
foram apresentadas aos respondentes para que indicassem quanto tempo, em termos
percentuais, eles dedicam à execução de cada tarefa, totalizando 100%. No
quadro_3, apresenta-se o agrupamento dessas seis faixas de horizontes de tempo
em três períodos usualmente adotados em pesquisas empíricas em contabilidade, e
que foram operacionalizadas neste estudo.
[/img/revistas/rausp/v47n2/a06qdr03.jpg]
3.2. Operacionalização das variáveis
O resultado das entrevistas serviu de base para a elaboração das perguntas que
integram o questionário fechado aplicado aos 171 potenciais respondentes que
compõem a amostra para coleta dos dados da pesquisa. Garantiu-se a todos o
anonimato e a confidencialidade das respostas, além do envio de um relatório
final com os principais resultados da pesquisa.
O procedimento de coleta de dados por meio do questionário envolveu os quatro
passos sugeridos pelo Total Design Method (TDM) com o objetivo de aumentar a
taxa de resposta (DILLMAN, 2006):
o primeiro passo foi representado pelo contato inicial, por e-mail,
com todos os potenciais respondentes por meio de endereços
eletrônicos, obtidos pelo pesquisador nas áreas de Tecnologia da
Informação (TI) das empresas, com a finalidade de comunicar-lhes que
em breve receberiam nova mensagem eletrônica, solicitando-lhes a
participação em uma pesquisa por meio do preenchimento de um
questionário que seguiria em um link;
o segundo passo foi representado pelo envio de mensagem eletrônica
para todos os potenciais respondentes, após uma semana, em média,
solicitando acessarem um link para resposta ao questionário, que foi
desenvolvido e hospedado em um sistema de criação de formulários para
coleta de dados on-line denominado Formsite Web Form Builder;
o terceiro passo correspondeu ao envio de mensagens eletrônicas a
todos os potenciais respondentes, 15 dias, em média, após o envio do
questionário. Essa nova mensagem teve a finalidade de agradecer
àqueles que já haviam respondido ao questionário e solicitar
brevidade àqueles que ainda não o tivessem feito;
o passo final foi realizado por meio do envio de mensagem
eletrônica final a todos os potenciais respondentes, uma semana, em
média, depois da mensagem anterior. Essa mensagem eletrônica final
foi destinada a agradecer, mais uma vez, àqueles que já haviam
respondido ao questionário e, ainda, apresentar uma parcial com o
número de questionários respondidos, por empresa e por cargo, até
aquela data.
3.2.1. Informações descritivas sobre a amostra
As informações descritivas a seguir permitem identificar as características
demográficas da amostra, as quais confirmam a adequação do perfil do
respondente para o objetivo da pesquisa. Verifica-se que a quase totalidade dos
respondentes tem nível superior (94,9%), 55,7% dos quais são pós-graduados. A
maior parte dos respondentes (74,2%) trabalha nas empresas pesquisadas há mais
de 11 anos; 59,8% e 50,5% dos respondentes, respectivamente, ocupam a mesma
função e trabalham na mesma UN há seis anos ou mais.
3.2.2. Estrutura do questionário
A versão final do questionário resultou em sete questões divididas em quatro
seções. Nessa organização, seguiu-se o método TDM no que se refere ao
enunciado, à ordem das questões e à aparência (DILLMAN, 2006), com o
questionário sendo dividido em quatro seções.
Tarefas executadas versus a percepção do momento de impacto no
resultado econômico-financeiro da empresa
Neste item, teve-se por objetivo identificar a percepção dos gerentes
sobre o momento em que as tarefas irão impactar o resultado
econômico-financeiro da empresa. Ela incluiu quatro questões
referentes ao nível de importância atribuída às tarefas executadas
cotidianamente, para atingir as metas estabelecidas no planejamento
anual e subdivididas em atividades comerciais e de investimento.
Na primeira questão, foi perguntado aos respondentes quanto tempo
eles dedicam, em termos percentuais, a cada uma das tarefas
executadas nas atividades comerciais realizadas com o objetivo de
atingir as metas estabelecidas no planejamento anual, totalizando
100%. Na segunda questão, foi feita pergunta idêntica à anterior, só
que para as atividades de investimento. Na terceira questão, foi
perguntado aos respondentes sobre quanto tempo eles dedicam de uma
forma geral, em termos percentuais, às atividades comerciais e às
atividades de investimento, totalizando obrigatoriamente 100%. Na
quarta questão, foi perguntado aos respondentes sobre qual sua
percepção sobre o momento em que as tarefas listadas irão impactar o
resultado econômico-financeiro das empresas, utilizando para esse fim
os horizontes de tempo, que tiveram por base a mesma medida usada por
Abernethy, Bouwens e Lent (2008).
Avaliação de desempenho pelo superior
Neste item, teve-se por objetivo verificar a percepção dos gerentes
sobre a importância relativa dos indicadores (indicador EVA®,
indicadores contábil-financeiros e indicadores não financeiros) em
cada etapa da avaliação de desempenho e incluiu uma única questão
sobre a importância relativa dada por seus superiores aos indicadores
de desempenho mencionados em sua avaliação de desempenho anual. Para
esse fim, foi solicitado aos respondentes que em sua avaliação
indicassem, em termos percentuais, a importância percebida que cada
medida recebe quando seus superiores avaliam seu desempenho anual, de
forma que a soma dos pesos de cada etapa fosse necessariamente igual
a 100%.
Como fatores externos e internos afetam sua empresa
Este item teve apenas uma questão para caracterizar a variável
contextual incerteza ambiental que potencialmente moderaria as
atividades da empresa.
Questões sobre você e sua empresa
Neste item, teve-se por objetivo obter os dados demográficos dos
respondentes, como tempo de empresa, nível de escolaridade, entre
outros.
3.2.3. Pré-teste
O pré-teste é importante para estabelecer a validade do conteúdo de um
instrumento e para melhorar questões, formatos e escalas (CRESWELL, 2007) e
permite ainda que seja aferido entre os respondentes o tempo médio de
realização do questionário que foi expresso na apresentação de sua versão final
enviada aos respondentes. Esse procedimento foi realizado com três grupos:
mestrandos de uma instituição de ensino superior com curso recomendado pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), nesse caso
o objetivo era avaliar a terminologia; pesquisadores que já fizeram
levantamentos foram consultados com o objetivo de receber críticas sobre o
tamanho do questionário; finalmente, com o objetivo de adequação da
terminologia à linguagem adotada nas empresas, o questionário foi submetido a
um grupo de gerentes potenciais respondentes das duas empresas com perfil
semelhante aos dos potenciais respondentes. Esses últimos foram selecionados
com base na confirmação de disponibilidade para respondê-lo e do compromisso de
contribuir efetivamente para o aperfeiçoamento do instrumento. Os questionários
respondidos foram utilizados exclusivamente no pré-teste, não sendo incluídos
na amostra pesquisada. Esses procedimentos de realizar o pré-teste com colegas,
potenciais respondentes e usuários dos dados está de acordo com a recomendação
da literatura de contabilidade gerencial (VAN DER STEDE, YOUNG e CHEN, 2005). O
pré-teste foi feito para testar as questões e o próprio questionário. Por
tratar-se de um formulário eletrônico, portanto sem possibilidade de contato
pessoal entre pesquisador e pesquisado, torna-se ainda mais importante testar a
compreensibilidade das questões e a facilidade no processo de respostas (VAN
DER STEDE, YOUNG e CHEN, 2005).
3.2.4. Instrumentos de mensuração
Priorizou-se, sempre que possível, utilizar instrumentos de mensuração já
empregados em estudos anteriores. Assim, nesta seção, são apresentados os
instrumentos de mensuração para a variável dependente (decisões intertemporais
de gerentes de unidades de negócios), para a variável independente (utilização
da medida EVA® para os propósitos de incentivo) e para a variável moderadora
incluída na análise (incerteza ambiental). Para validar a adequada mensuração
desses construtos, foram realizados testes em software estatístico para
obtenção e análise do valor do coeficiente de determinação das regressões (R2),
do valor da estatística F, que é utilizada no teste de significância simultânea
dos parâmetros das regressões (exceto o termo de intercepto), dos p-valores
correspondentes e, ainda, os valores das estatísticas t de student de cada
coeficiente e o p-valor.
Decisões intertemporais de gerentes de unidades de negócios ' o
instrumento utilizado para mensurar essa variável foi desenvolvido
por Lawrence e Lorsch (1967), tendo sido utilizado nas pesquisas
empíricas em contabilidade que investigam escolhas intertemporais
(VAN DER STEDE, 2000; AGUIAR, 2009). Solicitou-se aos respondentes
que indicassem o percentual de tempo que eles geralmente dedicam a
atividades que afetam o resultado financeiro da UN e mensurou-se como
Orientação Temporal de Curto Prazo (OTCP) aquelas representadas pelas
três primeiras faixas; as três faixas seguintes representam a
Orientação Temporal de Longo Prazo (OTLP). Utilizou-se como medida de
Orientação Temporal de Gestores (OTG) o somatório das três últimas
faixas, sinalizando a tendência para uma OTLP, viabilizando sua
utilização no modelo de análise.
Importância relativa do EVA® para os propósitos de incentivo' para
medir essa variável, foi utilizado o mesmo instrumento aplicado às
decisões intertemporais de gerentes de unidades de negócios (variável
dependente). A partir das informações obtidas, no levantamento das
variáveis do estudo, de que a avaliação de desempenho dos gerentes de
unidades de negócios se dá em três etapas por meio de três
indicadores de desempenho (contábil-financeiro, não financeiro e
indicador EVA®), perguntou-se aos gerentes, em termos percentuais,
qual sua percepção sobre a importância de cada um dos indicadores, em
cada uma das etapas do processo de avaliação de desempenho, sendo
destacado que a soma dos percentuais deveria ser sempre igual a 100%.
Incerteza ambiental ' mensurou-se incerteza ambiental por meio de
um instrumento originalmente desenvolvido por Gibbs et al. (2004) e
utilizado por Aguiar (2009), que inclui cinco itens representando um
fator: quão previsíveis são as ações de mercado de seus competidores;
com que acurácia você prediz novos negócios (vendas e/ou serviços) em
sua empresa para o próximo ano; quão estáveis são as preferências e
gostos dos clientes para novas compras; quão estáveis são as
restrições legais que afetam seu negócio; quão estável é o ambiente
econômico que afeta seu negócio. Solicitou-se aos respondentes que
indicassem a percepção quanto ao grau de previsibilidade de fatores
internos e externos que afetam as atividades desempenhadas. Para esse
fim, utilizou-se uma escala Likert de 5 pontos, cujos extremos foram:
1 = pouco previsível e 5 = muito previsível. O resultado da análise
de componentes principais deste estudo indicou três fatores que
explicam 78,3% da variância total. O primeiro fator inclui os itens
b, d e e, e representa a imprevisibilidade associada,
respectivamente, com a atuação em relação à própria empresa, ao
ambiente legal e ao ambiente econômico. O segundo fator inclui o item
c, associado com a imprevisibilidade das preferências dos clientes.
Por último, o terceiro fator inclui o item a que se refere à
imprevisibilidade associada com a atuação no mercado. O alfa de
Cronbach para essa medida resultou em 0,63. O alfa de Cronbach é uma
medida de confiabilidade que varia de 0 a 1, sendo o valor de 0,70
considerado o limite inferior de aceitabilidade, podendo ser aceito
em 0,60 para pesquisas exploratórias (HAIR JR. et al., 2005).
Empresa (variável dummy)' as categorias representadas por esta
variável na pesquisa são: empresa A definida nas regressões pelo
valor 1, caso o respondente atue nessa empresa; e empresa B definida
nas regressões como 0, se o respondente for da empresa B. A
utilização desse tipo de variável permite considerar as variáveis
explanatórias categóricas como parte do modelo de regressão (LEVINE
et al., 2005).
Tempo de empresa (variáveis dummy) ' com base no tempo de trabalho
dos respondentes na empresa, foram formadas quatro variáveis dummy,
uma para cada faixa de tempo.
3.2.5. Estatística descritiva
Para mensurar a variável dependente OTLP, foram adotados os seguintes passos:
a partir das respostas à questão 4 do questionário, obteve-se a
soma dos percentuais de tempo que cada gerente dedica às atividades
operacionais e de investimento (respostas às questões 1 e 2 do
questionário), por faixa de tempo e por ati- vidade;
ponderaram-se esses percentuais por aqueles obtidos na questão 3;
para ser obtida uma medida final de OTG, independente- mente de
atividade, se operacional ou de investimento, agru- param-se por
faixa de tempo percentuais obtidos no passo anterior, conforme
exemplo de cálculo para o respondente 1 (tabela_1).
Detalhando a operacionalização do exemplo, segundo a percepção do respondente
1, ele dedica 39% (21% + 18%) de seu tempo às atividades com impacto no
resultado financeiro entre 1 e 3 meses, 43,5% (31,5% + 12%) com impacto entre 3
meses e 1 ano, e 17,5% em atividades com impacto entre 1 e 2 anos. Como a OTLP
é representada pelas três últimas faixas (quadro_3), a variável final a ser
usada na regressão para o respondente 1 é 17,5% (ou 0,175).
Com base nas percepções sobre a importância relativa ou peso, em termos
percentuais, dos indicadores (indicador EVA®, indicadores contábil-financeiros
e indicadores não financeiros) utilizados por seus superiores em cada uma das
três etapas da avaliação de desempenho anual (questão 5), selecionaram-se para
inclusão nas regressões esses percentuais ou peso que cada respondente atribuiu
ao indicador do EVA® em cada uma das etapas de avaliação de desempenho anual.
Para a variável de controle incerteza ambiental, 48% dos respondentes apontaram
as escalas 4 e 5, indicando uma alta previsibilidade do ambiente de atuação do
gestor.
3.2.6. Análise do não respondente
Com o intuito de observar a presença de viés de ausência de respostas, conforme
recomendado por Van der Stede, Young e Chen (2005), procedeu-se a comparação
entre os respondentes que preencheram o questionário, quando do primeiro envio
do link de acesso, o que correspondeu a 56% do total de respondentes; os
respondentes que preencheram os questionários quando dos dois envios seguintes,
corresponderam a 44% do total de respondentes. Os respondentes dos dois envios
finais são assumidos como não respondentes (BABBIE, 2001), de modo que a
identificação de diferenças entre os dois conjuntos de respondentes
representaria uma amostra enviesada.
A seguir, separou-se a amostra entre aqueles que responderam após o envio da
primeira mensagem (primeiros respondentes) e aqueles que responderam depois do
envio das duas mensagens seguintes (últimos respondentes). Foram realizados
dois testes paramétricos: um de diferenças de variâncias e outro de diferenças
de médias. Os testes indicaram que os dois grupos não são estatisticamente
diferentes, considerando um nível de significância de 5%.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1. Passos estatísticos
4.1.1. Análise de correlações
A tabela_2 mostra as correlações bivariadas entre as variá- veis independentes
e a variável dependente OTLP. Os coeficientes não paramétricos de correlação de
Spearman são apresentados juntamente com o p-valor indicado abaixo de cada
coeficiente de correlação.
A variável dependente OTLP buscou capturar o peso, em termos percentuais, da
percepção dos gerentes sobre o impacto no resultado financeiro de longo prazo,
das atividades comerciais e de investimento que eles executam atualmente para
atingir as metas estabelecidas nos planejamentos anuais das empresas estudadas.
As variáveis independentes incluídas inicialmente, explicativas da hipótese de
pesquisa, representam: percepção dos respondentes sobre os pesos atribuídos por
seus superiores ao indicador EVA® nas três etapas da avaliação de desempenho:
definição de metas (ET1EVA), acompanhamento de metas (ET2EVA) e avaliação de
metas (ET3EVA); incerteza ambiental (IAMB); as variáveis dummy empresa (EMPR);
e tempo de empresa (TEMP1, TEMP2, TEMP3 e TEMP4).
Considerando o fato de ter sido identificado, no levantamento das variáveis do
estudo, que a avaliação anual dos gerentes se dá por meio de mais dois grupos
de indicadores (indicadores contábil-financeiros e indicadores não
financeiros), além do indicador EVA®, foram calculadas, adicionalmente, as
correlações bivariadas (Spearman) entre as variáveis independentes
representativas da percepção dos respondentes sobre sua avaliação por
indicadores contábil-financeiros (ET1ICF, ET2ICF e ET3ICF) e indicadores não
financeiros (ET1INF, ET2INF e ET3INF) e a variável dependente OTCP. Da mesma
forma, os coeficientes não paramétricos de correlação de Spearman são
apresentados juntamente com o p-valor indicado abaixo de cada coeficiente de
correlação (tabela_3).
4.1.2. Análise por mínimos quadrados ordinários
Examinou-se neste tópico a hipótese declarada neste estudo por meio de análise
dos mínimos quadrados ordinários (Ordinary Least Squares' OLS), tendo sido
realizadas, ainda, análises adicionais com a finalidade de verificar a
existência de significância estatística, para explicar a OTLP, das demais
variáveis independentes construídas no estudo. O modelo completo de análise
(quadro_4) inclui a variável dependente OTLP, as nove variáveis independentes
(indicativas das três etapas da avaliação pelos três grupos de indicadores
pelos quais os gerentes percebem ser avaliados), uma variável moderadora e
cinco variáveis dummy.
A análise foi realizada por meio de cinco regressões lineares múltiplas (tabela
4), em que a primeira regressão destinou-se a investigar a existência de
significância estatística nas variáveis independentes construídas para
operacionalizar a hipótese de pesquisa, enquanto as quatro regressões
seguintes, como mencionado anteriormente, foram desenvolvidas com a finalidade
de verificar a existência de significância estatística em todas as demais
variáveis independentes construídas na pesquisa, considerando especialmente a
constatação da existência de um conjunto de indicadores pelos quais os gerentes
percebem serem avaliados por seus superiores. A variável moderadora (incerteza
ambiental) e as dummies (empresa e tempo de empresa) foram testadas em todas as
regressões lineares. A seguir são detalhadas essas regressões:
análise de regressão linear para verificar a significância estatís-
tica das variáveis independentes indicador EVA® (ET1EVA, ET2EVA e
ET3EVA), incerteza ambiental (IAMB), empresa (EMPR) e tempo de
trabalho na empresa (TEMP), para explicarem a variável dependente
OTLP;
análise de regressão linear para verificar a significância
estatística das variáveis independentes representativas de cada
indicador da primeira etapa da avaliação de desempenho dos gerentes
(ET1EVA, ET1ICF e ET1INF), incerteza ambiental (IAMB), empresa (EMPR)
e tempo de trabalho na empresa (TEMP), para explicarem a variável
dependente OTLP;
análise de regressão linear para verificar a significância
estatística das variáveis independentes representativas de cada
indicador da segunda etapa da avaliação de desempenho dos gerentes
(ET2EVA, ET2ICF e ET2INF), incerteza ambiental (IAMB), empresa (EMPR)
e tempo de trabalho na empresa (TEMP), para explicarem a variável
dependente OTLP;
análise de regressão linear para verificar a significância
estatística das variáveis independentes representativas de cada
indicador da terceira etapa da avaliação de desempenho dos gerentes
(ET3EVA, ET3ICF e ET3INF), incerteza ambiental (IAMB), empresa (EMPR)
e tempo de trabalho na empresa (TEMP), para explicarem a variável
dependente OTLP;
análise de regressão linear para verificar a significância
estatística das variáveis independentes representativas da avaliação
de desempenho dos gerentes (conjunto de todas as etapas e
indicadores), incerteza ambiental (IAMB), empresa (EMPR) e tempo de
trabalho na empresa (TEMP), para explicarem a variável dependente
OTLP.
A partir dos dados coletados para mensurar a variável dependente OTLP
(identificada pela percepção, em termos percentuais, de impacto das tarefas no
resultado econômico-financeiro como ocorrendo em período superior a 12 meses),
foi possível identificar, por diferença, os valores da variável dependente
OTCP, essa representada pela percepção, em termos percentuais (1 menos OTLP),
do impacto das tarefas no resultado econômico-financeiro como ocorrendo em
período de 1 mês a 12 meses. De posse desses dados, decidiu-se por rodar outras
cinco regressões (tabela_5), mantendo-se as variáveis independentes das cinco
primeiras regressões e substituindo-se a variável dependente OTLP pela OTCP.
Tais regressões tiveram a finalidade de verificar a significância estatística
das variáveis independentes do estudo para explicar possível orientação
temporal de curto prazo (OTCP) dos gestores.
4.2. Resultados
Pela análise da tabela_2 (coeficientes de Spearmandas va- riáveis explanatórias
da hipótese de pesquisa), pode-se constatar que apenas a variável independente
dummy empresa (EMPR) apresentou associação (0,0202) com OTLP ao nível de
significância 5% (bicaudal). Analisando-se, na sequência, os coeficientes de
Spearman dos demais indicadores financeiros além do EVA® (tabela_3), somente a
variável independente ET3ICF representativa da percepção dos gerentes da
importância relativa da utilização de indicadores EVA® em sua avaliação de
desempenho, apresentou associação (0,0086) com OTLP ao nível de significância
5% (bicaudal).
Já na regressão (i) da tabela_4, constata-se não haver evidências para rejeitar
a hipótese nula, ou seja, as variáveis inde- pendentes da regressão não possuem
significância estatística para explicar OTLP. Mesma situação ocorreu pela
análise das regressões de (ii) a (iv).
Por outro lado, analisando-se a regressão (v) verificou-se que, de forma
simultânea, por meio do teste F, as variáveis independentes da regressão podem
explicar 15% (0,150) OTLP, a um nível de significância de 1% (0,002 ou 0,2% <
1% ' unicaudal). Ademais, nessa mesma regressão, analisadas individualmente
(teste t), somente as variáveis independentes representativas da terceira etapa
da avaliação de desempenho por indicadores financeiros (ET3ICF), a um nível de
significância de 5% ' bicaudal (0,009 ou 0,9% < 2,5%) e a variável dummy
empresa (EMPR), a um nível de significância de 10% ' bicaudal (0,05 ou 5% ≤
5%), possuem significância estatís- tica para explicar OTLP.
Assim, pela análise da regressão linear (v), constata-se que as variáveis
independentes ET3ICF e EMPR podem explicar a variável OTLP.
Foram analisadas, ainda, as significâncias estatísticas das variáveis
independentes das cinco regressões adicionais (tabela_5) para explicarem, a
orientação temporal de curto prazo dos gestores (OTCP). Para as quatro
primeiras regressões dessa série [regressões (vi) a (ix)] todos os valores de P
> F e dos R2 permaneceram inalterados; já as variáveis independentes ET3ICF e
dummy empresa (EMPR) da décima regressão (x), mostraram-se estatisticamente
significantes e não puderam ser rejeitadas, com níveis de significância 5% e
10%, respectivamente, para explicar OTCP.
Esses resultados indicam que, quanto maior a percepção dos gerentes de sua
avaliação por meio de indicadores EVA® baseados no lucro contábil tradicional,
maior sua orientação temporal de curto prazo (OTCP), consistentes com os
resultados de estudos anteriores (NARAYANAN, 1985; MERCHANT e BRUNS JR., 1986;
LAVERTY, 1996; SLIWKA, 2002).
4.3. Discussões
Com base nesses testes, não foi possível rejeitar a hipótese (H0) que previa
que medida de avaliação de desempenho baseada no EVA®, usada para os propósitos
de incentivo, afetaria positivamente as decisões intertemporais de gerentes de
UN. A não rejeição de H0, em uma primeira análise, pode ser justificada pelo
fato de não haver plano de remuneração variável para os gerentes de ambas as
empresas e, possivelmente, tenha origem na concentração de esforços dos
gerentes, em decisões focadas fortemente no curto prazo, para cumprirem as
metas comerciais e de investimento, estabelecidas nos planejamentos anuais de
ambas as empresas. Por outro lado, verificou-se, por meio de análises
adicionais, a existência de significância estatística quanto à percepção pelos
gerentes de que, quanto menos se sen- tem avaliados por indicadores contábil-
financeiros (ET3ICF), maior a orientação temporal de longo prazo (OTLP) deles.
Ainda, pela interpretação da variável dummy empresa (EMPR), os gerentes que
atuam na empresa A têm maior percepção de OTLP do que os da empresa B. Essa
menor percepção de OTLP pelos gerentes da empresa B pode ser atribuída a um
menor tempo de adoção da gestão baseada em EVA® nessa empresa (quatro anos) em
relação à empresa A (seis anos).
Os resultados dessas análises adicionais vão ao encontro do que prediz a maior
parte da literatura contábil de que a avaliação de desempenho por meio de
indicadores contábil-financei- ros induz os gerentes a uma orientação temporal
de curto prazo (OTCP) ou, de outra forma, conduzem a uma redução de sua OTLP
(NARAYANAN, 1985; MERCHANT e BRUNS JR., 1986; JOHNSON e KAPLAN, 1987; SLIWKA,
2002).
Os resultados obtidos nesta pesquisa indicaram que a OTLP foi explicada pela
importância relativa dos indicado- res contábil-financeiros (precisamente na
terceira etapa da ava- liação de desempenho ' ET3ICF) e pela variável dummy
empresa (EMPR), indicando maior OTLP nos gerentes da empresa A. Dessa forma,
pode-se inferir que os gerentes atribuem maior peso à terceira etapa de sua
avaliação de desempenho (ET3ICF), comparativamente ao demais indicadores
utilizados em sua avaliação de desempenho por seus superiores.
Verifica-se ainda que, de forma simultânea (teste F), a única regressão linear
que apresentou significância estatística para explicar OTLP foi a regressão "v"
(tabela_4), que incluiu os três conjuntos de indicadores (indicador EVA®,
indicadores contábil-financeiros e indicadores não financeiros), o que tam- bém
está consistente com o que prediz a literatura contábil na medida em que
"a mensuração do desempenho deve convergir para um conjunto
balanceado de indicadores ' financeiros e não financeiros,
prospectivos e perspectivos ', com uma métrica baseada em valor, como
o EVA®, ocupando o centro do sistema de avaliação de desempenho"
(YOUNG e O'BYRNE, 2005, p.237).
Consoante a definição de que o propósito do sistema de con- trole gerencial é
influenciar o comportamento dos gestores a atingir os objetivos organizacionais
(MERCHANT e VAN DER STEDE, 2007; MALMI e BROWN, 2008), e alinhados com o
desenvolvimento de frameworks que consideram a questão das medidas de
desempenho e incentivos, como os propostos por Malmi e Brown (2008) ou Ferreira
e Otley (2009), os resultados deste estudo mostram que o uso combinado de
medidas baseadas em EVA®, contábil-financeiras e não monetárias estimula a
orientação temporal de longo prazo. Nesse sentido, o estudo pode ser utilizado
para empresas que desejem estimular uma orientação de longo prazo na equipe
comercial, mostrando que a utilização dessa combinação de indicadores pode
auxiliar nessa congruência de objetivos. Não está se recomendando que a empresa
deixe de utilizar as tradicionais medidas de controle, como lucratividade de
clientes, margem de contribuição, dentre outras, mas que, mesmo para esse
público, possivelmente menos afeito a medidas de desempenho mais abrangentes,
esse conjunto de indicadores pode ser utilizado com o propósito de influenciá-
lo a atingir os objetivos organizacionais.
Dessa forma, o uso combinado desses indicadores para gestores da área comercial
pode estimular: a orientação para o lucro (medidas contábil-financeiras) e não
somente para as vendas; a orientação para investimentos, uma vez que a medida
baseada no EVA® potencialmente estimula o gestor a entender o conceito de custo
de capital, que é utilizado para suportar o uso de ativos; a orientação para
outros stakeholders(MALMI e BROWN, 2008), uma vez que os indicadores não
monetários, consoante Kaplan e Norton (1997), são potenciais indutores da OTLP,
uma vez que capturam dimensões mais de tendência e menos focadas nas decisões
de curto prazo.
O estudo realizado com gestores de venda é importante por três motivos: foge do
lugar comum que são as pesquisas realizadas com gestores de controladoria e
finanças, e parte pa- ra investigar o usuário da informação contábil; gerentes
de venda são geralmente associados a comportamento disfuncional (CHOI, DIXON e
JUNG, 2004); gerentes de vendas podem causar impactos nos resultados
financeiros no curto e longo prazo, uma vez que um cenário hipotético que
combine elevado grau de autonomia, por exemplo, concessão de descontos, pode
trazer danos imediatos à saúde financeira.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na pesquisa aqui relatada, investigaram-se quais os relacionamentos entre a
utilização da medida EVA® e a congruência das decisões intertemporais dos
gestores, um tema considerado relevante para o ambiente empresarial e também
para as pesquisas, uma vez que o EVA® é um artefato com elevado grau de
institucionalização nas empresas. Os principais resultados identificados
mostram que não foi possível rejeitar a hipótese (H0), a qual previa que a
medida de avaliação de desempenho baseada no EVA®, usada para os propósitos de
incentivo, afetaria positivamente as decisões intertemporais de gerentes de UN.
No entanto, quando incluídos todos os indicadores contábil-financeiros, não
monetários e EVA®, foi possível identificar a existência de significância
estatística dessas variáveis para explicar a OTLP, o que está em linha com as
literaturas normativa e empírica.
A contribuição desta pesquisa para a prática repousa na recomendação de que as
organizações devam incluir todos esses indicadores, caso desejem estimular a
OTLP. Portanto, os práticos podem usar esses resultados ao desenhar um sistema
de metas atrelado à remuneração variável, de forma a obter uma adequada
congruência de objetivos, o que parece ser uma demanda das organizações.
Contribui-se para literatura, principalmente em um momento em que, de um lado,
acadêmicos buscam desenvolver frameworks de sistema de mensuração de
desempenho, e, de outro lado, a comunidade de práticos busca desenvolver
alternativas de remuneração variável que possibilitem a congruência de
objetivos, dentre elas a remuneração por meio de opções de ações.
As principais limitações da pesquisa referem-se a: público-alvo da pesquisa ser
representado por empresas que ainda não adotam sistemas de remuneração
gerencial variável; utilização de escalas de mensuração desenvolvidas
exclusivamente para este estudo para capturar OTLP, embora tenham sido
realizados testes de confiabilidade, obtendo-se resultados adequados; a maior
parte das medidas utilizadas para capturar a variável dependente OTLP
representarem medidas de percepção. Dessa forma, este trabalho abre
oportunidades para estudos posteriores, os quais poderiam explorar a
dimensionalidade da variável OTLP, geralmente mensurada pela alocação de tempo
em tarefas com efeitos financeiros em diferentes momentos de tempo e incluírem,
ainda, dois grupos de empresas: o primeiro de empresas que adotam a gestão
baseada em EVA® com programa de remuneração variável e o segundo que, embora
adote o EVA®, não adote tal programa. Outra abordagem me- todológica seria a
replicação deste estudo em ambientes monitorados para realização de
experimentos.