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EuPTCVAg0870-63522010000300002

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National varietyEu
Year2010
SourceScielo

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Evolução do Material Lenhoso de Pinheiro-Bravo e Eucalipto

Introdução Em Portugal Continental, o levantamento da ocupação do solo é de longa tradição, integrando desde o início, com maior ou menor detalhe, a componente florestal.

Os trabalhos inicialmente desenvolvidos para essa componente visavam sobretudo a identificação da área inculta disponível para a cultura florestal, a qual segundo Domingos Vandelli representava "duas de três partes do país" (VANDELLI, 1789d). É de assinalar, nomeadamente pelas suas implicações na política florestal futura, o relatório de 1868 de Carlos Ribeiro e Joaquim Filipe Nery, acerca da arborização geral do país onde é indicado o valor de 4.314 milhares de hectares para a área de incultos (RIBEIRO, 1868).

Com a evolução das metodologias, as estimativas sobre ocupação do solo aperfeiçoaram-se e foram integrando um número crescente de componentes. Assim, em 1875, Gerardo Pery na "Geografia e Estatística Geral de Portugal e Colónias com um Atlas" (PERY, 1875) quantifica as áreas relativas a classes de ocupação e a espécies florestais (Quadro 1).

Quadro 1 ' Distribuição, em 1874, dos diferentes tipos de ocupação e de floresta na área continental portuguesa.

Como marco importante, é de assinalar a determinação de Emídio Navarro para proceder, nos termos do Decreto de 18 de Novembro de 1886, ao primeiro levantamento da Carta Agrícola. Este trabalho iniciou-se em 1887 e foi concluído em 1902, publicando-se em 1910 a Carta Agrícola e Florestal, que, segundo António Mendes d'Almeida, constituiu o " único inventário geral da riqueza agrícola que assenta num levantamento topográfico" (D'ALMEIDA, 1928).

Em 1904, ainda no contexto de caracterização associado a políticas de valorização dos terrenos incultos através da cultura florestal, é indicada a possibilidade potencial de expansão da área florestal em 3.593 milhares de hectares (D'ALMEIDA, 1904).

No mesmo espírito, António Mendes d'Almeida (D'ALMEIDA, 1918), detalha, com referência ao reconhecimento agrário de 1902, as áreas ocupadas pelos principais tipos de floresta, apresentando, no caso dos pinhais, alguns valores sobre a sua produtividade em madeira e resina (Quadro 2). A mesma fonte sintetiza, ainda, com base nesse reconhecimento, a evolução da área de incultos de 1902 a 1918 (Quadro 3).

Quadro 2 ' Distribuição, em 1902, da área florestal pelos principais tipos de espécies, e, produtividade dos pinhais em madeira e resina

Quadro 3 ' Síntese entre 1902 e 1918 da evolução da área de incultos

Assinala-se, igualmente, pela síntese temporal, o inventário sobre ocupação do solo apresentado no trabalho "Estado da Agricultura em Portugal" (SANTOS, 1918), e que confirma o quadro anterior.

Em 1929, António Mendes d'Almeida (D'ALMEIDA, 1929) descreve, com referência ao reconhecimento de 1928, não a distribuição da floresta pelas principais espécies nacionais mas, igualmente, as suas produtividades em termos de acréscimos médios anuais (Quadro 4), demonstrando, assim, o continuado aperfeiçoamento das técnicas de inventário ao longo dos anos.

Quadro 4 ' Distribuição e produtividades da floresta em 1928

Os diferentes levantamentos sobre ocupação do solo evoluíram das primitivas cartas agrícolas e florestais do início do século passado[1] para instrumentos mais robustos. No quadro 5 são apresentadas as estimativas da carta agrícola e florestal, referentes ao ano de 1956 (MONTEIRO, 2007).

Quadro 5 ' Distribuição da ocupação florestal em 1956

O desenvolvimento da detecção remota, inicialmente através da utilização de fotografia aérea e mais recentemente recorrendo também a imagens de satélite, contribuiu em grande medida para o refinamento das metodologias de inventário.

Estes instrumentos têm vindo a ser a ferramenta principal na elaboração de cartografia e informação sobre ocupação do solo, com destaque para: -  As cartas de ocupação do solo (COS), de âmbito exclusivamente nacional, designadamente as elaboradas a partir dos anos noventa (COS 90, COS 2000 e, proximamente, a COS2007); -  A cartografia desenvolvida pelo projecto CORINELand Cover(CLC)[2], de âmbito europeu, que conta com três edições (CLC90, CLC2000 e CLC2006); -  Os Inventários Florestais Nacionais (IFN), com objectivos específicos no âmbito da avaliação e monitorização da extensão e condição dos recursos florestais nacionais.

Os Inventários Florestais Nacionais Na perspectiva florestal, a quantificação de parâmetros biométricos, designadamente das produtividades, que é realizada nos inventários florestais nacionais para diferentes estratos e tipos de povoamento, distingue este instrumento e torna-o indispensável no quadro de um melhor conhecimento e na definição de políticas e acções para o sector.

Os inventários florestais têm funcionado numa base permanente desde 1963, com actualização periódica da informação de, aproximadamente, 10 em 10 anos, através das designadas revisões do IFN. Todavia, cada uma dessas revisões tem acabado por constituir um novo Inventário Florestal Nacional, visto elas assentarem em distintos processos de delineamento, que se traduzem em diferentes amostragens (DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE PLANEAMENTO E ESTATÍSTICA ' PROJECTO NEOLNV (PAMAF 1999.9.6911.7) DIRECÇÃO-GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS, 2001).

Primeiro inventário O primeiro IFN decorreu entre 1963 e 1965, tendo sido promovido pelos Serviços Florestais[3] em colaboração com as empresas de celulose, cabendo à primeira entidade a responsabilidade pelo inventário da região Sul do Tejo (DIRECÇÃO- GERAL DOS SERVIÇOS FLORESTAIS E AQUÍCOLAS, 1966a), enquanto as empresas privadas realizaram o inventário a Norte do Tejo (DIRECÇÃO-GERAL DOS SERVIÇOS FLORESTAIS E AQUÍCOLAS, 1966b). Além da diferente responsabilidade de execução, os inventários a Norte e a Sul do Tejo também seguiram diferentes metodologias, em particular quanto ao tipo de informação que lhes serviu de suporte (DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE PLANEAMENTO E ESTATÍSTICA ' PROJECTO NEOLNV (PAMAF 1999.9.6911.7) DIRECÇÃO-GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS, 2001): -  O inventário a Sul do Tejo teve como base a actualização da Carta Agrícola e Florestal; -  O inventário a Norte do Tejo baseou-se em fotografia aérea pancromática à escala aproximada de 1/15 000, realizada entre 1963 e 1965, em tempos diferentes nos diversos distritos que integram esta região do continente.

Primeira revisão do Inventário Florestal Nacional  Entre 1968 e 1980 foi realizada a primeira revisão do Inventário Florestal Nacional, produzindo-se, então, a Carta do Inventário Florestal na escala 1: 25.000. Este inventário foi integralmente desenvolvido pelos Serviços Florestais, segundo as seguintes etapas sequenciais: -  O inventário a Sul do Tejo teve início em 1968, com base numa nova cobertura aerofotográfica; -  O inventário a Norte do Tejo baseou-se em coberturas aerofotográficas realizadas, nos diferentes distritos desta região, entre 1974 e 1980.

-  Os povoamentos de pinheiro-bravo e eucalipto foram ainda amostrados no terreno para obtenção de estimativas de volumes e acréscimos.

Segunda revisão do Inventário Florestal Nacional No período entre 1980 e 1989 os Serviços Florestais realizaram a segunda revisão do Inventário Florestal Nacional. Esta revisão foi baseada em novas coberturas aerofotográficas também efectuadas em datas diferentes, nos diversos distritos do continente (DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE PLANEAMENTO E ESTATÍSTICA ' PROJECTO NEOLNV (PAMAF 1999.9.6911.7) DIRECÇÃO-GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS, 2001). Durante este período foi ainda efectuado um inventário específico para o Sobreiro, para responder a questões de ocupação, idade, regeneração e mortalidade. Em resultado da colaboração entre os Serviços Florestais e a então Associação das Empresas Produtoras de Pasta de Celulose (ACEL), actual Associação da Indústria Papeleira (CELPA), foi também realizado um inventário expedito de áreas e volumes para o pinheiro-bravo e eucalipto.

Terceira revisão do Inventário Florestal Nacional Entre 1990 e 2001 realizou-se a terceira revisão do Inventário Florestal Nacional, a qual se processou em duas fases distintas.

A primeira fase decorreu entre 1990 e 1992 e teve como base a cobertura aerofotográfica realizada em 1990, recorrendo a filme infravermelho de falsa- cor, em que, pela primeira vez, o território de Portugal continental foi integralmente coberto. A execução deste inventário realizou-se no âmbito da colaboração estabelecida entre os Serviços Florestais, a ACEL/CELPA e o Centro Nacional de Informação Geográfica (CNIG). Foram foto-interpretados trinta mil pontos e, durante 1991 e 1992, realizadas medições de campo que permitiram obter estimativas de volume para o pinheiro-bravo e para o eucalipto.

A segunda fase da terceira revisão do IFN decorreu entre 1995 e 2001, tendo compreendido as seguintes etapas sequenciais (DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE PLANEAMENTO E ESTATÍSTICA ' PROJECTO NEOLNV (PAMAF 1999.9.6911.7) DIRECÇÃO- GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS, 2001): -  Em 1995 realizou-se a cobertura aerofotográfica em filme infravermelho e pixéis com 1 metro de resolução; -  Entre 1996 e 1997 foi feita a foto-interpretação e avaliação das áreas de 130 mil fotopontos; -  Ente 1997 e 1998 realizaram-se medições de campo em 2.211 parcelas de inventário; -  Entre 1999 e 2000 fez-se o processamento preliminar dos dados; -  Entre 2000 e 2001 foi criado o sistema de informação do IFN; -  Em 2001 os resultados foram publicados oficialmente, incluindo uma aplicação informática denominada Areastat, a qual possibilita consultas expeditas sobre áreas de classe de uso e de ocupação do solo.

Inventário Florestal Nacional (2005/2006) O Primeiro Inventário Florestal de Portugal Continental do séc. XXI, designado como IFN (2005 ' 2006), realizou-se entre 2004 e 2007, sob a responsabilidade dos Serviços Florestais em colaboração com outros agentes públicos e privados, de que se destacam as entidades de investigação (Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Trás-os-Monstes e Alto Douro e ex-Estação Florestal Nacional) e a CELPA. Este inventário incorpora as inovações tecnológicas que foram acontecendo, tendo sido suportado por: -  Cobertura aerofotográfica, com fotografias digitais e imagens em filme de cor real e pixéis com uma resolução de 0,5 metro, realizadas entre o segundo semestre de 2004 e o primeiro semestre de 2006; -  Foto-interpretação, em 2006, de 360 mil pontos, numa rede de amostragem com uma grelha base de 0,5 km por 0,5 km; -  Medições de campo, entre final de 2005 e durante 2006, para obtenção de estimativas de volume, biomassa, carbono, etc. para todas as classes de espécie/grupos de espécies florestais tipificadas no âmbito do IFN; -  No trabalho de campo, o delineamento seguido na rede de amostragem teve subjacente uma grelha base de 2 km por 2 km, de que resultaram 22.091 pontos, que se pretendem permanentes.

Da resenha apresentada conclui-se que o processo de delineamento dos inventários florestais nacionais foi evoluindo consistentemente ao longo dos anos, num processo de colaboração entre entidades públicas e agentes privados, embora a responsabilidade da sua execução e validação tenha sempre sido uma atribuição dos Serviços Florestais. Este processo foi acumulando experiência e saber ao longo de mais de 100 anos, apesar de ter sido formalmente individualizado como inventário florestal a partir dos anos sessenta. Nesse longo caminho de aprendizagem evoluiu-se das estimativas pouco precisas de meados/final do século XIX, ao uso de instrumentos mais sofisticados suportados por uma rede de pontos de amostragem, que se pretende permanente, com uma excelente cobertura do território. O recurso à detecção remota a partir de coberturas aérofotograficas contribuiu, também, para melhorar consideravelmente a precisão das estimativas obtidas no âmbito dos inventários florestais. Estas foram de início realizadas nos diferentes distritos do continente num período alargado, passando, desde 1990, a cobrir a totalidade do território num intervalo de tempo mais curto (1 a 2 anos no máximo).

Igualmente, o sector florestal, com destaque para as fileiras silvo-lenhosas, foi, ao longo desses anos, de forma consistente, assumindo um desempenho assinalável na economia nacional, como comprovam diversos indicadores macroeconómicos. Nestes, são de destacar a sua relevância na criação de emprego, no consumo de matérias-primas nacionais, assim como os volumes físicos e financeiros envolvidos no mercado interno e externo, em particular das exportações (LOURO, et al., 2009; LOURO, et al., 2010). Este desempenho muito terá a beneficiar com a insistência continuada nos Inventários Florestais Nacionais, no quadro da sua permanente actualização. Em particular, a informação por eles veiculada será fundamental para inferir sobre a quantidade e qualidade das matérias-primas lenhosas, de origem nacional, disponíveis para o abastecimento, a jusante, das indústrias transformadoras instaladas em Portugal, assim como nas suas projecções para o futuro.

Pressupostos da análise A análise efectuada neste artigo concentra-se na evolução da informação associada ao pinheiro-bravo e ao eucalipto. A selecção destas duas espécies, no conjunto das espécies individualizadas no âmbito dos inventários florestais, deve-se ao seu expressivo significado na produção nacional de material lenhoso.

Os principais aspectos críticos associado aos inventários florestais nacionais resultam de, ao longo da sua série temporal, se observarem descontinuidades de diversa ordem na informação publicada. Essas descontinuidades são originadas, nomeadamente, por: -  Diferenças no critério de classificação das variáveis, (ex: classe de idade com intervalos diferentes); -  Apresentação dos resultados seguindo critérios de agregação diferentes de inventário para inventário (ex: publicação do valor total do volume e dos acréscimos, em substituição da sua publicação parcial por estrato de composição e de idade); -  Lacunas de informação nalguns inventários para algumas variáveis (ex: volumes e acréscimos).

Na tentativa de reduzir as discrepâncias entre inventários, quando isso era possível, procurou-se colmatar as lacunas de informação sobre as variáveis, e/ ou suas classes, das espécies analisadas neste artigo: pinheiro-bravo e eucalipto. Nas situações em que isso foi concretizado (conforme consta no Anexo I), a metodologia seguida na estimativa dos valores em falta implicou a assumpção de alguns pressupostos, os quais são discriminados no Anexo II.

Evolução das áreas e existências No anexo I é discriminada a informação sobre áreas, volumes e acréscimos publicada nos sucessivos inventários florestais nacionais relativamente ao pinheiro-bravo (Quadro 6) e ao eucalipto (Quadro 7).

Quadro_6 - Evolução das áreas, volumes e acréscimos correntes de pinheiro- bravo, por tipo de povoamento (classe de idade, composição e estrutura), no inventário florestal e suas revisões

Quadro_7 ' Evolução das áreas, volumes e acréscimos correntes de eucalipto, por tipo de povoamento (classe de idade, composição e estrutura), no inventário florestal e suas revisões

A evolução das áreas de ocupação do pinheiro-bravo e do eucalipto no último século/século e meio (Figura 1) embora com um saldo francamente positivo em cada uma dessas espécies, apresenta, todavia, algumas diferenças que importa referir.

Figura_1 ' Evolução das áreas de ocupação de pinheiro-bravo (a) e de eucalipto (b)

Assim, no pinheiro-bravo observa-se um crescimento contínuo até meados do século passado, seguido de um período, de aproximadamente década e meia, em que ocorre uma estabilização da sua área de ocupação, o qual é sucedido por uma fase onde se observa tendência para a redução na mesma.

no eucalipto, as áreas de ocupação evoluíram positivamente no século passado, com excepção da recta final deste (a partir de 1995), onde se observa o início da sua estabilização, a qual é continuada no presente milénio (até 2005).

A análise comparada das áreas, volume por hectare e volume total, por estrato de composição, confirma, tanto no pinheiro-bravo como no eucalipto (Figura 2), o maior significado dos povoamentos puros para o volume total. Contudo, essa importância resulta principalmente das áreas de ocupação e não tanto dos volumes por hectare. Até porque, se no pinheiro-bravo, o volume por hectare é nos sucessivos inventários superior nos povoamentos puros, no eucalipto isso não se verifica.

Figura_2 - Evolução, por tipo de povoamento, das áreas, do volume por hectare e do volume total de pinheiro-bravo (a, b e c) e de eucalipto (d, e e f)

A significativa importância dos povoamentos puros, quer no pinheiro-bravo como no eucalipto, levou a que a distribuição etária das áreas e dos volumes apenas fosse representada relativamente a esse estrato de composição (Figura 3).

Figura_3 ' Evolução por estrato de idade, nos povoamentos puros, das áreas, do volume por hectare e do volume total de pinheiro-bravo (a, b e c) e de eucalipto (d, e e f)

No pinheiro-bravo, de 1992 para 2005, o volume por hectare aumentou em todas as classes de idade, com excepção dos povoamentos irregulares. No entanto, essa tendência não é reflectida no volume total, que, em coerência com a distribuição de áreas nos sucessivos estratos de idade, apresenta menores volumes totais nas maiores idades. É ainda de notar o significativo contributo dos povoamentos irregulares para o volume total, apesar dos inferiores volumes por hectare deste estrato.

No eucalipto, ao contrário do pinheiro-bravo, os volumes por hectare em 2005 são, quase sempre, inferiores ou iguais aos de 1992 e de 1995. Nos povoamentos irregulares e nas idades iguais ou superiores a 12 anos é, ainda, de notar o claro aumento do volume total de 1992 e 1995 para 2005. Este resultado é coerente com o aumento de área que se observa para esses estratos. Por fim, destaca-se a relevância das idades dos 8 aos 12 anos para o volume total.

Conclusões Os inventários florestais nacionais são fundamentais para o melhor conhecimento da floresta portuguesa. Os resultados obtidos no seu âmbito, como se comprova neste artigo para o pinheiro-bravo e para o eucalipto, possibilitam a avaliação e monitorização da extensão dos recursos florestais e suas condições de vegetação, em particular quanto a estimativas sobre produtividades lenhosas actuais e sua evolução previsional.

A evolução, no passado, das áreas de ocupação de pinheiro-bravo e de eucalipto, inicialmente reportadas através das cartas agrícolas e florestais e posteriormente no âmbito dos inventários florestais nacionais, atestam o forte investimento feito, desde o final do século XIX, no fomento florestal.

Os resultados demonstram que a área de ocupação do pinheiro-bravo, em expansão desde finais do século XIX, deverá ter andado próximo da sua potencialidade máxima entre meados da década de cinquenta e finais da década de setenta do século passado. A redução posterior que se vem verificando nessa área poderá reflectir, além das situações pontuais de adaptação à estação, sobretudo a acção de agentes bióticos e abióticos (como pragas, doenças, invasoras lenhosas e incêndios), ou, sabendo-se da sua acentuada relação, de simultaneidade de causas. Em contraponto, o eucalipto, além de verificar o período de expansão inicial numa fase posterior, a partir de meados do século passado, apenas nos dois últimos inventários revela tendência para a estabilização nas áreas de ocupação.

Nesta espécie são de assinalar as generalizadas maiores produtividades por hectare associadas aos povoamentos mistos, circunstância que poderá significar a localização deste tipo de povoamentos em estações mais produtivas. Ainda assim, tanto no eucalipto como no pinheiro-bravo, a maior extensão em área e volume total corresponde aos povoamentos puros.

A distribuição etária de áreas e volumes, nos povoamentos puros das duas espécies analisadas, revela que uma fatia importante das mesmas é da responsabilidade de povoamentos irregulares, o que poderá indiciar situações de deficiente ou, mesmo, de ausência de gestão com algum significado. No caso do eucalipto este facto é agravado pelo aumento considerável de áreas e volumes em povoamentos irregulares de 1992 para 1995, e deste ano para 2005. Este facto, em simultâneo com os também maiores volumes e áreas, estimados no último inventário (2005), de povoamentos de idade superior a 12 anos - sabendo-se que esta espécie é fundamentalmente explorada em rotações curtas de cerca de 12 anos - poderá mesmo significar um aumento acentuado de eucaliptais abandonados entre 1992 e 2005.

Parece, assim, que, na actualidade, o aumento da possibilidade de material lenhoso proveniente de pinheiro-bravo e de eucalipto para o abastecimento das indústrias transformadoras passará, não tanto pelo aumento das suas áreas de ocupação, como se verificou no início do século passado, mas, fundamentalmente, pela promoção de maiores acréscimos nas suas produtividades por hectare. Essa prioridade é, inclusivamente, fundamentada nos valores publicados sobre acréscimos correntes, que se mantêm praticamente inalterados desde 1928 em cinco e dez metros cúbicos anuais por hectare, respectivamente para o pinheiro- bravo e para o eucalipto (D'ALMEIDA, 1929). A promoção de maiores acréscimos por hectare far-se-á, nomeadamente, através de um maior investimento na gestão activa dos povoamentos e no melhoramente genético, mas também por especializar o uso das espécies nas estações de maior potencialidade. Este princípio vem, in-clusivamente, contemplado na Estratégia Nacional para as Florestas (DGRF- DIRECÇÃO-GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS, 2007), que o considera como uma das suas componentes estratégicas.


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