Evolução do Material Lenhoso de Pinheiro-Bravo e Eucalipto
Introdução
Em Portugal Continental, o levantamento da ocupação do solo é de longa
tradição, integrando desde o início, com maior ou menor detalhe, a componente
florestal.
Os trabalhos inicialmente desenvolvidos para essa componente visavam sobretudo
a identificação da área inculta disponível para a cultura florestal, a qual
segundo Domingos Vandelli representava "duas de três partes do país"
(VANDELLI, 1789d). É de assinalar, nomeadamente pelas suas implicações na
política florestal futura, o relatório de 1868 de Carlos Ribeiro e Joaquim
Filipe Nery, acerca da arborização geral do país onde é indicado o valor de
4.314 milhares de hectares para a área de incultos (RIBEIRO, 1868).
Com a evolução das metodologias, as estimativas sobre ocupação do solo
aperfeiçoaram-se e foram integrando um número crescente de componentes. Assim,
em 1875, Gerardo Pery na "Geografia e Estatística Geral de Portugal e
Colónias com um Atlas" (PERY, 1875) já quantifica as áreas relativas a
classes de ocupação e a espécies florestais (Quadro 1).
Quadro 1 ' Distribuição, em 1874, dos diferentes tipos de ocupação e de
floresta na área continental portuguesa.
Como marco importante, é de assinalar a determinação de Emídio Navarro para
proceder, nos termos do Decreto de 18 de Novembro de 1886, ao primeiro
levantamento da Carta Agrícola. Este trabalho iniciou-se em 1887 e foi
concluído em 1902, publicando-se em 1910 a Carta Agrícola e Florestal, que,
segundo António Mendes d'Almeida, constituiu o " único inventário geral da
riqueza agrícola que assenta num levantamento topográfico" (D'ALMEIDA,
1928).
Em 1904, ainda no contexto de caracterização associado a políticas de
valorização dos terrenos incultos através da cultura florestal, é indicada a
possibilidade potencial de expansão da área florestal em 3.593 milhares de
hectares (D'ALMEIDA, 1904).
No mesmo espírito, António Mendes d'Almeida (D'ALMEIDA, 1918), detalha, com
referência ao reconhecimento agrário de 1902, as áreas ocupadas pelos
principais tipos de floresta, apresentando, no caso dos pinhais, alguns valores
sobre a sua produtividade em madeira e resina (Quadro 2). A mesma fonte
sintetiza, ainda, com base nesse reconhecimento, a evolução da área de incultos
de 1902 a 1918 (Quadro 3).
Quadro 2 ' Distribuição, em 1902, da área florestal pelos principais tipos de
espécies, e, produtividade dos pinhais em madeira e resina
Quadro 3 ' Síntese entre 1902 e 1918 da evolução da área de incultos
Assinala-se, igualmente, pela síntese temporal, o inventário sobre ocupação do
solo apresentado no trabalho "Estado da Agricultura em Portugal"
(SANTOS, 1918), e que confirma o quadro anterior.
Em 1929, António Mendes d'Almeida (D'ALMEIDA, 1929) descreve, com referência ao
reconhecimento de 1928, não só a distribuição da floresta pelas principais
espécies nacionais mas, igualmente, as suas produtividades em termos de
acréscimos médios anuais (Quadro 4), demonstrando, assim, o continuado
aperfeiçoamento das técnicas de inventário ao longo dos anos.
Quadro 4 ' Distribuição e produtividades da floresta em 1928
Os diferentes levantamentos sobre ocupação do solo evoluíram das primitivas
cartas agrícolas e florestais do início do século passado[1] para instrumentos
mais robustos. No quadro 5 são apresentadas as estimativas da carta agrícola e
florestal, referentes ao ano de 1956 (MONTEIRO, 2007).
Quadro 5 ' Distribuição da ocupação florestal em 1956
O desenvolvimento da detecção remota, inicialmente através da utilização de
fotografia aérea e mais recentemente recorrendo também a imagens de satélite,
contribuiu em grande medida para o refinamento das metodologias de inventário.
Estes instrumentos têm vindo a ser a ferramenta principal na elaboração de
cartografia e informação sobre ocupação do solo, com destaque para:
- As cartas de ocupação do solo (COS), de âmbito exclusivamente nacional,
designadamente as elaboradas a partir dos anos noventa (COS 90, COS 2000 e,
proximamente, a COS2007);
- A cartografia desenvolvida pelo projecto CORINELand Cover(CLC)[2], de âmbito
europeu, que conta já com três edições (CLC90, CLC2000 e CLC2006);
- Os Inventários Florestais Nacionais (IFN), com objectivos específicos no
âmbito da avaliação e monitorização da extensão e condição dos recursos
florestais nacionais.
Os Inventários Florestais Nacionais
Na perspectiva florestal, a quantificação de parâmetros biométricos,
designadamente das produtividades, que é realizada nos inventários florestais
nacionais para diferentes estratos e tipos de povoamento, distingue este
instrumento e torna-o indispensável no quadro de um melhor conhecimento e na
definição de políticas e acções para o sector.
Os inventários florestais têm funcionado numa base permanente desde 1963, com
actualização periódica da informação de, aproximadamente, 10 em 10 anos,
através das designadas revisões do IFN. Todavia, cada uma dessas revisões tem
acabado por constituir um novo Inventário Florestal Nacional, visto elas
assentarem em distintos processos de delineamento, que se traduzem em
diferentes amostragens (DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE PLANEAMENTO E ESTATÍSTICA '
PROJECTO NEOLNV (PAMAF 1999.9.6911.7) DIRECÇÃO-GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS,
2001).
Primeiro inventário
O primeiro IFN decorreu entre 1963 e 1965, tendo sido promovido pelos Serviços
Florestais[3] em colaboração com as empresas de celulose, cabendo à primeira
entidade a responsabilidade pelo inventário da região Sul do Tejo (DIRECÇÃO-
GERAL DOS SERVIÇOS FLORESTAIS E AQUÍCOLAS, 1966a), enquanto as empresas
privadas realizaram o inventário a Norte do Tejo (DIRECÇÃO-GERAL DOS SERVIÇOS
FLORESTAIS E AQUÍCOLAS, 1966b). Além da diferente responsabilidade de execução,
os inventários a Norte e a Sul do Tejo também seguiram diferentes metodologias,
em particular quanto ao tipo de informação que lhes serviu de suporte (DIRECÇÃO
DE SERVIÇOS DE PLANEAMENTO E ESTATÍSTICA ' PROJECTO NEOLNV (PAMAF
1999.9.6911.7) DIRECÇÃO-GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS, 2001):
- O inventário a Sul do Tejo teve como base a actualização da Carta Agrícola e
Florestal;
- O inventário a Norte do Tejo baseou-se em fotografia aérea pancromática à
escala aproximada de 1/15 000, realizada entre 1963 e 1965, em tempos
diferentes nos diversos distritos que integram esta região do continente.
Primeira revisão do Inventário Florestal Nacional
Entre 1968 e 1980 foi realizada a primeira revisão do Inventário Florestal
Nacional, produzindo-se, então, a Carta do Inventário Florestal na escala 1:
25.000. Este inventário foi integralmente desenvolvido pelos Serviços
Florestais, segundo as seguintes etapas sequenciais:
- O inventário a Sul do Tejo teve início em 1968, com base numa nova cobertura
aerofotográfica;
- O inventário a Norte do Tejo baseou-se em coberturas aerofotográficas
realizadas, nos diferentes distritos desta região, entre 1974 e 1980.
- Os povoamentos de pinheiro-bravo e eucalipto foram ainda amostrados no
terreno para obtenção de estimativas de volumes e acréscimos.
Segunda revisão do Inventário Florestal Nacional
No período entre 1980 e 1989 os Serviços Florestais realizaram a segunda
revisão do Inventário Florestal Nacional. Esta revisão foi baseada em novas
coberturas aerofotográficas também efectuadas em datas diferentes, nos diversos
distritos do continente (DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE PLANEAMENTO E ESTATÍSTICA '
PROJECTO NEOLNV (PAMAF 1999.9.6911.7) DIRECÇÃO-GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS,
2001). Durante este período foi ainda efectuado um inventário específico para o
Sobreiro, para responder a questões de ocupação, idade, regeneração e
mortalidade. Em resultado da colaboração entre os Serviços Florestais e a então
Associação das Empresas Produtoras de Pasta de Celulose (ACEL), actual
Associação da Indústria Papeleira (CELPA), foi também realizado um inventário
expedito de áreas e volumes para o pinheiro-bravo e eucalipto.
Terceira revisão do Inventário Florestal Nacional
Entre 1990 e 2001 realizou-se a terceira revisão do Inventário Florestal
Nacional, a qual se processou em duas fases distintas.
A primeira fase decorreu entre 1990 e 1992 e teve como base a cobertura
aerofotográfica realizada em 1990, recorrendo a filme infravermelho de falsa-
cor, em que, pela primeira vez, o território de Portugal continental foi
integralmente coberto. A execução deste inventário realizou-se no âmbito da
colaboração estabelecida entre os Serviços Florestais, a ACEL/CELPA e o Centro
Nacional de Informação Geográfica (CNIG). Foram foto-interpretados trinta mil
pontos e, durante 1991 e 1992, realizadas medições de campo que permitiram
obter estimativas de volume para o pinheiro-bravo e para o eucalipto.
A segunda fase da terceira revisão do IFN decorreu entre 1995 e 2001, tendo
compreendido as seguintes etapas sequenciais (DIRECÇÃO DE SERVIÇOS DE
PLANEAMENTO E ESTATÍSTICA ' PROJECTO NEOLNV (PAMAF 1999.9.6911.7) DIRECÇÃO-
GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS, 2001):
- Em 1995 realizou-se a cobertura aerofotográfica em filme infravermelho e
pixéis com 1 metro de resolução;
- Entre 1996 e 1997 foi feita a foto-interpretação e avaliação das áreas de
130 mil fotopontos;
- Ente 1997 e 1998 realizaram-se medições de campo em 2.211 parcelas de
inventário;
- Entre 1999 e 2000 fez-se o processamento preliminar dos dados;
- Entre 2000 e 2001 foi criado o sistema de informação do IFN;
- Em 2001 os resultados foram publicados oficialmente, incluindo uma aplicação
informática denominada Areastat, a qual possibilita consultas expeditas sobre
áreas de classe de uso e de ocupação do solo.
Inventário Florestal Nacional (2005/2006)
O Primeiro Inventário Florestal de Portugal Continental do séc. XXI, designado
como IFN (2005 ' 2006), realizou-se entre 2004 e 2007, sob a responsabilidade
dos Serviços Florestais em colaboração com outros agentes públicos e privados,
de que se destacam as entidades de investigação (Instituto Superior de
Agronomia, Universidade de Trás-os-Monstes e Alto Douro e ex-Estação Florestal
Nacional) e a CELPA. Este inventário incorpora as inovações tecnológicas que
foram acontecendo, tendo sido suportado por:
- Cobertura aerofotográfica, com fotografias digitais e imagens em filme de
cor real e pixéis com uma resolução de 0,5 metro, realizadas entre o segundo
semestre de 2004 e o primeiro semestre de 2006;
- Foto-interpretação, em 2006, de 360 mil pontos, numa rede de amostragem com
uma grelha base de 0,5 km por 0,5 km;
- Medições de campo, entre final de 2005 e durante 2006, para obtenção de
estimativas de volume, biomassa, carbono, etc. para todas as classes de
espécie/grupos de espécies florestais tipificadas no âmbito do IFN;
- No trabalho de campo, o delineamento seguido na rede de amostragem teve
subjacente uma grelha base de 2 km por 2 km, de que resultaram 22.091 pontos,
que se pretendem permanentes.
Da resenha apresentada conclui-se que o processo de delineamento dos
inventários florestais nacionais foi evoluindo consistentemente ao longo dos
anos, num processo de colaboração entre entidades públicas e agentes privados,
embora a responsabilidade da sua execução e validação tenha sempre sido uma
atribuição dos Serviços Florestais. Este processo foi acumulando experiência e
saber ao longo de mais de 100 anos, apesar de só ter sido formalmente
individualizado como inventário florestal a partir dos anos sessenta. Nesse
longo caminho de aprendizagem evoluiu-se das estimativas pouco precisas de
meados/final do século XIX, ao uso de instrumentos mais sofisticados suportados
por uma rede de pontos de amostragem, que se pretende permanente, com uma
excelente cobertura do território. O recurso à detecção remota a partir de
coberturas aérofotograficas contribuiu, também, para melhorar consideravelmente
a precisão das estimativas obtidas no âmbito dos inventários florestais. Estas
foram de início realizadas nos diferentes distritos do continente num período
alargado, passando, desde 1990, a cobrir a totalidade do território num
intervalo de tempo mais curto (1 a 2 anos no máximo).
Igualmente, o sector florestal, com destaque para as fileiras silvo-lenhosas,
foi, ao longo desses anos, de forma consistente, assumindo um desempenho
assinalável na economia nacional, como comprovam diversos indicadores
macroeconómicos. Nestes, são de destacar a sua relevância na criação de
emprego, no consumo de matérias-primas nacionais, assim como os volumes físicos
e financeiros envolvidos no mercado interno e externo, em particular das
exportações (LOURO, et al., 2009; LOURO, et al., 2010). Este desempenho muito
terá a beneficiar com a insistência continuada nos Inventários Florestais
Nacionais, no quadro da sua permanente actualização. Em particular, a
informação por eles veiculada será fundamental para inferir sobre a quantidade
e qualidade das matérias-primas lenhosas, de origem nacional, disponíveis para
o abastecimento, a jusante, das indústrias transformadoras instaladas em
Portugal, assim como nas suas projecções para o futuro.
Pressupostos da análise
A análise efectuada neste artigo concentra-se na evolução da informação
associada ao pinheiro-bravo e ao eucalipto. A selecção destas duas espécies, no
conjunto das espécies individualizadas no âmbito dos inventários florestais,
deve-se ao seu expressivo significado na produção nacional de material lenhoso.
Os principais aspectos críticos associado aos inventários florestais nacionais
resultam de, ao longo da sua série temporal, se observarem descontinuidades de
diversa ordem na informação publicada. Essas descontinuidades são originadas,
nomeadamente, por:
- Diferenças no critério de classificação das variáveis, (ex: classe de idade
com intervalos diferentes);
- Apresentação dos resultados seguindo critérios de agregação diferentes de
inventário para inventário (ex: publicação do valor total do volume e dos
acréscimos, em substituição da sua publicação parcial por estrato de composição
e de idade);
- Lacunas de informação nalguns inventários para algumas variáveis (ex:
volumes e acréscimos).
Na tentativa de reduzir as discrepâncias entre inventários, quando isso era
possível, procurou-se colmatar as lacunas de informação sobre as variáveis, e/
ou suas classes, das espécies analisadas neste artigo: pinheiro-bravo e
eucalipto. Nas situações em que isso foi concretizado (conforme consta no Anexo
I), a metodologia seguida na estimativa dos valores em falta implicou a
assumpção de alguns pressupostos, os quais são discriminados no Anexo II.
Evolução das áreas e existências
No anexo I é discriminada a informação sobre áreas, volumes e acréscimos
publicada nos sucessivos inventários florestais nacionais relativamente ao
pinheiro-bravo (Quadro 6) e ao eucalipto (Quadro 7).
Quadro_6 - Evolução das áreas, volumes e acréscimos correntes de pinheiro-
bravo, por tipo de povoamento (classe de idade, composição e estrutura), no
inventário florestal e suas revisões
Quadro_7 ' Evolução das áreas, volumes e acréscimos correntes de eucalipto, por
tipo de povoamento (classe de idade, composição e estrutura), no inventário
florestal e suas revisões
A evolução das áreas de ocupação do pinheiro-bravo e do eucalipto no último
século/século e meio (Figura 1) embora com um saldo francamente positivo em
cada uma dessas espécies, apresenta, todavia, algumas diferenças que importa
referir.
Figura_1 ' Evolução das áreas de ocupação de pinheiro-bravo (a) e de eucalipto
(b)
Assim, no pinheiro-bravo observa-se um crescimento contínuo até meados do
século passado, seguido de um período, de aproximadamente década e meia, em que
ocorre uma estabilização da sua área de ocupação, o qual é sucedido por uma
fase onde se observa tendência para a redução na mesma.
Já no eucalipto, as áreas de ocupação evoluíram positivamente no século
passado, com excepção da recta final deste (a partir de 1995), onde se observa
o início da sua estabilização, a qual é continuada no presente milénio (até
2005).
A análise comparada das áreas, volume por hectare e volume total, por estrato
de composição, confirma, tanto no pinheiro-bravo como no eucalipto (Figura 2),
o maior significado dos povoamentos puros para o volume total. Contudo, essa
importância resulta principalmente das áreas de ocupação e não tanto dos
volumes por hectare. Até porque, se no pinheiro-bravo, o volume por hectare é
nos sucessivos inventários superior nos povoamentos puros, no eucalipto isso
não se verifica.
Figura_2 - Evolução, por tipo de povoamento, das áreas, do volume por hectare e
do volume total de pinheiro-bravo (a, b e c) e de eucalipto (d, e e f)
A significativa importância dos povoamentos puros, quer no pinheiro-bravo como
no eucalipto, levou a que a distribuição etária das áreas e dos volumes apenas
fosse representada relativamente a esse estrato de composição (Figura 3).
Figura_3 ' Evolução por estrato de idade, nos povoamentos puros, das áreas, do
volume por hectare e do volume total de pinheiro-bravo (a, b e c) e de
eucalipto (d, e e f)
No pinheiro-bravo, de 1992 para 2005, o volume por hectare aumentou em todas as
classes de idade, com excepção dos povoamentos irregulares. No entanto, essa
tendência não é reflectida no volume total, que, em coerência com a
distribuição de áreas nos sucessivos estratos de idade, apresenta menores
volumes totais nas maiores idades. É ainda de notar o significativo contributo
dos povoamentos irregulares para o volume total, apesar dos inferiores volumes
por hectare deste estrato.
No eucalipto, ao contrário do pinheiro-bravo, os volumes por hectare em 2005
são, quase sempre, inferiores ou iguais aos de 1992 e de 1995. Nos povoamentos
irregulares e nas idades iguais ou superiores a 12 anos é, ainda, de notar o
claro aumento do volume total de 1992 e 1995 para 2005. Este resultado é
coerente com o aumento de área que se observa para esses estratos. Por fim,
destaca-se a relevância das idades dos 8 aos 12 anos para o volume total.
Conclusões
Os inventários florestais nacionais são fundamentais para o melhor conhecimento
da floresta portuguesa. Os resultados obtidos no seu âmbito, como se comprova
neste artigo para o pinheiro-bravo e para o eucalipto, possibilitam a avaliação
e monitorização da extensão dos recursos florestais e suas condições de
vegetação, em particular quanto a estimativas sobre produtividades lenhosas
actuais e sua evolução previsional.
A evolução, no passado, das áreas de ocupação de pinheiro-bravo e de eucalipto,
inicialmente reportadas através das cartas agrícolas e florestais e
posteriormente no âmbito dos inventários florestais nacionais, atestam o forte
investimento feito, desde o final do século XIX, no fomento florestal.
Os resultados demonstram que a área de ocupação do pinheiro-bravo, em expansão
desde finais do século XIX, deverá ter andado próximo da sua potencialidade
máxima entre meados da década de cinquenta e finais da década de setenta do
século passado. A redução posterior que se vem verificando nessa área poderá
reflectir, além das situações pontuais de má adaptação à estação, sobretudo a
acção de agentes bióticos e abióticos (como pragas, doenças, invasoras lenhosas
e incêndios), ou, sabendo-se da sua acentuada relação, de simultaneidade de
causas. Em contraponto, o eucalipto, além de verificar o período de expansão
inicial numa fase posterior, a partir de meados do século passado, apenas nos
dois últimos inventários revela tendência para a estabilização nas áreas de
ocupação.
Nesta espécie são de assinalar as generalizadas maiores produtividades por
hectare associadas aos povoamentos mistos, circunstância que poderá significar
a localização deste tipo de povoamentos em estações mais produtivas. Ainda
assim, tanto no eucalipto como no pinheiro-bravo, a maior extensão em área e
volume total corresponde aos povoamentos puros.
A distribuição etária de áreas e volumes, nos povoamentos puros das duas
espécies analisadas, revela que uma fatia importante das mesmas é da
responsabilidade de povoamentos irregulares, o que poderá indiciar situações de
deficiente ou, mesmo, de ausência de gestão com algum significado. No caso do
eucalipto este facto é agravado pelo aumento considerável de áreas e volumes em
povoamentos irregulares de 1992 para 1995, e deste ano para 2005. Este facto,
em simultâneo com os também maiores volumes e áreas, estimados no último
inventário (2005), de povoamentos de idade superior a 12 anos - sabendo-se que
esta espécie é fundamentalmente explorada em rotações curtas de cerca de 12
anos - poderá mesmo significar um aumento acentuado de eucaliptais abandonados
entre 1992 e 2005.
Parece, assim, que, na actualidade, o aumento da possibilidade de material
lenhoso proveniente de pinheiro-bravo e de eucalipto para o abastecimento das
indústrias transformadoras passará, não tanto pelo aumento das suas áreas de
ocupação, como se verificou no início do século passado, mas, fundamentalmente,
pela promoção de maiores acréscimos nas suas produtividades por hectare. Essa
prioridade é, inclusivamente, fundamentada nos valores publicados sobre
acréscimos correntes, que se mantêm praticamente inalterados desde 1928 em
cinco e dez metros cúbicos anuais por hectare, respectivamente para o pinheiro-
bravo e para o eucalipto (D'ALMEIDA, 1929). A promoção de maiores acréscimos
por hectare far-se-á, nomeadamente, através de um maior investimento na gestão
activa dos povoamentos e no melhoramente genético, mas também por especializar
o uso das espécies nas estações de maior potencialidade. Este princípio vem,
in-clusivamente, contemplado na Estratégia Nacional para as Florestas (DGRF-
DIRECÇÃO-GERAL DOS RECURSOS FLORESTAIS, 2007), que o considera como uma das
suas componentes estratégicas.