Crianças com asma: corticóides inalados para alívio rápido dos sintomas
Crianças com asma: corticóides inalados para alívio rápido dos sintomas
David Silvério Rodrigues
USF D. Jordão, ACES Oeste Sul
Referência Bibliográfica: Martinez F, Chinchilli VM, Morgan WJ, Boehmer SJ,
Lemanske Jr RF, Mauger DT, et al. Use os beclomethasone dipropionate as rescue
treatment for children with mild persistent asthma (TREXA): a randomised,
double-blind, placebo-controlled trial. Lancet 2011 Feb 19; 377 (9766): 650-7.
Disponível em: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-
6736%2810%2962145-9/fulltext
Questão clínica
Em crianças com asma persistente ligeira, o uso de dipropionato de
beclametasona com salbutamol proporcionará maior protecção contra as crises
quando comparado com o uso de salbutamol em monoterapia?
Comentário
Várias normas de orientação clínica (NOC) recomendam corticoesteróides inalados
diariamente para controlo sintomático e tratamento das crises nas crianças com
asma persistente ligeira, bem como o recurso ao salbutamol como medicação de
alívio rápido dos sintomas1,2. Nesse sentido, a principal conclusão do estudo e
aquela que deve guiar a nossa prática diária é a superioridade da CI diária no
que ao outcome primário diz respeito (tempo até à primeira crise asmática com
necessidade de administração de corticoesteróides orais) (LOE1b). Além de menos
crises asmáticas, os doentes com CI diária apresentam consequentemente menos
idas ao serviço de urgência, menos internamentos, menos gastos em saúde, mais
dias livres de sintomas e maior sensação de qualidade de vida.3 Existem no
entanto dúvidas relativas à relação entre os corticóides inalados e alterações
no padrão de crescimento das crianças (outcome secundário no estudo), com
possível afectação da sua altura final em adulto. Vários autores3-6 defendem
que raramente essa altura final é comprometida e que os benefícios da CI e do
correcto controlo da doença ultrapassam claramente os riscos da sua não
utilização e do descontrolo da doença (que podem condicionar de forma ainda
mais grave a saúde das crianças).
As mesmas NOC recomendam a redução da medicação quando a asma está controlada,
mas não são esclarecedoras na informação respeitante às estratégias de redução
ou em que condições essa deve ser feita. Na prática diária é frequente que as
crianças assintomáticas por longos períodos não cumpram a medicação ou
abandonem a mesma.7 Nestes casos, atendendo aos resultados do estudo, parece
razoável recomendar o uso de DPB inalado com salbutamol para alívio rápido dos
sintomas, uma vez que esta estratégia está associada a menos um terço de
exacerbações (ainda que o resultado no estudo não tenha sido estatisticamente
significativo) comparada com placebo e não tem a repercussão no crescimento
linear. A adopção desta recomendação necessitará no entanto de outros estudos
mais conclusivos nesta matéria.
Por último referir que, tanto neste ensaio como noutros sobre o tema, incluindo
algumas referências bibliográficas deste POEM, existem conflitos de interesse
assinaláveis nalguns autores.