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National varietyEu
Year2014
SourceScielo

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Humanismo e a evolução tecnológica na prática médico-cirúrgica PÁGINA DA SPC

Humanismo e a evolução tecnológica na prática médico-cirúrgica

Jorge Maciel Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Correspondência

A Cirurgia Geral, outrora área nobre do exercício do saber médico, respeitada por pares e pela população em geral, tem sido frequentemente maltratada, banalizada e depreciada, por muitos alheios à profissão, mas ainda mais preocupantemente o tem sido, por alguns da própria classe.

Hoje na área da saúde, usam-se exageradamente termos como utentes, produção e objectivos, que têm pouco a ver com doentes, doenças, médicos ou enfermeiros e estão muito longe de conceitos como humanismo, solidariedade ou altruísmo.

Admito que são necessários, mas a ênfase que tem sido colocada nesses aspectos, em detrimento dos valores humanos, tem contribuído para um gradual desvio, do que deve ser a verdadeira prática médico-cirúrgica e do que creio os doentes esperam dos profissionais.

Vivemos sob o primado da tecnocracia, em detrimento de outros valores, que sempre foram pilares essenciais da medicina, nomeadamente do humanismo e da relação médico-doente.

O doente no seu todo, como ser sofredor, quer física quer psiquicamente, é mais que uma máquina em que se reparam ou substituem peças. Mas tem-se atribuído menor relevância à sua observação ' história clínica e exame físico ' numa clara secundarização da componente humana, sendo ainda que, as várias vertentes da envolvente da vida do doente e suas angústias, são frequentemente negligenciadas, como se não tivessem impacto na doença que padece e no sucesso do seu tratamento global.

Lidar com técnicas e praticar gestos mais ou menos invasivos, com recurso às mais sofisticadas tecnologias e dispositivos, é porventura muito mais divertido e materialmente mais gratificante, que ouvir e examinar atentamente doentes.

Os cirurgiões devem decidir criteriosamente, quais os meios complementares de diagnóstico de que necessitam (e esses) para confirmar as suas hipóteses de diagnóstico e devem alicerçar o plano terapêutico, escolhendo criteriosamente qual a técnica que efectivamente apresenta melhor risco benefício para cada doente. Devem deixar de lado, quer o comércio da medicina, quer o gáudio pessoal de realizar um qualquer procedimento, utilizar um dispositivo ou uma forma de abordagem, que não o mais adequado para aquele preciso doente.

É óbvio para todos, que a panóplia de meios complementares de diagnóstico e técnicas de abordagem terapêutica, que surgiram e se desenvolveram nos últimos 20 anos, são preciosos elementos para obtermos diagnósticos mais precoces e seguros e para praticarmos gestos terapêuticos mais eficazes e menos invasivos, mas isso não pode significar que se negligenciem os elementos de ordem clínica.

Não é raro confrontarmo-nos com informações de meios complementares de diagnóstico, muitos dos quais feitos de forma massiva e com qualidade questionável, mas que com base neles, alguma ou outra vez, foram orientados diagnósticos e decididas atitudes terapêuticas para caminhos incorrectos, por as informações que veicularam não terem sido integradas com os elementos de ordem clínica.

Quando isto acontece, não progresso, mas sim prática. Ouvir e examinar os doentes, continua a ser mandatório numa boa prática clínica.

Saudações amigas O Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia

Correspondência JORGE MACIEL e-mail: jmacielbarbosa@netcabo.pt


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