Efeitos da adubação nitrogenada e potássica na produção e na qualidade de
frutos de laranjeira-'Valência'
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
O nitrogênio é o problema central na recomendação de adubos na citricultura,
pois é complexa a avaliação da ciclagem desse elemento no ambiente do pomar. A
análise de fertilidade do solo não permite estimativa de disponibilidade de
nitrogênio, e a análise do teor total deste nas folhas também tem sido
questionada como critério diagnóstico. As plantas, de um modo geral, exigem
potássio na medida da capacidade de metabolização do nitrogênio. Na
citricultura, a relação N/K nos tecidos foliares afeta a produção e a qualidade
dos frutos como já observaram diferentes pesquisadores (Reese & Koo, 1975;
DuPlessis & Koen, 1988).
O objetivo deste experimento foi avaliar efeitos de doses combinadas de
nitrogênio e potássio sobre a produção e a qualidade dos frutos de laranjeira-
Valência, cultivada no município de Adolfo, Norte do Estado de São Paulo. O
solo, Podzólico Vermelho-Amarelo eutrófico, textura arenosa a média, em relevo
suavemente ondulado, foi coletado em amostras compostas, nas faixas adubadas e
nas profundidades de 0-20cm e 20-40cm que foram submetidas à análise de
fertilidade, segundo os métodos descritos por Raij & Quaggio, 1983. Os
resultados analíticos estão na Tabela_1. Com base na análise de solo,
estimativa de safra e análises foliares anteriores, foram estabelecidas as
doses de N (kg ha-1): N1 = 94; N2 = 188 e N3 = 376 e de K2O (kg ha-1): K1 = 38;
K2 = 75 e K3 = 150. As parcelas foram compostas por 3 linhas de 6 plantas,
considerando-se como área útil as quatro plantas centrais. O pomar foi plantado
no espaçamento de 8 x 4 m de forma que cada parcela tinha área de 576m2. O
delineamento experimental adotado foi tipo fatorial 3 x 3, em blocos ao acaso,
com 3 repetições. Os adubos utilizados foram o nitrato de amônio (34% de N) e o
cloreto de potássio (58% de K2O), granulados. A adubação foi feita em faixas
laterais, dos dois lados das plantas, em três parcelas, na época de chuvas nos
anos de 1996 a 1999. Nos meses de março de cada ano, cerca de 40 dias após a
última parcela de adubação, foram coletadas amostras de folhas para fins de
diagnose foliar. As amostras foram preparadas e analisadas para teores totais
de nitrogênio e de potássio conforme métodos descritos por Bataglia et al.,
1983. Nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro de cada ano, foram
coletadas amostras de 48 frutos por parcela, determinando-se, nos mesmos, a
acidez titulável e o teor de sólidos solúveis (0Brix) segundo métodos descritos
por Reed et al., 1986. Em novembro de cada ano, foi feita a colheita total de
frutos maduros, determinando-se o peso dos mesmos por parcela (Tabela_2). Esses
dados mostram que não houve efeitos significativos das doses combinadas de
nitrogênio e potássio na produção da laranjeira-Valência durante três safras
consecutivas. As produções nos anos de 1997 e 1999 foram normais, de acordo com
os padrões da laranjeira-"Valência" indicados por Figueiredo (1991).
No ano de 1998, a produção caiu pela metade devido à irregularidade de chuvas,
afetando o florescimento e o pegamento dos frutos. Os dados do primeiro ano de
não-resposta à adubação NK são considerados previsíveis em função do histórico
do pomar. Já no segundo ano, a produção foi prejudicada por condições
climáticas desfavoráveis e pode-se inferir que a colheita obtida pouco exigiu
quanto à disponibilidade de nutrientes. A não-resposta à adubação NK foi
inesperada na terceira safra, pois pode-se considerar as doses menores (N1 e
K1), como uma subadubação, visto que as doses centrais N2 e K2 foram baseadas
nas recomendações do Grupo Paulista (1994) e, portanto, as doses N3 e K3 podem
ser consideradas excessivas. Entretanto, as plantas mantiveram a mesma
produtividade, quer recebendo 94 e 38 kg ha-1 de N e de K2O, quer 376 e 150 kg
ha-1 de N e de K2O, respectivamente, por três anos consecutivos. Este contraste
confirma a capacidade de as plantas cítricas bem conduzidas manterem a
produtividade às custas de suas próprias reservas e das do solo por período de
tempo relativamente longo. Os dados da Tabela_3 mostram que os teores foliares
de nitrogênio e potássio foram pouco afetados pelos tratamentos de adubação,
ocorrendo pequenas oscilações dentro das faixas consideradas adequadas (N = 23
- 27 g kg-1 e K = 10 - 15 g kg-1).Pode-se verificar, ainda, que o ano agrícola
teve maior influência nos teores foliares de N e de K que os níveis de
adubação. Todavia, os teores foliares de N aumentaram significativamente em
função das doses crescentes do nutriente, apenas nos anos de 1998 e 1999. A
variação obtida sobre os teores foliares de K, em função de doses do nutriente,
foi estranha, pois constatou-se diminuição no teor foliar com aumento da dose,
apenas no primeiro ano. Isso, entretanto, é passível de ocorrer, por dois
fatores não excludentes: diluição do nutriente em copa de maior vegetação e
concentração salina na faixa adubada, diminuindo a absorção via radicelas.
Das análises tecnológicas dos frutos, constataram-se efeitos esparsos dos
tratamentos sobre a acidez (gramas de ácido cítrico / 100 mL de suco) e teor de
sólidos solúveis (0Brix). Os efeitos significativos, identificados pelo teste
F, foram desdobrados e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% (Tabela
4). Os dados mostram que apenas na safra de menor produção, em razão de fatores
climáticos (1998), ocorreram efeitos de doses de N e K sobre as características
de acidez e teor total de sólidos solúveis. Houve interação significativa entre
doses de N e K para ambas as variáveis. Dessa forma, a maior dose de K (150 kg
ha-1 de K2O), comparada às outras, causou aumento da acidez do suco apenas
dentro da menor dose de nitrogênio (94 kgha-1 de N), ao passo que a dose
intermediária de K (75 kg ha-1 de K2O) causou diminuição no teor de sólidos
solúveis, apenas dentro da maior dose de nitrogênio. Esses efeitos foram
presentes só nas primeiras amostragens de frutos, isto é, sobre a acidez nas
amostras de frutos coletados na mês de agosto e sobre o teor total de sólidos
solúveis, na amostragem de setembro. O efeito de doses de K sobre a
acidificação do suco está coerente com o que já foi observado por diferentes
pesquisadores (Reese & Koo, 1975). Pode-se observar ainda que, fixando a
dose intermediária de potássio (K2 = 75 kg ha-1 de K2O), à medida que aumentou
a dose de N, aumentou também o teor de sólidos solúveis do suco. Diferentes
autores têm considerado como inconsistentes os efeitos de doses de nitrogênio
sobre o teor de sólidos do suco (Reese & Koo, 1975; Embleton et al., 1973).