Controle da maturação de caquis 'Fuyu', com uso de aminoethoxivinilglicina e
ácido giberélico
CONTROLE DA MATURAÇÃO DE CAQUIS 'FUYU', COM USO DE AMINOETHOXIVINILGLICINA E
ÁCIDO GIBERÉLICO1
INTRODUÇÃO
O caquizeiro (Diospyrus kaki, L.) é uma espécie originária da Ásia, onde é
cultivada há mais de cinco séculos. Entretanto, é no Japão que este fruto tem
maior importância.
A cultivar Fuyu é a principal representante da boa adaptação de seu cultivo nas
Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Seu período de colheita é de aproximadamente
30 dias, quando mais de 90% da produção é comercializada imediatamente após a
colheita.
Para ampliar o período de colheita e o armazenamento deste fruto, necessita-se
estabelecer novas condições de manejo na pré-colheita, na colheita e no
armazenamento, tais como, o emprego de reguladores de crescimento e/ou de
reguladores de vias metabólicas da maturação, permitem além do controle parcial
da maturação e senescência, e reduzir os distúrbios fisiológicos nos frutos
(Kende, 1993; Pech et al., 1994; Looney, 1998).
De acordo com alguns autores (Byers, 1997; Petri & Leite, 1999), a
aplicação de aminoethoxivinilglicina (AVG), além de controlar a maturação, age
no processo de floração, inibindo o aborto de flores, e estimula o crescimento
vegetativo em caquizeiros.
Aplicações do AVG inibiram a síntese de etileno durante o armazenamento de
maçãs (Dennis et al., 1983), pêssegos (Byers, 1997) e caquis (Ben-Arie &
Zutkhi, 1992). Entretanto, em caquis, sua eficiência depende da cultivar, em
especial da produção e de sua sensibilidade ao etileno (Autio & Bramlage,
1982).
O uso do ácido giberélico (AG3) em pulverizações pré-colheita, durante as fases
de crescimento e de expansão celular de tangerinas (Barros & Rodrigues,
1994), também tem sido recomendado como forma de controle da maturação
(retardando o período de colheita), de manutenção da qualidade pós-colheita
(aumento da conservação) e de retardo no processo de senescência, fato que
também tem sido observado para caquis (Kang et al., 1994; Perez et al., 1995;
Ben-Arie et al.,1996) o que possibilita escalonar a colheita e prolongar sua
oferta.
Em se tratando de uma cultura ainda em início de exploração nos Estados do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, procurou-se estudar o efeito da AVG e do AG3,
no controle da maturação e no comportamento pós-colheita de caquis, cultivar
Fuyu, armazenados em condições ambientais.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em pomar comercial da cultivar Fuyu, localizado no
município de Canguçu - RS, na safra 1998/99, o qual é formado por plantas com
12 anos de idade, e espaçamento de 2-3 metros.
O delineamento experimental adotado seguiu uma orientação completamente
casualizada, com quatro repetições, seguindo esquema fatorial 3x5 (tratamentos
a campo x período de armazenamento).
Os caquizeiros foram tratados a campo (21 de fevereiro), 30 dias antes da data
prevista para a colheita dos frutos, através de pulverizações totais até
gotejamento, que foram: 1 - caquizeiros pulverizados com
aminoethoxivinilglicina (AVG), na dosagem de 125 g ia ha-1 (a fonte de AVG foi
o produto comercial RetainÒ, a 50ppm em água, contendo 0,02% v/v de espalhante
aniônico SilvetÒ; 2 - pulverização das plantas com ácido giberélico (AG3), na
dosagem de 75g ia ha-1 (a fonte de AG3 foi o produto comercial ProgibbÒ, a
30ppm em água); e 3 ' pulverização com água (controle).
O ponto de colheita dos caquis foi estabelecido através da firmeza da polpa
(70±5 N) e da coloração da epiderme (verde-amarelada).
A partir da colheita, os caquis foram mantidos em ambiente com 23±3oC e 75±5 %
de umidade relativa, e a cada quatro dias, durante 20 dias, foram submetidas às
análises de: perda de massa fresca, determinada pela diferença entre a massa
inicial e aquela no momento da realização das análises, expressa em porcentagem
(%); firmeza de polpa, expressa em Newton (N), determinada por penetrômetro
manual, munido de ponteira de oito milímetros de diâmetro, com determinações em
faces opostas, na região equatorial dos frutos, após a remoção da casca;
produção de etileno,determinada por cromatografia em fase gasosa, cujas
temperaturas da câmara de injeção, coluna e detector foram de 80ºC, 90ºC e
200ºC, respectivamente. Utilizou-se, como padrão, uma solução de etileno a
10ppm. Para a determinação da produção de etileno, dois frutos eram
acondicionadas em frascos hermeticamente fechados, durante uma hora, a 25ºC. Ao
vedar-se os frascos e passado o período de acondicionamento, era coletado, com
auxílio de seringas hipodérmicas, 1ml da atmosfera gasosa. A quantificação foi
feita, correlacionando-se a média das alturas dos picos relativos a cada
amostra, com a média das alturas dos picos obtidos da solução-padrão de
etileno, a qual foi expressa em nL g-1h-1; o teor de clorofilas e de
carotenóides, determinados através das metodologias descritas por Hill et al.
(1985) e Ramojaro et al. (1979), respectivamente, com resultados expressos em
mg g-1 de peso fresco dos frutos.
As amostras, compostas por 12 frutos, foram padronizadas e acondicionadas em
bandejas plásticas individualizadas. Os frutos destinados a avaliação do
etileno foram os mesmos desde o início das leituras.
Os resultados foram submetidos à análise de variância, para a comparação de
médias dos tratamentos, utilizando-se do teste de Duncan, a 5% de
probabilidade. Para o estudo das variações durante a maturação, adotou-se a
regressão polinomial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os tratamentos, os caquis foram colhidos em 23-03 (controle), 04-
04 (AVG) e 06-04 (AG3), quando a firmeza de polpa atingiu 75±5 N e a coloração
da epiderme apresentava-se verde-amarelada.
O emprego da AVG e do AG3, na pré-colheita, retardou a maturação dos caquis
'Fuyu' em 12 e 14 dias, respectivamente, em relação ao tratamento-controle, com
preservação da firmeza da polpa e do conteúdo de clorofila.
Durante o armazenamento, os frutos apresentaram significativa perda de massa
fresca, em média 6%, a partir do 12o dia de avaliação (Figura_1). Isto já era
esperado, uma vez que se estabelece um gradiente positivo de pressão de vapor
entre os caquis e a atmosfera ambiente (23±3oC e 75±5% UR), além da atividade
respiratória. As menores perdas foram registradas em frutos tratados com AVG e
com AG3 devido, provavelmente, à menor atividade metabólica.
A firmeza da polpa dos frutos apresentou uma significativa redução em todos os
tratamentos durante o armazenamento (Figura_2). Esta redução deve-se à evolução
da maturação, que se caracteriza pela ação das enzimas que catalisam o processo
de hidrólise dos compostos da parede celular (Kader et al., 1989).
Os caquis tratados com AVG e AG3 mantiveram maiores valores de firmeza da polpa
em todas as avaliações. Mitcham et al. (1998) indicam a firmeza da polpa de 20
N como o limite inferior para o consumo de caquis Fuyu', pois valores
inferiores a este comprometem a estrutura física e o paladar do fruto,
indicando que os tratados com AVG podem ser armazenados por 20 dias. Para os
frutos tratados com AG3, este período foi reduzido a 16 dias e, para os não
tratados, a 12 dias.
Após a colheita, os frutos apresentavam uma produção de etileno média de 4,9 nL
g-l h-l, indicando que eles foram colhidos já no início da fase climatérica.
Durante o armazenamento, chegaram a atingir, no tratamento-controle, até 25 nL
g-1 h-l de etileno (Figura_3).
Segundo Pech et al. (1994), a produção de etileno permite avaliar a velocidade
da maturação. Inicialmente, não houve diferença entre os tratamentos. A partir
de quatro dias de estocagem, os caquis começam a diferir, sendo que as menores
liberações de etileno foram obtidas nos frutos tratados com AVG e AG3.
Embora o AVG tenha um potente efeito inibidor da síntese do etileno, neste
experimento, sua eficiência foi inferior à do AG3. Em outros frutos, a exemplo
da maçã, o efeito é contrário (Petri & Leite, 1999).
Em todos os tratamentos, houve redução no conteúdo de clorofilas. Entretanto,
nos tratamentos com AVG e AG3, preservaram-se os maiores teores de clorofilas
nos frutos (Figura_4). No caso dos frutos tratados com AG3, segundo Ben-Arie et
al. (1996), estes resultados são conseqüência do efeito do ácido giberélico
como inibidor de clorofilases. Já, para o AVG, embora o mecanismo ainda não
seja totalmente conhecido, acredita-se que ele também atue inibindo a síntese
e/ou a atividade das clorofilases.
Houve influência do AVG e do AG3 sobre o acúmulo de carotenóides nos frutos
(Figura_5). Os frutos que, no momento da colheita, apresentavam níveis de
carotenóides médios entre 1,56 e 2,51 mg g-1, passaram a valores médios entre
3,6 e 5,9 mg g-1. O maior acúmulo ocorreu em frutos-controle, e o menor, em
frutos tratados com AG3. Na literatura, há referências que citam o efeito
protetor do AG3 na degradação de clorofilas (Ben-Arie et al., 1996), mas não o
efeito inibidor no acúmulo de carotenóides.