Fitorreguladores no aumento da frutificação efetiva e partenocarpia em peras
cv. Garber
Fitorreguladores no aumento da frutificação efetiva e partenocarpia em peras
cv. Garber1A baixa frutificação é um dos maiores problemas relacionados com a produção de
pêra, pois tem como principal causa as limitações que envolvem o processo de
polinização. A ausência de fertilização do óvulo em flores de pereira resulta
em um menor número de frutas fixadas por planta e, portanto, redução na
produtividade do pomar. Quando a polinização é insuficiente, há formação de
reduzido número de sementes, e para que o ovário se desenvolva, torna-se
necessário que a fruta utilize fitormônios produzidos em outras partes da
planta, já que existem poucas sementes para realizar a produção local destas
substâncias (Salisbury & Ross, 1992). Desta forma, torna-se interessante a
aplicação de fitorreguladores que venham a substituir o efeito dos fitormônios
produzidos pelas sementes, promovendo o incremento na produção.
Segundo Browning (1991), em cultivares de pereira com tendência natural à
partenocarpia, a presença de óvulos não é essencial para induzir o
desenvolvimento partenocárpico. Assim, não é necessário que todos os óvulos de
uma flor sejam fertilizados para que haja fixação da fruta. Muitas vezes, é
necessária somente uma semente para promover o desenvolvimento deste órgão
vegetal e algumas frutas podem desenvolver-se sem sementes. No entanto, Camargo
(1978) observa que estas são pequenas, deformadas e sujeitas a abscisão.
Algumas cultivares de pereira são capazes de desenvolver frutas partenocárpicas
através do estímulo de fitorreguladores para superar deficiências devido à
incompatibilidade, insuficiência de polinização ou condições adversas no
período de floração.
A frutificação efetiva em pereiras pode ser aumentada com a aplicação de
2,4,5'TP (3 a 6 mg.L-1), na plena floração, tendo em vista que esta auxina
sintática reduz a abscisão das frutas durante o período de queda natural (Gil
et al., 1973; Looney, 1998). Outras substâncias pertencentes ao grupo das
auxinas também são utilizadas para melhorar a frutificação em diversas
espécies, como é o caso do ácido naftalenoacético (ANA), nas concentrações de
100 e 200 mg.L-1, aplicado em pereiras da cultivar Le Conte, e do 2,4-D, que,
em baixas concentrações, atua na fixação de frutas cítricas (Singh &
Sharma, 1994; Fachinello et al., 1996). Já o TDZ, substância que tem efeito
semelhante a uma citocinina, na concentração de 5 a 10 mg.L-1, aplicado na
floração, proporcionou aumento na frutificação e no tamanho das frutas em
macieira e pereira, resultado semelhante aconteceu com o AVG aplicado na
floração da macieira que proporcionou aumento da frutificação efetiva (Petri
& Leite, 1999),.
O experimento foi conduzido no pomar didático do Centro Agropecuário da Palma,
pertencente à Universidade Federal de Pelotas, localizado no município de Capão
do Leão, Estado do Rio Grande do Sul, durante o ano de 2000, em pereiras da
cultivar Garber enxertadas sobre Pyrus caleriana, com o objetivo de verificar o
efeito do GA3, ANA, TDZ e AVG no aumento da frutificação efetiva com os
seguintes tratamentos: testemunha (água); GA3 (50; 300 e 500 mg.L-1), ANA (50;
100 e 200 mg.L-1), TDZ (5; 15 e 25 mg.L-1) e AVG (50; 100 e 200 mg.L-1),
As aplicações foram feitas no dia 19-09-2000, no período de plena floração, ou
seja, quando mais de 75% das flores estavam abertas. A pulverização foi
realizada com jato dirigido aos órgãos florais, sendo a testemunha pulverizada
com água. Para controlar a polinização por insetos, 50% dos ramos foram
revestidos por um túnel de tule.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos completamente
casualizados, constituído por quatro blocos ao acaso, com plantas em cada
bloco, sendo que, em cada planta, foram isolados ramos para receberem os
tratamentos.
Para a determinação do índice de deformação, atribuíram-se notas de 1 a 4, de
acordo com a severidade da deformação: a) nota 1 para fruta normal; b) nota 2
para fruta levemente deformada; c) nota 3 para fruta deformada; d) nota 4 para
fruta muito deformada.
Na determinação do índice de coloração das frutas, foram atribuídas notas de 1
a 4, conforme a intensidade de coloração na epiderme.
As variáveis foram submetidas à análise da variância, pelo teste F, sendo que,
em caso de resultado significativo, procedeu-se à comparação das médias através
do teste de Duncan.
Para a realização das análises estatísticas, utilizou-se o programa Sanest
(Zonta & Machado, 1984).
A Tabela_1 mostra que, dentre os fitorreguladores testados, o TDZ demonstrou
ser mais eficiente no aumento da frutificação efetiva. Os melhores resultados
foram obtidos na concentração de 15 mg.L-1, superando em 11,75 vezes o número
total de frutas fixadas na testemunha.
A alta precipitação pluviométrica registrada durante a plena floração reduziu a
polinização por insetos. Deve-se considerar também que temperaturas inferiores
a 10ºC paralisam a atividade das abelhas, e abaixo de 15ºC já diminuem
consideravelmente a efetividade da polinização (Faoro, 1994). A temperatura
média diária durante a floração manteve-se predominantemente acima de 10ºC,
porém houve períodos com temperatura inferior a 15ºC. Desta forma, a
manifestação de frio e principalmente a ocorrência de chuvas contribuíram para
reduzir a frutificação efetiva.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito à auto-incompatibilidade, tendo em
vista que, no local onde foi realizado o trabalho e nas suas proximidades, não
existem outras cultivares de pereira que pudessem servir como polinizadoras.
Assim, praticamente todo o pólen responsável pela fertilização foi proveniente
da própria cultivar Garber. Embora não seja conhecido o nível de
autocompatibilidade da cultivar em estudo, acredita-se que este fato possa ter
contribuído para reduzir a fertilização e, conseqüentemente, a fixação das
peras.
Conforme se aumentaram os dias após a aplicação dos produtos, diminuiu-se o
número de frutas fixadas. Este decréscimo em todos os tratamentos já era
esperado, pois, conforme relato de Camargo (1978), em pomáceas, é normal
ocorrer a queda natural das flores não fecundadas ou com problemas de
polinização e ausência de fertilização. Também caem frutos devido à competição
nutricional, sendo que somente as melhores frutas permanecem fixadas.Em todas
as avaliações, o tratamento com 15 mg.L-1 de TDZ proporcionou as médias mais
elevadas de peso, e coloração das frutas, porém com o maior índice de frutos
deformados em relação à testemunha. Ao contrário do TDZ, tanto o ANA como o GA3
foram mais eficientes quando utilizados na concentração mais baixa (50 mg.L-1),
exceto aos 75 dias, quando GA3 (500 mg.L-1) mostrou melhor resultado se
comparado às demais concentrações deste mesmo fitorregulador.
A partenocarpia foi verificada somente nos ramos com proteção à polinização
entomófila, o que demonstra a eficiência dos insetos neste processo. As flores
que receberam tratamento com GA3 (500 mg.L-1) e TDZ (25 mg.L-1) apresentaram um
índice de 20% de partenocarpia, já as plantas pulverizadas com ANA (200 mg.L-
1), AVG (50 mg.L-1), TDZ (5 mg.L-1) e TDZ (15 mg.L-1) tiveram 10% das frutas
desprovidas de sementes. Nos demais tratamentos, não ocorreu desenvolvimento
partenocárpico, sendo que as frutas apresentaram de 2 a 10 sementes.
Torna-se importante destacar que o número de sementes por fruta e o tamanho
também estão correlacionados, pois o aumento de um implicou o acréscimo do
outro. Esta correlação demonstra que as peras com maior número de sementes
apresentaram maior peso fresco aos 75 dias após a plena floração.
O TDZ, na concentração de 15 mg.L-1, mostra-se mais eficaz no aumento do número
total de frutas fixadas, do número médio de frutas fixadas, do peso e coloração
das frutas, porém contribui para maior incidência de deformações nas peras.