Influência da proteção do enxerto na produção de mudas de abacate
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
PROPAGAÇÃO
Influência da proteção do enxerto na produção de mudas de abacate1
Protection of the graft in the production of avocado nut nursery trees
Ubirajara Ribeiro Mindêllo NetoI; André Nunes Loula TorresII; Elcio HiranoI;
Alvadi Antônio Balbinot JúniorII; Irineu Osni BreyIII; Eduardo PetersIII
IEng. Agr. M.Sc. Embrapa Transferência de Tecnologia/SNT Canoinhas, Rod. BR.
280, km 219, Caixa Postal 317, CEP 89 460-000, Canoinhas-SC, Fone: (47) 624-
0127; ubirajara.encan@embrapa.br, elciohirano.encan@embrapa.br
IIEng. Agr. M.Sc. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa
Catarina/Epagri-Estação Experimental de Canoinhas. Rod. BR. 280, km 219, Caixa
Postal 216, CEP 89 460-000, Canoinhas-SC, Fone: (47) 624-1079,
antorres@epagri.rct-sc.br, balbinot@epagri.rct-sc.br
IIITécnico Agrícola, Embrapa Transferência de Tecnologia/SNT Canoinhas, Rod.
BR. 280, km 219, Caixa Postal 317, CEP 89 460-000, Canoinhas-SC, Fone: (47)
624-0127, eduardo.encan@embrapa.br, irineu@netnorte.com.br
O método tradicional de proteção do enxerto utilizado na produção de mudas de
abacate é baseado na utilização de sacos de polietileno transparente, os quais
são colocados de boca para baixo, envolvendo o enxerto, com a extremidade
amarrada ao caule no porta-enxerto, formando uma câmara úmida ao redor do garfo
enxertado, protegendo o enxerto contra perda excessiva de água (Simão, 1998).
Segundo Koller (1984), o saco de polietileno, usado para cobrir o enxerto, tem
a finalidade de conservar a umidade do ar, evitando a desidratação do garfo,
sem impedir as trocas gasosas de O2e CO2, importantes para o pegamento do
enxerto. Outros materiais podem ser usados para a proteção do enxerto, como,
por exemplo, parafilme. O parafilme constitui-se num plástico especial,
bastante flexível, maleável e biodegradável, não necessitando ser retirado
(Jacomino et al., 2000).
Em roseiras, Davies Junior et al. (1986) obtiveram bons resultados quando
empregaram o parafilme na enxertia. Em adição, Jacomino et al. (2000),
trabalhando com abacateiro cv. Fortuna, observaram que o parafilme apresentou
melhores resultados de proteção do enxerto, quando comparado com saco de
polietileno. Martin & Bergh (1991), utilizando o parafilme como proteção do
enxerto na cv.Hass, constataram, depois de 10 semanas da enxertia, comprimento
de brotações em torno de 11,6 cm e, sem parafilme, comprimento de 6,1 cm.
O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito dos tipos de proteção do
enxerto na produção de mudas de abacate, disponibilizando alternativas de
tecnologia a viveiristas e produtores.
O trabalho foi desenvolvido em casa de vegetação da EMBRAPA Transferência de
Tecnologia/SNT, Canoinhas-SC. As sementes utilizadas na produção dos porta-
enxertos de abacate foram coletadas em frutos maduros da cv. Fuerte. Efetuou-se
a remoção do endocarpo para facilitar a germinação, e para prevenir a
infestação das sementes por agentes patogênicos, utilizou-se o produto
comercial "Captan" a 0,25%, aplicado em aspersão. Em seguida, as sementes foram
acondicionadas em areia esterilizada, dentro de bandejas plásticas, as quais
apresentavam quatro furos na parte inferior, e colocadas em fitotron, a
temperatura de 25 ºC ± 2 ºC e umidade relativa do ar em torno de 72%, para
acelerar a germinação. No interior do fitotron, as bandejas plásticas que
continham as sementes de abacate, foram colocadas em bandejas de alumínio.
Colocou-se água até a metade nas bandejas de alumínio para acelerar a
hidratação das sementes.
A semeadura foi realizada em setembro, com a base da semente para baixo,
enterrada à profundidade de 2 cm. Após 16 dias, as sementes germinadas no
fitotron foram colocadas em sacos de polietileno de cor preta, com dimensões de
29 x 24 cm contendo a mistura de 1/3 de substrato comercial "plantmax", 1/3 de
material da camada superficial (10cm) de um CAMBISSOLO HÁPLICO tb Distrófico
típico (Embrapa, 1999) e 1/3 de argila. Os sacos foram mantidos em casa de
vegetação com temperatura e umidade relativa do ar de 27º e 70%,
respectivamente.
A enxertia da cultivar Herculano foi realizada em dezembro, quando as mudas
apresentavam casca de coloração roxa, diâmetro do caule de 1 cm e altura de 35
cm, utilizando o método de enxertia por garfagem no topo em fenda cheia. Foram
utilizados garfos de ramos ponteiros semi-herbáceos, com 15 cm de comprimento e
com ausência de medula branca, que é um tecido esponjoso branco que dificulta a
soldadura dos tecidos do enxerto com os do porta-enxerto. Foi feito um corte
horizontal no porta-enxerto a uma altura de 10 cm do nível do substrato e,
posteriormente, com um canivete de enxertia, efetuou-se um corte longitudinal,
abrindo-se uma fenda em forma de cunha, onde foi introduzido o garfo e depois
amarrado no ponto de enxertia com parafilme. A enxertia foi realizada somente
por um enxertador, para que não ocorresse variação nos resultados.
Para a proteção do enxerto, foram utilizados sacos de polietileno e parafilme.
O saco de polietileno, com dimensões de 4 x 23 cm, foi colocado, cobrindo o
enxerto, e amarrado com fitilho ao porta-enxerto abaixo do ponto de enxertia,
formando um ambiente com alta umidade ar, contribuindo para o pegamento do
enxerto. O saco de polietileno foi retirado após o início da brotação. O
parafilme foi aplicado, em espiral, do ponto de enxertia até a parte apical do
enxerto, envolvendo todo o garfo.
As determinações foram realizadas cinco meses após a enxertia, sendo avaliadas
as seguintes características: pegamento do enxerto; dado em percentagem,
comprimento de brotações, por planta, deteminado com régua, e diâmetro de
brotações, determinado com paquímetro.
Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com dois
tratamentos (T1:proteção do enxerto com saco de polietileno, e T2: proteção do
enxerto com parafilme), com seis repetições. Cada unidade experimental foi
composta por cinco plantas. Os dados coletados foram submetidos à análise de
variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de
probabilidade. Os dados de pegamento do enxerto foram transformados em arc-sen
.
Não ocorreram diferenças significativas no pegamento do enxerto (Tabela_1);
entretanto, observa-se que, quando utilizamos o parafilme na proteção dos
garfos de abacate, ocorreu um aumento no percentual de pegamento, comparado à
proteção com o saco de polietileno. Neste sentido, os resultados obtidos neste
experimento estão de acordo com as observações feitas por Davies Junior et al.
(1986), considerando o parafilme um bom material de proteção do enxerto na
propagação de mudas de abacate e também evidencia uma concordância com os
obtidos por Jacomino et al. (2000) que, utilizando diferentes proteções do
enxerto em mudas de abacateiro, verificaram pegamentos do enxerto na ordem de
80,26% quando utilizado o parafilme para proteção do garfo, enquanto,
utilizando saco de polietileno, o pegamento caiu para 36,19%.
O comprimento e o diâmetro das brotações alcançaram os melhores resultados
quando foi usado o parafilme como proteção do enxerto em comparação ao saco de
polietileno (Tabela_1). Jacomino et al. (2000) também verificaram que o uso de
parafilme proporciona maior diâmetro de brotações; entretanto, o comprimento de
brotações diminuiu quando utilizado o parafilme como proteção do enxerto.
Contudo, no presente trabalho, os resultados estão de acordo Martin & Bergh
(1991) que, em experimento realizado na Califórnia com a cv.Hass, verificaram
que o uso de parafilme aumentou o comprimento de brotações.
Concluímos que o parafilme foi o melhor método de proteção do enxerto comparado
com o saco de polietileno na propagação de mudas de abacate. A utilização de
parafilme para a proteção do enxerto pode ser vantajosa para o viveirista e o
produtor, pois proporcionou maior quantidade de pegamento da enxertia comparado
com o método usual.