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BrBRCVHe0034-71672013000400023

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variedadeBr
ano2013
fonteScielo

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Vivência de adolescentes em atividade de promoção da saúde

INTRODUÇÃO As possibilidades geradas pela Estratégia Saúde da Família para a apropriação do Sistema Único de Saúde pela comunidade são muito variadas e têm otimizado o trabalho dos vários atores envolvidos neste processo. Isso é facilitado pelo envolvimento dos profissionais da equipe, especialmente pelo enfermeiro, com as pessoas da comunidade adscrita, promovendo o protagonismo social, tendo como estrutura de integração a unidade básica de saúde.

As antigas definições de Enfermagem focalizavam o cuidado aos doentes como prática prioritária, mas alguns anos essa profissão foi redefinida, sendo acrescentado o papel do enfermeiro como agente promotor da saúde da população, possuindo uma área de prática independente(1).

A Enfermagem como prestadora de cuidados na adolescência, ainda se encontra em desenvolvimento, pois essa área foi, durante anos, marginalizada pelos profissionais de saúde. Possivelmente isso deva ter ocorrido pelo desconhecimento das características do adolescente e não reconhecimento, pelas instituições de saúde, dessa fase como período distinto do desenvolvimento humano.

Faz-se necessária uma visão mais ampla acerca do adolescente, considerando principalmente as três etapas que ele está atravessando: a Adolescência Precoce, quando suas preocupações estão voltadas às modificações do próprio corpo; a Média, onde eles procuram uma identidade por meio da busca contínua de grupos de iguais e a Tardia, quando o comportamento de adulto começa a ser visualizado e torna-se importante a estabilidade social(2).

Algumas fases do ciclo vital humano se encontram com maior suscetibilidade ao desenvolvimento de distúrbios no processo saúde-doença, sendo que a adolescência pode ser encarada como o principal período para o desencadeamento deste fato devido, principalmente, ao comportamento distinto geralmente encontrado nos indivíduos que estão nesse grupo(3-4).

Paulatinamente, os enfermeiros estão desenvolvendo, por meio de situações vivenciadas no cotidiano, seus espaços nas equipes de saúde, tornando possível um melhor atendimento aos adolescentes que procuram auxílio nesses equipamentos sociais para minimizar suas angústias e medos(5-6).

O atendimento coletivo, realizado por meio de grupos, é uma possibilidade que deve ser vivenciada por estes profissionais, pois fornece instrumentos facilitadores do bom desenvolvimento do processo de acompanhamento desses jovens(7).

Partindo dessa premissa, várias vertentes foram sendo priorizadas no cuidado ao adolescente, enfocando aspectos que permeiam a adoção de comportamentos tidos como saudáveis, priorizando planos de ação que visem à promoção da saúde desta tão importante parcela populacional.

Salienta-se a Política Nacional da Atenção Básica, que enfoca os aspectos de organização e otimização da atenção à saúde na área primária, a caracterizando por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde(7).

Agregaram-se importantes normatizações ao Sistema Único de Saúde, como a Política Nacional de Promoção da Saúde, que enfatiza o trabalho com adolescentes na busca de minimização de riscos que poderão acarretar distúrbios no processo saúde-doença desses jovens, bem como se mostra como alternativa viável para o aprimoramento de tecnologias de atenção que transformem o indivíduo em sujeito de seu próprio cuidado(8).

Neste contexto, vimos relatar uma experiência ocorrida no município de Uruoca- CE, Brasil, construída por enfermeiros integrantes da Estratégia Saúde da Família e um grupo de adolescentes que discutiu os conceitos de Promoção da Saúde e, a partir deste momento, objetivou vivenciar as práticas inerentes a este processo.

RELATO DA EXPERIÊNCIA Desde meados do ano de 2007, os profissionais desenvolviam trabalhos coletivos quinzenalmente com um grupo de adolescentes do território da Unidade Básica de Saúde - UBS da sede do município, integrante da Estratégia Saúde da Família, em que se enfocavam discussões sobre assuntos de interesse deles, tais como: sexualidade, uso e abuso de drogas, desenvolvimento e crescimento na adolescência, dentre outros. As discussões acerca da promoção da saúde também eram oportunizadas, por meio da realização de grupos operativos com adolescentes, seguindo as premissas das políticas de atenção a esse grupo(9- 10).

No início de 2008, procurou-se uma área na qual os jovens poderiam ajudar os profissionais da UBS e a escolhida para atuação foi a saúde da mulher, especificamente durante o processo de gravidez, visto que ocorria resistência das usuárias na realização da consulta odontológica e pequena participação da família durante as consultas e procedimentos ligados ao atendimento das gestantes.

Aliou-se a isso a importância da temática expressa por sua inserção como prioridade a ser trabalhada após a construção e implementação das metas do Pacto pela Vida, divisão do Pacto pela Saúde, que busca otimizar as ações e indicadores, dentre eles os voltados para a minoração da mortalidade materna e infantil(11).

É grande o quantitativo de demandas da atenção básica em saúde, mas, dentre elas, o cuidado pré-natal se destaca pela responsabilidade com o binômio mãe- filho, que envolve também a família durante a gravidez(12-13).

Então, organizou-se coletivamente um cronograma para o desenvolvimento de atividades que buscassem impacto nos indicadores da própria comunidade de inserção do grupo de adolescentes, com ênfase para a construção de peça teatral na qual eles foram roteiristas, cenógrafos, diretores e atores, cabendo aos enfermeiros da equipe de saúde assessoria para assuntos técnicos e a organização de locais para as apresentações, sendo escolhidos centros comunitários da área.

As atividades envolviam promoção da saúde durante o pré-natal, discutindo as dificuldades mais comuns encontradas, principais alterações fisiológicas da mulher, higiene e saúde bucal, importância para sua realização, bem como as conseqüências de ações familiares para que o cuidado fosse vivenciado de forma positiva por todos.

Buscar a autonomia dos sujeitos por meio da maior importância e atuação destes na construção dos debates é essencial, visando à emancipação do cuidado dispensado, o que o enfermeiro tem feito com destaque(14-15).

A preparação inicial durou dois meses, para a formatação do texto da peça, ensaios e busca de parceiros na própria comunidade para realizar investimentos necessários para a aquisição de materiais utilizados nas apresentações.

O poder público disponibilizou lanches para os grupos, bem como kits de materiais de higiene pessoal a ser distribuídos entre as grávidas, buscando assim, impulsionar as práticas saudáveis que eram discutidas também com os jovens. Os kits incluíam sabonetes, escova de dente, creme e fio dental, e a entrega ocorria conforme a participação efetiva das gestantes durante as apresentações teatrais.

Foram várias sessões envolvendo o assunto escolhido, com a participação de grávidas e seus familiares, oriundos da comunidade. Em determinados momentos os expectadores se tornavam sujeitos da ação, sendo convidados a integrar a equipe de atores, vivenciando situações do cotidiano e aprimorando a percepção acerca da importância de atitudes potencializadoras para sua saúde durante o pré- natal.

As trocas de experiência foram estimuladas, facilitando o diálogo entre equipe de saúde e os participantes. Isso intensificou o papel do enfermeiro como agente promotor de situações positivas para a comunidade, delimitando especialmente sua atuação entre os jovens(9).

Esse processo grupal facilita a tomada de novas atitudes, embasadas na construção coletiva, facilitando a promoção da saúde em comunidade(16-17).

Deve-se salientar que a participação familiar durante as consultas do pré-natal foi otimizada, com a presença de maior número de familiares envolvidos no processo de cuidado e ocorreu aumento da freqüência das gestantes nos atendimentos aprazados pela equipe de saúde responsável.

Constatou-se também mudança no comportamento das gestantes durante o processo de pré-natal, por meio de aumento na quantidade de questionamentos direcionados aos profissionais de saúde e integração entre elas nos dias de consulta, na sala de espera, pois descobriram que vivenciavam situações análogas durante o processo de gestar.

Ressaltamos que foram seguidos os preceitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe sobre pesquisas com seres humanos, em especial no que tange aos princípios da beneficência, não maleficência, autonomia e justiça (18).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Pôde-se perceber o importante papel do enfermeiro integrante de equipe da Estratégia Saúde da Família para a promoção da saúde da população adscrita na área de abrangência.

Essa experiência, que perdura atualmente, denotou que é possível a interação entre os profissionais com grupos muitas vezes marginalizados na comunidade como os adolescentes, tornando-os modificadores de sua realidade, por meio de vivências que os façam atentar para seu imenso potencial criativo e indutor de práticas saudáveis na comunidade.

Também ocorreu o envolvimento das gestantes e seus familiares, melhorando a qualidade da atenção dispensada no pré-natal pela equipe e, consequentemente, inserindo um maior número de sujeitos na experimentação saudável do processo de gestação.

Acreditamos que a Enfermagem, sendo produtora de conhecimento para aplicação prática, tem o desafio de avançar na construção de saberes voltados para a promoção à saúde da população, especialmente no que tange ao aprimoramento da participação comunitária dos jovens.


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