Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) na Adolescência
Contracepção e Gravidez na Adolescência – Mesa Redonda
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) na Adolescência
Manuel Jorge Rodrigues1
1Chefe de Serviço Hospitalar de Ginecologia
Adolescência (10 a 19 anos - OMS)é a fase do desenvolvimento humano que marca a
transição entre a infância e a idade adulta. Caracteriza-se por alterações a
nível físico, psíquico e social. É um período de distanciamento de
comportamentos e privilégios típicos da infância, maturação psicológica com
estruturação da personalidade e busca de identidade e de aquisição de
características do adulto (independência económica e saída de casa dos pais).
É durante a adolescência que se verifica maior incidência de DST: atinge 25%
dos jovens com menos de 25 anos; 65% dos casos de SIDA manifestam-se entre os
20 e 39 anos e reflectem situações de aquisição de infecção por VIH durante a
adolescência (período assintomático da doença ' 10/15 anos). A incidência de
DST na população em geral não variou muito ao longo dos últimos anos.
Assistimos mesmo a uma recrudescência da gonococia e da sífilis em todos os
países desenvolvidos. As principais causas referidas são de ordem biológica,
psíquica e social.
A OMS preconizou, em 2001, a substituição do termo DST por Infecções
Sexualmente Transmissíveis (IST), com o objectivo de enfatizar as infecções
assintomáticas. São mais de 20 os agentes infecciosos susceptíveis de
transmissão durante as relações sexuais (bactérias, parasitas, fungos ou
leveduras e vírus).
As DST podem ser curáveis - Sífilis, Cancro mole, Granuloma inguinal,
Linfogranuloma venéreo, vaginose bacteriana, Candidíase, Gonorreia, Chlamydia,
Trichomonas ' e não curáveis ' HSV2, HPV, HBV, HIV 1/2. A OMS constatou um
aumento das DST curáveis, num período de 10 anos (1990-1999), de 240 para 340
milhões, assim distribuídas: Sífilis ' 12 milhões; Chlamydia ' 92 milhões;
Gonococia ' 62 milhões; Trichomonas ' 174 milhões, a que se associam 25 a 35
milhões de casos de SIDA. Estes valores não incluem os casos de HPV e Hepatites
víricas.
Os principais factores de risco englobam: idade, parceiros sexuais, uso ou não
de preservativo, inclusão em grupos de risco e antecedentes de DST. Os
principais modos de transmissão são: sexual, sanguínea, vertical e outros.
Os quadros clínicos têm evoluído em função da prevalência de certos agentes
patogénicos, da resistência acrescida aos antibióticos e do predomínio de
infecções assintomáticas com consequente aumento das complicações. As
principais manifestações clínicas são: leucorreia, prurido, dispareunia, lesões
genitais ou ano-genitais (úlceras, verrugas), sintomas urinários, dor pélvica
aguda ou crónica. As complicações incluem: esterilidade, gravidez ectópica,
abortamentos de repetição, complicações e mortalidade perinatal, cancros
genitais e outras. Estas apresentam custos financeiros, sociais, sexuais e
psicológicos constituindo um problema prioritário de saúde pública já que todas
as DST são evitáveis investindo na prevenção. Os prestadores de cuidados de
saúde podem desempenhar um papel importante na educação e aconselhamento sobre
mudanças de comportamentos sexuais de risco através da promoção do uso do
preservativo (prevenção primária), como método mais eficaz na redução do risco
de transmissão das DST. A prevenção secundária assenta no diagnóstico e
tratamento da DST e na divulgação de informação para reconhecimento de sinais e
sintomas que orientem na procura precoce de assistência. É fundamental a
convocação dos parceiros sexuais (indivíduos com os quais se relacionou nos
últimos 90 dias).
A assistência ao doente infectado deve ser imediata, em ambiente de
privacidade, sem pressas, evitando discriminações e/ou faltas de
confidencialidade com o propósito de identificar os portadores assintomáticos,
interrompendo a cadeia de disseminação da doença e as suas complicações. A
consulta inclui diagnóstico, tratamento, aconselhamento e estudo analítico. Na
ausência de imunidade deve ser feita vacinação para hepatites A e B e HPV. O
adiamento da consulta pode levar ao desaparecimento dos sintomas, desmotivando
a busca de tratamento e favorecendo a evolução para formas crónicas. Assim, a
chave estratégica da prevenção das DST envolve o rastreio, o diagnóstico e o
tratamento do paciente e seus parceiros de forma a interromper a cadeia de
transmissão.