Produção do porta-enxerto (Annona squamosa L.) com o uso de reguladores
vegetais
Produção do porta-enxerto (Annona squamosa L.) com o uso de reguladores
vegetais1INTRODUÇÃO
A fruta-do-conde (Annona squamosa L.) é uma das principais anonáceas cultivadas
no Brasil, principalmente na região Nordeste e no Estado de São Paulo.
Segundo Hernández (1993), referindo-se a citações de Leslie (1922) e de Campbel
& Philips (1983), a cultura é basicamente propagada por sementes,
produzindo plantas geneticamente diferentes, que possuem floração irregular e
má qualidade de frutos. Para obter-se plantas comercialmente produtivas, é
necessário propagar a cultura vegetativamente, podendo-se realizar a enxertia
com material selecionado, utilizando para tanto porta-enxertos obtidos de
sementes (Agustín & Alviter, 1996).
De acordo com Bezerra & Lederman (1997), dentre os porta-enxertos que podem
ser utilizados na cultura da fruta-do-conde, estão a A. squamosa L., a A.
reticulata L., e a A. glabra L., sendo que o porta-enxerto mais recomendado é o
da própria espécie (A. squamosa L.).
A fruta-do-conde também pode ser utilizada como porta-enxerto para outras
espécies de anonáceas, como, por exemplo, a graviola (A. muricata L.) e a
cherimóia (A. cherimola Miller). Em cherimóia, sua utilização traz como
vantagem a redução do porte da planta, o que é um aspecto desejável do ponto de
vista de manejo cultural e colheita (Bezerra & Lederman,1997).
Para a formação do porta-enxerto, realiza-se a semeadura diretamente no campo
ou em embalagens para posterior enxertia. Segundo Sanewski (1991), as plantas
enxertadas podem ser produzidas em aproximadamente 18 meses, se a propagação
for realizada em cultivo protegido e estender-se para dois anos ou mais, em
condições de cultivo aberto.
A diminuição do tempo de formação dos porta-enxertos é ainda uma incógnita para
a fruta-do-conde, sendo os estudos neste sentido, segundo Ascenso (1971),
também muito escassos para outras espécies arbóreas e arbustivas. Porém, há a
possibilidade de utilizar-se reguladores vegetais para este fim. Segundo Taiz
& Zeiger (1998), a aplicação exógena de ácido giberélico provoca a
alongação do caule, o que é um aspecto interessante.
Randhawa & Singh (1959), referindo-se a Citrus limon (L.) Burman f.,
recomendam o uso de ácido giberélico para promover o crescimento de plantas
jovens, acrescentando que o aumento na taxa de crescimento dos porta-enxertos
traz vantagens tanto para os viveiristas como para pesquisadores, uma vez que
se tem diminuído o tempo gasto para as plantas serem enxertadas.
De acordo com Monselise & Halevy (1962), pulverizações com giberelinas
mostraram efeito significativo no crescimento, acúmulo de massa seca e conteúdo
de clorofila em porta-enxertos de Citrus limettioides T. e Citrus aurantium L..
Coelho et al. (1983), aplicando ácido giberélico (GA3) em híbridos de Citrus
reshni T. x Poncirus trifoliata, nas concentrações de 0; 50; 100; 150 e 200
mg.L-1 na fase de sementeira, verificaram que a dosagem de 100 mg.L-1 foi a
mais eficaz, pois aumentou o crescimento das plantas em 37%. Nas concentrações
de 150 e 200 mg.L-1, os autores observaram aumento de 63 e 59 % no crescimento,
respectivamente, porém houve morte da parte apical das plantas. Para Moti-Singh
et al. (1989), com a aplicação de 500 mg.L-1 de ácido giberélico, aumentou-se o
crescimento de plantas jovens de citros, cujo comprimento do caule atingiu 9,23
cm, em relação à testemunha (6,05 cm).
Em contrapartida, conforme o descrito por Abdalla et al. (1978), o tratamento
no viveiro de mudas de Citrus aurantium L., Citrus jambhiri Lushington e
Poncirus trifoliata, na primavera e no outono, com ácido giberélico nas
concentrações de 0; 125; 250; 500; 750 e 1.000 mg.L-1 de GA3, resultou em
diminuição na altura do caule e na área foliar dos três porta-enxertos, em
proporções diferentes, não havendo efeito dos tratamentos sobre o diâmetro do
caule.
Outros grupos de giberelinas e citocininas têm demonstrado resultados
favoráveis. Fergunson et al. (1987), trabalhando com Citrus aurantium,
realizaram tratamentos com giberelinas e citocininas nas concentrações de 250
mg.L-1 de BA (benziladenina); 450 mg.L-1 de GA3 e 250 mg.L-1 de GA4+7, em
condições de casa de vegetação e em ambiente enriquecido com CO2 (330 ou 660
mg.L-1), concluindo que a concentração de 250 mg.L-1 de GA4+7 e o meio
enriquecido com CO2 proporcionaram plantas mais altas e com o maior peso seco
das folhas, havendo também aumento no peso e no diâmetro do caule.
O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito de diferentes produtos e
concentrações de reguladores vegetais no crescimento e desenvolvimento do
porta-enxerto Annona squamosa L..
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no viveiro da propriedade rural de Orlando Erig,
localizada no município de Marechal Cândido Rondon-PR, no período de janeiro a
junho de 2001.
As plantas de fruta-do-conde (Annona squamosa L.) foram obtidas de propagação
sexuada, sendo a semeadura realizada aos dois de janeiro de 2001 em sacos de
polietileno preto, com capacidade para 0,5 L, contendo substrato comercial para
mudas, e mantidas sob condições de viveiro.
O experimento foi instalado em delineamento experimental inteiramente
casualizado, com 7 tratamentos e 5 repetições de 15 plantas, perfazendo assim
90 plantas por tratamento. Os tratamentos foram constituídos por 25; 50 e 75
mg.L-1, de cada um dos seguintes reguladores vegetais: GA3 (Giberelina),
GA4+7+fenilmetil-aminopurina (Giberelinas + citocinina) e a Testemunha (sem
pulverização).
Os compostos empregados como fonte dos reguladores vegetais foram os produtos
comerciais Progibb (GA3) e Promalin (GA4+7 + fenilmetil aminopurina).
As plantas receberam os tratamentos com os reguladores vegetais através de
pulverização, com pulverizador de pressão constante, conforme sugerido por
Ahmed & Khan (1962/64). A calda correspondeu a uma solução diluída dos
reguladores vegetais em água. As pulverizações foram realizadas a cada 14 dias,
sendo a primeira realizada aos 50 dias após a semeadura, quando a maioria das
plantas apresentava em média 10 cm de altura, e a última aos 134 dias após a
semeadura, totalizando sete pulverizações.
As avaliações quanto ao comprimento do caule (cm) e número de folhas foram
realizadas 50; 92 e 148 dias após a semeadura, em todas as plantas da parcela.
O diâmetro do caule a 20 cm da base das plantas (mm) foi avaliado aos 148 dias
após a semeadura. A massa seca da parte aérea e radicular (g) foi também
avaliada aos 148 dias após a semeadura, tomando-se quatro plantas por
repetição, totalizando 20 plantas por tratamento.
Os dados foram submetidos à análise de variância, teste de comparações de
médias de Tukey e análise de regressão, considerando-se todos os testes
estatísticos ao nível de 5% de probabilidade.
Para os parâmetros avaliados em que ocorreu resposta quadrática na última
avaliação (148 DAS), realizou-se a determinação da concentração de máxima
eficiência técnica através da derivada primeira da equação correspondente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A aplicação de reguladores vegetais nas plantas de Annona squamosa L. favoreceu
significativamente o crescimento destas, tanto com a utilização de GA3
(Progibb) como com GA4+7 + fenilmetil-aminopurina (Promalin), conforme está
demonstrado através da análise de regressão, nas Figuras_1 e 2 (Progibb e
Promalin, respectivamente).
Na Figura_1, pode-se verificar que ocorreu resposta quadrática para comprimento
do caule, tanto na avaliação feita aos 92 dias após a semeadura (DAS) como na
realizada aos 148 DAS, resultando em coeficientes de correlação (r2) de 0,9959
e 0,99965, respectivamente. Na avaliação efetuada aos 148 DAS, a concentração
de máxima eficiência técnica calculada para GA3 foi de 65,37 mg.L-1, promovendo
comprimento de caule de 65,41 cm. Este efeito do ácido giberélico no
crescimento das plantas de A. squamosa L. concorda com as citações de Taiz
& Zeiger (1998) e também com os resultados obtidos por diversos autores em
outras espécies vegetais, com a utilização de GA3, tais como Randhwa &
Singh (1959), Monselise & Halevy (1962), Coelho et al. (1983), os quais
trabalharam, respectivamente, com Citrus limon (L.) Burman f., Citrus
limettioides T. e Citrus aurantium L., Citrus reshni T. x Poncirus trifoliata
(L.) Raf. e observaram aumento no crescimento das plantas.
Na Figura_2, observa-se a ocorrência de resposta linear ao invés de quadrática
para comprimento de caule com o uso de GA4+7 + fenilmetil-aminopurina, somente
na avaliação realizada aos 148 DAS. Tais resultados condizem com os obtidos por
Ferguson et al. (1987) em Citrus aurantium L.. A resposta linear ocorrida nesta
avaliação indica a possibilidade de existir uma concentração maior do que 75
mg.L-1 de GA4+7 + fenilmetil-aminopurina, que pudesse incrementar ainda mais o
crescimento do porta-enxerto, até um ponto que talvez superasse os resultados
verificados com o uso de GA3.
Quanto ao parâmetro diâmetro do caule a 20 cm da base das plantas, observou-se
resposta quadrática somente com a utilização de GA3, a qual está representada
na Figura_3. A concentração calculada de GA3 de máxima eficiência técnica foi
de 65,97 mg.L-1 de GA3, resultando em um diâmetro de caule de 4,59 mm. Estes
resultados discordam dos obtidos por outros autores. Com relação ao GA3, os
resultados discordam dos verificados por Abdalla et al. (1978) com Citrus
aurantium L., Citrus jambhiri Lushington e Poncirus trifoliata (L.) Raf., os
quais não observaram efeito do GA3 sobre o diâmetro do caule. Por outro lado,
os dados obtidos com o uso de GA4+7 + fenilmetil-aminopurina discordam de
Ferguson et al. (1987), que verificaram resultado positivo no diâmetro do caule
de Citrus aurantium L., ao contrário do observado no presente experimento. As
médias das concentrações dos reguladores vegetais para este parâmetro,
comparadas pelo teste de Tukey, estão na Figura_4. Nesta, pode-se notar a
superioridade das médias de GA3 (50 e 75 mg.L-1 ) em relação às médias da
testemunha e de GA4+7 + fenilmetil-aminopurina.
A aplicação dos reguladores vegetais também incrementou o parâmetro número de
folhas, tanto com o uso de GA3 como GA4+7 + fenilmetil-aminopurina. Com a
utilização de GA3, ocorreu resposta linear ao invés de quadrática, somente na
avaliação realizada aos 148 DAS (Figura_5), o que indica a possibilidade de não
ter sido utilizada a concentração de máxima eficiência técnica. O uso de GA4+7
+ fenilmetil-aminopurina proporcionou, por sua vez, resposta quadrática na
avaliação realizada aos 92 DAS, e resposta linear aos 148 DAS (Figura_6), o que
também indica a possibilidade para esta última avaliação, de não ter sido
utilizada a concentração de máxima eficiência técnica. Deste modo, sugerem-se
estudos com outras concentrações de GA4+7 + fenilmetil-aminopurina, a fim de
detectar tratamentos mais efetivos.
Para o parâmetro massa seca da parte aérea, observou-se resposta quadrática só
com o uso de GA3, resultando num coeficiente de correlação (r2) de 0,9426
(Figura_7). Com relação ao parâmetro massa seca da parte radicular, não se
observou nenhuma correlação. As médias comparadas pelo teste de Tukey, do
parâmetro massa seca da parte radicular e matéria seca da parte aérea, estão
apresentadas na Figura_8.
CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos pode-se concluir:
1 - A utilização de GA3 demonstrou respostas mais efetivas para diversos
parâmetros avaliados nas concentrações entre 50 e 75 mg.L-1.
2 - Para os parâmetros comprimento do caule e diâmetro, foi possível calcular a
concentração de GA3 de máxima eficiência técnica, 65,37 e 65,97 mg.L-1,
respectivamente.
3 - A concentração de GA4+7 + fenilmetil-aminopurina, que promoveu maior
incremento no comprimento do caule, foi 75 mg.L-1, porém os resultados não
permitiram calcular a concentração de máxima eficiência técnica.