Análise de políticas públicas: uma abordagem em direção às políticas públicas
de informação
1 Introdução
As novas dinâmicas de produção e de uso da informação que emergiram após os
anos 90, especialmente nos países de capitalismo central, provocaram
reconfigurações em diversos cenários informacionais: nas relações entre Estado
e sociedade, nas agendas governamentais, nos parâmetros econômico-produtivos,
nos métodos e conceitos de gestão no universo corporativo, em comportamentos
sociais diversos, etc.
Os vários aspectos científicos, tecnológicos, políticos, organizacionais e
sócio-culturais, inerentes a esse processo, têm demandado novas questões e a
conseqüente busca por respostas em todas essas facetas da contemporaneidade.
Uma das áreas mais complexas - inclusive pela diversidade e intensidade de
informações que acolhe - é o cenário que envolve Estado, governos e sociedade.
Sob a égide de uma dimensão informacional cada vez mais densa e complexa, o
Estado adquire novos contornos, assim como a cidadania tende a forjar novos
mecanismos informacionais para o exercício de direitos políticos, sociais e
civis.
Nesse quadro, as políticas públicas de informação parecem ganhar destaque
crescente. Tal ocorre no desenho de políticas públicas e nas formas como se
constituem em objeto de investigação em diversos campos, além da Ciência da
Informação. Ao expressarem variadas convergências e divergências do campo
informacional, presentes tanto no Estado quanto na sociedade, as políticas
públicas de informação configuram-se em processos não só complexos, mas também
sinalizadores de construtos políticos característicos da contemporaneidade.
Escolhas, confrontos e ações informacionais de grande impacto em vários níveis
da vida social são a essência da formulação, implementação e avaliação de
qualquer política pública. Em relação às políticas públicas de informação, não
seria diferente.
A Ciência da Informação tem contemplado o tema de forma crescente, revelando
variadas possibilidades de abordagem. Uma dessas possibilidades, resultante da
Análise de Políticas Públicas, parece ainda pouco exercitada. Seu alcance
teórico e metodológico merece a atenção dos profissionais da Ciência da
Informação que se voltam para a pesquisa, o ensino e a gestão de políticas
públicas de informação.
Sem a pretensão de uma revisão de literatura, este artigo tem como objetivo
apontar as principais abordagens teóricas da Análise de Políticas Públicas na
perspectiva de que esse campo possa contribuir para os estudos da Ciência da
Informação sobre as políticas públicas de informação. Após o reconhecimento de
algumas interpretações sobre as políticas públicas de informação e dos
parâmetros teóricos e metodológicos da Análise de Políticas Públicas, são
sugeridos elementos que podem favorecer a compreensão de dimensões políticas do
cenário informacional à luz dessas abordagens.
2 Políticas de informação
Política de informação tem sido identificada historicamente como um tema
emergente após a Segunda Guerra Mundial, especialmente em países de capitalismo
central. A sua configuração tem se caracterizado por diversas vinculações
políticas da informação e em contextos variados. O cenário privilegiado no qual
o tema adquire nitidez teórica e desdobramentos operacionais são as estruturas
do Estado, as características da sociedade civil, as formas de governo e de ser
governado nos âmbitos local, regional, nacional e até mesmo transnacional.
Tomando como princípio que esse cenário se forja num regime democrático, o
Estado constitui agente privilegiado de produção, recepção e agregação das
informações, e submete-se, por isso mesmo, ao controle social.
Parece oportuno citar, em termos de percurso histórico, o Science, Government,
and Information, conhecido pela comunidade de informação como o Weinberg Report
(1963). Esse documento, sob responsabilidade do governo dos EUA, define a
"transferência de informação científica como o escopo e abrangência de uma
política de informação" (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2002, p. 28), envolvendo na sua
abordagem as instituições do sistema de ciência e tecnologia.
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e o
Conselho Internacional de Associações Científicas (ICSU) sugerem, nos anos 60,
as bases do Sistema Mundial de Informação Científica e Tecnológica (UNISIST).
Em 1972, na 17ª Conferência Geral da UNESCO, o programa intergovernamental
UNISIST é lançado, tendo como propostas fundamentais a cooperação voluntária
internacional para a melhoria do acesso e uso da informação e a superação do
desequilíbrio entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. A noção de
Sistemas Nacionais de Informação (NATIS), proposto pela UNESCO em 1974, será um
desdobramento da proposta do UNISIST. Nessa perspectiva, o Estado é um agente
protagonista na busca pelo acesso à informação e o uso cada vez mais integrado
de serviços de documentação, bibliotecas e arquivos.
A implementação do NATIS, na maior parte dos países, foi considerada
insatisfatória, apesar da pertinência dos seus objetivos. A partir dos anos 80,
a UNESCO desloca o conceito de NATIS para pontos periféricos dos seus discursos
e amplia progressivamente um papel central das reflexões e ações de incentivo
às políticas nacionais de informação.
Por outro lado, a partir do final dos anos 70 constitui-se um novo cenário
moldado pela emergência das novas tecnologias de informação e comunicação,
implicando, assim, novos discursos e abordagens para enfatizar enunciados como
"infra-estrutura de informação" e "sociedade da informação1".
No cenário emergente após os anos 90, ao lado dos impactos pelo uso crescente
das tecnologias da informação em diversas configurações políticas e sociais, a
perspectiva de um Estado mínimo provoca questionamentos ao protagonismo do
Estado na formulação, execução e avaliação de políticas públicas
informacionais.
Nesse quadro, ganha relevo a noção de infra-estrutura2, derivada do programa de
infra-estrutura global de informação (GII) do governo dos EUA. Segundo González
de Gómez (2002, p.30), trata-se do "conjunto de recursos, instalações e meios
prévios requeridos para o funcionamento de uma atividade, organização ou
sociedade", o que "em composição com o termo informação, introduz uma ruptura
paradigmática".
A introdução de "ruptura paradigmática" ensejou novas agendas governamentais
como também questionamentos na própria Ciência da Informação. Questionamentos
talvez ainda tímidos face à proporção do tema "políticas públicas de
informação".
Frohmann (1995) aborda a política de informação enquanto área de pesquisa.
Destaca a existência de vários debates sobre o tema, mas registra não ter
sinais de que as políticas de informação que estudou tenham sido de alguma
forma implementadas. Ressalta, ainda, ter observado que nenhum dos principais
instrumentos políticos de seus estudos exerceu influência sobre os produtores
de política (policy makers). Para Frohmann, o leque dos problemas encontrados
na análise das diferentes concepções de política de informação, além de revelar
a complexidade do tema, sugere limitações específicas dos estudos sobre
política de informação no âmbito da Ciência da Informação.
Com estas constatações, Frohmann (1995, p. 2-4) desenvolve uma série de
críticas sobre o que chama de limitações da literatura sobre política de
informação em Ciência da Informação, destacando:
a interpretação da questão da política de informação sob o foco da
produção documental governamental, ou seja, como política do governo
para os documentos do governo;
a restrição do foco da pesquisa em política de informação aos
problemas de produção, organização e disseminação da informação
científica e tecnológica;
o foco epistemológico estreito da Ciência da Informação sobre
política de informação;
o caráter instrumental da pesquisa, com ênfase na maximização
técnica e gerencial do fluxo da informação (ênfase para a
implementação de tecnologias, aprimoramento da comunicação entre
departamentos no âmbito da administração pública, aumento do acesso
aos documentos governamentais) e;
a ausência de ênfase na relação entre informação e poder, ou sobre
como o poder é exercido em e através de relações sociais mediadas
pela informação (FROHMANN, 1995, p. 2-4, tradução nossa).
Além de Rowlands (1996) e González de Gómez (2002), outros autores como Caridad
Sebastián, Méndez Rodríguez e Rodríguez Mateos (2000) e Lastres e Aun (1997)
confrontam-se com o tema. Caridad Sebastián, Méndez Rodríguez e Rodríguez
Mateos (2000), por exemplo, discorrem sobre a dimensão das políticas de
informação (como orientações ou diretrizes para a consecução do direito à
informação e como conjunto de estratégias convergentes para estimular a nova
era tecnológica que caracteriza a nova sociedade). Destacam ainda os contornos
ou contextos implicados na sua formulação e desenvolvimento (aspectos
econômicos, sociais, culturais, estritamente políticos, o próprio mundo da
informação e o contexto da investigação) e sugerem a definição de Hill como a
mais condizente com estes aspectos:
[...] as políticas de informação são projetadas para responder às
necessidades e regular as atividades dos indivíduos, a indústria e o
comércio, de todos os tipos de instituições e organizações e governos
nacionais, locais, ou supranacionais. Devem regular a capacidade e a
liberdade de adquirir, possuir e manter a própria informação, usá-la
e transmiti-la (HILL, 1995, p. 279 apud CARIDAD SEBASTIÁN; MÉNDEZ
RODRÍGUEZ; RODRÍGUEZ MATEOS, p. 24, 2000, tradução nossa).
Esses autores admitem a diversidade de conceitos e entendem que a concepção das
políticas de informação se completa com o seu papel principal de prover o marco
legal e institucional do qual decorre o intercâmbio formal de informação. Esse
intercâmbio refletiria objetivos políticos e burocráticos, dada a sua
emergência na organização do governo e do aparato estatal. Este aspecto
encontra-se na reflexão de Daniel (2000), para quem uma política de informação
"é o conjunto de regras formais e informais que diretamente, restringindo,
impulsionando ou de outra maneira, formam fluxos de informação" (DANIEL, 2000,
p. 2, tradução nossa). Assim, e ainda conforme Daniel, a política de informação
inclui, entre outros, aspectos como: "literacy, privatização e distribuição da
informação governamental, liberdade de acesso à informação, proteção da
privacidade individual, e direitos de propriedade intelectual" (DANIEL, 2000,
p. 2, tradução nossa).
Conforme González de Gómez (2002), a relação entre política e informação ficou
imersa nas novas configurações das infra-estruturas de informação e da noção de
sociedade da informação, implicando a necessidade de sua reconstrução, fato que
iria acontecer sob novos conteúdos e espaços de enunciação. As premissas
(sustentadas na versão de Weinberg) que estabelecem, para a política de
informação, uma relação estrutural e intrínseca entre uma ordem política que a
autoria considera "estadocêntrica" e a ordem informacional, teriam sido
substituídas por novas premissas. Essas seriam baseadas na concepção das redes
e infra-estruturas de informação (com ênfase na institucionalização da Internet
e na universalização do acesso a suas aplicações), que afirmam a relação
estrutural da informação com a tecnologia e a economia.
Cubillo (2004) identifica a mudança de enfoque no interior dos organismos
especializados e encarregados tradicionalmente de temas sobre informação. Esse
enfoque teria se deslocado para novos "conceitos-metáfora e paradigmas-
metáfora" não explicitados ou provados, dos quais destaca o de "sociedade da
informação", cuja ambigüidade, segundo ele, foi detectada nas sociedades de
origem.
Lastres e Aun (1997) sintetizam o quadro do desenvolvimento das políticas de
informação afirmando que, na década de 70, as tendências principais das
políticas de informação refletiam principalmente a ênfase ao desenvolvimento
científico tecnológico, privilegiando a criação e o armazenamento de
informações correlatas. Já na década de 80, sob a influência dos avanços da
difusão das tecnologias de informação e da aceleração do processo de
globalização, Lastres e Aun (1997) observam que as políticas passaram a
valorizar a criação de infra-estruturas de informação para a comunicação e a
utilização de bases de dados. Os avanços mencionados, nos anos 90, associados
aos avanços da informática e das telecomunicações - que passaram a agregar a
comunicação com rapidez sem precedentes à ampla capacidade de armazenamento da
informação - implicavam novos desafios no que se refere ao estabelecimento de
prioridades enfocadas pelas políticas de informação.
As políticas de informação adquirem uma nova dimensão entre as políticas
públicas (governos de diferentes países passaram a reorientar suas estratégias
com relação ao desenvolvimento da área de informação), implicando em simultâneo
a redefinição de seu escopo e abrangência. Os fatores que teriam ditado essa
nova dimensão teriam produzido tensão entre os atuais objetivos das políticas
de informação e o fracasso das políticas existentes na altura.
Os aspectos da tensão são explicitados por Lastres e Aun (1997), retomando e
reformulando a noção de tensão que marca os tópicos sobre a política de
informação de Koenig (1995), nos seguintes termos:
a capacidade de agregação de valor aos produtos e serviços
intensivos [de] informação e ao fato de esta área passar a ser vista
atualmente como componente fundamental para a competitividade de
organizações e países;
o reconhecimento do papel da informação como bem e direito público,
com suas características de transferência e distribuição de amplo
acesso e baixo custo de reprodução, assim como com a sua importante
contribuição nas áreas sociais (LASTRE; AUN, 1997, p. 55).
Sylvia Andrychuk (2004) percebe, a partir de Hernon e Relyea (1991), a natureza
complexa das políticas3 de informação:
Políticas de informação tendem a focar questões específicas e, às
vezes, a serem fragmentadas, sobrepostas e contraditórias.
Reconhecendo que não existe 'uma única política (policy) que abarque
tudo', Hernon e Relyea apresentam uma definição funcional da qual se
visualiza o conceito (ANDRYCHUCK, 2004, p. 3): 'Política de
informação tem sido definida como um conjunto de princípios, leis,
diretrizes, regras, regulamentos e procedimentos inter-relacionados
que orientam a supervisão e gestão do ciclo vital da informação: a
produção, coleção, organização, distribuição/disseminação,
recuperação, uso e preservação da informação' (ANDRYCHUCK, 2004, p.
3, tradução nossa)4.
Uma segunda definição dos mesmos autores para Information policy pode ser
visualizada em outra obra.
(...) política de informação constitui então um conjunto de
princípios, leis, diretrizes, regras, regulamentos e procedimentos
inter-relacionados que orientam a supervisão e gestão do ciclo vital
da informação: a produção, coleção, organização, distribuição/
disseminação, recuperação e eliminação da informação. Política de
informação compreende o acesso à, e uso da informação (HERNON;
RELYEA, 1991, p. 176, tradução nossa).5
A partir da proposta apresentada por Jardim (2003) para as políticas públicas
arquivísticas, podemos sugerir, de forma sintética, que políticas públicas
informacionais constituem o conjunto de premissas, decisões e ações -
produzidas pelo Estado e inseridas nas agendas governamentais em nome do
interesse social - que contemplam os diversos aspectos (administrativo, legal,
científico, cultural, tecnológico, etc.) relativos à produção, uso e
preservação da informação de natureza pública e privada.
3 Políticas públicas: conceituação geral e histórica
O estudo das políticas públicas se insere, hoje, nos esforços para compreender
o papel do Estado e suas implicações na sociedade contemporânea. Isto significa
observar a lógica existente nas diferentes formas de interação entre Estado e
sociedade, identificar as relações existentes entre os diversos atores e
compreender a dinâmica da ação pública. Apesar de relativamente recente6, o
estudo atual das políticas públicas já comporta uma mudança importante na forma
de abordar o tema: a tendência que se afasta da orientação operacional inicial
para aproximar-se de uma abordagem cognitiva, onde as políticas públicas são
entendidas com o "Estado em ação", conforme Muller e Surel (2004, p. 11):
[...] a ação do Estado pode ser considerada como o lugar privilegiado
em que as sociedades modernas,enquanto sociedades complexas, vão
colocar o problema crucial de sua relação com o mundo através da
construção de paradigmas ou de referenciais, sendo que este conjunto
de matrizes cognitivas e normativas intelectuais determina, ao mesmo
tempo, os instrumentos graças aos quais as sociedades agem sobre elas
mesmas e os espaços de sentido no interior das quais os grupos
sociais vão interagir.
Com isso, passa-se a abordar novos elementos de análise, considerados dentro de
um complexo de relações de conflito e busca de consenso à medida que a
sociedade, ou pelo menos parte dela, por meio da informação e do conhecimento,
tende a apropriar-se de novas formas de manifestação e de influência nas
decisões e ações públicas.
Expressões como "política" e "políticas públicas" comportam variadas acepções,
concepções e definições. Se há algo comum a elas, é justamente o seu caráter
polissêmico. A língua inglesa recorre a três termos para identificar as nuances
do tema: polity, para a esfera da política e para diferenciar o mundo da
política do da sociedade civil7; politics, como a atividade política na disputa
por cargos políticos, o debate partidário etc.; policies, para a ação pública,
ou seja, os processos que elaboram e implementam programas e projetos públicos
(MULLER; SUREL, 2004, p. 13).
Dagnino et al (2002) reconhecem essa circunstância e, junto com outros
estudiosos de políticas públicas, se esforçam para formular um conceito de
política. Citam Easton (1953), que afirma ser uma política (policy) "uma teia
de decisões que alocam valor". Heclo (1972) entende que "uma política [policy]
pode ser considerada como um curso de uma ação ou inação (ou 'não-ação'), mais
do que decisões ou ações específicas", enquanto para Jenkins (1978) é um
"conjunto de decisões inter-relacionadas, concernindo à seleção de metas e aos
meios para alcançá-las, dentro de uma situação especificada". Para Wildavsky
(1979), a política é "um processo de tomada de decisões, mas, também, o produto
desse processo". Segundo Ham e Hill (1993), uma "política envolve antes um
curso de ação ou uma teia de decisões que uma decisão" (DAGNINO et al, 2002, p.
2).
Para Muller e Surel (2004), uma política é, simultaneamente, um constructo
social e um constructo de pesquisa. Assim, se o objeto científico de
investigação é uma construção, ele é também uma representação. Ao construir um
objeto científico, se ganha muito em precisão e clareza se essa construção for
explicitada também como uma representação do pesquisador. Isso obriga o
pesquisador a definir e expor claramente o que entende por política.
Da mesma forma, configura-se o cenário das políticas públicas. A literatura da
área reconhece uma gama de expressões que buscam situar as políticas públicas
em termos científicos, mas que, na sua maioria, sinalizam para o que o termo
tem ainda de contraditório e de indefinido. As "políticas públicas" - ou
melhor, o estudo das políticas públicas, também chamado de "análise de
políticas públicas" - têm sido referidas na literatura a respeito como: área,
campo disciplinar, disciplina, subdisciplina, tema, objeto, especialização,
ciência, subárea, campo de pesquisa, programa, subárea disciplinar,
supradisciplina e disciplina científica.
A literatura que trata do tema o faz quase em sua totalidade do ponto de vista
do que é denominado de "análise das políticas públicas", e não das políticas
públicas como objeto cognoscível em si mesmo. Isso sugere que as preocupações
dos estudiosos de políticas públicas referem-se muito mais aos efeitos de
políticas formuladas e implementadas - e assim objetos tangíveis de avaliação -
do que ao estudo do processo político e das circunstâncias políticas em que
estas são pensadas e decididas. Ou seja, tal abordagem se concentra na
identificação do que é considerada uma política pública e nos custos e efeitos
por ela produzidos ou não. E traz uma conseqüência: uma extensa gama de
citações que confirma o caráter incipiente dos estudos na área, que se estende
também ao conceito de "políticas públicas".
Dagnino et al (2002, p. 4), por exemplo, não conceituam "políticas públicas",
mas sim a "análise de políticas públicas" como o "conjunto de conhecimentos
proporcionado por diversas disciplinas das ciências humanas utilizados para
buscar resolver ou analisar problemas concretos em política (policy) pública".
Outros autores, citados por Dagnino et al, partilham perspectiva semelhante. É
o caso de Wildavsky (1979), para quem a análise da política tem o propósito de
"interpretar as causas e conseqüências da ação do governo, em particular, ao
voltar sua atenção ao processo de formulação de política". Para Dye (1976),
"Análise de Política é descobrir o que os governos fazem, porque fazem e que
diferença isto faz'... é a descrição e explicação das causas e conseqüências da
ação do governo".
Segundo Ferri Durá (2004, p. 4), Baena define políticas públicas como "toda
decisão conformadora, em princípio de caráter inovador, que é acompanhada das
medidas necessárias para a sua continuidade e execução". Subirats (apud FERRI
DURA, 2004, p. 4) afirma que uma política pública "normalmente implica uma
série de decisões. Decidir que existe um problema. Decidir que se deve tentar
resolver. Decidir a melhor maneira de resolver. Decidir legislar sobre o tema".
Raras são as abordagens que vão à busca de regularidades e propriedades
específicas das políticas públicas. Muitos autores afirmam que as políticas
públicas são muito mais uma "categoria analítica" do que um objeto em si
(JONES, 1970), construídas pelos pesquisadores que dela se ocupam ou pelos
atores políticos envolvidos na sua formulação e implementação. Ou seja, uma
definição precisa do que venha a ser políticas públicas está longe de um
consenso. A própria natureza do tema é identificada como provocadora das
dificuldades em se definir políticas públicas.
Apesar do seu caráter indefinido e aparentemente contraditório, parece ser
possível identificar algumas características comuns às políticas públicas,
ainda que estas ocorram em diferentes graus: relações de poder e legitimidade;
espaços de trocas; elementos de valor e conhecimento; normas, regulamentos e
procedimentos; necessidades de escolhas; sentidos e valores culturais; uma
ideologia que as gere e as sustente; planejamento orçamentário; organograma e
estrutura organizacional hierárquica setorial; integração e inter-
relacionamento entre seus vários aspectos e níveis; programas e projetos
específicos; dinamismo para as necessárias atualizações; participação dos
setores interessados; representação democrática da sociedade na sua formulação
e implementação; atendimento de diferentes demandas; critérios de aferição e
avaliação de seus resultados; atenção para as correções necessárias ao longo de
sua trajetória (SILVA, 1998).
Uma política pública é, portanto, dinâmica e mutante. Tende a alterar-se ao
longo do tempo, sob a redefinição de diretrizes e novos objetivos.
Dagnino et al (2002, p. 3) sintetizam em um decálogo o que é necessário para se
entender o conceito de política no quadro das análises de políticas públicas:
1. a distinção entre política e decisão: a política é gerada por uma
série de interações entre decisões mais ou menos conscientes de
diversos atores sociais (e não somente dos tomadores de decisão)
2. a distinção entre política e administração;
3. que política envolve tanto intenções quanto comportamentos;
4. tanto ação como não-ação;
5. que pode determinar impactos não esperados;
6. que os propósitos podem ser definidos ex post: racionalização;
7. que ela é um processo que se estabelece ao longo do tempo;
8. que envolve relações intra e inter organizações;
9. que é estabelecida no âmbito governamental, mas envolve múltiplos
atores;
10. que é definida subjetivamente segundo as visões conceituais
adotadas.
Muller (2004, p. 22), por sua vez, recorre a Yves Mény e a Jean-Claude Thoenig
para apontar cinco elementos que possibilitam identificar uma política pública:
1. existência de um conjunto de medidas concretas;
2. decisões de natureza mais ou menos autoritária;
3. estar inscrita em um quadro geral de ação, nunca é uma ação
isolada;
4. possuir sempre um público;
5. possuir objetivos definidos.
A identificação e a exposição da lógica utilizada no processo de formulação e
implementação das políticas públicas é o caminho apontado por Muller e Surel
(2004, p. 20) para que o pesquisador consiga superar dois impasses teórico-
metodológicos observados nos estudos de políticas públicas:
O primeiro consiste em considerar que somente se está na presença de
uma política pública a partir do momento em que as ações e as
decisões estudadas formam um todo coerente, o que não acontece
jamais. O segundo consiste em negar qualquer racionalidade da ação
pública, em vista das múltiplas incoerências que ela manifesta.
Ao sugerirem uma abordagem cognitiva das políticas públicas, Muller e Surel
reconhecem duas perspectivas no campo da teoria do Estado: "a abordagem estatal
ou a sociedade produzida pelo Estado" e "a abordagem pluralista ou o Estado
produzido pela sociedade" (2004, p. 34-41). Essas duas abordagens apresentariam
uma compreensão do Estado em ação, na qual o Estado expressaria, ao mesmo
tempo, "a unidade e a diversidade da sociedade, sua existência enquanto
totalidade pensada e sua tendência inevitável à explosão." Por isso, propõem
uma via alternativa a esses dois extremos como forma de dar conta da
complexidade da ação pública.
A abordagem cognitiva, considerada como uma corrente de análise, "se esforça
para apreender as políticas públicas como matrizes cognitivas e normativas,
constituindo sistemas de interpretação do real, no interior dos quais os
diferentes atores públicos e privados poderão inscrever sua ação". Essa linha
de investigação prioriza em sua análise o peso das idéias, dos preceitos gerais
e das representações sobre a evolução social, partilhando de "um ponto comum
essencial, que é o de estabelecer a importância das dinâmicas de construção
social da realidade na determinação dos quadros e das práticas socialmente
legítimas num instante preciso" (MULLER; SUREL, 2004, p. 47). Trata-se de um
processo cognitivo que possibilita compreender a realidade em sua complexidade
e um processo prescritivo que possibilita agir sobre a realidade.
Muller (2004) formula algumas questões de pesquisa instigantes. A primeira tem
um sentido mais geral, aborda a relação do Estado com as políticas públicas e
procura saber o que levou ao advento do problema das políticas públicas na
contemporaneidade: "Em que a transformação nos modos de agir do Estado no curso
dos últimos cinqüenta anos modificou o lugar e papel dessa ação nas sociedades
industriais ocidentais? Ou posto de outra forma, as políticas públicas mudaram
a política?" (MULLER, 2004, p. 5).
A segunda pergunta é gerada a partir do reconhecimento de que as sociedades
contemporâneas são basicamente sociedades reguladas e busca identificar as
transformações que originaram a multiplicação das políticas públicas: "Quais
transformações produziram a multiplicação das intervenções públicas às quais a
análise das políticas públicas procura dar conta?" (MULLER, 2004, p. 7).
A terceira questão foca a origem intelectual e metodológica da análise das
políticas públicas: "De qual corrente de pensamento, de quais interrogações
sociológicas ou filosóficas são [as análises de políticas públicas] elas
herdeiras?" (MULLER, 2004, p. 7).
Muller e Surel entendem ser possível esclarecer a influência exercida pelas
normas sociais globais sobre os comportamentos sociais e as políticas públicas.
O modelo proposto se firma sobre a convicção de que é possível identificar
valores e princípios gerais que definem uma visão de mundo, bem como
identificar princípios específicos que permitam operacionalizar esses valores
gerais, e ainda identificar as escolhas instrumentais. Dessa forma, entendem
ser possível "isolar, analiticamente, os processos pelos quais são produzidas e
legitimadas as representações, as crenças, os comportamentos, principalmente
sob a forma de políticas públicas particulares no caso do Estado" (MULLER;
SUREL, 2004, p. 50). Com isso, seria possível colocar à luz a existência de uma
matriz cognitiva e normativa capaz de produzir uma "consciência coletiva",
certo sentimento subjetivo de pertença, produtor, portanto, de uma identidade
específica, o que facilitaria a identificação de grupos ou organizações
envolvidos no processo de formulação de políticas públicas. Isto favoreceria
ainda mapear as mobilizações de tais grupos identitários no momento de crise de
uma política de seu interesse. Um outro aspecto dessa matriz cognitiva seria a
possibilidade de observação das lógicas de poder no processo de elaboração de
uma política pública, quando e onde determinados atores fariam valer seus
interesses.
Muller e Surel (2004, p. 53) sugerem que a abordagem cognitiva possibilitaria
ultrapassar o dilema do determinismo e do voluntarismo, ao combinar aspectos de
ambos em uma grade de análise que "combina uma certa forma de determinismo
estrutural (os atores não são totalmente livres de suas escolhas) e uma certa
forma de voluntarismo (as escolhas políticas não são totalmente determinadas
pelas suas estruturas)". A abordagem cognitiva estudaria as políticas públicas
como um processo de interpretação do mundo a ser percebido pelo pesquisador, o
que lhe permitiria compreender as relações aí estabelecidas, os conflitos
expostos e o contexto em que as políticas públicas são formuladas e
implementadas.
Observa-se também, em alguns autores, a tendência de se estudar apenas os
resultados considerados práticos e efetivos das políticas públicas,
privilegiando e expondo seus aspectos descritivos, operacionais, pragmáticos e
os resultados quantitativos, desvalorizando, dessa forma, aspectos qualitativos
da circunstância e do contexto de formulação de tais políticas.
Dagnino et al (2002) visualizam uma tensão entre o descritivo e oprescritivo na
análise das políticas públicas, e apresentam uma classificação formulada em
1993 por Ham e Hill, onde as abordagens e perspectivas dos estudos de análise
política são divididas em duas categorias:
- a análise que tem como objetivo desenvolver conhecimentos sobre o
processo de elaboração de políticas (formulação, implementação e
avaliação) em si mesmo - estudos sobre as características das
políticas e o processo de elaboração de políticas - que revelam,
portanto, uma orientação predominantemente descritiva;
- a análise voltada a apoiar os fazedores de política, agregando
conhecimento ao processo de elaboração de políticas, envolvendo-se
diretamente na tomada de decisões, revelando assim um caráter mais
prescritivo ou propositivo.
Ainda que uma classificação desse tipo possa indicar elementos objetivos
importantes a serem considerados na análise de políticas públicas, é preciso
considerar sua dimensão conflitante, próprio da realidade humana e social em
que estas são pensadas e produzidas e que, portanto, também faz parte dessas
políticas públicas.
Afirmando que intuitivamente todos têm uma noção do que pode ser uma política
pública, Muller e Surel chamam a atenção para certa tendência em se associar
políticas públicas com textos legislativos e reguladores. Um conjunto de textos
legais ou reguladores de uma determinada atividade ou setor não é suficiente
para caracterizar uma política pública8.
Muitas vezes aquilo que é denominado pelos próprios governos que a formulam,
como uma política pública, nem sempre se configura como tal. De outro lado,
alguns programas e projetos governamentais, com todas as características de uma
política pública, não são assim anunciados ou assumidos pelos governos que os
formulam e implementam. Mesmo na ausência de uma estrutura governamental
especializada para a formulação e implementação de uma política pública, esta
pode existir. As políticas de meio ambiente existiam antes da criação dos
ministérios do meio ambiente (MULLER; SUREL, 2004, p. 15).
Medellín Torres (2004) propõe um modelo teórico-metodológico para o estudo das
políticas públicas em países de frágil desenvolvimento político e
institucional. Sob a sua perspectiva, as políticas públicas não devem ser
estudadas de forma independente dos regimes políticos. O pesquisador de
políticas públicas que estuda o regime político em que elas são produzidas tem
a possibilidade de perceber o grau de persistência e consistência da democracia
que o envolve. De outro lado, ao investigar a função governamental, o
pesquisador será capaz de dimensionar a capacidade estrutural do Estado de
produzir tais políticas públicas. Medellín Torres parte da hipótese de que "a
natureza específica de um regime político determina, de maneira crucial, a
estruturação das políticas públicas" (2004, p. 5). Dialeticamente, a
estruturação das políticas públicas determinaria, também, o teor dos regimes
políticos.
Medellín Torres chama a atenção para a tendência em países de capitalismo
periférico de "importar" a produção intelectual sobre o tema, realizada pelos
países centrais. Seria possível falar em políticas públicas em países com
estruturas frágeis da mesma forma que se trata do assunto em países com
instituições consolidadas? Essas políticas são as mesmas em um e outro país?
Estudar políticas públicas implica ainda, segundo Medellín Torres, compreender
os governos, uma vez que é o governo que articula os regimes políticos e as
políticas públicas. Isto é, o governo é a forma concreta pela qual os regimes
políticos se expressam e exercem o poder político, definem as prioridades e
tentam conduzir a sociedade por meio das políticas públicas. Tanto quanto
perceber que as políticas públicas dependem da natureza do regime político e da
função governamental, é importante também identificar o grau dessa relação de
interdependência. Em sua forma institucional, os regimes estabelecem os laços
que unem governantes e o aparato de governo, o campo de ação entre os
governantes e os governados, a forma como os governantes podem ascender ao
governo, e a forma de atribuir poder institucional ao governante para que suas
decisões sejam aceitas pelos governados. Em relação ao modo de governar, como
prática cultural, estão implicados tanto a cultura como o projeto político que
prevalece em determinada sociedade. Essa cultura política e institucional se
manifesta na maneira como se dá o diálogo entre governantes e governados em
relação à definição e à gestão dos assuntos políticos e institucionais, no modo
como são adotadas táticas e estratégias governativas para alcançar certos
objetivos, e nos graus de consenso e de repressão exigidos para realizar os
propósitos definidos. No limite, o exercício do governo sinaliza para a
consistência ou não da democracia existente, e as políticas públicas para o
nível de democracia alcançado.
Uma política pública não é apenas um conjunto de decisões. É concebida,
formulada e implementada a partir de atores sociais diversos que se relacionam
e se influenciam mutuamente em um ambiente de conflitos e consensos. Se, para
Muler e Surel (2004), estudar uma política pública pressupõe levar "em conta o
conjunto dos indivíduos, grupos ou organizações cuja posição é afetada pela
ação do Estado", é também importante analisar os "indivíduos e/ou grupos, que
são os atores, homens políticos, funcionários de todos os níveis, grupos de
interesse", um espaço de relações interorganizacionais que ultrapassa a visão
estritamente jurídica (MULLER; SUREL,, 2004, p. 22).
A aptidão de um ator coletivo, para influir no conteúdo ou na
implementação de uma política pública, pode, com efeito, variar
fortemente em função do grau de mobilização que é capaz de suscitar
(...). Um dos desafios da análise da ação do Estado será, assim, o de
constituir e construir o continuum dos modos de ação dos grupos
sociais no quadro das políticas públicas, partindo dos grupos mais
difusos, dos menos organizados, que intervêm, eventualmente, no campo
de certas políticas, até grupos mais estáveis (...) (MULLER; SUREL,
2004, p. 23).
A promoção de políticas públicas de longo prazo, ou seja, numa perspectiva
temporal mais estendida, implica na mudança do comportamento dos políticos e em
novos arranjos institucionais nas atitudes de governo. Isto significa que o
foco se desloca do atendimento das necessidades dos diferentes órgãos da
administração pública para as tentativas de solucionar os problemas da
sociedade (CUNHA; RESENDE, 2005, p. 65).
Reconhecida a realidade e as circunstâncias em que as políticas públicas são
formuladas e pretendem surtir efeito, sua implementação depende de planejamento
estratégico, o que, por sua vez, significa também atuação política sustentada e
prolongada no tempo.
A relação entre planejamento e políticas públicas é abordada por Oliveira
(2006). O autor parte da pergunta/título do estudo "Repensando as políticas
públicas: por que freqüentemente falhamos no planejamento?" para afirmar que o
planejamento em políticas públicas deve ser visto como um processo e não como
um produto técnico somente (p. 190). Para Oliveira, somente a partir da década
de 1970 o conceito de planejamento começa a se transformar, deixando de ser
entendido como um instrumento técnico para ser um instrumento político, capaz
de moldar e articular os interesses envolvidos no processo de intervenção de
políticas públicas. De um lado, o planejador passa a ser o mediador dos
interesses da sociedade no processo, sendo o resultado obtido por consenso; e,
de outro, o planejamento passa a ser um processo acoplado às interações dos
atores envolvidos e um processo de construção de confiança nas decisões sobre
políticas públicas. O planejamento passa a depender da maneira como são
estabelecidas as relações de confiança entre as partes interessadas e
influenciadas pelas decisões. O planejamento deixaria assim de ser encarado
como uma ferramenta para prever e controlar o futuro. Consolida-se como um
"processo político que depende de informações precisas, transparência, ética,
temperança, aceitação de visões diferentes e vontade de negociar e buscar
soluções" (idem, 200). Produto, portanto, de uma ação política.
Pesquisar sobre políticas públicas pressupõe escapar da abordagem determinista
e mecanicista, e ter em conta a diferença entre a análise das políticas
públicas e a análise política das políticas públicas. Avaliar e descrever os
resultados quantitativos de políticas públicas implementadas não é uma tarefa à
parte das análises dos contextos social, cultural e político no qual são
formuladas e executadas as políticas públicas sob observação.
4 Análise de políticas públicas e as políticas de informação: algumas
indagações para concluir
Como referências teóricas e metodológicas, as abordagens da Análise de
Políticas Públicas podem oferecer diversas possibilidades ao estudo das
políticas públicas de informação.
De imediato, essa perspectiva convida-nos a desnaturalizar o Estado como
território privilegiado, embora não exclusivo, dos diferentes desenhos e ações
das políticas públicas informacionais, mas também da ausência destas.
Nem sempre a compreensão do papel do Estado - incluindo a sua dimensão
informacional - parece devidamente contemplada em análises da Ciência da
Informação. Muitas vezes, o Estado tende a ser visualizado, em abordagens do
campo, como um sujeito quase neutro, monolítico e sem historicidade.
Ultrapassar essa perspectiva é fundamental para uma ampliação das análises
sobre as políticas públicas informacionais. Da mesma forma, cabe ao pesquisador
levar em conta distinções conceituais e históricas quanto ao alcance político
do que se designa como Estado e do que se considera Governo.
Sem caráter prescritivo ou exaustivo, alguns elementos parecem merecer em
especial a nossa atenção na pesquisa sobre o tema:
1. as distinções entre uma política pública de informação e um
conjunto de ações no campo da informação, protagonizadas por uma
mesma fonte institucional
2. as escolhas por determinados desenhos e objetos de políticas
públicas informacionais em detrimento de outros, assim como as
conseqüências de tais escolhas
3. as escolhas, explicitadas ou não, pela indefinição de políticas
públicas de informação
4. as escolhas por um conjunto de elementos informacionais para
sustentar a fixação de metas e nortear as decisões que serão tomadas
5. o cenário estatal e social no qual são desenhadas e implantadas as
políticas públicas de informação
6. as causas, custos e efeitos das políticas formuladas e
implementadas, bem como daquelas formuladas, porém não implementadas
7. os obstáculos de natureza diversa ao desenho e à implementação de
políticas públicas
8. as tendências a se interpretar a existência de políticas públicas
de informação apenas como um conjunto de mecanismos legais sobre o
tema ou de infra-estruturas de informação
9. a diversidade de atores do Estado e da sociedade civil e as redes
de poder, incluindo seus embates, que se constroem no desenho e na
formulação de políticas públicas
10. os valores ideológicos que norteiam o desenho, a implantação e a
avaliação das políticas públicas de informação
11. a construção e a execução do orçamento governamental voltado para
as políticas públicas de informação (o que muitas vezes é confundido
com o orçamento público das agências estatais envolvidas na política
pública de informação)
12. a transversalidade da política pública de informação com outras
políticas públicas
13. os mecanismos de correção de trajetórias das políticas públicas
14. as metas propostas e os impactos alcançados, incluindo a análise
dos processos decisórios
15. os graus de coerência entre metas, decisões e ações
16. as ações e os programas não anunciados como políticas públicas
pelos agentes estatais, mas que merecem ser objeto de análise sob a
perspectiva da Análise de Políticas Públicas
17. o grau de participação da sociedade civil: setores representados,
processos de escolha e perfis dos representantes
18. a maior ou menor representatividade do Estado e da sociedade
civil no processo decisório
19. a comparação do alcance das políticas públicas de informação com
o de outras políticas públicas
20. a intensidade e as formas pelas quais indivíduos, grupos e
organizações são afetados (ou não) pelas políticas de informação
21. a produção de conhecimento em Ciência da Informação, além de em
outros campos, e seus impactos sobre os processos de desenho,
formulação e avaliação de políticas públicas informacionais
As agendas sobre as políticas públicas de informação no Brasil requisitarão um
esforço ainda maior da Ciência da Informação de irrigar a discussão,
especialmente no Brasil. O tema merece estar presente no ensino e na pesquisa
da área. A Análise de Políticas Públicas poderá favorecer em muito esse
processo.