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EuPTCVAg0871-018X2010000100005

EuPTCVAg0871-018X2010000100005

variedadeEu
ano2010
fonteScielo

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Efeito do controle do sob coberto e da fertilização no cresci­mento e concentração de nutrientes em pinheiro bravo (Pinus pinaster Ait.)

INTRODUÇÃO O pinheiro bravo é a segunda espécie dominante em Portugal, ocupando cerca de 23% da área florestal (DGF, 2007). Em geral, os pinhais estão instalados em solos com baixo nível de fertilidade e, apesar do pinheiro ser uma espécie relativamente bem adaptada a esse tipo de solos , no entanto, estudos que demonstram que a adição de fertilizantes, principalmente os que contêm azoto (N), fósforo (P) e potássio (K), tem efeitos positivos no seu crescimento. Em Portugal, as primeiras experiências acerca da fertilização do pinheiro bravo começaram com o estabelecimento de ensaios na Mata Nacional de Leiria e na Mata da Machada, em que se estudou a resposta desta espécie à adição de N, P e K (Oliveira, 1959). Dos nutrientes estudados, o P foi o que teve efeitos mais acentuados nos acréscimos de diâmetro, altura e volume. Chaperon (1986) refere também que o N e o K, quando aplicados individualmente, têm menor efeito que o P no aumento do volume lenhoso do pinheiro bravo embora os melhores resultados se obtenham, usualmente, quando os três nutrientes são aplica­dos conjuntamente. No vale do Tâmega, Marques (1987) e Alves (1998) indicam que os nutrientes melhor correlacionados com a qualidade das estações de pinheiro bravo foram o K, o P e o magnésio (Mg).

Os melhores resultados da fertilização obtêm-se, contudo, se outros factores não forem limitantes. Assim, entre outros factores, o acréscimo no crescimento está muito dependente do controle da vegetação do sob coberto (McColl & Powers, 1984; Powers & Reynolds, 1999; Rose & Ketchum, 2002; Albaugh et al., 2003). Apesar de ser uma prática cultural ainda pouco usada pela maior parte dos produtores florestais, a sua utilização terá que aumentar não porque diminui a competição pela luz, água e nutrientes (Powers & Reynolds, 1999; Rose & Ketchum, 2002; Albaugh et al., 2003), mas também porque contribui para diminuir a vulnerabilidade dos povoamentos aos fogos florestais (Savill et al., 1997; Fernandes et al., 2004). O controlo desta vegetação deverá de ser efectuado através de técnicas adequadas quer sob o ponto de vista económico quer sob o ponto de vista ambiental. As mais preconizadas passam pelo destroçamento no local ou a possível remoção para centrais de biomassa.

Assim, e atendendo à exiguidade de dados experimentais que permitam também determinar o interesse da fertilização juntamente com o do controle da vegetação do sob coberto no crescimento de pinheiro bravo, em 2002 instalaram- se parcelas experimentais num pinhal onde se testaram cinco tratamentos: testemunha (T); corte e remoção da vegetação do sob coberto (CR); corte, remoção da vegetação e aplicação de N, P e K (CRF); corte e destroçamento da vegetação (CD); corte, destroçamento da vegetação e aplicação de N, P e K (CDF).

MATERIAL E MÉTODOS Este estudo decorreu de Julho de 2002 a Fevereiro de 2007, num pinhal instalado em 1996 em Sameice, Seia (38º 48´ N, 23º 20´ O; altitude -450 m). O compasso de plantação deste pinhal foi 3 X 2,5m, o que corresponde a uma densidade de 1333 árvores por hectare.

Na área onde foi instalado o sistema experimental, a temperatura média anual é de 10º C e a precipitação média anual é de 1100 mm. Os solos são Cambissolos húmicos derivados de xistos, com textura franco arenosa. Outras propriedades do solo no início do estudo apresentam-se no Quadro 1. Os métodos laboratoriais utilizados na análise das terras encontram-se descritos em Xavier (2008).

Quadro 1. Propriedades químicas do solo determinadas antes da instalação das parcelas experimentais (Abril, 2002)

O sistema experimental incluiu cinco tratamentos: testemunha (T); corte e remoção da vegetação do sob coberto (CR), que é o sistema usado tradicionalmente na zona de estudo; corte, remoção da vegetação e aplicação de N, P e K (CRF); corte e destroçamento da vegetação (CD); corte, destroçamento da vegetação e aplicação de N, P e K (CDF). O corte da vegetação do sob coberto efectuou-se com motoroçadora em Julho de 2002 e os nutrientes foram adicionados em Setembro desse ano. O azoto foi aplicado localizadamente, 20 g de N por árvore (27 kg de N ha-1), sob a forma de adubo azotado elementar, (Nitrolusal 20,5 %) enquanto que o P e o K foram distribuídos a lanço, 200 kg ha-1de P2O5e K2O (88 kgP e166 kgK), soba forma de um adubo composto binário 0:20:20. Na mesma altura, dado as árvores apresentarem concentrações baixas de Mg aplicaram­se, em todos os tratamentos, 300 g sulfato de magnésio 16% de MgO a cada árvore.

Os tratamentos foram aplicados em blocos casualisados com três repetições. A área média das 15 parcelas experimentais é de 782 m2e o número médio de árvores por parcela é de 115.

Os parâmetros dendrométricos avaliados foram a altura (h), medida com vara telescópica até 2006 e depois com um Vertex, o diâmetro a 20 cm (d20) e o diâmetro à altura do peito (d), medidos com uma suta, a área basal (g) e o volume (v). A medição da h, do d20 e do d foi efectuada na altura da instalação dos tratamentos (Julho de 2002) em Março de 2003, em Janeiro de 2004 e em Fevereiro de 2006 e de 2007. Apesar de se terem medido todas as árvores das parcelas, na análise estatística dos dados apenas se consideraram as medições efectuadas nas árvores que estavam no interior das parcelas (deixaram-se duas linhas de bordadura entre os diferentes tratamentos) e, destas, eliminaram-se todas as que estavam atacadas por torcedora e/ou processionária e as árvores tortas. Assim, em média, a tratamento estatístico efectuou-se com base em medições efectuadas em 60 árvores por parcela.

Em Outubro de 2003 e em Janeiro de 2006 recolheram-se amostras de solo às profundidades de 0-20 cm e de 20-40 cm. Em Dezembro de 2002, 2003 e 2006, em cerca de 20 árvores de cada uma das parcelas, procedeu-se à recolha de agulhas, do terço superior da copa, para análise foliar. As amostras foram secas a 60º C, moídas e analisadas para determinação do N, P e K. Os métodos utilizados mas determinações efectuadas quer na análise de solo quer na análise de plantas encontram-se descritos em Xavier (2008).

Dado que a altura e o diâmetro inicial das árvores não eram uniformes, a análise estatística efectuou-se com base nos acréscimos verificados em altura (ih), em diâmetro (id e id20), área basal (ig) e volume (iv), tendo-se utilizado o programa JMP5. O método de Tukey HSD (p <0,05) foi o teste usado para a comparação das médias. O tratamento estatístico dos resultados das propriedades químicas do solo e da concentração em nutrientes das agulhas efectuou-se também com base nestes programas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Analisando os dados correspondentes à altura das árvores (Quadro 2), verificamos que os acréscimos ocorridos no tratamento CDF foram superiores (p <0,05) aos dos outros tratamentos. Os menores (p <0,05) acréscimos ocorreram na Testemunha até 2004. Em 2005, a altura média das árvores da Testemunha ultrapassou a altura da vegetação do sob coberto, pelo que nas medições efectuadas em Janeiro de 2006 se notam os efeitos da menor competição e a partir dessa altura os acréscimos foram superiores (p <0,05) aos do tratamento CR e semelhante aos ocorrido nos outros tratamentos. Genericamente não existiram diferenças significativas entre os tratamentos CRF e CD.

Quadro 2. Altura inicial (2002), acréscimos anuais e cumulativos

Martin & Jokela (2004), num ensaio onde testaram a influência da fertilização e do controlo químico de matos (separadamente e em conjunto) no crescimento de Pinus tadeatambém obtiveram os melhores resultados quando efectuaram o tratamento combinado da fertilização e do controlo de matos, seguido da fertilização, do controlo de matos e por fim da testemunha. Cain (1999) ao comparar o controlo de invasoras lenhosas, de herbáceas ou a remoção total de ambas, verificou que não havia diferenças significativas durante os primeiros cinco anos no crescimento de pináceas quando era realizado apenas o controlo de vegetação herbácea ou da lenhosa. Mas, quando se procedia à remoção de ambas (herbáceas e lenhosas) havia, logo a partir do segundo ano, diferenças significativas.

Em todos os tratamentos, os acréscimos em altura obtidos no ano do estudo foram muito reduzidos (Quadro 2). Tal pode dever-se ao facto das primeiras medições terem sido efectuadas em Julho, época em que ocorreu a maior parte do crescimento em altura. De acordo com Kramer & Koslowsky (1972), mesmo em condições climáticas favoráveis, o crescimento anual em altura pode completar- se logo no início da estação de crescimento. O mesmo não se passa em relação ao diâmetro (Quadros 3 e 4).

Quadro 3. Diâmetro na base inicial (2002), acréscimos anuais e cumulativos

Quadro 4. Diâmetro altura do peito inicial (2002), acréscimos anuais e cumulativos

O engrossamento inicia-se mais tarde e continua durante mais tempo que o crescimento em altura (Kramer & Koslowsky, 1972).

Em relação ao diâmetro na base (Quadro 3), verificamos que os acréscimos ocorridos no tratamento CDF foram superiores (p<0,05) aos dos outros tratamentos. Os menores (p <0,05) acréscimos ocorreram na Testemunha até 2004.

Em 2006 e 2007 os acréscimos no tratamento CR foram inferiores aos da Testemunha, embora sem diferenças significativas. Genericamente não existiram diferenças significativas entre os tratamentos CRF e CD.

No caso do diâmetro à altura do peito, os maiores (p <0,05) acréscimos também se verificaram no tratamento CDF e os menores no tratamento CR (Quadro 4).

Borders et al.(2004), em povoamentos de Pinus taedacom 15 anos, também verificaram que os maiores acréscimos em diâmetro à altura do peito ocorreram no tratamento combinado de fertilização e controlo de matos.

Miller et al.(1991), referem que, em geral, os diâmetros respondem melhor à diminuição da competição do que a altura. Esta pode mesmo ser maior como consequência da competição com os matos visto que compete directamente pela luz.

Em relação à área basal (Quadro 5), verificamos que no ano seguinte à instalação do sistema experimental, os tratamentos CD e CDF apresentavam diferenças significativas relativamente aos restantes tratamentos. A partir de 2006 os acréscimos em área basal da Testemunha ultrapassam os do tratamento CR (p <0,05) e, não apresentavam diferenças significativas dos tratamentos CRF e CD. Em geral, os acréscimos ocorridos no tratamento CDF foram superiores (p <0,05) aos dos outros tratamentos. Não existiram diferenças significativas entre os tratamentos CRF e CD nem entre a testemunha e o CR.

Quadro 5. Área basal inicial (2002), acréscimos anuais e cumulativos

Em relação à área basal (Quadro 5), verificamos que, em geral, os maiores acréscimos ocorreram nos tratamentos CDF e os menores na Testemunha e no tratamento CR. Como o acréscimo em área basal depende do acréscimo em diâmetro, o acréscimo em área basal atinge sempre o seu máximo mais tarde que o acréscimo em diâmetro (Assmann, 1970). Martin & Jokela (2004) obtiveram também os maiores acréscimos em área basal no tratamento combinado da fertilização e controlo de matos, seguido do tratamento fertilização, controlo de matos e por fim a testemunha.

Tal como aconteceu com os parâmetros dendrométricos anteriores, os acréscimos em volume foram maiores no tratamento CDF e menores no tratamento CR (Quadro 6). Em relação ao efeito no volume do método de controlo da vegetação do sob coberto, remoção do local ou destroçamento, ocorreram diferenças significativas sendo o método do corte e destroçamento o que apresentou melhores resultados. O destroçamento da vegetação do sob coberto, além de diminuir em grande escala a regeneração da vegetação, evita a exportação dos nutrientes contidos nessas plantas e, a mais ou menos curto prazo, dependendo da velocidade de mineralização dos resíduos, a quantidade de elementos nutritivos disponíveis para as plantas tenderá a aumentar. A mineralização dos resíduos poderá ser mais ou menos rápida dependendo, entre outros factores, do tipo de infestante, nomeadamente se é herbácea ou lenhosa, e da sua quantidade (Tisdale et al., 1986).

Em estudos em que se examinaram isoladamente os efeitos da fertilização e do controlo da vegetação do sob coberto, verificou-se que o efeito da fertilização no crescimento ultrapassou o do controle da vegetação quando o teor de água do solo não era limitante, mesmo em solos com baixa fertilidade (Powers & Reynolds, 1999; Rose & Ketchum, 2002). Quando a água não era factor limitante, qualquer um dos tratamentos deu bons resultados, embora se obtivessem maiores respostas quando os dois tratamentos eram aplicados conjuntamente (Powers & Reynolds, 1999; Albaugh et al.,2003; Borders et al.,2004).

Quadro 6. Volume inicial (2002), acréscimos anuais e cumulativos

Os resultados das propriedades químicas dos primeiros 20 cm de solo determinadas em 2003 e em 2006 apresentam-se no Quadro 7. Em 2003, a quantidade de P2O5 e K2O, nos primeiros 20 cm de solo, aumentou (p <0,05) com a adição dos adubos (tratamentos CDF e CRF). Em 2006, apesar das quantidades destes elementos serem ainda superiores, a diferença não era significativa.

Quadro 7. Propriedades químicas do solo determinadas após a instalação dos tratamentos

O destroçamento da vegetação do sob coberto pode aumentar a quantidade de nutrientes disponíveis para a planta. Neste estudo, contudo, o eventual aumento da disponibilidade em nutrientes não se reflectiu nos resultados da análise de terra. Tal pode dever-se ao facto das espécies dominantes no sob coberto, serem do tipo lenhoso. No pinhal em estudo, as espécies vegetação do sob coberto dominantes eram do tipo lenhoso, tojo (Ulex minorRoth.) e urze roxa (Calluna vulgaris(L.) Hull) sendo, assim, a sua mineralização menos rápida que a de vegetação herbácea do sob coberto.

No Quadro 8 apresentam-se as concentrações em nutrientes nas agulhas colhidas em 2002, 2003 e 2006. No ano da aplicação dos tratamentos, 2002, observou-se que os teores de N das agulhas das árvores dos tratamentos CDF e CRF foram significativamente superiores aos dos outros tratamentos. Em 2003 foram ainda superiores, mas a diferença não foi significativa. Em 2006, a concentração de N foi semelhante em todos os tratamentos. Os teores de P e K, não apresentaram diferenças significativas entre os vários tratamentos, apesar de, em 2002 e 2003, as concentrações serem maiores nos tratamentos onde estes nutrientes foram aplicados.

Quadro 8. Concentração de N, P e K nas agulhas.

Uma vez que não foi realizado nenhum tipo de controlo da vegetação do sob coberto após a instalação do sistema experimental, é provável que parte dos nutrientes adicionados ao solo, tenham sido absorvidos pela vegetação que entretanto se desenvolveu.

CONCLUSÕES Com base nestes seis anos de recolha de informação podemos concluir que o tratamento CR, que é o sistema usado tradicionalmente na zona de estudo, conduziu aos menores crescimentos. Os melhores (p <0,05) resultados foram obtidos tratamento CDF. Em geral, não se verificaram diferenças significativas entre os tratamentos CD e CRF. Os resultados indicam, assim, que a remoção da vegetação do sob coberto, para por exemplo ser utilizada em centrais de biomassa, deverá ser considerada apenas se forem adicionados fertilizantes (tratamento CRF) a fim de se evitarem efeitos negativos no crescimento.


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