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EuPTCVHe0872-07542011000100013

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variedadeEu
ano2011
fonteScielo

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Caso endoscópico

O Felisberto era um rapaz de oito anos, pouco falador, que por vezes tinha pouco apetite e que não gostava de comer carne. Apesar disso tinha bom desenvolvimento estaturo-ponderal e psicomotor e rendimento escolar médio. Num dos períodos de menos apetite foi observado pelo seu médico assistente, que decidiu efectuar-lhe um estudo analítico, tendo então constatado a presença de quadro de anemia hipocrómica e microcítica associado a valores diminuídos de ferro sérico e ferritina, com acentuada elevação da capacidade de fixação do ferro. Decidiu-se iniciar tratamento com ferro oral, procedeu a desparasitação e insistiu-se na necessidade de comer carne.

Dois meses depois a anemia estava quase corrigida, os valores do ferro eram aceitáveis, mas o rapaz continuava a não comer carne, mastigava-a mas não a engolia. O médico assistente decidiu suspender o tratamento com ferro oral e insistiu na necessidade de hábitos alimentares correctos.

Alguns meses depois o Felisberto parecia um pouco pálido, pelo que repetiu o estudo analítico e apresentava de novo anemia ferropénica. Foi então enviado para a consulta de Hematologia Pediátrica, para esclarecimento da sua situação.

Depois de um exaustivo estudo para exclusão das principais causas possíveis para a sua anemia, chegou-se à conclusão que provavelmente tinha perdas digestivas, apesar da negatividade da pesquisa de sangue oculto nas fezes, razão pela qual o doente foi observado na consulta de Gastroenterologia Pediátrica.

Era um rapaz simpático, pouco colaborante no diálogo, com bom desenvolvimento, que continuava a comer mal e a recusar a carne, vomitando esporadicamente quando a mãe insistia para comer.

Não tinha antecedentes pessoais ou familiares relevantes e o seu exame objectivo era normal.

Decidimos efectuar uma endoscopia digestiva alta que nos permitiu observar as imagens que a seguir apresentamos e que correspondem a: 1 - Esófago normal 2 - Estenose esofágica congénita 3 - Síndroma de Plummer-Vinson 4 - Esofagite péptica grave (grau IV)

COMENTÁRIOS As imagens que mostramos revelam efectivamente um quadro de esofagite grave, com estenose acentuada do esófago. Observamos uma estenose com cerca de 6 mm de diâmetro (figura 1), uma úlcera esofágica (fig.2) e o cárdia aberto em inversão (figura 3).

Perante este quadro o doente efectuou inibidores da bomba de protões, dilatações esofágicas e, posteriormente, foi operado, tendo efectuado uma fundoplicatura, com resolução definitiva do seu quadro clínico, aceitando finalmente comer carne.

A estenose congénita do esófago provoca sintomas mais precoces e não se associa a quadro de esofagite e o Síndroma de Plummer-Vinson caracteriza-se pelo aparecimento de estenoses em anel secundárias a acentuada e prolongada de ciência de ferro, mas também não apresenta componente inflamatório.

Este caso merece duas chamadas de atenção: Uma criança deste grupo etário com uma anemia por deficiência de ferro que, após responder ao tratamento com ferro oral, tem recidiva, até prova em contrário, está a perder ferro e deve ser enviada à consulta de Gastroenterologia. Por outro lado se mastiga a carne e não a engole, terá provavelmente disfagia, o que nos deverá pôr na pista de um quadro de esofagite e obrigar à realização de endoscopia.


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