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EuPTHUHu0003-25732009000100003

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variedadeEu
ano2009
fonteScielo

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Manejos da religião, da etnicidade e recursos de classe na construção de uma cultura migratória transnacional Notas conclusivas Como sublinha Tololyan, "as diásporas têm vindo a ser idealizadas como comunidades transnacionais exemplares, abertas, porosas, cosmopolitas [] desterritorializadas e, deste modo, capazes de fornecer mas não de impor, como fazem os Estados-nações, aos seus cidadãos/súbditos identidades flexíveis e múltiplas" (2000, p. 112). Distanciando-nos em parte desta idealização (e das antinomias conceptuais que lhe subjazem), procurámos analisar as práticas transnacionais dos indo-britânicos que se estabeleceram em Moçambique, bem como os seus investimentos e estratégias de reterritorialização enquanto processos estreitamente relacionados. Enfatizámos, em paralelo, que a compreensão de tais processos exige uma articulação sistemática entre as agencialidades e os recursos dos actores migrantes envolvidos com as políticas nacionais (e suas variações), bem como com as próprias circunstâncias internacionais. Nem os actores (apoiados nos seus múltiplos recursos) constroem e reconstroem autonomamente experiências transnacionais nem os Estados e as relações internacionais produzem automaticamente processos de ressedentarização ou de transnacionalização (Waldinger e Fitzgerald, 2004).

Problematizando, sobretudo, a influência da filiação religiosa, da etnicidade e dos recursos de classe quer na reconfiguração das práticas transnacionais desenvolvidas pelos pioneiros indo-britânicos em Moçambique, quer nas suas estratégias de integração nacional, destacámos a existência de uma cultura migratória e mercantil prévia centrada em certas microlocalidades, a qual atravessava diferentes comunidades de casta e várias identidades étnico- religiosas, uma cultura caracterizada por uma notável capacidade de circulação (de informações, bens, créditos, homens e até, posteriormente, mulheres) no interior de redes que combinavam um grau de fechamento (assente em laços de parentesco, de casta e/ou de comunidade) com uma dose significativa de abertura interétnica.

Como argumentámos, foi sobretudo ao nível das relações interétnicas que os repertórios religiosos de orientação ofereceram recursos indispensáveis aos processos de reterritorialização, os quais, por extensão, não não funcionaram como uma tendência antagónica, como potenciaram as ambições e opções transnacionais dos passengers gujaratis. Com efeito, ao questionarem a existência de relações de poder estanques e irreversíveis (em particular, as baseadas na cor da pele e no poder económico) e condenarem processos de fechamento e de hierarquização excessivos, quer o islão indiano, quer o hinduísmo vividos em Moçambique viabilizaram (legitimando também no plano religioso) as múltiplas interacções e trocas quotidianas entre indianos e africanos, indispensáveis ao negócio da permuta, fonte principal da prosperidade indiana.

46 De outro ângulo, e apesar de a filiação religiosa, hindu ou muçulmana, não constituir uma influência significativa na cultura empresarial indiana, a relação diferencial que as autoridades coloniais portuguesas mantinham com hindus, sunitas e ismaelitas desempenhou um papel importante nas práticas de transnacionalismo que se desenvolveram, em particular, a partir da década de 60. Embora os sunitas de origem indiana tenham sido perioridicamente encarados como uma fonte potencial de transmissão de "ideias subversivas", a obsessão com o suposto nacionalismo hindu, enquanto "inimigo" do sonho imperial a partir de 1961, confirmou (sobretudo a estes últimos e aos seus descendentes) a importância das conexões e dos investimentos multilocais.

Neste sentido, a própria ambivalência colonial em relação à presença indiana acabou por contribuir para a renovação de saberes e estratégias de circulação e de relacionamento interétnico que voltariam a ser cruciais nas decisões e nos investimentos pós-coloniais dos indo-moçambicanos.

Fontes e Bibliografia Fontes IANTT, Correspondência da comissão coordenadora dos assuntos relativos a pessoas e bens dos súbditos da União Indiana à PIDE.

Keshavjee, H. V. (1945), The Aga Khan and Africa, His Leadership and Inspiration, Durban, The Mercantile Printing Works.

Guardian (Lourenço Marques), 2 de Outubro de 1946.


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