Handbook Of Organization Studies
Handbook Of Organization Studies (1996) - Stewart R. Clegg, Cynthia Hardy,
& Walter R. Nord (Eds.). London: Sage.
Coordenado por uma equipa multinacional, constituída pelos Professores Stewart
Clegg (University of Western Sydney, Austrália), Cynthia Hardy (McGill
University, Canadá) e Walter Nord (University of South Florida, Estados Unidos
da América), este manual de estudos organizacionais pode ser apresentado, sem
margem para hesitações, como um dos grandes acontecimentos editoriais de 1996
na área das organizações.
A principal razão para tamanho entusiasmo tem a ver com a ambição do trabalho e
com a forma como essa ambição foi concretizada: este "handbook" tem
sido apresentado como o sucessor do "Handbook of Organizations" de
James March (publicado em 1965), e do "Handbook of Organizational
Design", de Paul Nystrom e William Starbuck (editado em 1981). A simples
inclusão deste livro numa tal trilogia, proposta por exemplo pelo Professor
Howard Aldrich, constitui em si mesma um indicador da relevância deste trabalho
para os estudiosos das organizações. Outro indicador, é a garantia fornecida
pelos nomes dos autores participantes nesta obra, que incluem investigadores
tão prestigiados como Karl Weick, Lex Donaldson, Deborah Dougherty, Karlene
Roberts, Peter Frost, Joanne Martin, Ralph Stablein, Gibson Burrell, Mats
Alvesson, Marta Calás, Linda Smircich, Jay Barney e Joel Baum, entre muitos
outros.
A par destas, encontram-se as contribuições de al-guns autores menos
consagrados mas em fase de afirmação, o que confere ao livro um carácter algo
dinâmico e irreverente, o qual se traduz inclusive na escolha dos temas a
abordar, e que passa por capítulos com títulos "aberrantes" como
"O lado estético da vida organizacional". "Desconstrução
criativa" ou "O mocho de Minerva". A força dos colaboradores
acaba por estar na origem, no entanto, da primeira crítica ao trabalho. Essa
crítica é aliás referida pelos organizadores na introdução, mas nem por isso se
torna menos relevante: num mundo em fase de globalização, este
"Handbook" continua a apostar na recolha, em regime de quase
exclusividade, de contribuições de língua inglesa ou bem implantados num certo
"status quo" próximo das instituições dominantes. Nesse aspecto,
este trabalho acaba por se revelar culturalmente menos diverso do que, por
exemplo, a segunda e monumental edição do "Handbook of Industrial and
Organizational Psychology", de Dunnette. São por isso invisíveis as
contribuições para os estudos organizacionais provenientes de países como a
França, a Alemanha, a Holanda, a Suécia, a Noruega, o Japão, a China ou a
Coreia do Sul, para apenas referir algumas das áreas geográficas mais
"visitadas" no âmbito dos estudos organizacionais. Fica portanto a
nota de um anglocentrismo algo inesperado num trabalho que, apesar de tão
próximo das correntes emergentes em teoria organizacional (pós-modernismo,
teoria crítica, feminismo, estética, emoções, política), se fecha na concha do
território dominante.
Apesar deste aspecto, esta obra é um marco no desenvolvimento dos estudos
organizacionais. O livro organiza-se em torno das três grandes áreas temáticas
que se seguem: (1) grelhas de análise, (2) questões correntes em estudos
organizacionais, e (3) reflexões sobre a investigação, teoria e prática.
Em cada uma destas áreas, o leque de temas é de uma grande abrangência.
Analisam-se os paradigmas dominantes (teoria da contingência) e os emergentes
(ecologia organizacional); os temas clássicos (liderança) e os recentes (as
organizações e a biosfera); as vertentes aplicadas (economia organizacional) e
as abstractas (estética e organizações); os processos racionais (tomada de
decisão) e os afectivos (organização e emoções); a mudança (inovação) e a
permanência (institucionalização). Como talvez estes pares de temas
contrastantes deixem entrever, este é um livro capaz de aglutinar as mais
diversas vistas sobre a paisagem organizacional. Entre a abordagem
retrospectiva e a visão prospectiva do campo, estão aqui desenhadas as grandes
linhas de desenvolvimento de um campo de estudo heterogéneo e marcado por
visões diversas quando não mesmo contraditórias. Uma das maiores qualidades do
livro, é precisamente a forma como fotografa um universo teórico que vive uma
fa-se de expansão, mas que um dia virá certamente a retrair-se em torno da
ultimamente tão falada ciência normal, reclamada por autores como Lex Donaldson
e Jeffrey Pfeffer. Tenhamos entretanto o prazer de estudar, de discutir, de nos
espantarmos e irritarmos com as linhas de desenvolvimento dos estudos
organizacionais nesta sua fase multiparadigmática e marcada pela diversidade de
posições e pelo confronto de ideias.
A diversidade temática inerente ao estudo das organizações, encontra-se de
resto reflectida na opção do título: evitando as designações
"normais" de teoria das organizações ou comportamento
organizacional, os coordenadores optaram pelo rótulo menos limitativo de
estudos organizacionais, opção que configura a aceitação da, se não mesmo o
comprazimento com, a multiplicidade das linhas de desenvolvimento de um campo
que talvez um dia venha a ser melhor designado pela expressão ciência
organizacional.
Na sua abrangência, este livro é uma excelente fotografia do estado da arte à
beira da mudança de século. Os coordenadores têm aliás identificado a sua
atmosfera com o ambiente fin de siècleque vem impregnando o estudo das
organizações. Longe das certezas, o "Handbook of Organization
Studies" reflectesobre, e espelha, todas as dúvidas. É um livro que
aceita a diversidade das perspectivas e as transforma na regra do jogo: entre a
defesa de uma ciência normal e os avanços do pós-modernismo, fica todo um mundo
de possibilidades teóricas e de vias de investigação, que normalmente não cabe
no espaço de um livro. Nem sequer mesmo num livro de 760 páginas. Que os
organizadores tenham sido capazes de agrupar os diversos focos de tensão num
único campo dinâmico, é razão para lhes aplaudir o esforço. Ora, tratando-se de
um livro, a melhor forma de o apludir consiste simplesmente na sua leitura.
Miguel Pina e Cunha