Introdução e avaliação de clones de goiabeira de polpa branca (Psidium guajava
L.) na região do Submédio São Francisco
INTRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DE CLONES DE GOIABEIRA DE POLPA BRANCA (Psidium guajava
L.)NA REGIÃO DO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO1
LUIZ GONZAGA NETO2
Objetivando avaliar a variabilidade genética e selecionar alternativas de
cultivo para o mercado de goiaba " in natura" com polpa branca, foram
introduzidas e avaliadas, preliminarmente, algumas variedades de goiaba na
região do Submédio São Francisco. Foram introduzidas 22 variedades de
goiabeira, provenientes do banco de germoplasma de goiabeira da empresa IPA,
entre as quais algumas produtoras de fruta com polpa branca obtidas através de
mudas propagadas através de enxerto, utilizando-se de quatro plantas por
acesso, no espaçamento de 6,0 x 6,0 m. Nesta primeira etapa, foram avaliados os
seguintes descritores: produção por planta (em kg), número de frutos colhidos e
peso médio do fruto em grama. Destacaram-se as variedades Banaras e Luck Now,
com potencial agronômico para serem introduzidas na área de produção comercial,
com produção média (seis anos). A Banaras produziu 98,07 kg/planta, 813 frutos/
ciclo, com peso médio de 176.97 g, enquanto a Luck Now produziu 118.22 kg , 940
frutos, com peso médio de 131.39 g, respectivamente, destacando-se
principalmente no descritor peso médio do fruto, que é um dos mais importantes
na seleção de variedades para consumo in natura. No que se refere às
características químicas, vê-se que a Seleção IPA B38.1 apresentou o maior grau
Brix, 12.7o, enquanto, nos frutos da variedade Allahabad Safeda, foi registrado
o menor, 9.8o.
INTRODUÇÃO
A agricultura irrigada do Nordeste brasileiro tem se caracterizado como uma
opção de mercado do agronegócio. Dentro deste cenário, a fruticultura irrigada
apresenta destacada importância na economia regional (Gonzaga Neto et al.,
1999). Diversas fruteiras compõem os sistemas de produção em exploração,
destacando-se, entre outras, a mangueira, a bananeira, a videira, o coqueiro e
a goiabeira.
A área explorada com a cultura da goiabeira tem crescido intensivamente,
estimando-se hoje uma área próxima de 4 mil hectares, somente na região do Vale
do São Francisco. Apesar de a goiabeira já apresentar uma importância econômica
relativa (Maia et al., 1988) e da existência de ações de pesquisas, visando a
caracterizar e selecionar variedades, a maioria dessas são direcionadas para a
seleção de variedades com polpa vermelha (Gonzaga Neto et al., 1988). Por outro
lado, as áreas comerciais em exploração com a goiabeira, no Nordeste do Brasil,
são baseadas quase que exclusivamente em plantas produtoras de frutos com polpa
vermelha. Isto ocorre, principalmente, devido ser aquela a coloração mais
demandada pela indústria de processamento e para consumo ²in natura². Embora a
oferta de goiaba branca, no Brasil, e principalmente no mercado nordestino,
seja ainda pequena, quando comparada à oferta da goiaba vermelha, observa-se a
ocorrência de nichos destas no mercado, quando são disponibilizadas em casas
especializadas e supermercados. Além disso, o pólo de agricultura irrigada
implantado na região do Submédio São Francisco é bastante dinâmico, o que
enseja uma maior demanda por outras cultivares de goiabeira.
A variedade Paluma, de polpa vermelha, é hoje a principal variedade explorada
em escala comercial na região, estimando-se que ocupe mais de 90% da área
plantada com goiabeira.
É importante frisar, também, que o Brasil já produziu goiaba de polpa branca
para o mercado externo (Gonzaga Neto et al, 1995), podendo voltar a participar
deste mercado, caso sejam selecionadas variedades adaptadas à região do
Submédio São Francisco.
Existem, em exploração no Estado de São Paulo, algumas variedades de goiabeira
com polpa branca (Kawati, 1997); entretanto, como existem diferenças
edafoclimáticas entre aquela região e a do Submédio São Francisco é importante
que haja a introdução, caracterização e avaliação desses genótipos, nas
condições de cultivo do Vale, antes da implantação em escala comercial.
Paiva et al. (1997), em estudo com variedades de goiabeira, encontraram
variações no período de floração e frutificação, quando cultivadas em
diferentes condições climáticas, o que pode determinar o sucesso agronômico dos
cultivos comerciais, consolidando ou não uma variedade em determinado
ecossistema. Passos et al. (1979), em estudo realizado no Estado de Minas
Gerais, destacaram que algumas variedades foram bem sucedidas, enquanto outras
não foram, evidenciando assim a necessidade de avaliação das variedades em
ambientes agrícolas nos quais se pretende explorar essas variedades em escala
de mercado. Considerando estes aspectos, foram introduzidos, caracterizados e
selecionados, sob irrigação, genótipos de goiabeira produtores de frutos com
polpa branca, na região do Submédio do São Francisco.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no campo experimental de Bebedouro, em Petrolina-
PE, não tendo sido utilizado delineamento estatístico, uma vez que não era
propósito do estudo comparar os clones introduzidos. A região apresenta uma
altitude de 266,4m, com temperatura média anual de 26,3º C e umidade relativa
do ar em torno de 68%.
Os clones foram propagados através de enxertia pelo processo de borbulhia de
placa em janela aberta, sendo o enxerto realizado durante o mês de outubro de
1992, em condições de campo, em porta-enxertos com oito meses de idade. Após o
enxerto atingir 8 a 10 cm de comprimento, foram realizadas podas de formação,
visando a conduzir a muda em haste única até a altura de 50 a 60cm a partir do
nível do solo. Nesta ocasião, procedeu-se o corte do broto terminal a fim de
orientar a formação de três ou quatro ramos principais, bem distribuídos, para
a formação da copa da planta. O pomar recebeu todas as práticas necessárias de
irrigação, capina, adubacão e tratos fitossanitários (Gonzaga Neto &
Soares, 1995). Foram observados, preliminarmente, os seguintes parâmetros:
produção por planta, número e peso médio do fruto, e coloração da polpa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Considerando a análise dos dados médios de seis anos, obtidos no período de
1993 a 1998, verifica-se, na Tabela_1, que a produção média de quatro plantas
variou de 98,07 kg na variedade Banaras até 162,22 kg para a seleção IPA 38.1.
Gonzaga Neto et al. (1991), em estudo com algumas variedades, na região do Vale
Rio Moxotó, em Ibimirim-PE, registrou para a seleção IPA 38.1, também sob
condições irrigadas, em média de onze anos de produção, valor de 92 kg/planta.
Maranca (1981) e Marteleto (1980) registraram em goiabeiras, após o sexto ano
de produção, valores de 20 a 60 kg/planta/ano. Destaca-se também neste estudo a
produção da variedade Allabama Safed que, em média, produziu 147,14kg/planta,
valor que pode ser considerado bom numa planta de goiabeira conduzida com
irrigação. É importante frizar que, embora todas as plantas, em todas as
variedades, tenham sido propagadas vegetativamente, observaram-se variações em
todos os parâmetros. Dentro da seleção IPA B38.1, a mais produtiva na média,
observou-se variação de 96,12 a 180,20kg/planta. Considerando que os
porta¾enxertos utilizados foram provenientes de propagação sexual (semente),
pode-se levantar a hipótese de que a variação registrada, na performance dos
clones avaliados, pode ser atribuída a possível variabilidade dos
porta¾enxertos. No caso da variedade Banaras, a variabilidade na produção por
planta apresentou uma amplitude ainda maior, indo de 20,44 a 140,13 kg/planta,
provavelmente pela mesma hipótese levantada anteriormente, uma vez que todos os
genótipos em estudo receberam os mesmos tratos culturais e foram obtidos por
enxertia.
Paiva et al. (1997), em estudo de competição de cultivares de goiabeira, em
Eldorado do Sul, observaram, também, variações na produção em função da
cultivar estudada. Teófilo Sobrinho et al. (1992), em estudo com cítrus também
registraram variação com referência à performance produtiva dos clones
experimentados. Isto reforça a tese da necessidade de introduzir e caracterizar
genótipos de goiabeira antes de recomendá-los para uso em escala comercial.
Com referência ao número médio de frutos colhidos por planta, no período de
1993 a 1998, verifica-se, na Tabela_1, que, em média, variou de 813, na
variedade Banaras, a 1594 frutos/planta/ciclo na Seleção IPA B38.1. Gonzaga
Neto et al. (1991), estudando algumas variedades na região do vale do Rio
Moxotó, encontraram variações de 720 a 1922 frutos/planta/ano, registrando para
Seleção IPA B38.1, na ocasião, em média de onze anos, um total de 1483 frutos/
planta, valor muito próximo daquele obtido neste estudo.
Com relação, também , a esse parâmetro, observa-se que há variação dentro das
mesmas variedades, o que pode ser explicado pela mesma tese da origem do porta-
enxerto, já comentada. É importante frizar que as plantas foram conduzidas sem
desbaste de frutos, expondo, portanto, todo o seu potencial produtivo, o que
explica, em tese, o baixo peso médio do fruto registrado em algumas plantas
analisadas neste trabalho.
Considerando cada variedade, observou-se que o maior peso médio de fruto
(176,97g) foi registrado para a Banaras, na qual o número médio de frutos
colhidos foi 813. A Banaras foi a variedade que produziu o menor numero médio
de fruto. Isto possibilita levantar a hipótese de que estas variedades, se
trabalhadas com desbaste, poderiam incrementar o peso médio do fruto. Gonzaga
Neto et al. (1997), em trabalho conduzido com a variedade Rica, na região do
Submédio São Francisco, informam que o melhor é conduzir a planta com um total
de 500 frutos, por safra, de modo a obter um peso médio dentro dos padrões
requeridos pelo mercado consumidor da fruta ²in natura". Observa-se, na
Tabela_1, que, de modo geral, os maiores valores de peso médio do fruto foram
alcançados nas variedades que produziram um menor número de frutos. Dentro
desta análise, destacam-se as terceiras plantas das variedades Luck Now 49.3 e
Banaras 3, as quais produziram frutos com maior peso médio: 190, 13 e 257, 11g,
respectivamente. Com referência às característica químicas, verifica-se, na
Tabela_2, que o brix variou de 9,80, na variedade Allahabad Safeda, a 12,70, na
seleção IPA B38.1. A maior relação SST/acidez, (3,3) foi registrada na
variedade Allahabad Safeda.
CONCLUSÕES
Considerando os resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir:
1. As variedades Luck Now 49.3 e Banaras 3 apresentam potencial agronômico que
as tornam passíveis de introdução na área de produção comercial, no segmento de
polpa branca.