Comportamento vegetativo de seis cultivares de coqueiro-anão (Cocos nucifera
L.), em Santo Antônio de Leverger - MT
COMPORTAMENTO VEGETATIVO DE SEIS CULTIVARES DE COQUEIRO-ANÃO (Cocos nucifera
L.), EM SANTO ANTÔNIO DE LEVERGER ' MT1
INTRODUÇÃO
O coqueiro é uma cultura predominantemente cultivada por pequenos produtores,
com áreas plantadas que variam de 0,5 a 4,0 ha (Persley, 1992). As perspectivas
para a cultura são promissoras, pois há mercado potencial muito grande a ser
explorado com água de coco. Hoje, a industrialização desta (envazamento)
permite o aumento da vida útil do produto, possibilitando, assim, crescimento
substancial no consumo (Ribeiro et al., 1999). Em relação à água de coco
"in natura", por exemplo, novas alternativas de mercado têm surgido
nos últimos anos, contribuindo para aumentar o consumo do produto. Uma delas
foi a introdução de máquinas para sua extração, as "Coco Express",
com o produto servido diretamente ao consumidor (Saabor et al., 2000).
A produtividade média brasileira ainda é baixa, na ordem de 20 a 30 frutos/
planta/ano (Aragão et al., 1997), e no Estado de Mato Grosso não é diferente,
pois estão sendo plantandos genótipos não selecionados, como, também, ocorre
manejo inadequado da cultura.
Diversos trabalhos realizados, em várias partes do mundo (Akpan, 1994; Zushun,
1994; Bourdeix et al., 1992), evidenciam a importância da avaliação do grau de
adaptabilidade de variedades ou de genótipos de coqueiro às condições
edafoclimáticas de um determinado local. Atualmente, há grande interesse entre
os principais países produtores de coco do mundo, na avaliação e seleção de
híbridos, para solucionar seus problemas de produção, com pragas, doenças e de
adaptação edafoclimática (Nuce de Lamothe et al., 1991). Nas Filipinas, a
escolha de variedades melhor adaptadas às condições edafoclimáticas é uma das
principais medidas recomendadas para evitar o decréscimo do rendimento
observado nos últimos anos (Aldaba, 1995).
O presente estudo teve como objetivo avaliar o comportamento vegetativo de
cultivares de coqueiro-anão, nas condições da região de Santo Antônio de
Leverger, Estado de Mato Grosso.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Federal de
Mato Grosso, no município de Santo Antônio de Leverger, Mato Grosso, no período
de abril de 1999 a dezembro de 2000. Essa região localiza-se a 15º47'11"S
e 56º04'17"W, com 179 m de altitude, apresenta o clima do tipo tropical
quente e subúmido. O solo da área experimental foi classificado como Latossolo
Amarelo, eutrófico câmbico, A moderado, textura argilosa, fase Cerrado, relevo
plano. Utilizou-se a irrigação por meio de microaspersores, em dois turnos de 3
horas, em dias alternados, com uma vazão de 30 a 35 L.h-1, baseado em
avaliações realizadas na área experimental. O pomar recebeu os tratos culturais
normalmente recomendados para a cultura (Ferreira et al., 1998). As cultivares
utilizadas foram: Anão-Vermelho-da-Malásia (AVM), Anão-Verde-de-Jiqui (AVeJ),
Anão-Amarelo-da-Malásia (AAM), Anão-Vermelho-de-Camarões (AVC), Anão-Vermelho-
de-Gramame (AVG) e Anão-Amarelo-de-Gramame (AAG), plantadas em espaçamentos de
7,5 m x 7,5 m x 7,5 m em triângulo eqüilátero, no mês de maio de1998 .
A metodologia utilizada na determinação das características selecionadas para
este estudo, a cada 28 dias, é descrita a seguir:
a) Circunferência do coleto: efetuada a 5 cm do solo, com auxílio de uma fita
métrica.
b) Número de folhas vivas número de folhas verdes e adultas com mais de 50% da
folha aberta.
c) Número de folhas emitidas: número de folhas com abertura superior a 50%,
onde se marcava com fita plástica a última folha emitida, para se evitar futura
recontagem. Assim, as folhas emitidas entre duas sucessivas avaliações, eram as
existentes entre aquela marcada (exclusive) e a última aberta por ocasião da
leitura.
d) Número de folhas mortas: contagem de folhas que apresentavam mais de 50% da
área foliar seca.
e) Número de folíolos na folha três: contagem de folíolos da folha 3, ou seja,
a terceira folha completamente aberta a partir do ápice para a base da planta.
f) Comprimento da folha três: determinado com auxílio de uma fita métrica.
g) Comprimento do pecíolo da folha três: comprimento entre a inserção da folha
três no estipe até o início do folíolo.
h) Comprimento do folíolo na folha três: média de três medidas de folíolos
centrais, utilizando-se de uma fita métrica.
O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com seis tratamentos,
quatro repetições e 16 plantas por parcela. Os dados obtidos foram submetidos à
análise de variância e ao teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Devido à
elevada correlação existente entre as variáveis determinadas, e com o objetivo
de facilitar a classificação das cultivares, os valores obtidos foram
submetidos à análises de componentes principais (Cruz e Regazzi, 1994; Johnson
e Wichern, 1998). O agrupamento das cultivares foi baseado no método de Tocher,
aplicado nos escores dos componentes principais. Algumas aplicações dos
componentes principais na agricultura foram apresentadas por Iezzoni e Pritts
(1991), Caradus et al. (1993) e Stewart et al. (1998).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A circunferência do coleto de todas as cultivares aumentou ao longo dos meses
avaliados. A cultivar AAM apresentou menor desempenho para essa característica
(Figura_1). Comparando o valor obtido pelo AVM aos 19 meses após o plantio, que
foi de 62 cm, aos 60 cm verificados em coqueiro híbrido (AVMxGPY) por Ferraz et
al. (1987), no Estado de Pernambuco, verificou-se crescimento vegetativo
satisfatório das cultivares avaliadas nas condições locais, visto que os
híbridos apresentam maior crescimento vegetativo que os anões.
O número de folhas vivas (NFV), número de folhas emitidas (NFE) e o número de
folhas mortas (NFM) de todas as cultivares não diferiram estatisticamente entre
si no período da avaliação (Figura_1). Apenas o NFV não é suficiente para
conhecer o potencial da planta para produzir fotoassimilados, sendo necessário
conhecer também o número de folíolos na folha 3, o comprimento da folha 3 e o
comprimento do folíolo na folha 3, os quais fornecem melhor estimativa da área
foliar da planta, de difícil determinação em condições de campo. No mês de
junho/00, houve decréscimo dessas características, possivelmente, devido ao
déficit hídrico, uma vez que não houve precipitação pluviométrica nesse
período, e o sistema de irrigação só foi instalado ao final do mesmo, e
verificou-se aumento dessas características nas avaliações posteriores. O maior
número de folhas vivas aumenta a área fotossintética, ocorrendo maior
disponibilidade de fotoassimilados para o crescimento da planta. Quando
cultivado sob condições desfavoráveis, como seca ou deficiência nutricional,
ocorre redução no número de folhas vivas por planta, devido à diminuição do
ritmo de emissão foliar e não pela morte precoce das folhas (Passos, 1998).
Comparando os valores médios obtidos pelo AVeJ, aos 24 meses após o plantio,
para o número de folhas vivas e número de folhas mortas que foram de 11 e 1,
respectivamente, às nove folhas vivas e uma e meia morta verificados em
coqueiro híbrido (AVeJxGBrRN) por Aragão et al. (1997), no Estado de Sergipe,
percebe-se um indicativo da aptidão da região para a cocoicultura. Comparando o
valor obtido pelo AVM aos 24 meses após o plantio, que foi de uma folha
emitida, a uma folha emitida verificado em coqueiro híbrido (AVMxGOA) por
Santos et al. (1982).
O número de folíolos na folha 3 (NFoF3), comprimento da folha 3 (CF3) e
comprimento dos folíolos na folha 3 (CFoF3) de todas as cultivares avaliadas
aumentaram ao longo do período da avaliação (Figura_2). O AAM apresentou menor
desempenho para as características de número de folíolos na folha 3 e
comprimento da folha 3. Para comprimento dos folíolos na folha 3, só houve
diferença significativa na avaliação de julho/99. O AAG apresentou menor
desempenho nos meses de setembro/99, junho/00, julho/00, agosto/00 e outubro/00
para a característica de comprimento da folha 3. O número de folíolos na folha
3, com 133 cm, comprimento da folha 3, com 193 cm e comprimento dos folíolos,
com 87 cm para o AVeJ, aos 25 meses, quando comparados ao AVeJ estudados por
Ribeiro (2000), com valores máximos de 144 cm, 120 cm e 43 cm, respectivamente,
indicam desempenhos adequados dessas características para as condições da área
estudada.
O comprimento do pecíolo na folha 3 (CPF3) apresentou maiores valores na AVG,
nos meses de setembro/99, março/00, julho/00 e outubro/00, e o AVeJ nos meses
de junho/00, julho/00, agosto/00 e setembro1/00. O comprimento do pecíolo na
folha 3, associado aos menores comprimentos da folha 3 e do número de folíolos,
verificados nas cultivares anãs, são características importantes no sentido de
se permitir melhor arranjo na densidade de plantio e devendo ser largo e curto
a fim de suportar o próprio peso da folha, além do peso dos cachos. Comparando
o valor obtido pelo AveJ, aos 25 meses após o plantio, que foi de 27 cm, aos 23
cm verificados ao AVeJ por Ribeiro (2000), verifica-se desempenho adequado
dessa característica, para as condições da área estudada.
A análise de componentes principais, aplicada na matriz de correlações,
permitiu identificar dois componentes principais que foram significativos
(Tabela_1), os quais explicam 71,1% da variância total.
O primeiro componente principal basicamente contrasta as características
relacionadas com o crescimento da planta e o número de folhas mortas. O segundo
componente principal representa o número de folhas emitidas e o comprimento do
pecíolo.
A classificação das cultivares avaliadas pode ser observada na Figura_3,
detectando-se três grupos: o primeiro grupo formado por AVeJ e AVM, o qual
apresentou maior crescimento e menor número de folhas mortas; o segundo grupo
formado por AAM, AAG, AVC, o qual apresentou o menor crescimento e maior número
de folhas mortas e o terceiro grupo formado por AVG de comportamento
intermediário. Bourdeix et al. (1992) utilizaram, também, os componentes
principais para a classificação dos genótipos utilizados por eles,
identificando quatro grupos.
CONCLUSÕES
1. O AAM apresentou menor circunferência do coleto, menor número de folíolos na
folha 3 e menor comprimento da folha 3.
2. Os AVeJ e AVM apresentaram maior crescimento da planta, enquanto o AAM, AAG
e AVC apresentaram menor crescimento da planta. O AVG apresentou desempenho
intermediário entre os dois grupos.
3. A região de Santo Antônio de Leverger ' MT, apresenta condições climáticas
adequadas ao crescimento vegetativo das cultivares avaliadas.