O livro didático na Educação Física escolar: a visão dos professores
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ABSTRACT
Nowadays, textbook has been recognized, to a significant portion of education
experts, as a relevant material to education process. In the field of Physical
Education the textbook's production and study became practically neglectful.
The objective of this study was to evaluate the applicability of a basketball
textbook, built specifically for this study, with five teachers of Physical
Education. The methodology used was qualitative, the interview was a data
collection instrument. The results pointed that teachers established a critical
relationship against the textbook of basketball and they pointed advantages and
disadvantages for its use in school context.
Words Key:Textbook. School Physical Education. Process teaching/learning.
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Introdução
Atualmente, o livro didático vem sendo reconhecido, por parcela significativa
dos estudiosos da educação, como um material relevante ao processo de
escolarização. No campo amplo da Educação o estudo do livro didático tem
despertado bastante interesse, e nas últimas décadas houve um crescimento
considerável das discussões sobre esse assunto (CHOPPIN, 2004; BITTENCOURT,
2004).
No caso específico da Educação Física a produção e estudo do livro didático
permanecem praticamente negligenciados. A ausência de estudos sobre o livro
didático na Educação Física dificulta análises mais abrangentes quanto aos
desdobramentos desse instrumento no ambiente escolar.
Nos últimos anos, com as transformações ocorridas no âmbito da Educação Física,
principalmente após a década 1980, os professores foram instigados a trabalhar
com propostas renovadoras1 no ambiente escolar.
Dentre as diversas reflexões, chama a atenção as propostas de diversificação
dos conteúdos, ou seja, os professores devem ser capazes de superar o
desenvolvimento restrito de conteúdos tradicionais, tais como os quatro
esportes coletivos, avançando com o desenvolvimento organizado das diversas
manifestações corporais que compõe o universo da cultura corporal, que
perpassam as questões do corpo e do movimento, dentre elas, destaque para a
ginástica, a dança, a capoeira, as lutas, os jogos e brincadeiras, entre outros
conteúdos deixados em segundo plano ao longo da história da Educação Física na
escola (SOARES et al. 1992; BRASIL, 1998).
Outra proposta bastante recorrente, indicada frequentemente por professores e
pesquisadores, é o desenvolvimento de conteúdos teóricos2 nas aulas desse
componente curricular. Nesse sentido, já não basta o desenvolvimento da prática
pela prática, sendo indispensável que os alunos reconheçam os motivos pelos
quais estão praticando as manifestações corporais, para tanto os professores
são convidados a trabalhar com conceitos ou conhecimentos sobre as diferentes
práticas corporais. Ainda em relação à superação do meramente saber fazer nas
aulas de Educação Física, considera-se essencial que os alunos aprendam a se
relacionar no âmbito das práticas, assim propõe-se o desenvolvimento de
conteúdos atitudinais, baseados principalmente em normas, valores e atitudes
(ZABALA, 1998).
Por outro lado, os professores vêm enfrentando inúmeras dificuldades na
efetivação desse tipo de trabalho, dentre os inúmeros empecilhos que limitam o
trabalho dos professores destaca-se o número reduzido de materiais didáticos
que possam dar suporte às práticas pedagógicas orientadas pelos princípios
citados acima.
Apenas recentemente é que algumas redes públicas de ensino iniciaram a
elaboração e utilização de livros didáticos na Educação Física. Portanto,
considera-se oportuno a Educação Física inserir-se no âmbito das discussões
sobre o livro didático, o que em nosso entendimento pode contribuir
significativamente com o trabalho docente e com a qualidade das aulas.
Assim, o objetivo da presente pesquisa foi elaborar um livro didático do
conteúdo basquetebol e avaliar as possibilidades desse material junto a cinco
professores de Educação Física.
Revisão de Literatura
O que é livro didático?
A utilização do livro didático é assunto bastante polêmico e recebe críticas
principalmente sobre seu caráter ideológico. Apesar disso, tem sido considerado
um instrumento relevante ao processo de escolarização (BITTENCOURT, 2004).
Em uma aproximação inicial a definição de livro didático não traz grande
dificuldade. Na compreensão de Batista (2000):
Trata-se desse tipo de material que faz parte de nosso cotidiano: que
é adquirido, em geral, no início do ano, em livrarias e papelarias
quase sempre lotadas; que vai sendo utilizado à medida que avança o
ano escolar e que, com alguma sorte, poderá ser reutilizado por outro
usuário no ano seguinte. Seria, afinal, aquele livro ou impresso
empregado pela escola, para desenvolvimento de um processo de ensino
ou de formação (BATISTA, 2000, p. 534).
Para Munakata (2000) trata-se de um livro que por inúmeras vezes é transportado
de casa para escola e da escola para casa. Um tipo de livro raramente lido
completamente, da primeira à última página. Livro que envolve uma gama
diversificada de práticas, fato que indica uma relação de uso e não somente de
leitura.
Choppin (2004) considera que a definição do termo "livro didático" não é tarefa
tão simples como pode parecer e que a delimitação desse conceito apresenta-se
como um empecilho às pesquisas com esse material. Em sua análise, em diversas
línguas, o livro didático é designado de inúmeras maneiras e nem sempre é
possível explicitar as características dessas denominações, por outro lado, a
utilização de uma mesma palavra nem sempre se refere ao mesmo objeto.
Entendemos o livro didático como um material intimamente ligado ao processo de
ensino-aprendizagem, ou seja, elaborado e produzido com a intenção de auxiliar
as necessidades de planejamento, intervenção e avaliação do professor, bem como
de contribuir para as aprendizagens dos alunos.
Para as finalidades desse estudo consideramos livro didático o conjunto dos
manuscritos produzidos para o professor e para o aluno. O conteúdo do livro do
professor e do aluno será idêntico ou semelhante, mas as características de
cada um deles serão distintas. O livro do professor traz a discussão do
conteúdo de forma aprofundada, com textos para fundamentação de informações e
conceitos, bem como a indicação de princípios no encaminhamento das atividades.
Já no livro do aluno o conteúdo é apresentado de maneira mais dinâmica e a
ênfase é dada na resolução de problemas e exercícios.
Corroborando a idéia de que o livro didático pressupõe um material ou materiais
destinados a professores e alunos, Munakata (2000) afirma que ler/usar o livro
didático implica ao menos dois leitores permanentes (professor e aluno), sendo
essa relação estrutural no livro didático, já que a ausência de um ou de outro
descaracterizaria o material.
Críticas e possibilidades dos livros didáticos
Entre os críticos fervorosos do uso do livro didático, Silva (1988) apresenta
inúmeros aspectos que segundo ele "empurram" os professores a utilizar esses
materiais. Dentre eles, as péssimas condições materiais da escola, falta de
livros, laboratórios e equipamentos; as condições de trabalho, obrigando a uma
vida de correria e improvisações; pouca flexibilidade dos programas oficiais; e
as estratégias de marketing aplicadas pelas editoras.
Silva (1996) ainda destaca que o livro didático é a insubstituível "muleta" dos
professores, material sem os quais não conseguem caminhar. Afirma que a perda
da dignidade do professor brasileiro contrapõe-se a crescente lucratividade das
editoras de livro didático e que o apego cego aos livros demonstra a perda da
autonomia no ato de ensinar. Nesse sentido, Silva (1996) apresenta algumas
consequências do uso indiscriminado do livro didático, dentre elas, pontua a
inversão da relação interativa do aluno com o professor, para uma relação
unilateral do aluno e as atividades e exercícios propostos no livro. Critica
enfaticamente a compreensão do livro como ponto de partida e chegada do
conhecimento, ditando de forma inequívoca os conteúdos a serem desenvolvidos em
cada componente curricular.
Importante perceber que as críticas de Silva (1988; 1996) são em relação às
condições de trabalho que levam os professores a adoção do livro didático, bem
como ao uso que os professores fazem desse material. Parece ingênuo
culpabilizar o livro didático por todas as mazelas da Educação brasileira, além
disso, em nossa compreensão o professor preparado para trabalhar com o livro
didático tem condições claras de identificar possíveis incoerências do
material, podendo com isso modificar a forma de abordagem ou mesmo descartar
seu uso.
Zabala (1998) apresenta algumas críticas recorrentes ao livro didático e em
seguida as rebate atentando para o papel do professor. Na análise desse autor,
pelas características de sua estrutura, os livros didáticos tratam os conteúdos
de forma unidirecional, sem que haja diversificação das idéias desenvolvidas.
Transmitem com frequência os conhecimentos de maneira acabada e dogmática, não
havendo possibilidade de questionamento.
No que diz respeito à metodologia em que estão pautados, os livros didáticos
fomentam a atitude passiva, limitando a curiosidade dos alunos. Não favorecem
propostas baseadas na realidade, nem mesmo incentivam a comparação entre a
realidade e o ensino escolar, impedindo uma formação crítica (ZABALA, 1998).
Além disso, não respeitam o ritmo de aprendizagem dos alunos, seus interesses e
expectativas, conduzindo a uniformização do ensino.
Apesar das críticas que podem ser feitas aos livros didáticos, Zabala (1998)
afirma que isso não exclui a possibilidade de existência e uso de materiais que
não cometam os erros dos livros convencionais. Nesse sentido, o papel do
professor frente a esses materiais será fundamental. Deverá ser capaz de
apresentar aos alunos não apenas as idéias contidas no livro, mas também as de
outros materiais, com pontos de vista divergentes, levando o aluno a refletir
sobre a complexidade do tema trabalhado.
Outro aspecto a ser considerado é a proposta pedagógica da escola, o livro
didático deve estar a serviço dos objetivos, conteúdos, metodologias e
avaliações adotadas pelo professor em consonância com o planejamento da escola.
Será um equívoco inverter essa relação, na qual o livro didático passa a ditar
os objetivos a serem buscados pela comunidade escolar.
O professor também deve estar atento ao comportamento e atitude dos alunos,
promovendo constantemente o debate e reflexão de problemas que se aproximam da
realidade dos educandos, favorecendo o protagonismo e minimizando a acomodação
e a passividade.
Ainda sim, as informações dos livros didáticos devem ser necessariamente
complementadas com a apresentação de outros materiais, tais como vídeos,
imagens, filmes, propagandas e revistas, estratégias que incentivem uma visão
abrangente e diversificada do assunto trabalhado.
O estudo e construção do livro didático perpassam por discussões polêmicas
sobre os desdobramentos e consequências desse material na escolarização dos
alunos. Apesar das inúmeras críticas, acreditamos que o livro didático pode de
fato colaborar com o trabalho docente, com a promoção das aprendizagens dos
alunos e com fortalecimento da importância da Educação Física na escola.
Livro didático no contexto da Educação Física
No conjunto da Educação Básica, diversos componentes curriculares compõem o
currículo escolar, sendo que a maioria deles possui livros didáticos, os quais
são anualmente submetidos ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Nesse
contexto, surge o questionamento: Como fica a disciplina de Educação Física no
levante das discussões sobre o livro didático? Por que até o momento nenhum
livro de Educação Física foi submetido ao PNLD?
Na Educação Física, pouco tem sido discutido a respeito do livro didático e
seus desdobramentos no ambiente escolar. Ramos (2005) em reflexão sobre a
natureza da pesquisa no campo da Educação Física escolar, apresenta temáticas
que necessitam ser mais bem exploradas e indica uma carência de estudos que
viabilizem novos olhares para três temas fundamentais: a escola, o aluno e a
formação/atuação do professor. No que diz respeito às pesquisas relacionadas ao
aluno e ao professor alerta para a lacuna de investigações sobre a produção e
utilização de livros didáticos.
Os demais componentes curriculares contam com um número elevado de livros
didáticos. Para se ter uma idéia no levantamento realizado pelo LIVRES3, de
1990 até 2007 foram publicados 653 livros didáticos de história e 698 de
português, já em relação à Educação Física nenhum livro foi catalogado nesse
período. E como afirma Choppin (2004) "é necessário também prestar atenção
àquilo que eles silenciam, pois se o livro didático é um espelho, pode ser
também uma tela" (CHOPPIN, 2004, p.557).
Alguns fatores contribuem para compreendermos essa negligência na Educação
Física e são comuns aos enfrentados no campo amplo da educação, como a
condenação total do livro didático em nome de uma vertente crítica. Além disso,
fatores específicos dessa área do conhecimento contribuem na configuração dessa
realidade.
Uma dessas razões refere-se ao fato de que historicamente a Educação Física
esteve atrelada a uma tradição do saber fazer, da realização dos movimentos, da
vivência e experimentação das brincadeiras, dos jogos e dos esportes, tais
características tornaram difícil estruturar esse material, assim como conceber
sua aceitação junto aos docentes e mesmo ao mercado editorial.
Outro fator também contribuiu para as restrições ao livro didático na Educação
Física. O redirecionamento do pensar a respeito do objeto de estudo desse
componente curricular na escola, ocorreu a partir dos anos 1980, no mesmo
período em que a produção de livro didático era intensamente criticada. Essas
críticas podem ter afastado os docentes, ou boa parte deles, da construção e
reflexão desses materiais (DARIDO et al., 2010).
Um dos únicos livros didáticos na área de Educação Física é o bastante
difundido Trabalho Dirigido de Educação Física, de Teixeira (1983). O material
destinado ao Ensino Fundamental apresenta exemplos de atividades distribuídas
em diversos planos de aulas dos conteúdos de ginástica, jogos, esportes
coletivos etc. O livro foi disseminado entre os professores da Educação Básica,
embora tivesse sido elaborado para os alunos. (DARIDO et al., 2010)
Em meio à ausência de discussões sobre o livro didático em aulas de Educação
Física, algumas medidas isoladas vêm sendo tomadas quanto à elaboração desses
materiais. Recentemente o Estado de São Paulo4, o Estado do Paraná5 e o
Município de Belo Horizonte6 identificaram a necessidade de oferecer aos
professores materiais que possam servir de apoio às aulas e iniciaram a
elaboração e divulgação de materiais didáticos dessa disciplina.
No Estado de São Paulo um grupo reduzido de professores foi convidado para
elaborar o livro didático de Educação Física. No ano de 2008 foi lançado o
livro didático destinado aos professores, já no ano de 2009 foi lançado o livro
didático dos alunos, com autoria de outro grupo de professores. Tal proposta
teve grande repercussão entre os professores, recebendo elogios quanto aos
conteúdos veiculados e críticas quanto à política de elaboração, distribuição e
implementação do material (LADEIRA, 2008).
O livro didático público do Paraná (2007) tem características diferenciadas dos
demais livros didáticos publicados no país, uma vez que teve como meta
constituir-se em um material produzido pelos próprios professores da rede
pública de Ensino Médio e distribuído gratuitamente. De acordo com os autores
da obra, o livro didático de Educação Física representa um momento histórico,
pois pela primeira vez, é construído um material que subsidia a prática
docente, trazendo reflexões sobre diversos aspectos que compõem o corpo
teórico-prático da área (PARANÁ, 2007, p.10).
Outro aspecto que nos chama atenção é que as redes particulares de ensino, tais
como, Positivo, COC, Anglo e Objetivo também vem elaborando apostilas com
vistas ao promissor mercado das redes públicas municipais de ensino7.
Portanto, deixar de produzir livros didáticos de Educação Física ou deixar de
realizar pesquisas sobre esse material não garante que outros materiais não
sejam elaborados e consequentemente utilizados pelos professores.
Assim, considera-se oportuno a Educação Física inserir-se nas discussões do
livro didático e com isso compreender melhor os desdobramentos de seu uso em
aulas desse componente curricular.
Metodologia
A metodologia utilizada é de natureza qualitativa. Na análise de Triviños
(1987) as pesquisas com enfoque qualitativo surgem em contraposição à atitude
tradicional positivista de aplicar aos estudos das ciências humanas os mesmos
princípios e métodos das ciências naturais.
Na visão de Ludke e André (1986), com a evolução dos estudos na área
educacional, percebeu-se que poucos fenômenos nessa área podem ser submetidos à
abordagem analítica, típica das pesquisas experimentais, pois em Educação as
coisas acontecem de maneira inextrincável e não é possível isolar as variáveis
envolvidas.
Na concepção de Demo (1995) são quatro os gêneros de pesquisa no campo das
ciências sociais, dentre elas, cita a possibilidade da pesquisa teórica, que em
sua análise dedica-se ao estudo de teorias, formulação de referências ou mesmo
a elaboração de conceitos. Baseado nessa diferenciação, na primeira fase desse
estudo, debruçou-se sobre a formulação de uma proposta teórica, especificamente
na elaboração de um livro didático de basquetebol para o professor e outro para
o aluno.
Com o livro didático em mãos elencou-se alguns critérios para escolha dos
sujeitos, dessa maneira os participantes deveriam ser professores do componente
curricular Educação Física que ministrassem aulas para turmas de 6º e/ ou 7º
ano, que fossem efetivos no cargo e que demonstrassem interesse em participar
do estudo.
Em conversas com outros docentes de Educação Física e em algumas participações
em congressos da área, estabeleceu-se contatos com cerca de dez professores da
Educação Básica, dentre eles chegou-se a cinco professores que se enquadraram
nos critérios adotados e demonstraram disponibilidade em participar da
pesquisa. Todos os participantes integram a Diretoria de Ensino de Limeira
(SP), sendo que quatro professores trabalham nesse mesmo município e um deles
trabalha na cidade de Rio Claro (SP).
Na segunda fase da pesquisa optou-se por uma investigação de caráter
exploratório. Ludke e André (1986) indicam que a fase exploratória de um estudo
é caracterizada por um delineamento mais claro da pesquisa, nos quais questões
essenciais e pontos críticos podem ser explicitados, repensados ou abandonados.
Nessa fase da investigação os professores realizaram a leitura e análise do
livro didático de basquetebol e em seguida foram entrevistados individualmente.
Para apreensão dos dados utilizou-se entrevista semi-estruturada que permitiu
partir de um roteiro básico de questões, aprofundando e esclarecendo as
informações que se julgou necessário, ou seja, caso as respostas fossem
insuficientes aos propósitos do estudo o pesquisador pode explorar melhor as
questões com a intenção de obter informações mais detalhadas.
Nossa intenção com o roteiro de questões foi avaliar a aplicabilidade do livro
didático de basquetebol, investigando como o professor visualiza esse material
em sua prática pedagógica.
Abaixo segue o roteiro de questões utilizado como suporte às entrevistas.
1- Quais foram suas impressões iniciais sobre o livro didático de
basquetebol? 2- Quando você vai dar aulas de esporte na escola, você
utiliza algum livro? Qual? 3- Você sente a necessidade de algum
material prévio ou utiliza outros recursos para planejar, aplicar e
avaliar as aulas? 4- Em sua opinião, o livro didático de basquetebol
poderia dificultar seu trabalho? De que forma? 5- Em sua opinião, o
livro didático de basquetebol poderia colaborar com seu trabalho? De
que forma? 6- Como você utilizaria o livro didático de basquetebol?
7- Qual das atividades você considerou mais interessante? Por quê? 8-
Qual das atividades você não usaria? Por quê? 9- O que você achou do
encadeamento dos temas e das atividades dentro dos temas? 10- Como
você acha que pode ser as respostas dos alunos frente ao livro?
Válido ressaltar que a entrevista representa um dos instrumentos básicos para
coleta de dados na pesquisa qualitativa. Para Ludke e André (1986) a boa
entrevista exige alguns cuidados do entrevistador, em primeiro lugar a garantia
de sigilo e respeito pelos entrevistados. Importante também, criar um ambiente
de confiança, sendo capaz de estimular o fluxo natural de informações e manter-
se atento para ouvir com paciência. Alertam ainda, para importância de
registrar as expressões orais com gravações diretas e anotações de expressões
não verbais, tais como, entonações, hesitações, alterações de ritmo, entre
outros aspectos.
No primeiro contato com o instrumento de coleta de dados realizou-se, com uma
professora colaboradora, uma entrevista "piloto" com a intenção exclusiva de
testar o instrumento de coleta, tentando identificar a clareza na exposição dos
objetivos do estudo, além de afastar possíveis inadequações quanto ao roteiro
básico de questões.
Esse estudo foi desenvolvido com o consentimento dos indivíduos envolvidos e
para tanto os participantes foram esclarecidos sobre os riscos e o direito de
desistir a qualquer momento. Além disso, obteve-se a aprovação de seus
propósitos e procedimentos por parte do Comitê de Ética em Pesquisa do
Instituto de Biociências da UNESP de Rio Claro (CEP nº 34/2009, protocolo nº
4701).
Resultados e Discussão
Na parte inicial, mais especificamente nos dois primeiros itens, apresentou-se
o resultado final da primeira etapa da pesquisa que foi a elaboração do livro
didático de basquetebol e na sequência procedeu-se aos resultados obtidos a
partir das entrevistas com os professores.
O livro didático de basquetebol
Para avaliar a visão dos professores quanto ao livro didático em aulas de
Educação Física seria necessário selecionar algum material com essas
características.
Optou-se pela elaboração de um material específico para a presente pesquisa,
chegando assim a um livro didático de basquetebol destinado ao professor e ao
aluno do 6º e 7º ano do Ensino Fundamental.
A opção por esse nível de ensino foi por considerar que boa parte dos
professores de Educação Física inicia o ensino dos esportes a partir dessa
faixa etária.
A escolha pelo basquetebol se deu por conta de nossas experiências como
professores desse esporte na iniciação e também na universidade, fato que nos
garantiu apenas a princípio certa convicção na seleção e escolha dos conteúdos,
já que não existia estudo que nos desse suporte a organização do livro
didático.
Nesse sentido, o processo de elaboração do livro didático de basquetebol foi
bastante inquietante, pois foi necessário fazer escolhas, já que não se obteve
na literatura respostas a questionamentos importantes na estruturação de um
livro didático, como por exemplo: O que o aluno, ao longo dos anos de
escolarização, deve saber sobre basquetebol? Ou mesmo, o que é essencial o
aluno do 6º ou 7º ano saber sobre basquetebol?
Apesar das dúvidas, após algumas reflexões pautadas em experiências, estudos e
leituras chegou-se à seguinte configuração do livro didático de basquetebol.
Primeiramente, elencou-se quatro grandes temas (Tabela_1): "Basquetebol:
compreendendo o jogo", "Basquetebol e suas transformações", "Basquetebol: a
dinâmica do jogo e os fundamentos básicos" e "Basquetebol e Diversidade".
Dentro de cada tema desenvolveu-se alguns sub-temas com intenção de detalhar e
aprofundar os temas centrais.
![](/img/revistas/motriz/v17n1/a07tab01.jpg)
Nos primeiros sub-temas preocupou-se em apresentar o esporte aos alunos de modo
que se familiarizassem com os espaços de prática, as regras e com a dinâmica do
jogo, nesse sentido propôs-se os seguintes temas: "Os espaços do basquetebol",
"A dinâmica do jogo" e "As regras do jogo".
A maior preocupação, no primeiro tema, era que o aluno se identificasse com o
basquetebol, ou seja, tivesse prazer em conhecer e vivenciar o esporte,
afastando possibilidades de repudiar ou resistir à sua prática logo no início
das aulas. No segundo grande tema explorou-se dois sub-temas relacionados à
história do basquetebol tratando de sua criação e de algumas transformações,
são eles: "Os primórdios do basquetebol" e "Transformações do jogo".
A história do basquetebol foi colocada como um segundo tema, já que em um
primeiro contato com o esporte talvez houvesse dificuldades com a aceitação
desse conteúdo. Isso não quer dizer que a história do basquetebol seja um
assunto menos importante, de fato acredita-se na relevância de contextualizar a
criação e as transformações pelas quais passou o basquetebol ao longo do tempo.
Após o conhecimento dos aspectos elementares do jogo, bem como da atribuição de
sentido aos aspectos históricos, considerou-se oportuno aprofundar os
conhecimentos específicos do jogo, nesse sentido chegou-se a um terceiro tema
no qual o aluno pudesse se aprimorar no conhecimento e vivência do esporte,
para tanto se elaborou dois sub-temas: "Do jogo ao esporte" e "Aprimorando o
jogo".
Finalizando a proposta, deu-se maior ênfase ao tema da diversidade no
basquetebol, atentando para dois grupos sociais que enfrentam certas
dificuldades de acesso ao esporte, dentre eles, destacou-se dois sub-temas:
"Basquetebol sobre cadeira de rodas" e "Mulheres no basquetebol".
Nesse momento o leitor deve estar refletindo sobre uma série de temáticas que
poderia fazer parte do livro didático, mas que foram desconsideradas na
presente proposta, um exemplo bastante evidente é ausência do basquete de rua
(street basketball) e a discussão da importância dos negros na consolidação
desse estilo de jogar basquetebol.
Na verdade, ao longo do planejamento e construção do livro didático de
basquetebol optou-se por determinados temas que se considerou importante em uma
primeira aproximação com o esporte, por outro lado, para que o material não
ficasse muito extenso alguns temas significativos deixaram de ser explorados.
Ainda sim, é importante esclarecer que a presente proposta é apenas uma entre
várias possíveis, em nenhum momento houve a pretensão de considerá-la um modelo
a ser seguido, mesmo porque existem outros princípios que podem influir na
escolha e seleção dos conteúdos vide as indicações de Soares et al. (1992),
tais como a relevância social, a contemporaneidade, provisoriedade do
conhecimento, entre outros princípios.
A descrição dos conteúdos que foram selecionados para o livro didático de
basquetebol facilita o entendimento da concepção de Educação Física expressa no
material, contudo para uma compreensão mais detalhada parece relevante
acrescentar o exemplo de um sub-tema.
Livro didático de basquetebol: o exemplo de um tema
O tema descrito abaixo compõe o livro didático do professor.
Tema 4 - Basquetebol e Diversidade
Sub-tema_1_-_Basquetebol_em_cadeira_de_rodas
Objetivo do tema
Apresentar aos alunos o basquetebol sobre rodas, bem como vivenciar algumas
limitações enfrentadas pelos jogadores dessa modalidade.
Curiosidade
O basquetebol sobre rodas foi a primeira modalidade Para-Olímpica a ser
praticada no Brasil, sua introdução deu-se por volta de 1957.
Atividade1 Jogando Sentado.
Objetivo do Jogo
Simular as dificuldades enfrentadas pelos jogadores do basquetebol em cadeira
de rodas.
Procedimento e divisão das equipes
O grupo deve ser dividido em duas equipes de 10 pessoas, sendo que metade da
equipe permanece em pé e metade deve posicionar sentada em alguma região da
quadra.
Regras
1- Os jogadores que estão em pé podem dar no máximo dois dribles com a bola,
mas não poderão se deslocar sem a sua posse.
2- Os jogadores sentados podem se deslocar com o auxílio dos braços e pernas
(arrastando) quando estiverem sem a bola, mas quando a recebem não poderão se
deslocar com sua posse, assim devem realizar o passe ou o arremesso.
3- Só é permitido o arremesso aos alunos que estiverem sentados.
Variação do Jogo
Todos os alunos jogando sentados
Discussão da Atividade
Questão 1: Quais foram as limitações enfrentadas durante o jogo? Essas
limitações são semelhantes as que os cadeirantes enfrentam?
Questão 2: No basquetebol sobre cadeira de rodas a cesta é mantida a 3,05
metros do chão, assim como, no basquetebol convencional. Quais foram as
dificuldades encontradas no movimento de arremesso sentado? Imagine você em uma
cadeira de rodas em movimento, o arremesso seria mais fácil ou mais difícil de
ser executado?
Questão 3: Inúmeras pessoas com traumas medulares desejam praticar o
basquetebol sobre rodas, mas poucas pessoas têm acesso a essa prática. Enumere
algumas dificuldades enfrentadas pelas pessoas que desejam realizar essa
modalidade.
Observação da discussão: As dificuldades encontradas pelos jogadores dessa
modalidade vão do acesso a quadras com adaptações dos espaços ao acesso de
materiais adaptados como as cadeiras de rodas que chegam a custar R$ 4,000,00
reais e necessitam de manutenção constante.
Questão: Quais medidas poderiam ser tomadas para facilitar o acesso de
cadeirantes à prática do basquetebol sobre rodas?
Atividade 3 Conhecendo Outros Esportes em Cadeira de Rodas?
Objetivo da atividade
Associar o nome do esporte sobre cadeira de rodas com sua respectiva imagem.
1- Basquetebol em Cadeira de Rodas
2- Tênis em Cadeira de Rodas
3- Tênis de Mesa em Cadeira de Rodas
4- Atletismo em Cadeira de Rodas
5- Esgrima em Cadeira de Rodas
[/img/revistas/motriz/v17n1/a07fig01.jpg]
[/img/revistas/motriz/v17n1/a07fig02.jpg]
[/img/revistas/motriz/v17n1/a07fig03.jpg]
[/img/revistas/motriz/v17n1/a07fig04.jpg]
[/img/revistas/motriz/v17n1/a07fig05.jpg]
Sub-tema_2_-_Mulheres_no_basquetebol
Objetivo do tema
Outro assunto que não poderíamos deixar em branco quando o tema é o basquetebol
é a discussão sobre o espaço ocupado pelas mulheres.
Texto para o professor
Basquetebol: o espaço das mulheres
As mulheres que se aventuram pela prática do basquetebol não enfrentam apenas
as dificuldades próprias do jogo, além disso, enfrentam também o preconceito.
O basquetebol é bastante difundido entre os homens, fato que imprime nesse
esporte características da cultura masculina, conduzindo a uma falsa impressão
de que é eminentemente masculino. É comum ouvir comentários de que os
movimentos do basquetebol são muito masculinizados, discurso bastante comum
entre aqueles que só assistem jogos masculinos.
Com isso, as mulheres que ignoram tal entendimento reducionista do esporte
enfrentam barreiras como críticas à forma de jogar e mais grave ainda as
meninas sofrem comentários quanto a orientação sexual.
Todos esses fatores colaboram na configuração de uma realidade que dificulta a
difusão do basquetebol feminino.
Em primeiro lugar as meninas não são encorajadas a praticar e a conhecer o
esporte, existindo poucas categorias de base formadas exclusivamente por
meninas. Outro agravante é o baixo incentivo aos campeonatos femininos,
deixados em segundo plano obtendo pouca atenção da mídia e investimentos
insuficiente a sua divulgação.
Mesmo nessas condições o basquetebol feminino brasileiro reina entre os quatro
melhores do mundo, tendo ficado em 4º lugar no último Mundial (Brasil, 2006) e
4º lugar na última Olimpíada (Atenas, 2004)
Curiosidade
No Pan-Americano de Havana (Cuba, 1991) a seleção brasileira feminina chegou a
final do torneio e enfrentou as donas da casa que haviam ganhado brilhantemente
da seleção americana na semifinal. Na véspera do jogo, Fidel Castro tentou
desestabilizar a equipe brasileira dizendo que sabia como marcar as jogadoras
Paula e Hortência. No dia da partida Fidel compareceu ao ginásio e disse a
seguinte frase à técnica brasileira Maria Helena Cardoso: "Lo siento, pero hoy
aquí gana Cuba.". Apesar da pressão psicológica do ditador Cubano, as atletas
brasileiras venceram por 97 a 76.
[/img/revistas/motriz/v17n1/a07fig06.jpg]
Atividade 1 Livro: "Saudades do Basquete"
Objetivo da atividade
Tentando discutir um pouco esse assunto com os alunos, apresentaremos um
pequeno resumo do livro de Thalia Kalkipsakis intitulado "Saudades do
Basquete". Livro sobre a história de uma garota que abandona o basquetebol após
ser chamada de menino.
Procedimento da atividade
A leitura do livro juntamente com os alunos é uma experiência rica para
discussões, mas caso isso não seja possível leia um resumo e posteriormente
apresente algumas questões.
Discussão da atividade
Questão: Vocês conhecem alguma história parecida com a de Angie? Seus pais
permitem vocês participarem de qualquer atividade? Por exemplo, as meninas
jogarem futebol e os meninos praticarem a dança.
Questão: A menina que joga basquetebol deixa de ser menina? E o menino que
dança deixa de ser menino?
Questão: O esporte tem o poder de mudar a orientação sexual das pessoas?
O livro didático de basquetebol: a visão dos professores
Na realização das entrevistas, partiu-se do roteiro básico de questões o que
permitiu aos professores expressar opiniões, ideias, e questionamentos sobre o
livro didático de basquetebol. Para análise dos dados descritos abaixo,
realizou-se o cruzamento das informações obtidas nas entrevistas e os dados da
revisão da literatura. A partir desse cruzamento foi possível delinear
categorias que representam os temas significativos e recorrentes nas falas dos
professores. Dentre as categorias, destaca-se: a necessidade de livros
didáticos no cotidiano escolar e limitações e vantagens do livro didático de
basquetebol.
A necessidade de livros didáticos no cotidiano escolar
Identificou-se no decorrer das entrevistas que os professores utilizam poucos
livros para planejar suas aulas e estabelecem uma relação bastante crítica
quanto à necessidade de livros didáticos no cotidiano pedagógico.
Quando questionados sobre a utilização de materiais prévios para o planejamento
das aulas, percebe-se que na maioria dos casos, há pouca preocupação ou pouca
tradição no encaminhamento dessa tarefa com o apoio de livros. Dos cinco
professores entrevistados quatro apresentaram pouquíssimos livros que lhes dão
suporte ao ministrarem as aulas e apontam recorrer, principalmente, à internet
e a experiência de outros colegas.
Apenas um dos professores aponta convicção quanto à utilização de livros para
planejar suas aulas, no sentido de compreender essa realidade é possível
levantar algumas hipóteses. Primeiramente, devido ao número reduzido de livros
que se aproximam das necessidades reais dos professores, já que a maioria
deles, publicados na área, não são produzidos com finalidades didáticas. Uma
segunda hipótese, que os professores não têm tempo suficiente para estudar e
planejar. Ou ainda, que as aulas dos professores estejam baseadas em suas
experiências anteriores, nesse sentido reproduzem e adaptam aquilo que
aprenderam ou vivenciaram com outros professores, quando ainda eram alunos.
Tardif e Raymond (2000) estudiosos dos saberes profissionais dos professores,
mais especificamente, os saberes mobilizados e empregados na prática cotidiana,
podem colaborar para o entendimento dessa realidade. Na compreensão dos autores
o termo "saber" em sentido amplo engloba os conhecimentos, as competências, as
habilidades e as atitudes dos docentes. Afirmam com propriedade que o saber
profissional dos professores está na confluência entre várias fontes de saberes
provenientes da história de vida individual, da sociedade, da instituição
escolar, dos outros atores educativos, dos lugares da formação etc. A idéia
defendida pelos autores é de que a prática profissional dos professores é
bastante influenciada por saberes oriundos da socialização anterior à
preparação profissional formal.
Quanto a esse assunto afirmam: "[...] uma boa parte do que os professores sabem
sobre o ensino, sobre os papéis do professor e sobre como ensinar provém de sua
própria história de vida, principalmente de sua socialização enquanto alunos"
(TARDIF e RAYMOND, p. 216, 2000).
Mas como fica o livro didático na configuração dos saberes profissionais? Se
considerarmos apenas as influências dos saberes pré-profissionais na construção
do saber-ensinar dos professores, provavelmente, o papel do livro didático será
bastante limitado no processo de aprendizagem e incorporação dos saberes
profissionais, uma vez que livros didáticos de Educação Física não foram
utilizados nas aulas dos atuais professores. Mas Tardif e Raymond (2000)
indicam que as experiências de trabalho também poderão ser responsáveis na
construção dos saberes dos professores. Assim, é possível incluir o estudo, a
leitura e a utilização do livro didático pelo professor em seu cotidiano.
Quanto a isso parece imprescindível considerar o uso das novas tecnologias, em
especial a utilização de sites na internet que disponibilizam materiais
didáticos on-line para os professores. A Secretaria Estadual do Paraná, por
exemplo, disponibiliza publicamente conteúdos interativos sobre diferentes
temas da Educação Física.
De fato, compreender os motivos que justificam o uso reduzido de livros para
planejamento das aulas não é tarefa fácil, mas em algumas falas dos professores
é possível perceber que a ausência de materiais adequados à realidade escolar é
uma das justificativas. Três professores afirmam sentir falta de um material
mais organizado, mais próximo da realidade das aulas e que seja adequado às
necessidades do trabalho docente, tais como uma linguagem mais apropriada a
compreensão dos alunos, de fácil manuseio, nas palavras dos professores um
material mais prático.
[...] sinto a necessidade de livros mais práticos, de sites
direcionados, em que haja um grupo de pesquisadores e pessoas que
apresentem atividades para que eu entre no site e possa ter uma fonte
de idéias para poder adaptar. Sinto falta de um material mais
organizado. (Professor 4)
Ainda sobre a necessidade do livro didático o Professor 3 acha importante
possuir e utilizar materiais para planejar suas aulas, mas em seu entendimento
o uso de materiais para suprir lacunas no planejamento não é algo vital.
[...] eu vejo que é muito importante você ter um material de apoio,
livro didático, uma reportagem, um livro de regras, vejo isso como
necessário. Mas é vital? Não acredito que seja vital, mas ajudaria
muito. Como disse em minha fala inicial muitos professores dependem
disso hoje. (Professor 3).
O Professor 1, por exemplo, considera que a necessidade de materiais para
planejamento existe, mas o que considera realmente essencial é o estudo e as
trocas entre professores. "Eu sinto muita necessidade de troca entre os
professores, tais como as orientações técnicas da Diretoria, com reuniões e
discussões" (Professor 1).
Concluindo sua leitura sobre as necessidades do trabalho docente o Professor 1
afirma que o que realmente falta é estudo, representado principalmente, nas
oportunidades de compartilhar o trabalho escolar, conhecer outras experiências
e participar de eventos científicos.
Percebemos na fala dos professores que a possibilidade de disponibilizar
materiais com finalidades didáticas é algo que pode colaborar com o trabalho
docente, entretanto, um deles salienta que não se trata de uma necessidade
vital, ou seja, o material de fato ajudaria, mas sua ausência não traz grandes
prejuízos à prática docente. E por fim, o professor 1 afirma que mais do que
materiais didáticos os professores necessitam de oportunidades de estudar e
compartilhar experiências.
Cassab e Martins (2008) analisando os critérios adotados para seleção e escolha
do livro didático de ciências, identificam professores submetidos, controlados
pelo livro didático, mas percebem também aqueles que problematizam a
importância desses materiais e demonstram não estarem subjugados ao livro.
O mesmo parece acontecer com os professores de Educação Física analisados, já
que não estabelecem uma relação passiva frente ao livro didático de
basquetebol, ao contrário, analisam esse material rigorosamente levando em
conta seu cotidiano escolar e as exigências do trabalho docente. Da mesma
forma, apesar das críticas, os professores não se colocam radicalmente contra o
livro didático.
Limitações e vantagens do livro didático de basquetebol
Ao longo das conversas e discussões os professores apontaram aspectos positivos
e negativos do livro didático de basquetebol e de que forma o livro didático
poderia colaborar e/ou dificultar o trabalho docente.
O primeiro aspecto negativo apontado pela maioria dos professores foi o grande
volume de discussões propostas no livro didático de basquetebol. Três
professores consideraram que existe um número elevado de debates ao longo dos
temas e que seria muito trabalhoso desenvolvê-los. Acreditam ser muito difícil
realizar tanta discussão, primeiro porque o tempo de aula é muito restrito e os
alunos têm expectativas em realizar a prática e em segundo lugar apontam o
problema da indisciplina, além de destacar a tradição do "saber fazer" da área
como um agravante.
Fiquei bastante preocupado com o excesso de debate, é desgastante. O
ano passado eu tinha 16 salas e fazer isso com todas elas compensa,
mas pode ser que o professor não aguente ao longo do processo. Por
que a discussão gera muitos conflitos, é preciso brigar com os alunos
para realizar. (Professor 1).
Um dos professores também reclama do volume de discussões, mas aponta como
alternativa o desenvolvimento das discussões na parte inicial das aulas.
O que eu acho que não funciona muito são as discussões após as
práticas, isso porque eles estão muito excitados, o tempo de aula é
curto, além do fato de que eles se irritam com a interrupção da
prática. A euforia que a prática proporciona dificulta a concentração
e a atenção na atividade de discussão (Professor 4).
Pensar um livro didático para Educação Física exige também considerar a
tradição de conteúdos que acompanha a realidade desse componente curricular.
Assim como apresentam Darido e Rangel (2005), a Educação Física na escola
priorizou ao longo da história os conteúdos em sua dimensão procedimental, o
"saber fazer" e não o saber sobre a cultura corporal e como se relacionar no
âmbito dessa cultura.
Em pesquisa com sete professores de Educação Física com pós-graduação, Darido
(2003) identificou que apesar dos professores mencionarem a importância dos
conhecimentos teóricos (conteúdos com predominância conceitual) no
desenvolvimento das aulas, pouco foi observado pela pesquisadora.
Assim como apresenta Darido (2003), compreende-se as dificuldades dos
professores no encaminhamento das discussões propostas pelo livro didático de
basquetebol, mas não poderíamos deixar de apresentá-las sob pena de nos
tornarmos reféns da tradição, mesmo porque uma das funções do livro didático de
basquetebol é oferecer subsídios aos professores no desenvolvimento de
conceitos, procedimentos e atitudes.
Nesse sentido, apresentou-se no livro didático de basquetebol diversas opções
de vivências, práticas e discussões, mas a escolha por uma ou outra forma de
abordar o conteúdo é decisão exclusiva do professor frente aos problemas
enfrentados.
Em relação às dificuldades que o livro didático de basquetebol poderia
proporcionar ao trabalho docente os professores foram unânimes em destacar que
se ele tivesse que ser seguido na íntegra, do início ao fim, sem adaptações,
isso caracterizaria uma grande limitação.
"Se eu tivesse que seguir aula por aula sim. Mas sabendo que posso
adaptar e descartar o que quiser, acho que me ajudaria" (Professor
4).
Ladeira et al. (2008), em pesquisa sobre a nova proposta curricular e os livros
didáticos da rede pública estadual paulista, identificaram reclamações
semelhantes as que identificou-se no presente estudo.
Os 16 professores entrevistados apresentaram críticas quanto a política de
execução da proposta. No relato de alguns deles não houve uma capacitação
prévia para utilização dos livros didáticos e há por parte da coordenação
pedagógica das escolas uma cobrança pela aplicação irrestrita do material
(LADEIRA et al., 2008).
Na presente pesquisa compreende-se o livro didático como um material curricular
flexível, aberto às decisões do professor. Evidentemente, apresenta uma
sequência de temas e atividades, mas diferente das conhecidas apostilas esse é
um material que deve permitir a escolha, a adaptação, o descarte etc. A
concepção de livro didático, de forma alguma, atende a definição de material
fechado e de sequência rígida, na verdade trata-se de um instrumento auxiliar
do trabalho docente e da aprendizagem dos alunos e não um referencial único.
O professor 3 destaca que em sua realidade o livro didático não traria nenhuma
dificuldade, mas pontua que ao professor acostumado a não planejar as aulas,
sem o hábito de realizar leituras e desatualizado quanto à concepção de
Educação Física proposta no livro didático de basquetebol, esse sim teria
dificuldades em aceitar e também em utilizar o livro. Na compreensão do
Professor 3 o livro didático de basquetebol pode se tornar um empecilho ao
trabalho do professor acomodado, já que os alunos podem questioná-lo sobre o
que está sendo ensinado. No caso do professor "rola bola", isso realmente pode
acontecer, já que os alunos poderão confrontar o conteúdo do livro didático com
o conteúdo das aulas.
Ainda sobre aspectos negativos do livro didático, o Professor 1 faz um
questionamento relacionando o livro didático de basquetebol com as condições de
trabalho na escola.
[...] o livro não é ruim. Ele sofre o mesmo problema, da apostila do
Estado. O que está ruim é a escola, é a situação de debate na escola.
Eu tenho 40 alunos por turma e duas aulas por semana, como eles sabem
que tem super pouco espaço para prática eles não aceitam o uso do
tempo de outra forma. Não é ruim ele aprender sobre a história do
basquete, sobre as curiosidades. A dificuldade está na escola e não
no livro, na estrutura da escola, no número de aluno, na falta de
materiais (Professor 1).
É possível depreender da fala do Professor 1 a existência de problemas urgentes
no cotidiano escolar, tais como, a número excessivo de alunos por turma, a
indisciplina, a falta de apoio da direção, a pouca integração entre os
professores, aspectos que dificultam o desenvolvimento das aulas e obviamente a
utilização do livro didático.
Concorda-se com o professor no sentido de apontar as limitações do livro
didático frente a uma realidade tão conturbada, mesmo assim, sem deixar de
considerar os problemas enumerados acreditamos no potencial de colaboração do
livro didático, mesmo em uma realidade tão complexa.
De fato, melhorar as condições de trabalho na escola exige medidas e soluções
plurais, que vão da formação inicial às políticas públicas de incentivo à
docência. Consideramos o livro didático uma dessas possibilidades e não a
única, sendo assim, um material com função específica de auxiliar o docente e o
aluno no processo de ensino aprendizagem.
No que diz respeito aos aspectos positivos do livro didático de basquetebol, os
professores apresentam inúmeras vantagens que esse material poderia
proporcionar ao trabalho docente.
Os professores acreditam que o livro didático pode ser um instrumento para
guiar o trabalho, já que apresenta o conteúdo de forma organizada,
independentemente da concepção adotada, demonstra uma sequência que pode ajudar
na condução do trabalho.
O Professor 1 destaca que apesar de conhecer o basquetebol e há bastante tempo
trabalhar com esse conteúdo, ainda tem uma série de dúvidas e que encontrou no
livro didático uma fonte de atualização de conceitos e também de procedimentos
pedagógicos.
Mas sabe que muita coisa eu tenho dúvida com relação as regras, até
mesmo as informações relativas à história. Eu não fiz basquete na
Universidade, mas jogo e assisto e além disso eu gosto. O material
pode ajudar bastante nas atualizações das informações sobre o esporte
(Professor 1).
Evidencia-se na fala do Professor 1 a possibilidade do livro didático ser uma
fonte privilegiada de atualização do professor, mas para que cumpra tal função
o livro didático necessitará de uma revisão periódica, no sentido de adequá-lo
as transformações do esporte e do conhecimento que gira em torno do seu ensino-
aprendizagem.
Ainda sobre a possibilidade de o livro didático ser uma fonte de atualização,
na análise do Professor 3 o material desempenharia um papel fundamental frente
aos professores desatualizados. Para ele um livro didático, afinado às atuais
propostas de Educação Física que fogem ao modelo tradicional, é um instrumento
importante na transformação de professores formados em uma perspectiva
esportivista.
Apesar de bastante discutível, se o livro didático basquetebol seria realmente
capaz de transformar práticas pedagógicas já sedimentadas, quem sabe os livros
didáticos pudessem causar, ao menos, a curiosidade, o interesse, o desconforto,
o incômodo, um primeiro passo em direção à mudança.
O Professor 4 apresenta uma vantagem ligada a possibilidade de utilizar o livro
didático de basquetebol com os alunos. Em sua opinião ter disponíveis textos e
imagens a todos os alunos é algo que permite até a avaliação conceitual de
determinados conteúdos. "Me ajudaria até a ter um material pronto para os
alunos colocarem no caderno, o que me possibilitaria fazer uma avaliação em
relação às regras" (Professor 4).
Cassab e Martins (2008) investigando os significados atribuídos por professores
de ciências na escolha do livro didático apontam que o imaginário desses
docentes sobre as características de seus alunos é um aspecto bastante
relevante na seleção e escolha do livro didático. Os professores, considerando
seus alunos carentes de certas habilidades, adotam como critérios de seleção do
livro didático a linguagem e os aspectos visuais veiculados nesses materiais.
O mesmo parece acontecer com os professores participantes de nosso estudo, já
que em inúmeros momentos da entrevista fazem menção às características de seus
alunos para avaliar o livro didático de basquetebol. "Pensando nos meus alunos
acho que eles gostariam muito. Acho que eles gostariam mais de trabalhar com o
livro, do que eu passando as informações sem disponibilizar do livro"
(Professor 5).
Os professores também vislumbram pontos positivos relacionados aos aspectos
mais gerais de um livro didático, elencam vantagens que extrapolam a
especificidade do livro didático de basquetebol, mas que seriam comuns a
qualquer livro didático.
O professor 4, por exemplo, discutindo suas impressões na leitura do livro
didático de basquetebol expressa que em sua escola, somente ele ministra aulas
de Educação Física e em diversos momentos se sente perdido por não ter outro
professor da área para compartilhar e discutir o trabalho. Quando teve a
oportunidade de ler o livro didático de basquetebol percebeu a possibilidade de
avaliar seu próprio trabalho, no sentido de que o que ele faz também vem sendo
feito por outras pessoas, como se isso indicasse que o trabalho está no caminho
certo.
Essa indagação do Professor 4 sobre a avaliação de sua prática, nos faz
recorrer às propostas de Schon (1995) para a formação de professores como
profissionais reflexivos. Na compreensão do autor o professor aprende fazendo e
refletindo sobre suas ações práticas. Para tanto propõe três momentos
distintos: o conhecimento na ação; a reflexão na ação; e a reflexão sobre a
ação. No que diz respeito à reflexão sobre a ação Rangel et al. (2005) afirmam
que esse momento ocorre após a aula, quando o professor passa a refletir sobre
os acontecimentos da aula, suas decisões, o que deu certo, o que deu errado, o
que precisa ser repensado etc.
Podemos assim considerar o livro didático de basquetebol como um elemento a
colaborar com a reflexão sobre as ações do Professor 4. E por que não
vislumbrar a possibilidade do livro didático ser utilizado no conhecimento da
ação e na reflexão na ação, auxiliando o professor na tarefa de ressignificar
sua prática.
Nesse sentido, entende-se que o professor preparado para trabalhar com o livro
didático tem condições claras de identificar possíveis incoerências do
material, podendo com isso modificar a forma de abordagem ou mesmo descartar
seu uso. Ou de outro modo, se compreendem ou vislumbram boas idéias, podem
utilizá-las em suas aulas.
Considerações Finais
O estudo e discussão do livro didático no campo da Educação, ainda é assunto
bastante polêmico, nesse sentido, identificamos posturas contrárias ao seu uso
em situações de ensino-aprendizagem na escola (SILVA, 1988; 1996) e posturas a
favor do uso e estudo mais aprofundado do livro didático no ambiente escolar
(LAJOLO, 1996; ZABALA, 1998; BATISTA, 2000; MUNAKATA, 2000; 2003; BITTENCOURT,
2004; CHOPPIN, 2004).
Na análise de Bittencourt (2004), apesar das inúmeras críticas que podem ser
endereçadas ao livro didático, ele vem sendo considerado um instrumento
indispensável ao processo de escolarização.
Um primeiro aspecto interessante da avaliação do livro didático de basquetebol
por parte dos professores foi à identificação e aceitação do material, os
professores demonstraram interesse pela possibilidade de possuir um livro
didático de apoio ao trabalho docente e enumeraram uma série de vantagens e
desvantagens de sua utilização.
Apontam, por exemplo, que o livro didático pode colaborar com a condução das
aulas, já que possui uma sequência organizada de conteúdos. A possibilidade de
atualização dos professores defasados e o aprofundamento de conceitos e
procedimentos pedagógicos por aqueles que compreendem a proposta é mais um
ponto positivo. Apontam como aspecto relevante as possibilidades do livro
didático destinado ao aluno, material que por possuir imagens, textos e
exercícios pode ser amplamente utilizado. Por fim, indicam ainda a
possibilidade do livro didático apresentar-se como um elemento a compor a
prática reflexiva do professor.
Por outro lado, consideram como desvantagem ou aspecto que pode dificultar a
utilização do livro didático de basquetebol o elevado volume de discussões e
debates propostos. Indicam a desvantagem que o material poderia trazer se não
permitisse a adaptação, ou seja, um livro didático fechado dificultaria o
trabalho docente. Apontam ainda, que o livro didático é um empecilho ao
professor acomodado. Por fim, demonstram dificuldades de utilização do livro
didático em um contexto conturbado, marcado pela falta de apoio e a
indisciplina dos alunos.
Interessante perceber, como é complexa a avaliação e relação que os professores
estabelecem com o livro didático, o que fica evidente, em nossa análise, é que
em hipótese alguma os professores demonstram passividade frente ao material,
apesar de se identificarem com ele não o compreendem como um material ideal ou
perfeito.
Ao contrário, são bastante críticos em relação às vantagens e desvantagens que
o livro pode proporcionar em suas práticas pedagógicas.
A prática pedagógica em Educação Física vem exigindo dos professores um
trabalho cada vez mais intenso de estudo e pesquisa sobre as novas propostas
para esse componente curricular, dentre elas, destacamos a diversificação dos
conteúdos, o desenvolvimento de conteúdos conceituais e atitudinais, a co-
educação, os temas transversais, o planejamento participativo, a construção do
projeto político pedagógico, entre outras propostas.
Por outro lado, os professores interessado nesse tipo de trabalho não encontram
materiais didáticos adequados a suas realidades, nesse sentido, apontamos o
livro didático como uma das possibilidades de contribuir com o trabalho dos
professores, bem como, com as aprendizagens dos alunos e com a melhoria na
qualidade das aulas de Educação Física na escola.