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EuPTCVHe1647-21602014000100018

EuPTCVHe1647-21602014000100018

variedadeEu
ano2014
fonteScielo

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A saúde mental na parentalidade de filhos gémeos: revisão da literatura

Introdução A família é uma unidade basilar na organização da sociedade e tem duas funções fundamentais uma é a criação de um sentimento de pertença e a outra é possibilitar que os seus elementos se desenvolvam e construam a sua individualidade (Relvas e Lourenço, 2006) Neste processo complexo e único, são vividas transições que acomodam processos vitais, contínuos e descontínuos, do ser humano. A transição para a parentalidade tem sido um dos grandes desafios colocados à família e às pessoas que a constituem.

Alguns dos estudos centrados na vivência da transição, para e na parentalidade sugerem que esta é vivida de modo diferente pelo homem e pela mulher, tem implicações na conjugalidade e revela-se mais difícil do que o esperado, mostrando-se como um elemento fundamental na saúde da família (Allborg & Strandmark, 2001) apontando para a importância do casal ter conhecimento sobre as mudanças que podem ocorrer na transição para a parentalidade.

A complexidade desta transição pode rodear-se ainda de circunstâncias que a tornam mais diversa e exigente, tais como a parentalidade na gemelaridade.

Neste sentido centramos a nossa atenção na questão Que repercussões tem na saúde mental dos pais o nascimento de gémeos? Procurando dar resposta a esta nossa inquietação desenvolvemos uma pesquisa com o intuito de conhecer os riscos para saúde mental dos pais na gemelaridade e analisar os fatores psicossociais que influenciam a experiência parental na gemelaridade.

Metodologia Para a concretização dos nossos objetivos, procedemos a uma revisão sistemática com considerando a formulação da pergunta; localização e seleção dos estudos; avaliação crítica dos estudos considerando os participantes nesse estudo, o problema de saúde em análise e resultados.

Para identificar os estudos relevantes utilizamos as bases de dados referenciais: ISI Webof Science-Science Citation Index Expanded (SCI-EXPANDED); Social Sciences Citation Index (SSCI); Arts & Humanities Citation Index (A&HCI) ; Conference Proceedings Citation Index - Science (CPCI-S); Conference Proceedings Citation Index- Social Science & Humanities (CPCI- SSH); Scopus database ' Subject Areas: Life Sciences; Health Sciences (100% cobertura Medline); Physical Sciences; Social Sciences and Humanities.

Como descritores da pesquisa, definimos os seguintes tópicos:parenting, twins, multiple birth, stress, mental health e depression. Considerando as características específicas das bases de dados selecionadas na base de dados SCOPUS, utilizamos os termos "parenting"AND"twins"ORmultiple birthANDstressORmental healthORdepressionno KEYWORD+TITLE+ABSTRACT; na base de dados WEB OF SCIENCE consideramos como tópicos de pesquisa "parenting"AND"twins"OR multiple birth ANDstressOR mental health ORdepressionem artigos, considerando a categoria geral - Ciências Sociais.

Como critérios de inclusão neste estudo consideramos: a)    Estudos primários publicados entre 2000 e 2012; b)     Que os artigos estivessem disponíveis nas bases de dados consultadas; c)    Que os participantes fossem famílias com filhos gémeos ou trigémeos biológicos (não adotados); d)     Que a centralidade dos estudos se situe na vivência da parentalidade pela família em situação de gemelaridade.

Consideramos, ainda, essencial que os estudos tenham confiabilidade e relevância, pelo que a sua avaliação crítica foi suportada no MAStARI critical apraisal tools(TheJoanna Briggs Institute, 2011).

Resultados e Discussão Foram identificados 483 artigos (Scopus - 274 artigos, Web of Science-275 sendo 66 destes comuns às duas bases de dados referenciais), tendo-se procedido à leitura dos respetivos resumos. Na etapa do processo de identificação dos estudos, excluímos 16 artigos, porque não cumpriam o critério de inclusão, isto é, serem estudos primários; 51 artigos porque não cumpriam o critério de inclusão, ou seja, os participantes não são famílias com filhos gémeos e, por último, 393 artigos não centram a problemática do estudo na vivência da parentalidade na gemelaridade, focando os estudos nas práticas parentais, na experiência e vivência de ser irmão gémeo e na influência da genética e do meio nas pessoas, utilizando como população irmãos gémeos. Selecionamos assim 23 artigos, sendo que eliminamos oito deles porque não tivemos acesso ao texto integral ( critério de exclusão) redundando em 15 artigos. No que se reporta à qualidade metodológica e face aos resultados obtidos (moderado e alto) ponderamos pela inclusão da totalidade dos artigos. A apresentação é feita por ordem cronológica da sua publicação (Quadro_1).

Partindo dos resultados acima mencionados propomo-nos fazer uma síntese e análise dos dados que, em nosso entender, mais contribuíram para a compreensão da problemática assim como a natureza dos estudos que a sustentaram. Deste modo, procuramos avaliar até que ponto as variáveis dos estudos constituem fatores de proteção e/ou de risco da parentalidade, com vista à conceptualização de medidas dirigidas à implementação do bem-estar dos pais.

O bem ' estar subjetivo resulta de um sentimento positivo de felicidade face à avaliação pessoal da qualidade de vida (medindo a perceção individual das suas experiências, atendendo às suas características e traços pessoais. Trata-se, pois, de um conceito amplo que usa como critérios a perceção pessoal de sentimentos agradáveis e de um baixo nível de emoções negativas, que conduzem a um balanço positivo de satisfação com a vida (Diener, 2002, cit. in Borges, 2010).

Segundo Borges (2010), o conceito de bem-estar procura transpor a qualidade da relação do indivíduo com o contexto relacional, sendo um indicador do funcionamento psicológico.

A multidimensionalidade do conceito tem sido objeto de estudo, salientando-se duas dimensões: a afetiva e a cognitiva. A dimensão afetiva envolve a perspetiva positiva e negativa experienciada, sendo a primeira associada a emoções agradáveis (alegria, êxtase, entusiasmo, otimismo, felicidade) e a segunda a emoções negativas (vergonha, culpa, tristeza, pessimismo) enquanto a dimensão cognitiva alude aos processos de avaliação das experiências de vida (Simões, et al., 2000, cit. in Borges, 2010).

Se os contextos forem favoráveis ao exercício da parentalidade, a função parental poderá incrementar o sentido geracional, favorecendo não os sentimentos de bem-estar pessoal, mas também o bem-estar da geração futura.

As variáveis identificadas nos estudos focam-se em particular (Figura_1):

O bem-estar pessoal e o suporte do cônjuge no período pré-natal foram fatores preditores do stresse parental nas mães de gémeos (Colpin, et al., 2000). A melhor saúde mental nas mães, um ano após o nascimento dos gémeos, esteve associada a baixos níveis de stresse, ansiedade no apego materno, adaptação conjugal, ser mãe primeira vez e de gémeos de termo. (Olivennes, et al., 2005) O suporte funcional (Lutz, et al., 2012), o suporte social e a atividade profissional foram as variáveis com mais significado na experiência do stresse materno (Baor & Soskolne, 2012).

O stresse parental foi sugerido como uma das principais causas de depressão nestas mulheres (Choi, et al., 2009) e níveis clínicos de stresse materno foram identificados em 41% da amostra de mães de gémeos (Baor & Soskolne, 2012), neste sentido estudos insinuam que as mães de gémeos referem maior stresse (Ellison & Hall, 2003; Glazebrook, et al., 2004; Olivennes, et al., 2005; Golombok, et al., 2007; Lutz, et al., 2012) contudo os valores totais que avaliam o stresse parental foram considerados anormalmente elevados em todas as mulheres (Glazebrook, et al., 2004). As mães de gémeos apresentam ainda níveis significativamente mais elevados de sintomas de depressão. (Ellison & Hall, 2003; Ellison, et al., 2005; Olivennes, et al., 2005; Sheard, et al., 2007; Vilska, et al., 2009; Choi, et al., 2009).

Da análise comparativa utilizada em algumas das pesquisas foi considerada a diferença entre grupos tendo em consideração: os diferentes tipos de conceções, o número de nascimentos por gravidez e o tempo de gestação.

As mães de gémeos falam, mais frequentemente, de experiências difíceis (Olivennes, et al., 2005; Sheard, et al., 2007) questionando-se sobre a parentalidade e sobre as dúvidas que vão surgindo (Sheard, et al., 2007).

Sentem-se cansadas, revelando que as suas expetativas, relativamente à maternidade eram diferentes, apresentando-se esta, como um trabalho mais duro e com mais dificuldades do que imaginavam. Em consequência, experienciaram sentimentos de stresse e/ou depressão, referindo também menos sentimentos de prazer com os gémeos e menor desejo de ter mais filhos do que as mães de não gémeos (Olivennes, et al., 2005). A qualidade de vida das mulheres diminui com o nascimento de filhos múltiplos (Ellison, et al, 2005).

Quanto ao temperamento dos filhos as mulheres mães de gémeos têm a perceção que estes têm um temperamento mais difícil do que as mulheres mães de não gémeos (Taubman-Ben-Ari, et al., 2008) potenciando um aumento da vulnerabilidade emocional materna (Sheard, et al., 2007).

Relativamente ao stresse parental, o bem-estar pessoal e o suporte do cônjuge, percebido pelas mulheres, no último trimestre da gravidez de gémeos, são preditores do menor stresse parental por elas experienciado, um ano após o nascimento destes (Colpin, et al., 2000).

Ao nível da gestão diária, a sobrecarga de trabalho na realização repetitiva de rotinas familiares e a consequente privação de horas de sono, são alguns dos fatores stressores identificados. Outro fator que pode funcionar como stressor é a existência anterior de outros filhos, pelo acréscimo e diversidade de necessidades familiares que esse fato representa (Ellison & Hall, 2003).

A percentagem de mulheres de famílias de gémeos com trabalho remunerado é inferior comparativamente a outras mulheres que foram mães. Muitas mulheres têm que desistir da sua profissão e carreira e se algumas mães percebem esta opção como uma oportunidade, outras sentem que, ao abdicaram da sua profissão e carreira, perdem parte da sua identidade e independência, (Ellison & Hall, 2003) podendo este facto influenciar a saúde mental da mulher (Glazebrook, et al., 2004).

Conclusão De acordo com Colpin, et al. (2000) os casais que esperam gémeos necessitam de informação específica e de suporte, no sentido de os preparar para o cuidar de gémeos, sugerindo aconselhamento e orientação pré-natal. Dão enfase, ainda, à importância das mães de gémeos poderem dispor da possibilidade de discutir as suas experiências pessoais e sentimentos com os profissionais. Ter consciência das dificuldades vividas por estes pais, assim como as estratégias a adotar, é determinante para a eficácia dos cuidados.

Implicações para a Prática Clínica O conhecimento nesta área possibilita oferecer suporte adequado e direccionado às necessidades identificadas nestas famílias sustentando uma prática fundamentada em conhecimento científico.


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