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EuPTHUAp1645-44642014000400003

EuPTHUAp1645-44642014000400003

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioHumanities
Great areaApplied Social Sciences
ISSN1645-4464
ano2014
Issue0004
Article number00003

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Sustentabilidade corporativa: avaliação híbrida do Triple Bottom Line

Tendo como base as diferentes correntes de pensamento sobre a teoria das empresas Lozano et al. (2014, p. 11) apresentam uma proposta sobre a teoria das empresas orientada para a sustentabilidade, em que: «The firm is a profit generating entity in a state of constant evolution. This entity is a system comprised of resources and networks of relationships with stakeholders. The firm's employees are responsible to represent the firm, manage its resources, and empower its stakeholders so that the firm complies with laws, maintains its license to operate, increases its competitive advantage, and better contributes to foster the evolution of more sustainable societies by holistically addressing the economic, environmental, social, and time dimensions.» Não sendo uma proposta completamente inovadora, permite-nos, porém, ter uma ideia da contextualização das diferentes dinâmicas que estão presentes no desenvolvimento das atividades das empresas, as quais geram uma multiplicidade de impactos. A intensidade dos mesmos está diretamente relacionada com o sector de atividade a que pertencem (UN, 2008), dependendo do ciclo de vida dos seus produtos e serviços (Finnveden et al., 2009; Jeswani e Azapagic, 2012), da sua cadeia de abastecimento (Govindan et al., 2014), da relação que estabelecem com os diferentes stakeholders (Rossouw, 2005; Loorbach e Huffenreuter, 2013) e da sua Responsabilidade Social Corporativa (RSC) (McWilliams e Siegel, 2001; McWilliams et al., 2006; Castelló e Lozano, 2011).

Nos últimos anos, tem-se assistido a uma mudança de paradigma empresarial, sendo necessário estar consciente dos principais desafios económicos, sociais e ambientais que terão de ser enfrentados (Steurer et al., 2005; Linnenluecke e Griffiths, 2010). Cada vez mais os stakeholders exigirão às organizações a responsabilidade dos seus atos e ações. O principal desafio das empresas será decidir quais as ações e iniciativas pelas quais deverão optar para fazer face aos desafios da sustentabilidade, e, por outro lado, depois de implementadas, a forma de medir e avaliar o seu impacto. Berman et al. (1999) propõem duas perspetivas concorrentes sobre a motivação para abordar estas questões: a instrumental e a normativa.

A abordagem instrumental sugere que a RSC e a sua preocupação com os stakeholders são motivadas pela perceção de que o desempenho económico da empresa é melhorado se fomentar estrategicamente os princípios da RSC. Os estudos realizados por Margolis e Walsh (2003), Branco e Rodrigues, 2008; Makni et al., (2009) corroboram a existência de uma relação positiva entre o desempenho económico e as práticas de RSC.

A perspetiva normativa sugere que as empresas têm a obrigação moral de cuidar dos interesses dos stakeholders. Os estudos realizados por Gray (2006), Branco e Rodrigues (2008), Carroll e Shabana (2010) demonstram que se observam vantagens no que concerne à redução de custos e riscos, reforço da reputação e legitimidade, vantagens competitivas, entre outros aspetos.

O debate tem-se centrado na forma de implementar, manter e melhorar as práticas de RSC e, por outro lado, como avaliar os seus impactos e resultados (Smith, 2003; Mahoney et al., 2013). Isto é, como integrar no planeamento estratégico das empresas os princípios de RSC (Gray 2006), o que medir e como medir para monitorizar e avaliar os seus resultados e que canais de comunicação utilizar para divulgar suas intenções, propostas e resultados (Fernandez-Feijoo et al., 2014).

No seu estudo, Carroll (2000) responde à questão se o desempenho da RSC deve ser medido e a sua resposta é afirmativa porque é importante para as empresas e a sociedade. Mas a questão é outra: «The real question is whether valid and reliable measures can be developed» (p. 473).

Tem-se observado, de facto, uma multiplicidade considerável de propostas, modelos, métricas e indicadores que têm contribuído para que as organizações compreendam e avaliem o desempenho das suas estratégias e atividades no âmbito da RSC. As abordagens realizadas são diversas e procuraram explicar as diversas dimensões da sustentabilidade nos mais variados contextos.

O desempenho de uma empresa está diretamente relacionado com a sua eficiência ou ineficiência, efetividade, capacidade tecnológica, disponibilidade de capitais, hábitos, cultura organizacional, habilidade para a mudança, capacidade de criar valor para os stakeholders e a forma como comunica os seus resultados.

O relato é a forma privilegiada que, por norma, as organizações em geral utilizam para comunicar e dar a conhecer o desempenho das suas atividades, para legitimarem a sua conduta e forma de atuar perante uma diversidade de stakeholders internos e externos à empresa.

O Global Report Initiative (GRI) é atualmente considerado a estrutura mais consensual de relato voluntário (Branco e Rodrigues, 2006) para comunicar a sustentabilidade das organizações. Trata-se de uma abordagem padronizada que estimula a consulta de informação sobre sustentabilidade pelas partes interessadas (Brown et al., 2009). De referir que a estrutura do GRI (GRI, 2006; 2011) tem vindo a caracterizar-se, desde a sua criação em 1999, por uma constante adaptação às exigências e necessidades de divulgação, tendo como objetivo proporcionar a melhor informação possível sobre a sustentabilidade das organizações.

Este normativo cobre, através dos seus indicadores de progresso e avaliação, as três dimensões da sustentabilidade «Economia, Ambiente, Sociedade» ? o denominado Triple Bottom Line (TBL), designação dada a conhecer por Elkington (1999).

É nosso objetivo, utilizando a informação relatada pelas empresas, estudar as interações que se venham a estabelecer entre o binómio dimensional Economia- Ambiente e Economia-Sociedade, que acreditamos que na interdependência das dimensões se potenciam efeitos de complementaridade, de sinergia e de trade- off. Estas relações são designadas de relações híbridas (Jerónimo Silvestre et al., 2014).

Dados e metodologia O trabalho empírico realizado teve como base os relatórios de sustentabilidade das empresas.

. Seleção da amostra As empresas que fazem parte da amostra foram selecionadas do total de empresas que registaram os seus relatórios de sustentabilidade na base de dados do GRI (GRI, 2011). A seleção foi feita seguindo os seguintes critérios: a versão de relato é a G3 e G3.1; ano de relato considerado 2011; foram consideradas pequenas e médias empresas (PME), grandes empresas e multinacionais (MN); por setor de atividade, uma por país; o idioma dos relatórios poderá ser em inglês, espanhol e/ou português; o relatório está disponível em formato eletrónico; e a empresa preferencialmente utiliza um sistema de gestão formal (por ex. normas da ISO, OHSAS, AA1000, SA8000).

. Análise da informação relatada Para cada um dos relatórios selecionados, foi realizada uma análise e avaliação das respostas dadas a cada indicador, observando-se qual a frequência de utilização para as dimensões do TBL, tendo sido realizada uma análise de conteúdo da informação disponibilizada tanto qualitativa, como quantitativa.

Foi, assim, possível fazer a seriação dos indicadores e determinar os indicadores prevalecentes para a análise de integração, assim como determinar qual o índice de responsabilidade do relato das empresas.

. Metodologia de âmbito estatístico Com o objetivo de avaliar a possibilidade de relações ou associações entre indicadores, dois a dois, efetuaram-se Análises de Contingência e de Variância.

As hipóteses de base em análise (traduzidas pela hipótese nula) assumem a inexistência de associação entre os indicadores: - Análise de Contingência: os dois indicadores (qualitativos) são independentes; - Análise de Variância: os valores médios do indicador quantitativo são iguais para todas as categorias possíveis do indicador qualitativo.

Com estas análises, pretendeu-se detetar indícios da existência de associações entre dois indicadores de dimensões diferentes, pelo que a verificação dos pressupostos destas duas análises não foi uma preocupação. Como critério de decisão consideraram-se as análises com p-value claramente inferior a um nível de significância de 0,05 (correspondente a um grau de confiança de 95%).

O resultado conduziu a um subconjunto de indicadores submetidos, de seguida, a uma Análise de Correspondências para, em conjunto e para cada um dos binómios Economia-Ambiente e Economia-Sociedade, detetar associações de interesse (para albergar indicadores quantitativos efetuou-se a sua classificação).

O tratamento estatístico dos dados foi realizado através da utilização do programa STATISTICA (2013).

Resultados e discussão . Caracterização da amostra A amostra é constituída por um total de 85 empresas com uma distribuição equilibrada entre as dimensões empresariais (PME, grandes empresas e MN) e por 36 setores de atividades económicas. Em apenas 7 destes setores concentram-se 43% das empresas (de maior a menor): Serviços Financeiros, Energia, Distribuição de Energia, Produtos Alimentares e Bebidas, Mineração, Telecomunicações e Indústria Química.

As empresas estão distribuídas por 36 países, destacando-se 6 pelo número de empresas representadas, correspondendo a 51% da amostra (Austrália, Itália, Portugal, EUA, Brasil e Espanha) e 68% dos países são pertencentes à OCDE. O continente mais representado é a Europa (46%), seguido da América (29%) e Ásia (18%).

A adoção de sistemas de gestão é considerada como parte de um esforço ampliado pelas organizações para monitorizar, controlar e reduzir os impactos causados, constituindo-se como elemento importante da sustentabilidade corporativa. Das 85 empresas, 78 indicam a sua utilização com a seguinte distribuição: ISO 14001 com 67%, ISO 9001 com 66%, OHSAS 18001 com 45% e AA1000 com 25%. Em média, 38% das empresas utilizam três destes sistemas. Porém, o uso destas ferramentas e sistemas de gestão pode não corresponder a melhorias de desempenho ou esforço legítimo nesse sentido (Wiengarten et al., 2012). Não obstante, a sua implementação permitirá, num processo que se pretende continuado, sensibilizar e ajudar as empresas a transformarem-se em unidades mais responsáveis.

. Análise da informação relatada O GRI apresenta-se com um total de 84 indicadores (9 económicos, 30 ambientais e 45 de âmbito social 15 práticas laborais, 11 direitos humanos, 10 sociedade e 9 responsabilidade do produto).

Relativamente às 85 empresas da nossa amostra: - Apenas 33% das empresas utilizam no seu relato mais de 62 e um máximo de 84 indicadores, representando um valor médio de 89% de cobertura de relato; - 28% das empresas utilizam no seu relato mais de 40 e menos de 63 indicadores, representando um valor médio de 63% de cobertura de relato; - 32% das empresas utilizam no seu relato mais de 20 e menos de 41 indicadores, representando um valor médio de 31% de cobertura de relato; e - 7% das empesas utilizam no seu relato mais de 9 e menos de 21 indicadores, representando um valor médio de 19% de cobertura de relato.

Observa-se que 44 empresas (52% do total) encontram-se acima do valor médio de relato entre muito bom e bom.

Estes resultados foram fundamentais para identificar o conjunto de indicadores prevalecentes para a análise de integração: dos 84 indicadores selecionaram-se apenas 36 em função da frequência e variabilidade de resposta das 85 empresas (mais de 40% das empresas responderam relativamente a 4 indicadores económicos, 10 ambientais e 11 sociais) (ver Quadros_1_a_3).

. Relato entre indicadores Os resultados obtidos através da análise de contingência e de variância permitiram a identificação de indícios de relações entre indicadores de tipos diferentes (ver Quadros_4 e 5). Estas associações/relações híbridas estão relacionadas com a porção de uma unidade coerente (sistema dimensões do TBL) que, por efeito de indução de alguns dos seus elementos (subsistema indicadores) por outra unidade coerente diferente, pode potenciar resultados positivos, negativos, nulos ou neutros de desempenho e que afetarão ambas as porções dos dois sistemas em grau e intensidade (Jerónimo Silvestre et al., 2014).

Quanto à análise de correspondências efetuada com os indicadores do sistema, os resultados são os seguintes: - Economia-Ambiente revela que valores elevados para as Vendas líquidas (EC1-1) estão associados a grandes quantidades de materiais utilizados (EN-1), energia consumida (EN-3 e EN-4) e sanções ambientais (EN28) (ver Figura_1).

- Economia-Sociedade revela que valores elevados para as Remunerações (EC1-7) estão associados a maior proporção de trabalhadores com contratos de trabalho (LA4), mais acidentes laborais (LA7), mais incidentes resultantes de não conformidade (PR4), coimas (PR9) e multas (SO8) (ver Figura_2).

A análise exploratória efetuada revelou-se muito útil tendo, naturalmente, algumas limitações, nomeadamente na representatividade das categorias utilizadas para os indicadores, o que justifica por ex.: a associação aparente entre o indicador EN4-q3-Baixo com o universo positivo do sistema Economia- Ambiente (ver Figura_2).

Conclusões e limitações A ausência de referências na literatura que ajudem a validar o trabalho efetuado, a grande variabilidade dos indicadores, a sua menos equilibrada qualificação e a incorporação de inúmeros setores de atividade de apenas 85 empresas são alguns dos fatores que dificultaram a análise efetuada. Por esta razão, consideramos estes resultados como preliminares.

Identificaram-se como indicadores económicos de referência as Vendas e as Remunerações, com trade-offs com indicadores Ambientais (Vendas) e Sociais (Remunerações).

A abordagem híbrida terá lugar se não se verificar uma compartimentação de interesses quase estanque entre as dimensões do TBL que impeça a possibilidade da integração dos seus elementos constituintes. Assim, ao abordar-se a sustentabilidade, está a apelar-se ao imperativo da conciliação do equilíbrio necessário entre os aspetos económicos, sociais e ambientais, pelo que o dilema ético não está entre a escolha de uma ou outra destas dimensões, mas na ponderação das combinações possíveis que possam viabilizar o bem-estar entre as mesmas.

Como refere Azapagic (2004, p. 656): «While it is necessary to present to stakeholders the information on economic, environmental and social performance in a disaggregated form, integrating two or more indicators into one measure of performance to inter-relate different aspects of sustainability can also be helpful, for several reasons. Firstly, integration reduces the number of indicators to a smaller, more manageable number of performance measures, thus better facilitating decision-making process. Secondly, sustainable development is a holistic concept and ideally we should strive to consider all three pillars of sustainability simultaneously. Although in practice this may be difficult to achieve, integrated indicators could bring us a step closer to achieving this aim.» Assim, o desenvolvimento de novas abordagens ou a consolidação de abordagens existentes, tendo como ponto de partida pontos de vista alternativos, seja para propostas integradoras, totais ou parciais das dimensões do TBL, são contributos acrescidos para a compreensão da RSC.


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